sexta-feira, 11 de junho de 2021

 

O melhor kit-Covid: máscara, distanciamento e vacinação (Parte Final).

Carlos Alberto dos Santos Dutra










A declaração do chefe do Instituto do Coração-INCOR, não deixa dúvidas: Maior parte dos que estão aqui na UTI tomaram kit-Covid. A afirmação pode constranger aqueles que se valem dos componentes hidroxicloroquina e ivermectina para defender sua administração com finalidade preventiva; mas há de se reconhecer que tal composto configura tremenda falácia.

Em que pese já tenha sido pisado e repisado o mantra da não recomendação do uso de medicamentos sem eficácia contra a Covid-19 em razão dos efeitos colaterais graves, como lesão renal e inflamação no fígado, já comprovado pela medicina, o uso indiscriminado dessas substâncias perdura.

Como estamos lembrados, o chamado tratamento precoce contra a Covid-19 foi infantilmente propagandeado pelo presidente da República desde os primeiros meses da pandemia. Na mesma época, estudos científicos ao redor do mundo já certificavam a ineficácia de qualquer tratamento preventivo para a doença.

No entanto, o kit-Covid continuou a ser difundido pelas autoridades federais brasileiras e pelo próprio Ministério da Saúde e redes de assistência municipais. Pouco importando que o número de mortos nesta pandemia tenha ultrapassado a 470 mil mortos.

Um dado, entretanto, chama a atenção dos médicos. O número de pacientes mortos que se submeteram ao tratamento precoce e/ou durante o tratamento da doença se mostrou crescente. Os médicos verificaram a ocorrência de efeitos colaterais graves em pacientes que tomaram medicamentos sem comprovação científica para o vírus, como lesão renal, arritmia cardíaca e dificuldade no tratamento de casos graves.

O kit-Covid, distribuído por secretarias municipais da Saúde pelo Brasil afora inclui drogas como hidroxicloroquina, ivermectina, corticoides, azitromicina e anticoagulantes. que tem preocupado muito [os médicos] é que as pessoas estão desesperadas para tomar algum tipo de tratamento. Muitas vezes, elas não só lançam mão do kit-Covid, mas de várias outros fármacos, como vitamina D, anti-inflamatórios, corticoides. Não tendo sido incomum a gente ver pacientes com muitos efeitos colaterais decorrentes desse tipo de medicação, relatou o Dr. Christian Morinaga, gerente do Pronto Atendimento do Hospital Sírio-Libanês.

De igual sorte, o Dr. Carlos Carvalho, chefe de Pneumologia do Instituto do Coração (InCor), do Hospital das Clínicas (Faculdade de Medicina da USP), confirma a incidência de lesão em ductos na região do fígado em pacientes que fizeram uso de ivermectina, droga usada para combater verminoses. Em alguns casos, ele relata a necessidade de transplante hepático.  Tem-se a impressão que as infecções mais graves pela Covid-19 são notadas em pacientes que fizeram uso do kit-Covid.

Aqui nós temos hoje 150 pacientes internados no InCor. Se eu fizer uma enquete, eu te diria que dois terços a três quartos desses pacientes que estão aqui internados, sendo a maioria deles intubados, tomaram o kit-Covid, descreve o pneumologista. Quem falou que deu o kit-Covid para população e disse que o resultado foi estupendo não vivenciou o doente grave que tá aqui nas UTIs e no Hospital. A maior parte dos que estão aqui hoje tomaram, continua. Na mesma semana, o jornal Estadão relatou que cinco pacientes entraram na ala dos transplantes de fígado após tomarem os medicamentos do chamado tratamento precoce.

Para os pacientes que fizeram uso da cloroquina ou hidroxicloroquina e contraíram a Covid-19, os médicos relatam alterações no ritmo cardíaco. O Dr. Christian diz que o uso indevido da ivermectina e da azitromicina pode inflamar o fígado. Nos pacientes infectados com a Covid-19 em um estágio avançado da doença, quando é necessário outras medicações para o tratamento, a inflamação e os demais efeitos colaterais prejudicam a cura da infecção.

Quanto mais órgãos vitais forem inflamados e lesados maior é a letalidade dessa doença, explica Dr. Carlos Carvalho. Os casos de hepatite medicamentosa têm aumentado, mas a gente não teve notícia de nenhum caso grave, felizmente. Nestes casos, com a suspensão da medicação, houve melhora. Porém, é um quadro potencialmente grave que, num pior cenário, pode prejudicar muito o tratamento, explica Christian sobre os casos no Sírio-Libanês.

No entanto, Luiz Carneiro D’Albuquerque, chefe de transplantes de órgãos abdominais do HC-USP e professor da Universidade, disse ao Estadão que dos quatro pacientes colocados na ala do transplante no HC, dois tiveram a condição de hepatite e morreram antes da operação.

A hidroxicloroquina é um medicamento normalmente utilizado no tratamento de lúpus, artrite reumatoide, doenças fotossensíveis e malária. A ivermectina é um vermífugo usado para combater vermes, piolhos e carrapatos. A azitromicina é um antibiótico utilizado em casos de infecção bacteriana. Nenhum deles previne a contaminação pelo coronavírus.

Outra preocupação dos médicos em relação ao tratamento precoce é a demora dos infectados com a Covid-19 em procurar recursos adequados. O pneumologista do Hospital das Clínicas conta que um médico pediatra, seu colega de turma na faculdade, faleceu de coronavírus após se recusar a procurar tratamento médico para a doença, já que estava tomando o kit-Covid. Quando chegou ao hospital, estava com mais de 60% do pulmão acometido e acabou falecendo. Mesmo pessoas com formação técnica caem às vezes nessa bobagem, lamenta.

A azitromicina é um antibiótico que vem sendo utilizado por médicos em pacientes que possuem infecção bacteriana associada à Covid-19. E, na maioria das vezes, são pessoas que estão em uma fase avançada da doença. No entanto, a droga faz parte do kit-Covid para tratamento precoce do coronavírus. Tomar azitromicina sem evidência de infecção bacteriana pode levar a indução de existência de bactérias, explica o médico do Hospital Sírio-Libanês.

Além da infecção viral correr o risco de ser complementada por uma bactéria, o uso indevido desta medicação vai criar resistência para estes organismos, o que é um risco para toda a população. É um antibiótico excelente que no futuro próximo não vai mais poder ser usado no tratamento de infecções, porque ele já vai estar queimado, explica Carvalho.

Os corticoides também são utilizados em pacientes que estão na forma grave da doença. Para quem toma este remédio precocemente, sem estar nesta condição, se acabar se infectando pela Covid-19, além de propiciar a replicação de vírus, pode propiciar também uma infecção por bactérias, que vão complicar mais o quadro da pneumonia viral, informa o pneumologista. Já o uso indevido de anticoagulantes pode aumentar o risco de acidente vascular cerebral. O pneumologista alerta que tais medicamentos devem se restringir à conotação hospitalar.

Gostaria que já existisse um tratamento. Mas não tem. A única saída é a vacina. Não tem nenhum outro tipo de tratamento. Razão pela qual a ciência recomenda: devemos ficar em casa, tomar os devidos cuidados e não contaminar os outros; porque isso vai passar, se todos colaborar, finaliza o Dr. Carlos Carvalho.

Brasilândia/MS, 11 de junho de 2021.

 

Referências:

Foto: Mufid Majnun on Unsplash/Veja SP. In Maria Alice Prado, publicado em 25.Mar.2021.

Fonte: Maior parte dos que estão aqui na UTI tomaram kit-Covid, diz chefe do Incor. In https://vejasp.abril.com.br/saude/kit-covid-tratamento-precoce/?fbclid= IwAR1 wZ 73LEcZWiMjQ6D49y0CVMtMwd6JM2wyst-3TVqCh3GBk exO dlNHQ-dA, 07/06/21.

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