segunda-feira, 30 de agosto de 2021

 

Verdeano Mendonça de Siqueira: lembranças da barranca do rio Paraná e os frutos da terra.

Carlos Alberto dos Santos Dutra





Relacionar-se e colher os frutos da terra exige mais do que vocação. Exige persistência e sabedoria. Sobretudo para domar a terra, conter as águas e colher os frutos que dela brotam.

Tarefa que aquele senhor sempre soube o quanto isso lhe era necessário e importante para a sobrevivência da família. Até mesmo, porque carregava no nome o verde da natureza e das plantas que cultivava.

Assim foi com seu Verdeano Mendonça de Siqueira, desde quando seu pai, Camilo Pedro de Siqueira, sua mãe, dona Luzia Mendonça de Siqueira e aquela família de 13 irmãos acolheu aquela criança promissora que nascia.

O dia era 14 de abril de 1932 e lá pelas bandas de Alagoas, a história daquele menino e seus irmãos estava apenas começando. Foi quando seus pais resolveram mudar para o interior do sudeste. Vocação de agricultor, a família instalou-se inicialmente na região de Adamantina, depois Santa Mercedes, no lado paulista.

Foi ali que Verdeano passou a sua infância e juventude, sempre trabalhando com a família, plantando e cuidando da lavoura que o pai mantinha, aprendendo tudo o que precisava saber para, depois, seguir a tradição de lidar com sabedoria a terra.

O empenho e gosto pelas coisas da roça, plantio, capina, colheita, transporte e o verde, cheiro do campo era tanto, que aquele jovem não teve tempo nem para ir à escola regular: ele estudou apenas dois meses em Junqueirópolis.

E o curioso é que ele acabou se tornando um mestre das plantações por onde passou. Coisa de dar inveja a muito engenheiro agrônomo que vinham de longe para receber suas lições práticas sobre o seu jeito de cultivar o arroz, o algodão e o quiabo cuja produção sempre foi farta e vigorosa na barranca do Porto João André quando para lá mudou.

Antes de adentrar as terras do então estado de Mato Grosso, o jovem Verdeano morou em Panorama, sendo que de lá, atravessou o rio Paraná para provar a fartura de água e terras de sua margem direita, quando pisou firme na barranca, pela primeira vez, no ano de 1966.

Quando a grande enchente do rio Paraná, inundou as terras de suas margens, ele já se encontrava plantando roças, perfeitamente instalado ao longo da estrada 2, km 4, nos limites da fazenda Cisalpina.

Antes, porém, no ano de 1960 casou com Felisbela Alves de Siqueira, uma alagoana nascida em 20 de maio de 1942, e que veio para Panorama na época em que seus pais também vieram do nordeste. Juntos o casal teve os filhos Milton, Hilton, Sumá, Selma e Nilton Valério.

Nos últimos anos, após deixar Panorama em 1990, quando se separou, depois de ter morado por algum tempo nas proximidades no reassentamento Novo Porto João André, instalou-se definitivamente num sitio no assentamento Pedra Bonita onde continua até os dias de hoje cuidando de suas roças, plantando, colhendo e entregando legumes aos produtores que os revendem em feiras na cidade de Brasilândia.

É aqui, neste lugar abençoado que seu Verdeano relembra os grandes acontecimentos de sua vida desde que aqui chegou, quando começou a trabalhar, inicialmente como proprietário de olaria. Isso era normal naquele tempo, produzia tijolos, sendo que o barro era farto e oriundo das fazendas que estavam sendo abertas na época.

A mão de obra que era utilizada era a dos próprios moradores da barranca, sitiantes, filhos de pescadores, que tocavam roça e também mantinham seus barreiros para produzir tijolinhos. Os animais (cavalos e jumentos) eram utilizados para tocar a maromba (amassador do barro), tijolo que, depois, era vendido para o estado de São Paulo, sendo transportado através das balsas do porto João André (para Panorama) e porto Cisalpina  (para Paulicéia).

Seu Verdeano recorda que na barranca deste rio, nos tempos de fartura, plantou além do arroz e algodão, cultivou também grandes lavouras de quiabo, cenoura, batata doce, entre outras hortaliças nas terras férteis e alagadiças que beiravam aquele manancial de água do velho Paranazão.

Quando ocorria enchentes ele recorda que todos precisavam sair do lugar. Numa dessas, dentro de casa ficou com água na cintura. Tinha umas casinhas, que eram de um peão, num lugar mais baixo: cobriu tudo até a metade das telhas pelas águas. A população, tudo saía. Não ficava ninguém. Era porco, galinha, cabrito. Nós levava tudo para o lugar alto dentro da fazenda Cisalpina, fugindo da água, num espigão lá. Depois, quando a água baixava, voltava tudo, mas demorava, às vezes, uns trinta dias. Era muito sofrimento.

A força das águas não causava prejuízo somente às casas e às lavouras, também atingia os oleiros. A água tomava conta das roças e das olarias, derretia os tijolos; se o tijolo estava feito, perdia. Recorda também das cobras e dos muitos cabritos que as cobram mataram. Diz que nestas horas as casas ficavam todas cheias de água e ele andava de bote dentro da roça colhendo cachos de banana.

Era como se seu Verdeano estivesse revivendo cada momento daqueles: a gente carregava a criação de bote, depois voltava, trazendo a criação de volta, no mesmo lugar. Tinha de refazer o mangueiro que desmanchava, que a água tinha desmanchado, era um prejuízo total. Na enchente descia muito guapé: ‘guapé’ é um mato que cria dentro d’água - explica - e enroscava na cerca aquele guapé. Aí as cercas, com o peso da água, desmanchava, caía tudo, perdia tudo. Depois que baixava a água, consertava os arames, fazia a cerca tudo outra vez.

Sobre suas plantações, observa com orgulho o fato de ter colhido naquelas terras da barranca abóbora com mais de 30 kg. Colhi muita abobora e quiabo lá. Arroz? Nunca comprei arroz quando plantava lá. Feijão também, nunca comprava. Colhi muita coisa lá. Só não colhi amendoim, que foi lá em Santa Mercedes.

Hoje, com 89 anos de idade, ele não vive somente das recordações daqueles tempos áureos que não voltam mais. Encontra forças nas lutas que também empreendeu por lá. Extremamente lúcido, ele permanece muito ativo, tocando a vida e continua plantando legumes aos quais entrega para terceiro vender na cidade.

E lá está seu Verdeano, no portal de sua morada, no assentamento Pedra Bonita, olhando a sua volta o que o homem anda fazendo com a natureza e o verde que lhe emprestou o nome. Respira fundo e agradece ao Sol estar cumprindo os ensinamentos e a vocação que recebeu de seus pais, de como lidar com respeito a terra. E ter sido um dos pioneiros que também contribuiu com o desenvolvimento econômico de Brasilândia, merecedor de todas as homenagens.

 

Brasilândia/MS, 30 de agosto de 2021. 



 

Edmilson e Maria Cardin: melodia e voz que nos falam de Deus.

Carlos Alberto dos Santos Dutra







O diácono ainda se encontrava em casa e separava os paramentos para ir à igreja presidir a celebração da palavra naquela noite de domingo, dia 29 de agosto último. 

Foi quando soube, pelo celular, que dois cantores e animadores da Paróquia Cristo Bom Pastor participariam da celebração, como sempre faziam, porém, naquela noite anunciariam que estavam mudando de Brasilândia e sua frequência às missas e atividades da paróquia não mais seria a mesma, a não ser quando em visita à nossa cidade.

Incrível como vamos nos acostumando com as pessoas e seus dons e nem nos damos conta, tamanha graça que inspiram. E o tempo vai passando. Só percebemos seu verdadeiro valor quando situações como estas nos mostram o quão elas são importantes para nós.

Com este casal tem sido assim. Donos de uma presença singular que enche de encantamento as celebrações, fomos nos acostumando com essa beleza e coro de anjos que deles irradiava em cada cerimônia eucarística... E nem nos percebemos que olvidamos de louvar e agradecê-los.

Agradecer a eles e a Deus por estarem presentes entre nós por tanto tempo, pregando, animando, celebrando e entoando os hinos e cantos que nos dão brilho à alma e enchem de esperança e fé os nossos corações.

Oh, Edmilson, perdoe-me a inveja, ao vê-lo dedilhar com maestria este violão que fala a linguagem inspiradora de paz e enlevo. Que graça poder acompanhar a esposa nos acordes, voz dos anjos, nos salmos e nos demais cantos da celebração.

Oh, Maria que, de aparência frágil, mãe e mulher virtuosa, ergue a voz aos céus para entoar os salmos que proclama e enche a todos da aura dos céus e do Reino que anuncia a cada um dos que atentos lhe ouvem.

Nossa comunidade de fé, ministério da música, grupo de oração, grupo de jovens Sentinela, de acolhida e solidariedade, todos hão de acompanhar vossos passos, vozes e melodias inspiradoras onde quer que andem, e por muito tempo haverão de permanecer entre nós.

Obrigado Edmilson e Maria Cardin por terem estado e ainda permanecer conosco por todo este tempo e o que virá, ainda que a distância nos separe um pouquinho. Afinal, Andradina/SP não fica tão distante assim.

Obrigado pelo vosso sorriso e solicitude. Vossa participação em nossas celebrações e nossos encontros nos tornou melhores. Somos gratos por vossa pontualidade e dedicação. Somos gratos por vossa abnegada presença, atenção e afeto.

Aceite, portanto, o nosso abraço de gratidão e a bênção de Deus, que é Pai, que é Filho, e que é Espírito Santo, que deverá acompanhá-los onde quer que vocês venham a residir.

Permaneceremos juntos, em Cristo, onde houver uma Igreja, um Sacrário, uma Cruz ou um grupo de oração, em qualquer lugar neste mundo de meu Deus, saberemos que vocês estarão lá alegrando e entoando hinos de amor e paz em honra ao Senhor da História.

E que nossa mãe e senhora, a Virgem Maria, deite os olhos sobre vós e vossa família, e os abençoe. São os votos do Diác. Carlito, Pe. Fábio e Comunidade da Paróquia Cristo Bom Pastor.

Brasilândia/MS, 29 de agosto de 2021.

sábado, 28 de agosto de 2021

 

Celina e Sebastião: entre overloques, verduras e bênçãos de Orixás.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 A história de dona Celina dos Santos Paes e seu Sebastião Ramos Ferreira que vivem juntos há mais de 40 anos não tem nada de comum, sendo de toda singular. Quem os vê na rua, com seu jeito simples cheios de humildade, não percebe o quanto de sabedoria e altruísmo pedalam em suas bicicletas.

Demonstrando profundo amor ao próximo, gentis e sorridentes, oferecem frutos de vida em forma de hortaliças que a natureza nos brinda e faz chegar como bênçãos às nossas mãos: verdadeiro presente de Deus. E mesmo não sabendo de suas historias guerreiras e vencedoras, os saudamos e somos gratos por estarem quase todos os dias cruzando nossas ruas, enfeitando e nutrindo nossas mesas do verde saudável que tanto nos faz bem.

Pois bem, depois de suas andanças pela capital paulista, quis o destino que se achegassem a nossa comunidade, aquerenciando-se por Brasilândia no ano de 1990. Ela, dona Celina, filha de Francisco Virtuoso dos Santos, pernambucano, e Amália França Duarte, alagoana, ambos já falecidos, nasceu em 26 de abril de 1949, na cidade de Álvaro de Carvalho/SP, cidade próxima a Marília/SP, sendo oriunda de uma família de quatro irmãos. E ele, seu Sebastião, filho do seu Osvaldo e dona Cléria, ambos mineiros, já falecidos, nasceu na cidade de Poté/MG no dia 2 de outubro de 1948, e vem também de uma família de 4 irmãos.

Por um acaso da sorte ou desejo dos céus, os dois, vindo de pontos tão distantes acabaram se conhecendo no burburinho da cidade de São Paulo quando, cada um deles deixou sua cidade natal e foi rumo à cidade grande. Dona Celina saindo ainda pititica (pequenina, como ela mesma diz) de sua cidade natal junto com seus pais e indo se instalar na vila Boa Vista, em Cajamar, no coração de São Paulo.

Tão logo chegou a juventude, e ela começou a trabalhar na profissão de overloquista, tendo se dedicado a costura de máquina e ao overloque, conta com os olhos cheios de brilho demonstrando orgulho do que fazia. Quando chegou a Brasilândia, lembra que foi chamada por algumas senhoras que haviam adquirido máquinas de overloque, para ser monitora e ensiná-las como lidar com a máquina ainda desconhecida por aqui. Anos depois, lembra que chegaram as máquinas industriais da Promoção Social instaladas no barracão do PROCAP: não cheguei a trabalhar lá, mas vi aquelas máquinas todas... ah eu adorava trabalhar com overloque.

Seu esposo, sentado a seu lado, enquanto se recupera de longa data, de uma cirurgia e pinos colocados em sua perna e bacia, observa a sua companheira. É ela que faz todas as roupas da lida diária e as das atividades religiosas que administra, diz ele. É a roupa que eu tenho - completa dona Celina  com um sorriso de felicidade, como se revelasse ao mundo o seu maior tesouro.

Morando na zona Leste da capital, na região da Penha, depois de fazer diversos cursos práticos no ramo da costura, começou a trabalhar na atividade de overloquista, permanecendo nesta atividade por 25 anos. Frequentou os bancos escolares muito pouco, até o 1º ano de Grupo, à semelhança do companheiro que também estudara, lá em Minas Gerais, somente até o 1º ano. Sebastião fora para São Paulo aos 17 anos de idade em busca de trabalho, e por acaso do destino, veio a estudar e trabalhar muito próximo onde ela, dona Celina, morava e estudava.

Dona Celina, já mulher feita, um dia casou, mas logo se divorciou, libertando, assim o coração para o Sebastião, que conheceu em São Paulo e com quem se uniu em 1982 e vive a seu lado até os dias de hoje. Ele fala com orgulho das três profissões registradas em sua carteira de trabalho: sou marceneiro, operador de caldeiras e prensista. Trabalhou em diversas empresas. Só na empresa Etti, na Cajamar, eu trabalhei 12 anos; trabalhei na Mendes Júnior; na construtora Rodrigues Lima; naquela obra do metrô, até na Barra Funda, do alicerce até correr o metrô eu estava lá trabalhando na sua construção.

A história de dona Celina e de seu Sebastião revela também a dimensão humanitária e espiritual do casal quando a religião entrou e modificou suas vidas. Atividade mediúnica que ela manifestou havia começado aos 23 anos de idade quando, ao consultar um médico espírita descobriu sua habilidade e dom, o que lhe foi revelado ao fazer o rito da iniciação no culto aos Orixás. Liderança espiritual que passou a desenvolver até chegar a Brasilândia em 1990, quando trouxe seu diploma e estátua de Iemanjá instalando o seu Centro de Estudos da Doutrina e dos Fenômenos Espirituais de Umbanda, conforme reza o estatuto da entidade.

Movida pelos mais altos sentimentos de caridade e doação, sente-se feliz em poder, além de benzer pessoas, ajudar os que mais precisam, porém, confessa que gostaria de poder ajudar mais ainda os outros, principalmente as criancinhas sofrendo, fornecendo remédios, roupas, alimentos, doces para a infância desvalida.

Orgulhosa de sua descendente africana, estende a mão para o companheiro Sebastião enquanto seus olhos percorrem a entrada de seu modesto templo, bem junto ao portão, do lado direito, onde se encontra um pequeno quarto fechado onde guarda no seu interior mistérios e oferendas à divindade guardiã das aldeias, das cidades e das casas.

E lá está ela toda paramentada com roupas coloridas que ela mesma confecciona, dançando e reverenciando em homenagem a vida e as entidades espirituais que protegem sua residência e a humanidade. Houve um tempo - ela recorda -, que um grupo de pessoas frequentava o Centro de Umbanda, mas elas [os participantes] não se manifestavam publicamente (...), pois acham que isso era feio, que era errado.

Seu Sebastião sorri para a esposa e, com um olhar singelo e iluminado observa dizendo que tem muitas coisas erradas que a gente sabe, mas cada um deve viver a sua vida (...), e deixar que Deus o ajude, conclui com sabedoria. 

A tarde declina e era como se os guias Boiadeiro, Preto Velho e Caboclos já circulassem por ali. O som bonito e cadenciado do atabaque cuja batida já podia ser ouvido de longe, até às 10 horas da noite, como determina a Federação, observa, adentra de manso e transforma o ambiente a nossa volta exalando o cheiro da terra, da vida, dos bons espíritos e da felicidade. Como que abençoando a cidade e o casal, nosso irmão, Celina e Sebastião.

Brasilândia, 28 de agosto de 2021.

 

A história de dona Celina e de seu Sebastião continua. E os detalhes da vida desta yalorixá sacerdotisa poderão ser conferidos no livro "Historia e Memória de Brasilândia/MS", volume 5-Poderes, que em breve há de circular entre nós.

 

terça-feira, 24 de agosto de 2021

 Tio Pedro: o Papai Noel da infância de Brasilândia

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 






A sala está escura e aos poucos os primeiros estalos e flashes sobre a tela branca iluminam a mente daqueles olhinhos brilhantes atentos aos letreiros que surgiam e inundavam corações. Aquilo era verdadeira paixão diária. Todos os trocados ganhos do pai, Antônio Alpino ganhos por auxiliá-lo na padaria Modelo que a família mantinha e o açougue do nono Pedro Alpino, tinham um endereço certo: a bilheteria daquele cinema encantado que embalou sua juventude.

Sempre muito alinhado, para o orgulho da mãe, Maria Bellote Alpino e sem dúvida, dando uma pontinha de inveja nos demais irmãos, Vanderlei, Douglas, Antônio e Leda, e lá estava o jovem esbelto, de terno e gravata, Pedro Alpino Netto, depois de voltar do trabalho, dirigindo-se ao cinema, demonstrando beleza e despertando o suspiro dos primeiros madrigais por onde passava.

Mas sua atenção estava voltada não para os estudos, pois concluiu apenas o 4º ano primário, mas para os filmes de bang bang que o empolgavam: era o Tarzã; o Rim Tim Tim; o Fantasma, entre outros que se tornaram seus maiores professores  E tantas outras aventuras que o faziam viajar no espaço e no tempo, para lugares distantes da cidade paulista de Marília onde nascera no dia 14 de março de 1938, por vezes chegando a colocar, em pensamento, os pés na terra de seus antepassados, a Itália.

Sant’Andrea, recorda (...). Esse era um nome que sempre lhe vinha à mente, como o badalo de um sino no alto do monte. Sobretudo agora, quando a idade avançada já o alcança e as recordações todas afloram no descompasso dos dias (...). A terra de seus avós e pais, que de lá vieram de navio para o Brasil numa difícil travessia ocorreu no início do século passado e aqui construíram suas vidas e fizeram história.

Esse  parece ser o trecho de uma estrada ainda não percorrida na busca de suas origens, de suas raízes, o que é alimentado e estimulado pela esposa Creuza Aparecida que insiste para que este sonho de viajar não esmoreça (...).

Na ordem dos irmãos Pedro era o segundo e a ele cabia entregar o pão que seus pais produziam na padaria (...). Era um tempo em que esse serviço era feito a cavalo. E lá ia o jovem Pedro Alpino, com apenas 12 anos de idade, contente, muito cedo, pelas estradas ainda sem calçamento de muitas ruas e estradas vicinais, entregando pães; de casa em casa, de sitio em sítio, chegando muitas vezes à sede de fazendas distantes. Isso o fazia, na maioria das vezes, voltar do trabalho já no cair da tarde (...).

O tempo voa e já maduro cismou de tentar a sorte e experimentar outros ares, mais distantes. Sempre gostou de mato, como ele mesmo diz: o nego falava: vamos em tal lugar? Tem mato? Perguntava. Tem. Ao que ele prontamente respondia: Então vamos. De outra feita, recorda, fui à barra do Garças para pescar, em 1967. (...). Nesta oportunidade Tio Pedro chegou a comprar dois jogos de bateia e doar a um garimpeiro que o retribuiu com umas pedrinhas (...).

Foi nas suas andanças pelo Mato Grosso que a vida dura e de provações fizeram-se sentir sobre os ombros deste aventureiro. E isso acabou revelando-lhe o quanto estava preparado para os desafios que enfrentaria. Verdadeiro sertanista em terras ainda pouco exploradas e habitadas somente por indígenas Xavante, com quem travou diálogos e vivências de alteridade dignas de registro e ensaio de um experiente antropólogo.

Hoje, com 83 anos de idade Pedro Alpino Netto revive com brilho nos olhos aqueles tempos e longas histórias cujos personagens principais foram ele, o índio Jon, os garimpeiros e os fazendeiros pelos confins daquela região por onde permaneceu por um bom par de anos. Quando voltou desta aventura, já era um homem feito, trazendo na velha mochila que levou, à exceção das lembranças, quase nenhum vintém do que levou. Estar vivo, são e salvo, foi, sem dúvida, o maior presente para a família que o recebeu de braços abertos.

Aportou por Brasilândia no ano de 1976, com 38 anos de idade logo após o falecimento do prefeito Paulo Simões Braga (1932-1975), quando o vice-prefeito Gentil Ferreira de Souza (1934-2012), assumiu a administração Municipal. Como a vocação que lhe reservara o destino foi a vida rural, foi por aí que iniciou sua trajetória em Brasilândia dedicando-se a trabalhar como administrador de fazenda, tendo permanecido por vários anos, empregado como gerente, da fazenda Buriti,  de onde colecionou o apelido Pedro Buriti.

O apelido carinhoso de Tio Pedro, foi talhado anos depois, pela empresária Maria de Fátima Servilha Barbosa, esposa do saudoso Isac Honorato Barbosa (1946-2010), que se esmerou em aproximar Tio Pedro de uma jovem conhecida sua, o que conseguiu lograr êxito (...). Sempre muito educado e polido no tratamento com os outros, despertou também a simpatia das moças da cidade, entre elas aquela que viria a ser a sua esposa: Creuza Aparecida de Andrade Alpino.

Ela trabalhava como caixa do açougue do Donato Ferreira dos Santos (1940-2015). O então administrador Pedro Buriti nesta época entregava carne neste açougue onde ela trabalhava, porém nunca havia colocado reparo naquela moça. Um dia desses, depois de comprar carne, colocou deitou os olhos sobre o rosto daquela moça que sempre o atendia e não havia percebido seus predicados e formosura. Foi quando dela enamorou-se.

O casamento ocorreu em Marília no dia 5 de maio de 1978. Ele com 40 anos, e ela com 19 anos, para a alegria dos pais da noiva, Joaquim Borges de Andrade (1919-1994) e Maria Demundina da Silva. Foi ao lado da esposa que Tio Pedro viu nascer dessa feliz união os seus três diletos filhos: Danielle, Douglas e Dayane (...).

Após a venda da fazenda Buriti, anos depois, Tio Pedro, em razão de suas habilidades profissionais, conseguiu emprego na Prefeitura Municipal de Brasilândia na função de operador de máquinas, tendo como seu superior Joaquim Pinto Nunes (1954-2000), popular Maritaca. Sempre as voltas com patrolas e caminhões basculantes rasgando as estradas do município, pernoitando muitas vezes ao relento em acampamentos improvisados a quilômetros de distância da sede do município. O que sempre fez com o maior gosto e presteza.

Foram as administrações públicas que se sucederam, comandadas pelos prefeitos Neuza Paulino Maia (1937-2017),  José Cândido da Silva e Marilza Maria Rodrigues do Amaral (1947-2009), entretanto, que fizeram aflorar outro dom que o Tio Pedro possuía: o de se transformar em Papai-noel todos os anos. Era quando ele vestia com o maior zelo e rigor a farda que lhe fora doada por Mauro Alves de Oliveira (1948-2015) que era membro da Loja Maçônica Vigilantes de Brasilândia, e seguia em comitiva oficial do município distribuindo presentes, agasalhos e brinquedos para as crianças nos bairros, sítios e fazendas.

Aquilo era a maior alegria para os moradores que viviam distantes na zona rural. Ao lado dos discursos da secretaria de Promoção Social da época e os prefeitos que se faziam presentes nestes eventos para anunciar obras e serviços realizados por suas administrações, lá se encontrava o papai-noel, o preferido das crianças mais interessadas nas bolas e bonecas distribuídas do que nos discursos de palanque.

Uma rápida olhada nas fotos da época, e o dedo do octogenário Tio Pedro aponta e reconhece ali a sua cabeleira e barba de algodão branco e a clássica vestimenta vermelha que usou por tantos anos. Recorda o tempo que esses eventos eram comandados pelo professor José Quintino de Souza, que era o mestre de cerimônia nestas ocasiões. O caminhão ia à frente anunciando, o Quintino com um alto falante anunciando: Papai Noel chegou! E tinha moleque que corria acompanhando e acenando para ganhar presente, lembra sorrindo.

A fumaça dos churrascos que Tio Pedro comandou e foi mestre, promovidos por entidades filantrópicas de Brasilândia, e também em Marília são lembranças que afloram. É como se o cozinheiro de mão cheia que era estivesse ao redor do churrasco sendo preparado para festas de aniversários, amigos da maçonaria, rapazes do alojamento do primeiro posto de atendimento do Banco do Brasil.

Só para ter uma ideia da fama culinária do Tio Pedro basta dizer que o famoso Capitão Jota (João Paes de Lima) sempre lhe franqueou a entrada em qualquer lugar devido a fama de bom assador de carne que era. Da mesma forma seu talento demonstrado no esporte amador, quando foi goleiro do time de futebol de campo da Portuguesinha e o MAC, de Marília, e jogador do BAC e do União, em Brasilândia.

A tarde declina e uma lágrima teimosa e furtiva ameaça rolar pelo rosto daquele que ainda não contou nem a metade das histórias que guarda no peito. A esposa e os filhos olham para o Tio Pedro, já com rosto de Vovô Pedro, e seus olhares se iluminam cheios de agradecimento e felicidade por poderem contar com sua presença e ter trilhado juntos tantos quilômetros de estrada. Da mesma forma os amigos, entre eles este escrevinhador ouvinte que igualmente se ilumina com a luz que desprende daquele – Pedro Alpino Netto -, que se encontra a nossa frente.












P/S  Fotografias e a história completa desta entrevista concedida pelo Sr. Pedro Alpino Netto ao autor em 13.Jul.2021, se encontra no Volume III-Assistência, da coleção História e Memória de Brasilândia/MS.

 

Brasilândia/MS, 24 de agosto de 2021.
Dia da Infância e Dia do Artista.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

 

O aniversário de Glorinha e as lembranças de um rio de felicidade.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

As águas do rio Verde e Paraná, naquela época eram caudalosas e a correnteza firme permitia que no final da época de piracema os peixes que haviam subido para as nascentes dos rios, descessem fortes, adultos e vigorosos, para a alegria dos pescadores e turistas que aquele movimento das águas atraía.

O ambiente calmo e refrescantes do imponente Iate Clube Rio Verde, do paraíso do pescador Changrilá Clube e outros ranchos beira-rio, ali era o ponto de encontro da alta paulista e dos brasilandenses nos finais de semana.

Era quando a família se encontrava para desfrutar aquela magnífica paisagem e ser recebida pelos anfitriões do lugar – seu Luiz Bolognesi e Maurício Ferrini, entre outros, que rapidamente colocavam no pescoço dos visitantes colares de contas coloridas que identificava os créditos para o consumo do bom e do melhor que o restaurante, clube, e ceva do bolacha, ofereciam aos visitantes.

Pois foi num dia desses que a memória ainda recorda e nos faz extremamente feliz que tudo aconteceu. Era o aniversário de um jovem filho de Maurício, e lá se encontrava aquele simpático casal que se fazia presente entre os convidados que frequentavam o lugar.

E lá estava aquela jovem senhora, Maria da Glória de Freitas, carinhosamente chamada de Glorinha, desfrutando daquele dia de festa entre amigos e familiares. O rosto rosado da fotografia da época muito próximo a face de seu amado conferiam beleza e formavam um par perfeito, quase um sonho.

Nascida no dia 14 de agosto de 1948, na cidade mineira de Patrocínio, ela era filha de dona Adelaide Maria de Jesus e seu José Vicente de Jesus, fruto de numa família de cinco irmãos. E lá estavam os rostos risonhos dos irmãos que a irmã Maria da Glória ainda guarda na saudade: Valter Dornelas, Hélio Vicente de Jesus, Iraci Vicente de Jesus, e José Vicente de Jesus.

Em meio àquele ambiente bucólico que se encontravam, ela lembra sua história de vida. Sua família veio direto para Brasilândia. Isso era o ano 1963, quando a cidade vivia como distrito de Três Lagoas, e nem havia sido emancipada ainda. Foi na Cidade das Águas que Glorinha conheceu aquele que viria a ser o seu esposo, quando ainda trabalhava no frigorífico.

Depois de passar a infância e adolescência por entre as ruas da cidade fundada por Antônio Trajano dos Santos, e ter estudando até a quarta série na antiga Escola Estadual João Ponce de Arruda, casou com o jovem Políbio Leal de Freitas e juntos construíram um lar, firmando-se no comércio de Brasilândia com a Casa Nova, inaugurando uma das primeiras lojas que ajudaram a soerguer a pequena comuna que emergia em meio ao cerrado, ao lado de outras.

Romântica e apreciadora da boa música, Glorinha passava horas viajando nos acordes que preenchiam os espaços de sua casa, muito ampla e sempre acolhedora. Enquanto o marido se mantinha às voltas com seus negócios e reuniões políticas que lhe garantiam boas amizades e reconhecimento social, Glorinha não descuidou dos encantos da vida e os rebentos logo começaram a lhe sorrir: as filhas Marissol e Maris Cristina, e depois os netos Arthur e Laís.

O burburinho da conversa e sorriso dos turistas que frequentam os clubes da beira-rio, aos poucos vai silenciando, e um ar de nostalgia a envolve por alguns instantes. É quando Glorinha se dá conta que é feliz e está ali cercada de amigos: é como se novamente abraçasse as amigas Isabel, Cleri, Mercedes, Neuza, e tantas outras que, por serem eternas, permanecem coladas no seu peito.

A felicidade estava perfeita. A lembrança daquele encontro do passado, ainda hoje, de quando em vez, ocupa o pensamento de Glorinha. Especialmente nestas datas especiais, como no dia de seu aniversário, momento que percebe o quanto o sonho que um dia sonhou se tornou realidade.

A dor da partida do companheiro de caminhada ainda não cicatrizou, mas a alegria de continuar cultivando amigos e mantendo os laços que sempre lhe acompanharam permanece. Amizades verdadeiras nunca lhe faltaram, desde os tempos de juventude e recém-casados, quando Brasilândia ainda era de poucos fogões, com o tempo elas só cresceram.

E nada a fez se desanimar de sua fé e devoção, sendo uma fiel católica praticante que nunca duvidou da força do Alto, participando desde cedo das atividades da Paróquia Cristo Bom Pastor. Sentimento cristão e de solidariedade que nutriu participando como voluntária na AVCC, entidades beneméritas e pastorais sociais da Igreja.

O tempo passa e a vida continua. As águas do rio Verde e Paraná hoje são mansas, represadas, assim como as lembranças, contidas, mas ainda ao alcance da mão, pela força de uma fotografia. Os amigos, eles continuam acenando e festejando a nossa volta. Confiantes na força inabalável do Amor que guardamos sobre cada momento vivido, experiência única de felicidade que a cada ano festejamos.

Uma demonstração de vitória para Glorinha que festejou seu aniversário dia 14 último. Você chegou lá, amiga Glorinha. Feliz Aniversário! Te amamos!

Brasilândia 18 de agosto de 2021.
















segunda-feira, 16 de agosto de 2021

 

Pastagens, preservação ambiental e responsabilidade em tempo de escassez.

Carlos Alberto dos Santos Dutra












Leio na Coluna Rural e Ecológica Brasilândia/MS, do nosso amigo ecologista técnico agrícola e servidor da AGRAER, José  Melo de Carvalho, o alerta à comunidade sobre a situação precária das pastagens que está colocando em risco a sobrevivência dos animais não somente pela escassez de alimento, como também pela falta d’água  para a dessedentacão dos animais.

E lá vai, incansável, aquele senhor no alto de seus 61 anos de idade e vigor juvenil, dando o exemplo para muitos jovens da geração atual sobre a urgente e necessária consciência ambiental cujos pais e avós adquiriram na prática, aprimoraram na técnica, transformaram-na em ciência e lhes serviu para a vida inteira, sendo colocada na ordem do dia do tempo que se chama hoje.

Os 580.354,2 hectares de extensão do município de Brasilândia, antes coberto de vegetação nativa e pastagens rasteiras pontilhadas de gado vacum, hoje o cenário se apresenta bastante alterado. Se ontem (2005)  pastavam candidamente mais de 558,2 mil cabeças de gado (1) por estas terras outrora descobertas pelos Ofaié, passados 15 anos, a população bovina encolheu 31,9% estando reduzida a 379,8 mil cabeças (2).

A manta verde que cobre as planícies levemente onduladas de seus campos, hoje é o império da cana e do eucalipto; ao lado da suinocultura e outros produtos primários que geram emprego e renda e impulsionam o progresso da cidade. 

Isso, sem dúvida, acarretam mudanças na matriz econômica do município que cada vez mais volta os olhos para o segmento terciário de produção. O setor de serviços, sem dúvida, conquistou impulso considerável nos últimos dois anos, sobretudo, em razão da pandemia.

Comportamento que passou a competir grandemente em números cada vez maior com o setor primário da agricultura e pecuária, diante da escassa presença da indústria nesta comuna idealizada há 64 anos pelo patriarca Arthur Höffig.

O nosso técnico que tudo observa debaixo da aba do chapéu de palha que ostenta, em sua viagem por entre as gramíneas ressecadas onde pisa, ao longo das cercas e seriemas, vence distâncias em direção a um lugar por vezes olvidado das decisões da urbe: o assentamento Mutum

Ah, como são extensas essas estradas e a poeira que as envolvem, depositadas grão por grão nas gramíneas rasteiras e arbustos ressequidos que leva o vento até o telhado da humilde casa do sertanejo assentado que ainda sobrevive no campo.

O olhar do profissional, circunspecto com o que vê, sente-se triste e preocupado, escreve ele na sua página do Facebook, com a situação precária das pastagens: depois de sete meses de seca e duas geadas, encontrei muito gado em estado degradante de fome. Se a seca prevalecer por mais tempo, muitos animais vão morrer de fome e de sede. 

Sua preocupação vai além ao alertar para a sobrevivência da fauna e flora quando observa a derrubada de árvores: além das baixadas, as árvores foram queimadas e não haverá frutos para alimentar a biodiversidade.

Como alternativa aos produtores pecuaristas, o técnico dá o exemplo, relatando o que ele mesmo está fazendo neste momento de estiagem para contornar o problema da escassez de alimentos para o gado: já estou no feno há trinta dias, e preservei feno em pé, o que lhe garante alimentos para três meses. 

Seu alerta procede, uma vez que em muitas propriedades o gado já demonstra quebra na sua condição corporal. Segundo o José Melo de Carvalho, muitos fazendeiros são extrativistas e não fazem o manejo de pastagem recomendado, asseverando que deveriam olhar com mais responsabilidade para seus rebanhos.

O ecologista atento às mudanças climáticas, numa indignação que é partilhada por muitos, no seu comunicado assume a dor dos animais que padecem desafiando os proprietários  ficar trinta dias sem comer, para sentir na pele o sofrimento dos animais, chamando a atenção daqueles que deixam o pobre do gado morrer de fome, exaspera-se.

Soma-se ao seu alerta, o enfático chamamento e apoio do IAGRO para o velho e sempre atual método extensionista de proceder a visitas aos proprietários rurais neste tempo de escassez hídrica. Ao mesmo tempo requer que seja aplicada a Lei, pela IAGRO e PMA, que pune os maus tratos de animais (3), porque não compram  feno e ração, e não planejam o manejo de pastagens.

Ao mesmo tempo em que faz crítica aos piores pecuaristas do Brasil, com uma réstia de esperança, conclama aos munícipes proprietários (que poderiam aproveitar a alta do valor de comércio da carne alcançado no último ano), a investir em melhorias, reformas e manejo de pastagens de suas propriedades, confia. 

Seu grito, por vezes solitário em defesa do setor, avança pelos campos e redes sociais em busca de solidariedade e interessados numa agropecuária competitiva e ao mesmo tempo sustentável. Clamor preservacionista de jovens filhos de proprietários pioneiros que herdaram o esforço e dedicação dos pais, oxalá bebam na fonte e, com urgência e humanidade, venham a assumir com mãos sábias o destino do campo, plantas e bichos.

Brasilândia/MS, 16 de agosto de 2021.










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(1)   IBGE, 2004-2005

(2)   IBGE, 2019-2020

(3)   https://www.campograndenews.com.br/meio-ambiente/pecuarista-e-autuado-por-deixar-236-cabecas-de-gado-sem-alimentohttp://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2012/08/produtor-e-multado-em-r-107-mil-por-deixar-107-vacas-sem-comida-em-ms.html https://correiodoestado.com.br/cidades/gado-e-abandonado-sem-pastagem-e-rebanho-pode-ser-sacrificado/362452

Foto: https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/boi/291925-projeto-de-recuperacao-de-pastagens-degradadas-do-fundo-brasileiro-de-biodiversidade-na-apa-do-ibirapuita-vai-utilizar-metodologia-desenvolvida-pela-embrapa.html#.YRpmZYhKjIU, 02.Jul.2021. E Facebook.