Eva Freitas e Milton Ducatti: um casamento para toda a vida.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Eu tinha a 4ª série quando fui convidada para dar aula como professora
leiga na escola rural. A história de
uma filha de Brasilândia, como a de tantas outras mulheres que aqui nasceram e
cresceram, muito trabalharam e tiveram seus filhos, pode ser vista como aqueles contos de
fada real, de nostalgia e beleza que enlevam sempre o coração das pessoas.
Mais que isso. Histórias que nos
remetem aos braços e corações daqueles que amam viver e descobrir por entre as
flores e as pedras do caminho o significado e importância do sorrir, sonhar e viver. Êxitos e
vitórias, percalços e lágrimas suportados; garra e força no frescor da juventude para levantar e
continuar caminhando. Até que o sol finalmente lhes ilumine a estrada.
Era o casamento da filha do seu Manuel Moreno. Porque o seu Manoel
Moreno era muito amigo daquele que veio depois a ser o meu companheiro. E lá estava a menina com 17 anos de idade convidada
pela amiga, também professora, naquele acontecimento social que modificaria para sempre sua vida. Na companhia do pai e da mãe, a jovem adentrou naquela festa
rural confiante e de cabeça erguida.
Trazia nos braços um pequeno
volume enrolado em cueiros de flanela que ainda guardava o perfume e lembrança do enxoval que ganhara após seu enlace. E lá se encontrava dentro, protegido em seus braços, um
par de olhos verdes brilhantes e pele rosada: um coração cheio de vida, abanando as mãozinhas, com apenas seis meses de idade.
Os passos decididos da jovem
senhora pisaram firmes sem temor algum naquele espaço de glamour e atenção que toda noiva sonha.
Para trás deixara os sonhos que a separação a fez despertar deixando nos
seus braços o fruto inocente de um amor que lhe foi fugaz.
E ai passou aquele senhor, ele muito simpático, tinha quarenta e
poucos anos, eu acredito. Aí eu olhei. Nossa, eu vi que era uma pessoa assim, que
chamava a atenção, diferente. Era tudo que
o coração daquela jovem merecia apreciar naquele momento de congraçamento. E
ele estava ali, a poucos passos de sua felicidade. Olhou para ele dos pés a
cabeça e seu coração dele se afeiçoou. Afinal, ela tinha os seus predicados e não era uma jovem de se
jogar fora.
E ele deu uma olhada pra mim. Eu também não era assim... Eu era uma
morena, tinha um cabelão comprido. Aí ele me olhou, eu olhei para ele... E aconteceu. O amor nasce assim: primeiros são os olhares, depois
os detalhes, e por fim as informações, antes da decisão final. Naquela festa o casamento era da amiga,
mas para a jovem Eva, o enlace se deu ali, e se estendeu até ela. Foi a moça mais feliz naquele dia. Alegria que irradiou para toda a Xavantina onde ela morava com seus
pais.
Aí, eu percebi: ele foi pedir informação. Quem era aquela morena? Aí a
pessoa que me conhecia falou sobre mim: que eu era separada, que era uma pessoa
muito trabalhadora. Falou que eu dava aula como professora e que tinha um filhinho,
e era muito responsável.
Foi quando o quarentão Milton,
que em suas andanças entre Xavantina, Brasilândia e Dracena, sempre varando
estradas por estes sertões com caminhões transportando sacas de arroz, café,
amendoim, mamona, e algodão, puxou o freio de mão da vida, e deixou-se ser cativado pelos encantos da jovem Eva.
Se para o lado da jovem o
mundo tinha se transformado num mar de rosas, para o futuro esposo, o caminho
foi um pouco mais longo e desafiador. E
aí eu descobri e ele me contou que era desquitado e que sua filha caçula, dos quatro filhos que tinha com a
primeira esposa (José Milton, Jair, Lucas e Fátima), ela era quase da minha idade, observa.
Outro desafio foi ter de
conviver com a mentalidade tradicional dos futuros sogros, sendo o pai de ascendência italiana, que colocavam óbices
à união do casal. A mãe dele, tadinha, que
era uma pessoa super conservadora, reservada,
na época, ela falou: --filho você tá louco, ela [a Eva] é uma criança. Eu tinha 17 anos na época, ia fazer 18 anos. A mãe dele
ficou desesperada, porque ela achou que não estava certo.
Mas o que tem que ser acontece
e o amor falou mais alto e forte. Aí a gente se conheceu durante mais ou menos uns 10
meses. E resolvemos juntar nossas vidas e estamos juntos até hoje. Ele criou meu filho Edmilson
igual ao filho que tivemos juntos, o Rodrigo.
O quadro da família feliz estava concluído e se encaixava perfeito nos contorno da felicidade e da graça. Um lar onde o respeito e o carinho venceu as torrentes do tempo sob a poeira das estradas do velho caminhoneiro e sua jovem e fiel companheira que juntos continuaram lado a lado. Ele, Milton Ducatti, nascido no dia 12 de maio de 1931, hoje com 90 anos, e ela, Eva Freitas, nascida no dia 19 de julho de 1957, hoje com 64 anos de idade.
Mas ela continua vendo todas as manhãs - quando se encontrava em frente ao espelho -, aquela jovem com os mesmos olhos do
coração, e sonhos que embalou quando moça, desde aquele dia, há 46 anos, quando tudo começou, numa festa de casamento que abençoou sua vida.
Brasilândia/MS, 10 de agosto de 2021.
Uau fiquei emocionada reviver essa trajetória muito muito agradecida a Deus e a vc Dr Carlito Dutra obrigada Deus continua Abençoando Vc e todos q o ama🙏😇
ResponderExcluirSeu Milton,uma lenda viva da nossa cidade. Em suas andanças transportando produção,com sua experiência já levava em separado saco de amendoim pra sgradara molecada que o rodeava quando chegava na máquina de beneficiamento. Pois era garantia que sua carga não seria remexida,sua bondade sem tamanho. Eu e muitos outros meninos que morava ao redor já esperava pelo Mirto Ducatti.
ResponderExcluirHoje minha gratidão pela família. Naqueles tempos,era pra matar fome de muitos moleques que contava com sua generosidade e muito carinho.