terça-feira, 8 de junho de 2021

 

Padre Ubajara Paz de Figueiredo e a gratidão da Paróquia Cristo Bom Pastor.

Carlos Alberto dos Santos Dutra















A Igreja de Mato Grosso do Sul está de luto. E Brasilândia ainda muito mais. E por um motivo que nos remete ao passado, que foge do tempo presente, quando a Diocese de Três Lagoas ainda nem existia e a Paróquia Cristo Bom Pastor recém havia sido criada.

Corria o dia 25 de junho de 1972 e uma centena de neoparoquianos reuniam-se numa cerimônia repleta de autoridades civis, militares e eclesiásticas de Três Lagoas, Campo Grande e região Leste do Estado. E lá estava ao lado de D. Antônio Barbosa, Bispo da Diocese de Campo Grande, o jovem Padre Ubajara Paz de Figueiredo, na época com 32 anos de idade.

Aos olhos do povo, a atenção voltava-se para as autoridades políticas presentes, entre elas, o prefeito municipal, Julião de Lima Maia. Aos olhos da Igreja, a saudação era para as Irmãs Margarida Baptista das Dores, Cacilda Soares Ribeiro, Zélia Lopes da Silva, Ana Ribeiro Lima, Abigail Dias Batista, Célia Maria Simeão e o colaborador brasilandense, Manoel Galdino de Souza.

Nesta época a circunscrição eclesiástica na qual Brasilândia estava inserida pertencia à jurisdição de Campo Grande e a Diocese de Três Lagoas só seria criada oito anos depois, em 1978. Pois foi naquele dia, tendo em vista o crescimento da população na região de Brasilândia houve por bem erigi-la em Paróquia, desmembrando-a da Paróquia de Santa Luzia, de Três Lagoas.

Durante os dez anos que se seguiram, a Paróquia Cristo Bom Pastor, de Brasilândia foi confiada à Congregação das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado numa experiência pioneira na Diocese de Campo Grande de uma paróquia sem os serviços hierárquicos tradicionais. Verdadeiras vigárias locais, com o apoio de sua provincial superiora, Irmã Margarida Baptista das Dores, formaram a primeira comunidade pastoral católica nesta terra possibilitando aos fiéis da região congregar ao redor de Cristo Bom Pastor e daqueles que O representam, formando uma fervorosa comunidade de fé, de culto, de amor e serviço fraterno.

Na administração da nova Paróquia se revezaram em auxílio às Irmãs no atendimento pastoral nos primeiros anos, diversos padres e religiosos. Um deles, entretanto, sua presença foi decisiva para que a missão se consolidasse nestas terras antes ocupadas somente pelos indígenas Ofaié.

Basta deitar os olhos sobre o livro Tombo da Paróquia e conferir o abnegado trabalho realizado por estas Irmãs, bem como a luz e discernimento pastoral que o Padre Ubajara Paz de Figueiredo inspirou e representou para a caminhada local.

Dois anos após a instalação da nova paróquia, lá encontramos este padre no ano de 1974 participando de uma avaliação apresentada ao Conselho Diocesano de Pastoral, da Arquidiocese de Campo Grande falando sobre a experiência exitosa realizada pelas Irmãs da Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado em Brasilândia.

A rica reflexão e a profundidade da análise apresentada na época, sem dúvida, abriram caminhos para aqueles que davam os primeiros passos na construção da Igreja local. Olhar amplo, concreto e integral, que partia da realidade e vida do povo, suas carências e suas reivindicações.

Padre Ubajara Paz de Figueiredo sabia muito bem que o município emancipado há apenas seis anos ainda estava em fase de desenvolvimento e que vários serviços indispensáveis à população lhes eram carentes, a começar pelo atendimento médico. Em seu relato menciona que a Prefeitura havia construído um Posto de Saúde, mas para o seu funcionamento se exigia o serviço de uma enfermeira. Essa situação é que motivou o pedido do Prefeito junto às Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado vir aqui atuar com o fim de conseguir uma irmã enfermeira.

Em outro trecho de seu relatório, sob o aspecto religioso, observa: Pessoalmente venho acompanhando a experiência pastoral desde o começo. Ocasião em que salientou os pontos que julgo de maior destaque pelo que apresentam de positivo e pelos apelos que oferecem. Entre eles (...) a participação da mulher na transformação social, interrogando-se sobre seu papel específico no mundo.

Por fim, menciona sua preocupação com o planejamento e acompanhamento da ação pastoral. Evidentemente que a salvação é obra da Graça de Deus, mas nem por isso dispensa para sua eficácia os instrumentos que a ciência e a técnica oferecem. A experiência pastoral de Brasilândia é uma auspiciosa evolução, digo, constatação de quanto a ação pastoral planejada se torna mais articulada, orgânica e envolve a participação da comunidade, explica (1).

Oh, querido Padre Ubajara Paz de Figueiredo, como foste importante para a caminhada de nossa comunidade. As celebrações que presidiu, como a realizada em maio de 1973 na capelinha Nossa Senhora de Fátima, na fazenda de mesmo nome; as cerimônias que participou, as reuniões que coordenou, as palestras que ministrou como as dirigidas aos professores e alunos da escola estadual Adilson Alves da Silva... Tudo permanece na alma do povo e no coração da história.

Sobretudo agora, quando nos chega a notícia da Páscoa definitiva deste mineiro de Três Pontas, nascido no dia 24 de janeiro de 1940 e que chegou a Campo Grande, com dois anos de idade, quando ainda este Estado ainda era Mato Grosso.

E lá vai o jovem menino com 11 anos de idade ingressando no seminário onde se dedica a cursar o primário e o ginásio até o ano de 1956.

Oh, Padre querido, os anos passam e lá  encontramos o jovem Ubajara e seu irmão Fabiano entre os anos 1957 e 1958, estudando no Seminário Imaculado Coração de Maria, da Arquidiocese de São Paulo, na cidade de São Roque. Mais um pouco, entre 1959 e 1961 já se encontra cursando Filosofia em Aparecida, e entre 1962 e 1965 se dedica à Teologia, em São Paulo, no Seminário Central do Ipiranga, bebendo na fonte os ensinamentos do Concílio Vaticano II.

Pois coube ao Bispo Monsenhor Antônio Barbosa, ordenar Ubajara e seu irmão Fabiano 15 de janeiro de 1966, a primeira ordenação presbiteral da Diocese de Campo Grande. Braço direito do pastor que os conduzia no ministério em favor do povo de Deus e a Diocese de Campo Grande, se deixou modelar e identificar-se segundo a renovação que o Espírito Santo desencadeou na Igreja nos cinco continentes, sob o cajado do papa Bom, o beato João XXIII, na época (2).

A despedida de Padre Ubajara Paz de Figueiredo, ocorrida no dia 5 de junho de último, sobretudo para os brasilandenses mais antigos, representa uma lacuna na história da Paróquia Cristo Bom Pastor e da Diocese de Três Lagoas que merece ser preenchida e lembrada por todos com nossas orações e preces de ação de graças, homenagem e júbilo que conforta, e gratidão eterna por ter permanecido este irmão ao nosso lado por tanto tempo, mesmo que nossos olhos já não mais pudessem vê-lo. Obrigado Padre Ubajara, descanse em paz irmão. 


Brasilândia/MS, 08 de Junho de 2021.

  

(1)      Avaliação realizada pelo Padre Ubajara Paz de Figueiredo em 27.Dez.1974. In Livro Tombo da Paróquia Cristo Bom Pastor, pág. 11, vol 1.

(2)      Cf. A12. Santuário Nacional-TV Aparecida, 15.Jan.2014. Mais informações: https://correiodoestado.com.br/cidades/primeiro-sacerdote-da-arquidiocese-morre-de-covid19/386709, acesso em 08.Jun.2021.

 


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