segunda-feira, 21 de junho de 2021

 

Eleições presidenciais: é bom lembrar...

Carlos Alberto dos Santos Dutra.

Há quem possa pensar que é muito cedo para falar em eleições. Mas o mundo caminha numa velocidade espantosa e quando nos damos conta, esse tempo já chegou. Parece que foi ontem que a população brasileira compareceu às urnas para depositar seu voto de confiança e eleger o comandante maior do país.

E lá estavam também os brasilandenses neste contexto de euforia em torno de um nome que representava a esperança daqueles que estavam ansiosos por mudanças num governo até então comandado pelo MDB, antes pelo PT e, antes ainda, pelo PSDB.

Nomes como TemerDilmaLula e FHC  precisavam ser esquecidos, jamais lembrados. Independente dos ganhos que o povo tenha obtido após os anos de chumbo, o brasileiro cismou de querer um rosto novo. Havia sido assim com o Collor; por que não haveria de ser com Bolsonaro?

Sim, esse foi o nome que o Brasil escolheu. E Brasilândia, assim como 80% do estado de Mato Grosso do Sul, lá estava a cidade esperança acompanhando o condão dos que agitavam bandeiras sob o jargão de defesa da pátria, combinando Deus e armas, família e propriedade, capital e liberdade. Um refrão por demais conhecido por aqueles que estudaram história e sempre preservaram o saber dos livros.

--Ora os livros!, desdenham os atuais que governam sob ombreiras verde oliva, motivados pelo sonho capitalista de exploração entreguista das riquezas do país. --Servem para que esses alfarrábios? Se perguntam: Se eles foram escritos por mãos esquerdistas, socialistas, comunistas, anticristãs e escambau?

O quadro aqui apresentado nos faz despertar para uma realidade que nem sempre atentamos, e que tem origem na opção que fizemos na última eleição em 2018. No primeiro turno, 12 candidatos a Presidente receberam voto em Brasilândia, sendo que Bolsonaro obteve 54% dos votos, ampliando essa margem para 65% no segundo turno. Assim registram os resultados oficiais.

Olhando mais amiúde para esses números, entretanto, podemos observar que nem tudo parece o que é. A começar pelo número de votos brancos e nulos. Se no 1º turno foram 402, já no 2º turno aumentou para 516. Dos 6.607 que votaram no 1º turno somente 6.216 voltaram no 2º turno.

A diferença não para por aí. Dos 9.713 brasilandenses aptos para votar, deixaram de votar 3.497 cidadãos. Ou seja, 36% dos eleitores não votaram nas eleições presidenciais no 2º turno.

Os números às vezes nos enganam e é preciso olhar com óculos de alcance para perceber o que eles representam numa visão de conjunto. Tudo isso para dizer que nas eleições presidenciais em Brasilândia, no segundo turno, de cada 10 eleitores, 3 (três) não compareceu às urnas.

Isso somado aos 423 eleitores (6,8%) que anularam seus votos e 93 (1,5%) que apertaram a tecla em branco, esse número revela ainda mais a baixa representatividade que os votos traduziam.

Na ciranda dos números, se traçarmos um paralelo entre os votos que Jair Bolsonaro obteve em Brasilândia essa distância se torna ainda mais expressiva. Senão vejamos.

O atual chefe do Executivo federal obteve no segundo turno 3.719 votos, o que representa, 65,25% dos que compareceram às urnas naquele dia 10 de outubro de 2018. Porcentagem que representa somente os que lá compareceram naquele dia.

Porém, se considerarmos o universo eleitoral que aponta 9.713 aptos para votar, os 3.497 eleitores que não foram às urnas, somado aos 1.981 votos conferidos a Fernando Haddad nos remete ao sintomático percentual de 61%. Dado revelador do alto grau de desinteresse e não adesão do cidadão àquele que acabou sendo eleito.

Se o (e)leitor chegou até aqui, concluo dizendo que o propósito deste artigo é demonstrar que somos direta ou indiretamente responsáveis por aquilo que acontece conosco e com nossa comunidade no campo social e político. Votando ou deixando de votar.

Sim, parece que é muito cedo para falar em eleições presidenciais e as demais coladas a ela (governador, deputado e senador). Porém, nunca é tarde para aprendermos com nossos erros e escolhas equivocadas que às vezes fazemos.

No caso das eleições presidenciais em Brasilândia, é necessário que o cidadão dê uma boa olhada na realidade que o cerca - preços, desemprego, desmandos, desregramento, violência, doença e morte -; uma boa olhada no que aconteceu nos últimos quatro anos em nosso país.

Depois, o passo seguinte é desarmar-se de paixões ufanistas e ideologias segregacionistas, obscurantistas, terraplanistas que sufocam e chegam fartas pelas mídias sociais, fulminando mortalmente corações e mentes de ignaros e desprotegidos cidadãos.

E por fim, colocar em prática a lição, quiçá, aprendida: que o feito realizado em 2018 não se repita! Que os 3.497 brasilandenses que ficaram em casa naquela eleição, em 2022 pensem nos parentes e amigos mortos pela Covid-19, cuja memória e nomes devem ser contabilizados e creditados no prontuário de sangue do espólio do atual governo.

Que o brasileiro resgate o orgulho de estufar o peito e ser latino, sim. E volte a vestir as cores verde e amarela desta terra saindo às ruas. Manifeste-se, agite a flâmula, conquista perene da nação e não de um governo temporário que a ventania urge derruir.

Que o povo não se cale. Exerça livre e com responsabilidade o maior de todos os direitos da democracia: o voto. Contra toda má sorte de uma pandemia.


Brasilândia/MS, 21 de junho de 2021.










domingo, 20 de junho de 2021

 

A mansidão de Gabriel Rosa dos Santos ainda permanece por aqui.

Carlos Alberto dos Santos Dutra.

 


Conheci o senhor Gabriel Rosa dos Santos, num dia desses qualquer, ao vê-lo passar com sua bicicleta. Isso já faz muito tempo. Homem calmo e talhado pela elegância e simplicidade possuía fala mansa, não escondendo a sua erudição e conhecimento sobre os segredos da vida.

Quem o via pela rua, poucos conheciam sua história, poucos sabiam de sua vida. Homem discreto que sempre foi no seu viver em sociedade, a família e os amigos celebram hoje o seu primeiro ano de ausência.

As lembranças ainda estão muito presentes na memória. E eis que uma onda de saudade envolve aqueles que o admiravam, recordando o seu semblante sereno e que ao falar sempre demonstrava que sabia ou tinha intenção de dizer muito mais do que nossos ouvidos careciam.

Assim era o vô Gabriel, como era chamado pelos que lhe eram mais próximos. Autêntico mineiro havia nascido na cidade de Engenheiro Schnoor, no dia 3 de dezembro de 1938, para a alegria dos pais Pedro Lopes dos Santos e Herculana Rosa de Oliveira e seus sete irmãos.

Sua infância passou-a morando com a família nas redondezas de sua cidade natal, junto da fazenda Córrego Grande, que fazia fundo com o Rio Gravatá próximo ao então vilarejo de Engenheiro Schnoor. Anos felizes onde o peso das responsabilidades ainda não lhe haviam alcançado os ombros.

Oriundo de uma família de agricultores, sua juventude o encontrou labutando na lavoura que o fez distanciar-se dos estudos. Sempre muito determinado e cheio de curiosidade, lá o encontramos recuperando o tempo perdido, dedicando-se a escrever e fazer contas, sozinho, sem auxílio de professor ou escola.

Resiliência que veio coroar somente na idade adulta quando chegou a Brasilândia e matriculou-se na escola para concluir sua aspiração de poder ler e escrever com facilidade. E deixou para trás o tempo que laborou como marceneiro, garimpeiro e lavrador no interior de Minas Gerais.

Aqui em Brasilândia ele chegou no ano de 1972 em busca de melhores condições de vida, ele e a esposa Edite Vaz dos Santos cujas famílias já se conheciam de longa data no seu estado natal. No casamento que ocorreu na cidade mineira de Novo Cruzeiro, na época, houve a união matrimonial de dois irmãos de cada família que se casaram com duas irmãs: Gabriel e Edite, e Antônio e Antônia.

Em terras Sul-mato-grossenses alimentava o sonho de continuar fazendo o que sempre fez durante moço: domar burros bravos e adestrá-lo para o trabalho. E como ninguém é de ferro, nas horas de folga, alegrava a família e os amigos ao cair da tarde, tocando uma sanfona que possuía; herança do seu tempo de moço.

Logo a família e os cinco filhos do casal já se encontravam integrados na nova cidade. Sempre muito inteirado dos acontecimentos sociais e políticos do lugar, participou ativamente na fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia, firmando-se, mais tarde, como comerciante e mecânico de motosserra.

Verdadeiro homem de múltiplas qualidades tinha o dom artístico, além de tocar sanfona, de trabalhar com a madeira, ofício que aprimorou e exerceu por um grande período de sua vida. Atividades que o faziam dialogar com a natureza e as plantas, e o ajudavam a amenizar o sentimento de dor quando da perda do filho mais velho em 2009.

Mas o tempo é o senhor da história e as alegrias sempre são maiores que as tristezas. Com a chegada dos netos, cinco dos quais ainda pode abraçar, e vendo os filhos crescidos e realizados na vida, sua alegria estava completa. Era ali que encontrava forças para desparecer o sofrimento e fortalecer-se na fé em Cristo e na Eucaristia que comungava e o fazia colocar amor em tudo que se aproximava e tocava.

O vô Gabriel Rosa dos Santos passou os últimos anos de sua vida lutando contra a dor e o sofrimento de uma doença renal que o conduziu, por fim, à Páscoa definitiva no dia 20 de junho de 2020. Encontrava-se ele com 81 anos de idade, sendo que o exemplo de educação e respeito é o legado que ele deixou para os filhos e netos.

Aquela bicicleta não circula mais pela cidade e tampouco aquele senhor com o qual, de quando em vez, este escrevinhador se detinha para trocar com ele duas ou três palavras talvez. Palavras que ainda fazem falta a quem gostaria muito de ouvir.

O azul do Céu, com certeza ficou mais brilhante naquele dia ao recebê-lo em meio às flores e a grama muito verde, uma alusão a seu time preferido. A neta Franciele, por ocasião de sua partida escreveu: O senhor foi um guerreiro, lutou até o último suspiro... O sofrimento acabou. Meu velho... Permaneça em Paz, amigo.

Brasilândia/MS, 20 de junho de 2021.




segunda-feira, 14 de junho de 2021

 

Rhiana Talayeh: quando podemos ser e fazer o melhor em defesa da Vida.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

 



A proposta já povoou o pensamento de muitos: adotar um animal, criar um grupo de apoio aos animais de rua, socorrer os que são desprezados e mal tratados... Mas tudo ficou apenas na intenção. Todos cheios de boa vontade, porém impotentes diante dos desafios de tocar em frente uma proposta de tamanha envergadura.

E foi assim que num dia desses aquela menina aprendiz de militância resolveu romper com o círculo cômodo dos indignados. Assumiu para si o desejo de ir além da mera boa vontade. Ao lado de uma amiga arregaçaram as mangas e assumiram a responsabilidade de criar, mais que uma entidade, uma ideia, um movimento denominado SOS-PET Resgatando Vidas.

Por sua cabeça juvenil, pensou ela, reunir um grupo de estudantes voluntários do município onde reside, Brasilândia/MS, que se associariam em torno de uma ação por demais grandiosa: a causa da defesa da saúde, integridade e direitos dos animais, recolhendo os errantes, sobretudo cães e gatos, garantindo-lhes abrigo, proteção e dando-lhes uma morada digna e humanitária.

Tratava-se da jovem Rhiana Talayeh e sua colega Isabela Brum que, aos poucos, foram demonstrando a outros jovens ser possível aderir ao projeto. Cheias de esperança carregando na algibeira somente a vontade de lutar, lançaram seu grito de apelo pelas redes sociais, divulgando a proposta, angariando simpatia da comunidade e alguns poucos aliados.

O desafio maior, sem dúvida, era sensibilizar empresários e autoridades sobre a importância da iniciativa para a cidade. Todos sabem das dificuldades daqueles que se propõem a levar adiante um projeto social, sobretudo quando ele não é lucrativo o suficiente para angariar parceiros que buscam tão somente o lucro e a visibilidade de seus produtos.

Mas as meninas não se deixaram abater. A meta inicial era angariar recursos logísticos, profissionais e financeiros que permitisse ao grupo implantar um abrigo para cães e gatos, proporcionando-lhes acolhimento, tratamento e posteriormente doação às famílias e/ou instituições que se interessassem em recebê-los.

Uma vez conseguido espaço físico para sua instalação e aparelhamento, previam as meninas, iniciar, através do trabalho voluntário e de parceria com profissionais da área, oferecer também serviços de castração, atendimento às denúncias de maus tratos, pedido de socorro, encaminhamento para doações entre outras ações de cunho humanitário.

O sonho de Rhiana tinha razão de ser. Afinal, o município de Brasilândia não dispunha de qualquer tipo de serviço de acolhimento e cuidado dos animais, e tampouco era dotado de entidade não governamental destinada a essa finalidade. Seu projeto, portanto lhe enchia de esperança e tinha tudo para dar certo.

Mas aí veio a pandemia, o isolamento social, o encarecimento do custo de vida para todos, e os sonhos foram sendo experimentados em doses homeopáticas, a passos miúdos, porém, sem fazê-las desanimar.

E elas não pararam nunca. O vídeo de Rhiana postado no Youtube levou sua mensagem para diversos pontos do Estado e do País. A proposta de oferecer aos animais de rua abandonados - que enfrentavam chuva, sol, fome, sede, doença e o frio -, uma vida nova, um novo recomeço, através de um lar, através de uma adoção, começou a sensibilizar outros corações.

Muito aplaudida e elogiada sua proposta, a iniciativa postada também em outras mídias sociais foi ao encontro e ao desejo de muitos cidadãos que concordavam com a iniciativa e alguns até se dispuseram a ajudar no projeto com a doação de alimentos, medicamentos e mão de obra voluntária oferecendo-se em buscar interessados na adoção destes animais.

Isso fez com que o SOS-PET Resgatando Vidas não desanimasse, mesmo em tempo de pandemia. Suas postagens no Facebook são a prova disso. Em linguagem simples e direta, tocava o coração das pessoas. Impossível não se sensibilizar com tamanho envolvimento de carinho, respeito e dedicação demonstrado em favor desta causa esquecida por muitos.

Olá pessoal. Dirigia-se ela em sua rede social: Vim aqui fazer um apelo. Estamos com sete gatos resgatados no bueiro; seis gatos do cemitério e dois gatos do lixão. Por favor, é preocupante essa situação. Não temos lugar onde deixá-los. Ajude-nos adotando e/ou compartilhando [essa mensagem]. É o apelo de uma pessoa que ama os animais e que não pode deixá-los nessa situação. @sospet.brasilandia.

Em outra postagem ela fala da motivação que a conduz a esse trabalho: Oi pessoal. Viemos aqui hoje para dar o relato de um resgate. Uma mulher estava pedalando e encontrou esse cachorro neste estado. Comoveu-se e acabou recolhendo ele e levando-o para sua residência, e avisou uma voluntária de nosso projeto

[Recolhido o animal], levamos ao veterinário e o cão foi diagnosticado com Cinomose. A mulher que pegou o animal, acabou ficando com ele para fazer o tratamento. Nosso projeto irá arcar com os remédios e ela irá tratá-lo. Pedimos energias positivas para que ele saia dessa e fique bem em seu novo lar.

Entre coraçõezinhos, mãos postas e expressões de alegria, lá vai aquela menina falando do sentimento e gestos de carinho que poderiam ser ofertados aos melhores amigos da família.  Num momento de dor, ela recorda. Hoje venho aqui escrever essas palavras para me despedir de um grande amor, aquela que chegou à minha vida para me alegrar, me fazer feliz, e todos os dias que esteve comigo só me fez bem

E brinca. Nesse momento fico me perguntando quem é que vai sujar minha roupa nova quando eu sair, ou quem vai pular no meu colo quando eu chegar; quem é que vai aterrorizar as galinhas, e a Pantera que não terá mais com quem se preocupar com você pulando em cima da gordinha (...). Sorri com tristeza.

São vidas, histórias e conquistas que fazem parte do ser interior de quem se dedica a essa causa: cuidar de animais. Inexplicável para quem está do lado de fora, distante; mas fundamental para quem está perto e sente a dor de quem está ao lado, sobretudo por aquelas quatro patas que nos causam tanta alegria.

O projeto de Rhiana e suas colaboradoras (1) exala um perfume de juventude que contagia. Sorri para a vida e as flores do amanhã, mas também abre caminhos de colhida para aqueles que choram pelo abandono dos animais que ama. Os passos de Rhiana persistem, estudando, vislumbrando se comprometendo com o mundo justo que sonhamos.

E lá está ela, e onde for preciso, para socorrer e fazer sofrer menos. Assim como também cá está, para a alegria e orgulho dos pais, Huda e Antônio, para dar exemplo e mostrar ao mundo que podemos ser e fazer melhor em favor dos pets que mais precisam. Parabéns Rhiana Asia Talayeh Pereira, um exemplo a ser seguido.

Brasilândia/MS, 14 de junho de 2021.

Fazem parte do grupo de voluntários: Rhiana Talayeh; Bianca; Iasmim Batista; Olivia Martos; Isabela Brum; Kleber Souza; Ludmila Kemilly; Laura Leimann; Karen Vitória; Erik Santana; Gabrielly Lima; Luana Siqueira; Maria Clara; Michelli Ivanchuk; Vida Maria; Kayllany Lethicia; Gabriely Costa; Micaelly Souza; Thaissa Mendes; Sarah Alencar; Laura Helena; Samuel Lima; Thiago Silva; Geovanna Vitorya; Maria Isabel; Maria Eduarda; César, entre outros colaboradores.




















Fonte: 

https://www.facebook.com/rhianaasia.talayehpereira

https://www.youtube.com/watch?v=XzHtoF4Fu-c

 



sábado, 12 de junho de 2021

 

Em defesa do Cruzeiro - Patrimônio Histórico de Brasilândia.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


Os símbolos municipais são figuras emblemáticas que retratam a história e as características de cada comunidade e traduzem seus elementos mais expressivos, como sua identidade, sua evolução política, administrativa, econômica, seus costumes e tradições.

Aqui em Brasilândia/MS, ao lado da Bandeira, do Escudo, do Hino oficial, e da cor oficial dos prédios públicos, disciplinada em lei, outros símbolos patrimoniais conferem ao município insígnias de importância e nobreza que elevam o espírito cívico de amor a terra e divulgação da história desta terra.

O Painel Cultural montado em material cerâmico no muro da Praça da Matriz que conta a história e a trajetória dos pioneiros que aqui chegaram, é um desses patrimônios, ainda não reconhecido e cujo tombamento história ainda está por se realizar.

Outro ícone da cidade, a Árvore Tamboril, teve melhor sorte: uma lei municipal garantiu de forma inédita, a inscrição daquele belo exemplar centenário que acompanha a história de Brasilândia, como patrimônio histórico da cidade com cláusula de proteção e conservação perpétua.

Um terceiro monumento que ainda carece do reconhecimento oficial como patrimônio histórico de Brasilândia, sem dúvida, é o Cruzeiro, plantado no alto da cidade, ao lado da atual sede da Câmara Municipal, que está a merecer um olhar de atenção mais acurado e de conservação pelos nossos homens públicos.

Símbolo inconteste da anterioridade e construção da comunidade de Brasilândia, o Cruzeiro ali implantado é o marco inabalável e fundante da vila quando ela foi elevada ao status de povoado.

Corria o dia 21 de abril de 1957 e na parte alta de um aglomerado de poucas casas construídas em meio a uma clareira do cerrado, uma cruz de madeira foi erigida e instalada para a realização da primeira missa no lugar.

Construída originalmente em madeira nobre, medindo cerca de 4 metros de altura, sob seus pés, o padre tchecoslovaco John Tomes vindo de Três Lagoas/MS, rezou ali uma missa campal na presença do fundador do lugar, o patriarca Arthur Höffig, seus familiares, autoridades da região e a escassa população que vivia na urbe.

Mais do que expressão religiosa dos pioneiros habitantes do lugar – cidadãos que a partir de 1912 desafiaram o poderio ianque da Brazil Land Cattle and Packing Company para desbravar o vasto sertão habitado, onde viviam os primeiros povos da região -, o marco representa a pilastra da história e do progresso trazido por aqueles que chegaram a esta terra antes habitada somente pelos indígenas Ofaié.

Sob o aspecto histórico, portanto, aquele Cruzeiro se reveste de um particular simbolismo, configurando expressão viva da manifestação cívica do povo brasilandense, mesmo depois de passados tantos anos daquela solenidade.

Segundo informações dos mais antigos, o primeiro Cruzeiro edificado encontrava-se encravado em local mais acima, do lado esquerdo de um carreador entre as chácaras que existiam na parte alta do povoado. O local era muito visitado e donde eram realizadas preces e depositados flores e velas pelos fiéis e religiosos durante as celebrações anuais que ocorriam.

A madeira original desta cruz, passados 30 anos, passou a apresentar sinais de rachaduras e apodrecimento, devido à ação da intempérie e também queimaduras no pé, fruto do constante uso de fogo e o calor das oferendas. No ano de 1989 ela teria sido substituída por outra, na administração do prefeito Prof. José Cândido da Silva.

O novo Cruzeiro teve seu entalhe, então, cunhado pelas mãos do pioneiro Mané Zoada que ajudou a erguer aquele símbolo, ao lado do desbravador Joaquim Cândido da Silva que, ajudado por Isaías Nunes da Silva e Noel Euzébio de Lima, lapidaram com esmero a nova cruz de madeira ali instalada no alto da cidade.

Marco atávico da cultura local é um ícone que se impõem à memória e ao reconhecimento público daquilo que o cristianismo e a fé representaram de forma visível para esta comunidade nos primeiros anos.

Este local, ponto turístico e de referência histórica, uma vez tombado como bem patrimonial da cidade, com certeza, irá cumprir o lugar que merece, recuperando a nomenclatura da antiga Praça dos Fundadores idealizada pelo então vereador Prof. José Cândido da Silva em 1981 e criada pela então prefeita Neuza Paulino Maia em 1984 naquele lugar.

A preocupação com aquele símbolo e seu entorno, logo passou a ser do interesse de muitos cidadãos da comunidade. Em 1989, por exemplo, já havia quem se manifestasse através da imprensa local preocupado com a falta de planos para a preservação da mata nativa nas proximidades da cidade.

A nota publicada fazia menção ao desmatamento que já se verificava na região: Já destruíram o bosque do Cruzeiro, marco inicial de Brasilândia e que poderia ter sido mantido como ponto histórico do município.

E perguntava: Não seria importante preservarmos algumas áreas para a posteridade? Poucas cidades tem a sorte de contar ainda hoje com essa dádiva da natureza.

Que o espírito ecológico recaia sobre nossos homens públicos, concluía a nota escrita há 30 anos pelo Informativo Agulha que circulou encartado no pioneiro Jornal de Brasilândia no dia 11 de dezembro de 1989.

Vinte anos após este alerta, eis que se ventila na cidade que o marco da fundação do município – o monumento do Cruzeiro --, localizado ao lado da sede da Câmara Municipal, seria removido para dar lugar à construção de uma creche ou outro órgão público, o INSS, chegou-se a dizer.

Na época, a imprensa deu espaço ao posicionamento contrário manifestado pela ONG Instituto Cisalpina que dirigiu correspondência ao prefeito da época observando que o local tratava-se de uma área institucional cujo mapa da planta baixa da cidade apontava que ali estaria reservado para a construção de uma praça, o que não fora concretizado em gestões passadas.

A despeito da má conservação do monumento ali instalado, lembrava a associação na época, o Cruzeiro é um bem público e sob ele pesa o princípio da intangibilidade, o que em Direito Público quer dizer que os bens públicos são gravados pelo princípio da inatacabilidade.

Ou seja, depois de tombados para o patrimônio histórico, esses ícones passam a serem bens que não se pode tocar, tamanha a sua importância e utilidade comum ao patrimônio de uma comunidade.

Por essa razão a sensibilidade aqui é chamada aos governantes, mormente aos vereadores que podem apresentar Projeto de Lei, inscrevendo aquele marco fundante da municipalidade no rol do patrimônio histórico de Brasilândia.

Isso porque, é consenso de que, aquele espaço onde deveria existir ali uma praça, a Praça dos Fundadores, ele é o berço da civilização local, signo que plasmou campos e rios, terras e gentes, com a marca do sentimento de urbanidade e respeito aos antepassados, sob a égide da fé.

O evento histórico ali presenciado em tempo passado espalhou, pelos braços simbólicos daquela cruz, desde a parte mais alta da cidade - pode-se supor - divinas mensagens e preces em favor daquele povo reunido a seus pés, que confiou a Deus o seu crescimento e felicidade.

Para a comunidade em geral, restaurar o Cruzeiro e construir uma praça ao seu redor é sinal de sensibilidade cultural e respeito à memória dos primeiros habitantes. Isto porque, há 64 anos, eles guardam na lembrança de que ali, praticamente Brasilândia nasceu.

Bem como registrou o Hino oficial da Cidade Esperança: Marco na história do povo. Junto ao cruzeiro e a praça. O trabalho e o futuro; orgulho de nossa raça. Sim, o Cruzeiro e a Praça dos Fundadores é um monumento que faz parte da liturgia cultural e simbólica desta cidade. E por isso deve ser revitalizado e preservado para as gerações que nos sucederão.


Brasilândia/MS, 12 de junho de 2021.

Placa encontrada num entulho da cidade, que não soçobrou no tempo e na lembrança dos pioneiros, hoje se encontra preservada no acervo da Casa da Cultura de Brasilândia.


Minuta de Projeto de Lei de Tombamento para o Patrimônio Histórico do Cruzeiro de Brasilândia/MS.

 

sexta-feira, 11 de junho de 2021

 

O melhor kit-Covid: máscara, distanciamento e vacinação (Parte Final).

Carlos Alberto dos Santos Dutra










A declaração do chefe do Instituto do Coração-INCOR, não deixa dúvidas: Maior parte dos que estão aqui na UTI tomaram kit-Covid. A afirmação pode constranger aqueles que se valem dos componentes hidroxicloroquina e ivermectina para defender sua administração com finalidade preventiva; mas há de se reconhecer que tal composto configura tremenda falácia.

Em que pese já tenha sido pisado e repisado o mantra da não recomendação do uso de medicamentos sem eficácia contra a Covid-19 em razão dos efeitos colaterais graves, como lesão renal e inflamação no fígado, já comprovado pela medicina, o uso indiscriminado dessas substâncias perdura.

Como estamos lembrados, o chamado tratamento precoce contra a Covid-19 foi infantilmente propagandeado pelo presidente da República desde os primeiros meses da pandemia. Na mesma época, estudos científicos ao redor do mundo já certificavam a ineficácia de qualquer tratamento preventivo para a doença.

No entanto, o kit-Covid continuou a ser difundido pelas autoridades federais brasileiras e pelo próprio Ministério da Saúde e redes de assistência municipais. Pouco importando que o número de mortos nesta pandemia tenha ultrapassado a 470 mil mortos.

Um dado, entretanto, chama a atenção dos médicos. O número de pacientes mortos que se submeteram ao tratamento precoce e/ou durante o tratamento da doença se mostrou crescente. Os médicos verificaram a ocorrência de efeitos colaterais graves em pacientes que tomaram medicamentos sem comprovação científica para o vírus, como lesão renal, arritmia cardíaca e dificuldade no tratamento de casos graves.

O kit-Covid, distribuído por secretarias municipais da Saúde pelo Brasil afora inclui drogas como hidroxicloroquina, ivermectina, corticoides, azitromicina e anticoagulantes. que tem preocupado muito [os médicos] é que as pessoas estão desesperadas para tomar algum tipo de tratamento. Muitas vezes, elas não só lançam mão do kit-Covid, mas de várias outros fármacos, como vitamina D, anti-inflamatórios, corticoides. Não tendo sido incomum a gente ver pacientes com muitos efeitos colaterais decorrentes desse tipo de medicação, relatou o Dr. Christian Morinaga, gerente do Pronto Atendimento do Hospital Sírio-Libanês.

De igual sorte, o Dr. Carlos Carvalho, chefe de Pneumologia do Instituto do Coração (InCor), do Hospital das Clínicas (Faculdade de Medicina da USP), confirma a incidência de lesão em ductos na região do fígado em pacientes que fizeram uso de ivermectina, droga usada para combater verminoses. Em alguns casos, ele relata a necessidade de transplante hepático.  Tem-se a impressão que as infecções mais graves pela Covid-19 são notadas em pacientes que fizeram uso do kit-Covid.

Aqui nós temos hoje 150 pacientes internados no InCor. Se eu fizer uma enquete, eu te diria que dois terços a três quartos desses pacientes que estão aqui internados, sendo a maioria deles intubados, tomaram o kit-Covid, descreve o pneumologista. Quem falou que deu o kit-Covid para população e disse que o resultado foi estupendo não vivenciou o doente grave que tá aqui nas UTIs e no Hospital. A maior parte dos que estão aqui hoje tomaram, continua. Na mesma semana, o jornal Estadão relatou que cinco pacientes entraram na ala dos transplantes de fígado após tomarem os medicamentos do chamado tratamento precoce.

Para os pacientes que fizeram uso da cloroquina ou hidroxicloroquina e contraíram a Covid-19, os médicos relatam alterações no ritmo cardíaco. O Dr. Christian diz que o uso indevido da ivermectina e da azitromicina pode inflamar o fígado. Nos pacientes infectados com a Covid-19 em um estágio avançado da doença, quando é necessário outras medicações para o tratamento, a inflamação e os demais efeitos colaterais prejudicam a cura da infecção.

Quanto mais órgãos vitais forem inflamados e lesados maior é a letalidade dessa doença, explica Dr. Carlos Carvalho. Os casos de hepatite medicamentosa têm aumentado, mas a gente não teve notícia de nenhum caso grave, felizmente. Nestes casos, com a suspensão da medicação, houve melhora. Porém, é um quadro potencialmente grave que, num pior cenário, pode prejudicar muito o tratamento, explica Christian sobre os casos no Sírio-Libanês.

No entanto, Luiz Carneiro D’Albuquerque, chefe de transplantes de órgãos abdominais do HC-USP e professor da Universidade, disse ao Estadão que dos quatro pacientes colocados na ala do transplante no HC, dois tiveram a condição de hepatite e morreram antes da operação.

A hidroxicloroquina é um medicamento normalmente utilizado no tratamento de lúpus, artrite reumatoide, doenças fotossensíveis e malária. A ivermectina é um vermífugo usado para combater vermes, piolhos e carrapatos. A azitromicina é um antibiótico utilizado em casos de infecção bacteriana. Nenhum deles previne a contaminação pelo coronavírus.

Outra preocupação dos médicos em relação ao tratamento precoce é a demora dos infectados com a Covid-19 em procurar recursos adequados. O pneumologista do Hospital das Clínicas conta que um médico pediatra, seu colega de turma na faculdade, faleceu de coronavírus após se recusar a procurar tratamento médico para a doença, já que estava tomando o kit-Covid. Quando chegou ao hospital, estava com mais de 60% do pulmão acometido e acabou falecendo. Mesmo pessoas com formação técnica caem às vezes nessa bobagem, lamenta.

A azitromicina é um antibiótico que vem sendo utilizado por médicos em pacientes que possuem infecção bacteriana associada à Covid-19. E, na maioria das vezes, são pessoas que estão em uma fase avançada da doença. No entanto, a droga faz parte do kit-Covid para tratamento precoce do coronavírus. Tomar azitromicina sem evidência de infecção bacteriana pode levar a indução de existência de bactérias, explica o médico do Hospital Sírio-Libanês.

Além da infecção viral correr o risco de ser complementada por uma bactéria, o uso indevido desta medicação vai criar resistência para estes organismos, o que é um risco para toda a população. É um antibiótico excelente que no futuro próximo não vai mais poder ser usado no tratamento de infecções, porque ele já vai estar queimado, explica Carvalho.

Os corticoides também são utilizados em pacientes que estão na forma grave da doença. Para quem toma este remédio precocemente, sem estar nesta condição, se acabar se infectando pela Covid-19, além de propiciar a replicação de vírus, pode propiciar também uma infecção por bactérias, que vão complicar mais o quadro da pneumonia viral, informa o pneumologista. Já o uso indevido de anticoagulantes pode aumentar o risco de acidente vascular cerebral. O pneumologista alerta que tais medicamentos devem se restringir à conotação hospitalar.

Gostaria que já existisse um tratamento. Mas não tem. A única saída é a vacina. Não tem nenhum outro tipo de tratamento. Razão pela qual a ciência recomenda: devemos ficar em casa, tomar os devidos cuidados e não contaminar os outros; porque isso vai passar, se todos colaborar, finaliza o Dr. Carlos Carvalho.

Brasilândia/MS, 11 de junho de 2021.

 

Referências:

Foto: Mufid Majnun on Unsplash/Veja SP. In Maria Alice Prado, publicado em 25.Mar.2021.

Fonte: Maior parte dos que estão aqui na UTI tomaram kit-Covid, diz chefe do Incor. In https://vejasp.abril.com.br/saude/kit-covid-tratamento-precoce/?fbclid= IwAR1 wZ 73LEcZWiMjQ6D49y0CVMtMwd6JM2wyst-3TVqCh3GBk exO dlNHQ-dA, 07/06/21.

terça-feira, 8 de junho de 2021

 

Padre Ubajara Paz de Figueiredo e a gratidão da Paróquia Cristo Bom Pastor.

Carlos Alberto dos Santos Dutra















A Igreja de Mato Grosso do Sul está de luto. E Brasilândia ainda muito mais. E por um motivo que nos remete ao passado, que foge do tempo presente, quando a Diocese de Três Lagoas ainda nem existia e a Paróquia Cristo Bom Pastor recém havia sido criada.

Corria o dia 25 de junho de 1972 e uma centena de neoparoquianos reuniam-se numa cerimônia repleta de autoridades civis, militares e eclesiásticas de Três Lagoas, Campo Grande e região Leste do Estado. E lá estava ao lado de D. Antônio Barbosa, Bispo da Diocese de Campo Grande, o jovem Padre Ubajara Paz de Figueiredo, na época com 32 anos de idade.

Aos olhos do povo, a atenção voltava-se para as autoridades políticas presentes, entre elas, o prefeito municipal, Julião de Lima Maia. Aos olhos da Igreja, a saudação era para as Irmãs Margarida Baptista das Dores, Cacilda Soares Ribeiro, Zélia Lopes da Silva, Ana Ribeiro Lima, Abigail Dias Batista, Célia Maria Simeão e o colaborador brasilandense, Manoel Galdino de Souza.

Nesta época a circunscrição eclesiástica na qual Brasilândia estava inserida pertencia à jurisdição de Campo Grande e a Diocese de Três Lagoas só seria criada oito anos depois, em 1978. Pois foi naquele dia, tendo em vista o crescimento da população na região de Brasilândia houve por bem erigi-la em Paróquia, desmembrando-a da Paróquia de Santa Luzia, de Três Lagoas.

Durante os dez anos que se seguiram, a Paróquia Cristo Bom Pastor, de Brasilândia foi confiada à Congregação das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado numa experiência pioneira na Diocese de Campo Grande de uma paróquia sem os serviços hierárquicos tradicionais. Verdadeiras vigárias locais, com o apoio de sua provincial superiora, Irmã Margarida Baptista das Dores, formaram a primeira comunidade pastoral católica nesta terra possibilitando aos fiéis da região congregar ao redor de Cristo Bom Pastor e daqueles que O representam, formando uma fervorosa comunidade de fé, de culto, de amor e serviço fraterno.

Na administração da nova Paróquia se revezaram em auxílio às Irmãs no atendimento pastoral nos primeiros anos, diversos padres e religiosos. Um deles, entretanto, sua presença foi decisiva para que a missão se consolidasse nestas terras antes ocupadas somente pelos indígenas Ofaié.

Basta deitar os olhos sobre o livro Tombo da Paróquia e conferir o abnegado trabalho realizado por estas Irmãs, bem como a luz e discernimento pastoral que o Padre Ubajara Paz de Figueiredo inspirou e representou para a caminhada local.

Dois anos após a instalação da nova paróquia, lá encontramos este padre no ano de 1974 participando de uma avaliação apresentada ao Conselho Diocesano de Pastoral, da Arquidiocese de Campo Grande falando sobre a experiência exitosa realizada pelas Irmãs da Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado em Brasilândia.

A rica reflexão e a profundidade da análise apresentada na época, sem dúvida, abriram caminhos para aqueles que davam os primeiros passos na construção da Igreja local. Olhar amplo, concreto e integral, que partia da realidade e vida do povo, suas carências e suas reivindicações.

Padre Ubajara Paz de Figueiredo sabia muito bem que o município emancipado há apenas seis anos ainda estava em fase de desenvolvimento e que vários serviços indispensáveis à população lhes eram carentes, a começar pelo atendimento médico. Em seu relato menciona que a Prefeitura havia construído um Posto de Saúde, mas para o seu funcionamento se exigia o serviço de uma enfermeira. Essa situação é que motivou o pedido do Prefeito junto às Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado vir aqui atuar com o fim de conseguir uma irmã enfermeira.

Em outro trecho de seu relatório, sob o aspecto religioso, observa: Pessoalmente venho acompanhando a experiência pastoral desde o começo. Ocasião em que salientou os pontos que julgo de maior destaque pelo que apresentam de positivo e pelos apelos que oferecem. Entre eles (...) a participação da mulher na transformação social, interrogando-se sobre seu papel específico no mundo.

Por fim, menciona sua preocupação com o planejamento e acompanhamento da ação pastoral. Evidentemente que a salvação é obra da Graça de Deus, mas nem por isso dispensa para sua eficácia os instrumentos que a ciência e a técnica oferecem. A experiência pastoral de Brasilândia é uma auspiciosa evolução, digo, constatação de quanto a ação pastoral planejada se torna mais articulada, orgânica e envolve a participação da comunidade, explica (1).

Oh, querido Padre Ubajara Paz de Figueiredo, como foste importante para a caminhada de nossa comunidade. As celebrações que presidiu, como a realizada em maio de 1973 na capelinha Nossa Senhora de Fátima, na fazenda de mesmo nome; as cerimônias que participou, as reuniões que coordenou, as palestras que ministrou como as dirigidas aos professores e alunos da escola estadual Adilson Alves da Silva... Tudo permanece na alma do povo e no coração da história.

Sobretudo agora, quando nos chega a notícia da Páscoa definitiva deste mineiro de Três Pontas, nascido no dia 24 de janeiro de 1940 e que chegou a Campo Grande, com dois anos de idade, quando ainda este Estado ainda era Mato Grosso.

E lá vai o jovem menino com 11 anos de idade ingressando no seminário onde se dedica a cursar o primário e o ginásio até o ano de 1956.

Oh, Padre querido, os anos passam e lá  encontramos o jovem Ubajara e seu irmão Fabiano entre os anos 1957 e 1958, estudando no Seminário Imaculado Coração de Maria, da Arquidiocese de São Paulo, na cidade de São Roque. Mais um pouco, entre 1959 e 1961 já se encontra cursando Filosofia em Aparecida, e entre 1962 e 1965 se dedica à Teologia, em São Paulo, no Seminário Central do Ipiranga, bebendo na fonte os ensinamentos do Concílio Vaticano II.

Pois coube ao Bispo Monsenhor Antônio Barbosa, ordenar Ubajara e seu irmão Fabiano 15 de janeiro de 1966, a primeira ordenação presbiteral da Diocese de Campo Grande. Braço direito do pastor que os conduzia no ministério em favor do povo de Deus e a Diocese de Campo Grande, se deixou modelar e identificar-se segundo a renovação que o Espírito Santo desencadeou na Igreja nos cinco continentes, sob o cajado do papa Bom, o beato João XXIII, na época (2).

A despedida de Padre Ubajara Paz de Figueiredo, ocorrida no dia 5 de junho de último, sobretudo para os brasilandenses mais antigos, representa uma lacuna na história da Paróquia Cristo Bom Pastor e da Diocese de Três Lagoas que merece ser preenchida e lembrada por todos com nossas orações e preces de ação de graças, homenagem e júbilo que conforta, e gratidão eterna por ter permanecido este irmão ao nosso lado por tanto tempo, mesmo que nossos olhos já não mais pudessem vê-lo. Obrigado Padre Ubajara, descanse em paz irmão. 


Brasilândia/MS, 08 de Junho de 2021.

  

(1)      Avaliação realizada pelo Padre Ubajara Paz de Figueiredo em 27.Dez.1974. In Livro Tombo da Paróquia Cristo Bom Pastor, pág. 11, vol 1.

(2)      Cf. A12. Santuário Nacional-TV Aparecida, 15.Jan.2014. Mais informações: https://correiodoestado.com.br/cidades/primeiro-sacerdote-da-arquidiocese-morre-de-covid19/386709, acesso em 08.Jun.2021.