sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Anísio Guató e Marcelo Ofayé



Em MS os Povos Indígenas têm Voz.
Carlos Alberto dos Santos Dutra.








A divulgação da lista dos candidatos inscritos no TSE para concorrer ao pleito de outubro próximo revelou novos nomes no cenário da desgastada política em Mato Grosso do Sul.

Ao lado de consagrados caciques da política local que nos últimos anos se notabilizaram na defesa de velhas e conhecidas posições contrárias aos interesses e necessidades da sociedade sul mato-grossense, eis que surgem nomes novos neste universo carente de credibilidade.

Nomes que no discurso da história construída para este Estado sempre foram ocultados, aparecendo somente pelas bordas, em migalhas. Nomes de raças e etnias cujos feitos de seus antepassados na verdade foram eles que ajudaram a soerguer as pilastras deste Estado. 

Nomes com rostos pardos que chegam como retirantes em suas próprias terras; nomes de povos ressurgidos, até bem pouco tempo dados como desaparecidos, quando não amordaçados, que hoje erguem a voz.

E eles surgem repletos de força, ideais e alento, dotados de engajamento que transforma a desesperança dos brasilinos num facho de luz para aqueles que ainda acreditam na supremacia do povo brasileiro e que é capaz de conquistá-la.

Um dos nomes, entre os 6 candidatos ao Senado Federal pelo Mato Grosso do Sul é Anísio Guató, que concorre pelo PSOL com o número 500. Residente na cidade de Corumbá é o representante da etnia Guató a que pertence e se apresenta para fazer eco à voz das aldeias, acampamentos e atos de injustiça praticados contra minorias étnicas e populações marginalizadas da sociedade excludente em que vivemos.

Anísio Guilherme da Fonseca é seu nome. Casado, 51 anos de idade, formação superior em Geografia, e não se envergonha da atual atividade que exerce divulgada no site do TSE:  porteiro de edifício, ascensorista, garagista e zelador, como milhares de brasileiros honrados que labutam debaixo do sol desta pátria.

Em meio aos milhões declarados como patrimônio dos demais candidatos ao Senado, Anísio Guató é o irmão menor no somatório das cifras. Embora isso possa fazer a diferença para aqueles que sobrevivem às custas da compra de votos, ao contrário, o nosso indígena aposta na ideologia de suas idéias que sempre esteve alinhada com os movimentos sociais.

Quando o PT ainda fazia a diferença no ideário das lutas populares, em 2004, Anísio Guató concorreu a Vereador em Corumbá. Depois, a partir de 2006, quando o PSOL lançou seu primeiro candidato ao governo do Estado, Carlito Dutra, ele passou a militar nas fileiras desta agremiação, na época coligada com o PSTU, tornando-se uma expressiva liderança no Estado.

Nos anos seguintes, não desacorçoou: em 2008 concorreu a Prefeito de Corumbá; em 2014, a Deputado Federal; em 2016 novamente a Vereador, e agora, candidato a Senador pela sigla fundada há 13 anos por Heloísa Helena.

Além de liderança indígena, Anísio Guató possui um currículo de militância em prol das causas sociais invejável. Homem que tem posições claramente definidas em favor dos indígenas e quilombolas, pela saúde e pelas mulheres, entre outras bandeiras. O Estado de Mato Grosso do Sul será muitíssimo bem representado ao elegê-lo como Senador.

**********

Outro nome, no rol dos 344 candidatos que disputam as 24 vagas de  Deputado Estadual é Marcelo Ofayé que concorre pelo PV com o número 43.678. Líder da comunidade a que pertence, tem 33 anos e também é um legitimo representante das lutas dos povos indígenas, ao lado de outros candidatos indígenas que concorrem no Estado de Mato Grosso do Sul.

Marcelo da Silva Lins, embora tenha concorrido uma única vez ao cargo de Vereador em 2016 na sua cidade natal, Brasilândia, situada na Costa Leste do Estado, também pelo PV, conquistando a suplência entre os candidatos não eleitos, mostrou na época ser um jovem cuja voz bem que merecia ir além dos limites territoriais de sua cidade.

Cacique de sua aldeia Anodi, tem destaque na atuação combativa como conselheiro de saúde de sua cidade, representante indígena na Funasa e depois na Sesai, oportunidade em que, visitando todas as aldeias do Estado foi capaz de transformar os sentimentos e aspirações guardadas no coração de cada comunidade indígena em pauta de luta para seus discursos e posicionamentos inflamados, coisa de dar inveja ao mais veterano dos oradores deste Estado.

Nascido e criado no ceio de sua comunidade indígena, também trabalhou em fazendas, razão pela qual estudou somente até o ensino fundamental. Porém, muito observador, aprendeu logo com a vida e o ensinamento dos mais antigos, tornando-se rapidamente uma liderança que extravasou a linha divisória da aldeia, alargando seus horizontes e propostas na defesa de direitos dos os povos indígenas em geral. A ponto de ser considerado uma liderança respeitada em nível estadual e nacional, ainda que muito jovem, para os tempos e exigências atuais.

É um nome que, uma vez eleito Deputado Estadual, fará a diferença na Assembléia Legislativa do Estado. Será a nota dissonante entre as velhas raposas que buscam a cada ano a reeleição; dará um tom novo, não somente mestiço e de coloração parda àquele ambiente tépido do plenário parlamentar Guaicuru. Ao contrário, o dotará de vigor revolucionário, com a coragem de apontar o dedo em riste, e dizer e fazer as coisas que precisam mudar neste Estado para os mais de 70 mil indígenas que vivem em Mato Grosso do Sul.