quinta-feira, 21 de julho de 2016

Professora Abadia

Somos gratos a Professora Abadia.
Carlos Alberto dos Santos Dutra

No dia 17 de agosto de 2012 a educação e a cultura de Brasilândia estavam em festa. Era promulgada neste dia a Lei 2.463 que denominava a Biblioteca Pública do município de Professora Abadia dos Santos.

Através de um projeto de outra professora do município, Eurides Palharis Lins, e sancionada pelo então Prefeito Municipal Dr. Antônio Thiago, Brasilândia, assim, prestava uma merecida homenagem, ainda em vida, a uma das pioneiras educadoras desta comarca.

Desde que aqui chegou na década de 1950 esta cidadã, nascida lá em Glicério-SP no dia 21 de dezembro de 1940, seu olhos contemplaram o nascimento de Brasilândia. Alegria do popular Joaquim das Moças, jamais se sentiu imigrante, embora tenha habitado durante a sua infância um território denominado CIC – Companhia de Imigração e Colonização da Bacia do Rio Paraná, nos lembra a placa colocada em sua homenagem no frontispício da Biblioteca Pública que leva o seu nome no Centro Cultural Ramez Tebet em Brasilândia.

A jovem professora Abadia dos Santos começou a lecionar aos 18 anos de idade numa escola na barranca do Rio Verde, quando ainda Brasilândia nem existia e as ordens na região eram dadas pela jurisdição de Três Lagoas e do Palácio Alencastro do Mato Grosso ainda uno.

No ano de 2003, uma antiga aluna sua, hoje especialista em educação, Professora Áurea Cândido da Silva, seguindo os passos da mestra, escreveu no jornal Independente Notícias, de circulação local, uma nota de agradecimento a essa professora Abadia dos Santos que hoje nos deixou.

Obrigada Professora Abadia! Obrigada minha segunda mestra! Você foi educadora de muita coragem, esforço e vontade, com muito amor conseguiu alcançar objetivos almejados que era ensinar, orientar e nos preparar para a vida. Tornou homens e mulheres responsáveis e solidários, os quais passaram por suas mãos adquirindo sabedoria: políticos, médicos, técnicos, administradores, enfermeiros, dentistas, professores, especialistas de educação e outros profissionais que participam do crescimento social da nossa e de outras cidades...

Alegria, tristeza, aprendizagem. Lembranças que se tornam educativas, pois tudo o que fazíamos era com sua orientação e organização. Num cantinho desse depósito de registros, guardo com carinho a semana da criança e o final de ano, onde eram feitos doces de abóbora, de mamão, arroz-doce, bolos, sucos. Tudo para nós, alunos, que ficávamos radiantes de tanta felicidade...

Lembro-me quando estudávamos no Grupo Escolar Prof. Arthur Hoffig, a senhora e o senhor Arthur Hoffig nos convidou para andarmos de helicóptero. Passamos a tarde toda dando voltas, vimos Brasilândia inteirinha lá de cima. Foi uma emoção, uma alegria muito grande que ficou gravada em minha memória...

Hoje, já pós-graduada, compreendo o seu método de ensino. Deixava-nos descontraídos, aprendíamos brincando, divertindo e passeando. Como o educador francês Célestin Freinet (1896-1966): convicto de que a criança aprende a partir das próprias experiências (...).

A gratidão da Professora Aurea é a gratidão de todos os filhos de Brasilândia que um dia foram alunos de Dona Abadia, ou quiçá o seu olhar pousou sobre eles com a preocupação de pedagoga, quando lentamente e por caminhos novos ela foi implantando conhecimento, para a aprendizagem, fazendo dos nossos dia a dia momentos ricos...

Ao longo de tua caminhada tu guiaste o caminho da aluna Aurea e sua filhas e o caminho de tantos que a tabuada não alcança e o alfabeto não cobre. Mostraste a cada momento compreensão, luta, paciência, inteligência e dedicação.

Que tua estrela continue sempre brilhando...
Parte a estrela, mas permanece o seu brilho...
Parte a professora, mas permanece os seus ensinamentos...

E quando passardes pelas estradas empoeiradas pelos fundões das fazendas, e veres um ranchinho escondido tomado pelo mato e que lhe traz na lembrança algo do passado, lembres que um dia ali pode ter existido uma escola, das mais de 30 que Brasilândia possuía espalhadas pela sua zona rural, e que foram consumidas pelo tempo.

Mais que isso, lembres que em cada uma delas existiu dedicadas professoras que deram vida pela Educação, assim como pétalas de flores, - à semelhança da Professora Abadia dos Santos – que, uma a uma, foram se apartando de nós... e delas só nos restará o perfume.

Descanse em Paz querida professora e orientadora educacional aposentada da Rede Municipal de Ensino de Brasilândia Professora Abadia dos Santos.