Raimundo Pedro de Souza, 93 anos: o homem, a educação e o tempo.
Carlos Alberto
dos Santos Dutra
Seu Raimundo
Pedro de Souza completa neste dia 2 de agosto de 2021, a incrível marca de 93 anos de
idade. E faz jus ao título que este escrevinhador lhe confere como o homem do tempo. Não somente pela
longevidade que ele e a esposa Ana demonstram como uma verdadeira bênção para a extensa família que criaram, mas em razão de uma atividade que sempre desenvolveu,
desde a época em que se encontrava morando em fazendas, que era a de consultar o pluviômetro que
registrava o quanto havia chovido no dia anterior.
E lá estava ele,
após um dia ou noite de chuva consultando seu aparelho de meteorologia
recolhendo e medindo, em milímetros lineares, a quantidade de líquidos precipitado
durante determinado tempo e local. Aparelho muito útil e comum em fazendas,
onde as informações sobre o tempo são por demais preciosas, tornou-se hábito de
seu Raimundo recolher os dados e repassá-los ao Jornal de Brasilândia para o
qual colaborou durante vários anos, também com poesias e comentários, sempre
demonstrando ser um cidadão interessado e comprometido com sua comunidade.
Mas a história deste cidadão não se
resume a esta habilidade somente. Seu grande legado se encontra, sem dúvida, no
campo da Educação. Raimundo Pedro de Souza, um nordestino vindo lá do Ceará, região
do Crato, nascido em 2 de agosto de 1928 e que aqui chegou à região de
Brasilândia em 1955, pisou firme nesta terra para fazer história, em especial, a história da Educação deste município.
Tudo começou
quando chegou à fazenda Pinheiro para trabalhar como administrador, onde permaneceu
no comando daquela propriedade por 19 anos, deixando aquela região chamada de Pontal, quando mudou para a cidade, em
1976. Foi ali que criou os seus 15 filhos, dos 16 que dona Ana, sua esposa, lhe
deu.
Pois foi por iniciativa
sua que se deu a construção da primeira escola naquela região para os moradores
daquela próspera região criadora de gado. Homem simples, porém instruído no
saber e amante da leitura, conta com orgulho que pagou do seu bolso, durante
dois anos, o salário de uma professora para ministrar aulas aos alunos das
fazendas, tamanho seu interesse pela educação daquelas crianças.
A jornalista Patrícia Acunha nos conta que tudo começou em meados
de 1986, quando seu Raimundo passava por um grande problema na fazenda que administrava, pois os filhos dos
trabalhadores daquela região não tinham a possibilidade de estudar em uma
escola, pois a mais próxima os alunos demoravam horas para chegar.
Raimundo sugeriu então ao prefeito
da época, José Cândido da Silva a construção de uma sala, para comportar na
época, cerca de 40 alunos que residiam no lugar. O dedicado cidadão ajudou no
levantamento do prédio e durante três anos pagou de seu próprio bolso um
professor para a escola. Logo após o funcionamento ficou responsável pelo
prédio a Prefeitura de Brasilândia.
O pequeno salão ia de vento em popa, mas, anos mais tarde,
por motivo de força maior, a então prefeita
Neuza Maia fechou a escola. O sonho de ter uma vida melhor foi trancado
junto com as portas e janelas do prédio. Raimundo,
entretanto, não se conformava com a
situação e mais uma vez tomou a frente da ocasião e começou a fazer um
levantamento em toda aquela região das crianças que precisavam de escola. Feito
o estudo de quantas pessoas ficariam sem estudo, o mesmo levou até à Prefeitura
pedindo a reabertura da escola. Visto que não eram poucas as crianças que
necessitavam do aprendizado, a prefeita reabriu a Escola e assim a esperança
voltou a brotar em cada um dos olhos dos estudantes.
A escola cresceu, ganhou novos
lugares, formatos e professores. Na época em que a jornalista redigiu a matéria
(2008), além de possuir esta sala, também havia outra sala localizada na fazenda São
Luiz, ambas localizada na região da fazenda Pontal. Tonou-se, assim, referência
em ensino na região, sendo elogiada pelos superiores da educação no município,
sobretudo pela disciplina e o estudo aplicado aos estudantes da região.
Foi quando na época, com 79 anos
de idade, Raimundo Pedro de Souza, ao
visitar novamente o prédio da escola pode ver a nova geração aprendendo a ler e
escrever, e se emocionou. A Educação é o
caminho para um futuro melhor. Tal frase surte efeito positivo àqueles que
têm a oportunidade de adquirir um pouco de sabedoria dos mais velhos. Mas, para quem não teve ou não tinha chance
de poder ter um caderno e lápis na mão e poder conhecer o mundo dos números e
das letras? Como é que fica? Pergunta ele sorrindo.
As dificuldades enfrentadas e
vencidas por Raimundo Pedro de Souza
em favor da Educação em Brasilândia merece
o digno respeito de todo o cidadão brasilandense. E ele sente orgulho por ter dado o primeiro passo
na educação de muitos que hoje percorrem em um caminho em busca de um futuro
melhor do que ontem, hoje e sempre, concluiu (1).
Sobre sua história, ele mesmo
conta em forma de uma magistral poesia publicada no Jornal de Brasilândia em 2007: Meu nome é Raimundo Pedro de Souza. Vou
contar a minha vida. Eu fui criado no campo. A roça era a minha lida. Meu pai
era um homem rígido. Me ensinou a trabalhar. Plantando milho e feijão. E depois
tem que cuidar.
Mas quando eu fiquei mais moço. Resolvi a me casar. Me
casei então com Ana. A princesa do lar. O dia do casamento eu. Vou contar para
vocês. Foi no dia 4 de março. Do ano de 53. Depois de 12 meses. O primeiro filho
nasceu. Botei o nome de João. Conforme o desejo meu.
Cada espaço de dois anos. É mais um filho que vem. Veio
José e Erotides e. Fátima e Antônia também. Adelaide e depois o Josualdo. Chegou
a vez do Antônio. Que quase piaza. Depois veio Terezinha, Ilda. Para enfeitar a
casa. Clodoaldo e Francisco. Nasceu em setenta e dois. E a imagem de nós pais. Em
cada filho se pois.
São 15 filhos saudáveis. Que nos dão muita alegria. E
nos trás felicidade. No correr de cada dia. Nos mudamos para a cidade. Para a
vida melhorar. Empregar as crianças. E o estudo continuar. Estudar todos os
filhos. Foi esse nosso ideal. E mesmo sendo difícil. Algum fez até o colegial.
O caçula sempre fez força. Para estudar com a graça.
Que Deus mandou. Seguindo os estudos. Se formar a professor. A nossa família é
unida. Possa contar essa graça. A tradição vem de longe. Comprovando a nossa
raça. Nossos filhos e nossos netos. Amamos de coração. Nossos genros e nossas
noras. Temos carinho e consideração.
Temos 31 netos e 5 bisnetos. A família vai crescendo.
Cinco bisnetos são lindos. Todos com vida e aprendendo. Pedimos a Deus que
abençoe. A nossa família inteira. Paz, saúde e alegria. E sucesso na carreira. Vou
parar com estes versos. Para cuidar de outra lida. Em cada um deles. Um forte
abraço. Que prá você sempre liga (2).
Homem engajado na política e nos
destino de seu município, por ser um frequentador assíduo das sessões da Câmara
de vereadores, seu Raimundo foi considerado por muitos anos o 10° vereador de Brasilândia. No campo
comunitário no ano de 2005 foi eleito vice-presidente da Associação de
Moradores AMATA, no bairro onde mora com a esposa. Igualmente, antes da
pandemia, frequentava sem nunca faltar a santa Missa aos domingos e durante a semana as
reuniões do Círculo Bíblico que juntamente com sua esposa Ana fundou no antigo
bairro COHAB.
Hoje, ao completar 93 anos idade, o coração da família Raimundo Pedro de Souza está em festa e duplamente abençoada por ter junto de si a mãe Ana, e este pai patriarca que permanece o cerne e esteio de uma construção perene cristã que os une. Pai, avô, bisavô, tataravô... lúcido e sempre pronto para acolher quem chega a sua casa, nunca descuidando de ler a Bíblia e ministrar seus conselhos e ensinamentos. Antigos, sim, mas que garantiram e sustentam até os dias de hoje os valores da fé e do respeito e admiração que todos lhe devotam. Feliz Aniversário seu
Raimundo Pedro de Souza. Parabéns família Pedro de Souza. Vida longa ao seu Raimundo e dona Ana!
(1) Educação sem Fronteiras, por Patrícia
Acunha. Jornal da Cidade, 2.Jul.2008.
(2) Publicado na
coluna Artigo no Jornal da Cidade,
07.Jul.2007.
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