sábado, 31 de outubro de 2020

 Dia de Finados, um encontro com a Vida.

Carlos Alberto dos Santos Dutra.



A imagem que temos das pessoas vai se apagando com o tempo. São rostos, contornos, vozes, e até sorrisos que aos poucos vão enuviando de nossa mente. Esquecemos, com o passar dos dias, dos meses, dos anos, nomes, lugares e também das pessoas que um dia nos aproximamos. É assim com aqueles que já partiram: são lembrados nos primeiros anos, todos os dias. Depois, são lembrados em épocas distintas, como data de aniversário de nascimento, e por fim chegamos ao ponto de esquecer a data de seu falecimento. Está encerrado o ciclo da vida.

No Dia de Finados, entretanto, essas lembranças retornam com força, num dia dedicado exclusivamente a estes desaparecidos. E isso é motivado por uma tradição que envolve muita religiosidade e respeito, sobretudo pelos cristãos que reservam no seu calendário um dia especial para rezar pelos mortos.

O hábito teve origem no século X por iniciativa do abade beneditino Odilo que recomendou aos membros de sua abadia dedicarem todos os anos, no dia 2 de novembro, suas orações à alma daqueles que já se foram. Este gesto, segundo ele, resgatava um dos elementos principais da cosmovisão católica da época: a perspectiva de que boa parte da alma dos mortos está no Purgatório, passando por um processo de purificação para que possam ascender ao Paraíso.

Isso se deduz pelo fato da Igreja ter consagrado o dia 1º de novembro como Dia de Todos os Santos, dia em que se reza por aqueles que morreram em estado de graça, com os pecados perdoados e que trabalharam de forma extraordinária à causa do Evangelho. É compreensível que o dia seguinte, o dia 2 de novembro, seja considerado o mais apropriado para se fazer orações por todos os demais falecidos, aqueles que precisam de ajuda para serem aceitos no céu[1].

Cada parte do mundo celebra esta data a seu modo. No México, por exemplo, existe a chamada Festa dos Mortos, de origem indígena[2]. Já no Brasil a tradição é: independendo da temperatura da região, visitar os que já morreram é uma obrigação das primeiras horas do dia[3]

Dia de finados, portanto, é dia de visitar os cemitérios, levar flores, acender velas e rezar pelos que já morreram. Momento carregado de sentimentos e expressão de respeito aos que já se foram, e que se vale de gestos e símbolos: as velas que são acesas próximo aos túmulos, para iluminar caminhos, e as coroas de flores em forma de circulo que representam a vitória da vida sobre a morte.

Neste ambiente de recolhimento, também acontece algo que desperta para outro significado do Dia de Finados[4] que é muito pouco lembrado: o encontro de congraçamento entre os vivos

É neste momento que as pessoas muitas vezes se encontram com parentes e amigos distantes que vem à cidade natal, berço de seus antepassados, para prestar sua homenagem ao ente querido ali enterrado. O ambiente que era de tristeza e desolação motivada pela lembrança e pela dor da separação, se transforma num estímulo à vida, motivado pelo encontro com aqueles que ainda estão vivos a sua volta.

Em que pese os cuidados que hoje são exigidos para quem deseja visitar os cemitérios em razão dos riscos sanitários da propagação da Covid-19, visitar o cemitério se transforma numa oportunidade de quebrar o isolamento social e dizer sim a vida, de uma forma responsável. Possibilidade que, devidamente equipado com a máscara de proteção individual, o cidadão pode olhar a morte nos olhos, e seguir em frente.

Há quem diga que ir ao cemitério é olhar para trás e que ali só estão sepultados ossos. O que não deixa de ser verdade, porém, são ossos que um dia tiveram nome e endereço, foram revestidos de músculos e pele. Foram portadores de firmeza e calor humano que daríamos tudo para sentir novamente e abraçar. São lembranças carregadas de afeto e sentimento, lágrimas e saudade de quem um dia significou muito para cada um de nós.

A religião que cada um expressa ao visitar o jazigo de seu ente querido lhe diz que a pessoa não está mais ali.  Sim, ali só se encontra a lembrança dela. O local é apenas ambiente, um elo de ligação e comunicação com quem já está na Glória do Pai Eterno, acreditam os cristãos movidos pela fé. 

Jesus chorou a despedida de Lázaro (João 11,35) numa demonstração e expressão de um sentimento por demais humano e verdadeiro comum a todos nós. Da mesma forma pode-se dizer que as lágrimas e preces rogadas pelos que visitam os cemitérios no dia 2 de novembro representam pétalas de flores, suspiros e recordações que voam em direção ao coração de quem se encontra ao nosso lado, sinalizando paz e aproximação, amor e respeito mutuo. O que está em falta nos dias atuais.

Brasilândia/MS, 31 de Outubro de 2020.



Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília, 2017.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

 Novas ideias, novos projetos e velhos paradigmas a superar.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


Faltam 17 dias para as eleições e eis que a atenção dos eleitores se volta para os projetos de alguns candidatos que concorrem pela primeira vez ao cargo de vereador. A visibilidade na mídia dessas ideias faz um divisor de águas entre
os que têm e os que não têm condições de contribuir para o crescimento de Brasilândia.

A falta de um jornal local de circulação diária que pudesse melhor informar os eleitores sobre a política e seus bastidores impede uma reflexão mais aprofundada sobre o que está sendo proposto. E isso faz com que o meio de comunicação ao seu alcance seja o fogo cruzado das redes sociais, em especial o facebook e o whatsapp que conquistam maior espaço por serem mais céleres e interpessoais.

Ainda assim nem todos os candidatos têm postado na mídia o que realmente pretende colocar em prática se eleitos forem. A lacuna mais visível é em relação aos programas de governo dos candidatos às eleições majoritárias. Muitos vídeos têm sido apresentados, porém devido ao tempo de duração e a falta de empatia com o eleitor, se tornam limitados pouco induzindo à reflexão.

Entre os candidatos, no geral, observa-se que todos se manifestam preocupados em apresentar ideias novas para o município. O que é elogiável, pois revela o quanto de fôlego e potencialidade cada candidato possui, demonstrando o seu grau de interesse e conhecimento sobre determinados assuntos que ele possui.

Uma lacuna, entretanto, é visível nos planos apresentados: eles não estimulam o debate sobre alguns dos problemas que o município apresenta. Carências, cujas administrações, durante anos têm negligenciado. Entre os descuidos preteridos estão os de natureza estrutural e de gestão da máquina pública.

Doutrinados por uma suposta emanação divina que prega a subserviência cega à autoridade, a população, sobretudo a que se encontra na base da pirâmide social, acostumou-se a tudo aceitar e pouco participar. E o pior, somente quando a situação beira ao extremo se rebela desordenadamente contra tudo e contra todos, não fazendo uso dos instrumentos de reivindicação e diálogo adequados que possui ao seu alcance.

Por isso, talvez, os candidatos, que também são pessoas do povo e, portanto, sujeitos a esta cultura de cabresto que os cerca e os domesticou, evitem tocar em certos assuntos que contrariam interesses e autoridades. Isso  reflete o pensamento comum da maioria sobre a política: --Não gosto de política, não discuto política, tenho raiva de quem faz política, é o que se ouve. Ou então: --Só adesivo meu carro se me pagarem.

Analfabetos políticos, diria o dramaturgo Bertolt Brecht nascido em 1898. Eles não percebem que este é o tempo propício para a exposição de ideias, discutirem propostas, avançar e ocupar os espaços públicos para fazer valer seus sonhos e seus direitos. Este é o campo de atuação adequado para o debate de bandeiras comuns, o campo da política participativa, que deve acontecer em cada bairro, em cada associação, em cada sindicato, no comércio, nas escolas, enfim, na sociedade como um todo. Como prática da boa e responsável política do bem comum, que está ao alcance dos cidadãos, é nesta hora que as vozes silenciadas podem e devem ser ouvidas.

Há de se dizer que, devido ao distanciamento social, toque de recolher, proibição de aglomerações públicas e aos cuidados exigidos pelas medidas sanitárias de prevenção à Covid-19, o ritmo da campanha eleitoral deste ano de pandemia está sendo bastante lento e dificultoso. Isto porque, o velho modelo do corpo a corpo, tapinha nas costas e visitas domiciliares, praticados durante anos, e que ainda vive nos corações e mentes da população em geral, cada vez mais encontra resistência e está em descrédito.

Esses limites e outros, por conseguinte, levou os candidatos a buscar alternativas, pois, ressentidos desse modelo que eram cativos, manifestaram o desejo de libertar-se. Tiveram de aprender novos métodos, novas tecnologias e também novas estratégias para alcançar o eleitorado e apresentar ao cidadão os motivos para disputar uma vaga no Legislativo ou sonhar com a cadeira de chefe do Executivo municipal.

Entre os candidatos a vereador que tem postado nas redes sociais suas propostas, alguns se destacam pela qualidade de seus projetos. A guisa de ilustração, aleatoriamente, pode-se mencionar as propostas de alguns candidatos. A candidata Márcia Amaral[1] (PSDB) em sua página pessoal do facebook, por exemplo, elenca o maior número de propostas, verdadeiro plano de governo para uma administração inteira.

São propostas para a Educação, Habitação, Cultura, Assistência Social, Saúde, Meio ambiente, Esporte, Emprego e Renda, entre outros temas. Em cada um desses itens, a candidata detalha um a um aquilo que deverá propor através de seu mandato, sendo que a soma de suas propostas alcança o número simbólico de 45 projetos, marcando, assim o número de sua legenda e presença como forte candidata ao Legislativo.

A cidade tem muito a ganhar com a sua eleição, sobretudo pela experiência que possui como gestora à frente da Promoção Social em gestões passadas, quando deixou a sua marca registrada junto à população. Sentimento, sem dúvida, que lhe encoraja a pronunciar uma frase lapidar que impacta e devolve a esperança a muitos: Precisamos derrubar o muro que divide essa cidade, asseverou a candidata no seu blog. Sem dúvida um novo nome que, ao lado de outras, deverá dar maior empoderamento às mulheres no Legislativo local.

Outros três nomes de candidatos com forte representação e consistentes propostas já foram mencionados por mim em artigo anterior. Patrícia do Banco[2] (MDB), Juliane do Porto[3] (DEM) e José Henrique[4] (PSD). Ambos possuem a força da juventude,  representam sangue novo e voto de qualidade para o Legislativo brasilandense. Esclarecidos e propositivos, são candidatos diferenciados dos demais, que destoam do jurássico modelo e padrão do toma lá dá cá e, portanto, têm condições de muito bem representar e não envergonhar a população de Brasilândia.

Outros candidatos de visibilidade mais moderada nas mídias sociais, porém, não menos importantes, também merecem destaque em razão da novidade que representam, não somente pelos nomes, mas também por alguns de seus projetos. O candidato Jair do Procon[5] (DEM), conhecido por Jair Fotógrafo profissão que o notabilizou em Brasilândia é um deles. Baluarte na formação de dezenas de associações de moradores é um expert em atas e assembleias gerais de fundação de entidades, sendo o mentor e primeiro dirigente de várias delas, entre elas o COREDES, de âmbito regional. O seu mandato se propõe a ser fomento às causas comunitárias, de desenvolvimento rural e de defesa de direitos.

Outro candidato que através de seus vídeos tem mostrado sua preocupação com os jovens é o criativo Japa[6] (POD). Mais que isso, ele se propõe dar visibilidade à juventude junto ao empresariado através do programa Jovem Participativo, fomentando o diálogo com os empresários e o comércio local. Além deste programa interessante que busca inserir o jovem no mercado de trabalho, o candidato ainda pretende incrementar outro programa que já desenvolveu em Brasilândia no passado que é o Projeto Criança Radical que ensina aulas gratuitas de skate para crianças de 9 a 13 anos, atividade que desenvolveu no Parque Akira Otsubo e trouxe prêmios para o município.

São muitos nomes, cada um com sua riqueza e sua particularidade não sendo impossível mencionar a todos. Dedilhando as páginas do facebook, detenho-me sobre alguns novatos que ilustram o propósito deste artigo. O candidato Quintino[7] (DEM), por exemplo, identifica-se como a força que vem do campo, porém, é muito mais que isso. Ex-professor na antiga Escola Rural Bom Jardim, compositor do hino da Escola Estadual Adilson Alves da Silva, técnico de futebol de campo, redator de crônicas futebolísticas para jornais, ex-secretário de esportes em gestões passadas, quase um fundador desta cidade, é um jovem dedicado e experiente no seu ofício com os olhos voltados para o homem do campo. Um nome que supera em atributos muitos outros, e que o cidadão pode contar com seu empenho uma vez eleito para o Legislativo municipal.

Entre os novatos há de se lembrar dos professores que concorrem neste ano e que podem fazer a diferença ente os demais candidatos em razão do grau de formação e potencial pedagógico que possuem. O Prof. Deley[8] (PSD) e Profª Danielle[9] (PSDB) são dois deles entre outros que, desvinculados do velho modo de fazer política, apresentam-se como alternativas ao eleitor. As propostas no campo do esporte do candidato Prof. Deley inovam ao buscar com paixão incentivar a valorização do profissional da educação, se propondo também a estimular projetos culturais e o cuidado e zelo para a proteção dos animais.

Já a Profª. Danielle se propõe envidar esforços para que o profissional da educação tenha maior apoio e suporte para seu trabalho, como por exemplo, apoio psicológico e psicopedagógico aos discentes e docentes, o que irá refletir na qualidade da educação que é ministrada no município, além de se propor lutar pela elevação do piso salarial dos professores e administrativos, escreveu na sua página no facebook.

Tem-se ainda novo no páreo para o Legislativo, o nome do ex-prefeito Jorge Diogo[10] (PSD) em sua primeira experiência como candidato a vereador. Ele se propõe a ser um porta-voz da comunidade através de um mandato participativo declarando buscar ser um vereador de coragem, humano e solidário, propondo, com base na sua experiência, fiscalizar o dinheiro público, sobretudo os contratos em licitação e concessões realizados pela administração municipal.

Com a desistência de dois nomes a vereador, agora concorrem em Brasilândia 67 candidatos. Todos, sem exceção, com suas virtudes e propósitos, motivações e projetos, por mais simples que sejam, alguns sem a menor chance de elegerem-se, mas com o firme desejo de querer bem representar a comunidade onde vivem . 

Ao lado daqueles que buscam a reeleição, por suas razões e motivos, o que lhes garante vantagem sobre os demais, o pleito avança. E ainda que seja uma lástima constatar que o critério de escolha possa ser somente a amizade e não a ideologia defendida pelo candidato, que vença, pois, entre os amigos, o que tiver mais bem preparado!

Brasilândia/MS, 28 de outubro de 2020. 

Dia do Servidor Público.

 


domingo, 25 de outubro de 2020

Seu Joaquim Quinança, seu sorriso e uma longa história de amor.

Carlos Alberto dos Santos Dutra




Muitas pessoas que passam por nós pela rua nos acostumamos vê-las sempre pela aparência e não pelo que realmente são. Algumas marcam presença pelo sorriso, seus trejeitos e alegria. Outras pelo semblante sério, às vezes ranzinza, circunspeta, quando vistas superficialmente. Na maioria das vezes, entretanto, nossos olhos nos enganam e nos equivocamos ao identificarmos quem se encontra a nossa frente.

Naquele dia eu voltava do trabalho e ao passar em frente da casa de dona Ignes, que se encontrava acamada há meses, adentrei ao pequeno portão. Encontrei-a sentada na área da casa ao lado da filha, professora Cleonice, que lhe fazia companhia e prestava assistência naquele momento. Com dificuldade de falar, mas com o olhar muito ativo, travou comigo um diálogo que tocou minha alma: --sempre vejo o senhor passar apressado todos os dias aqui na frente.  --E às vezes nem sequer dando-lhe bom dia, pensei.

A lição estava dada e o aprendiz carente de humanidade estava agradecido. Mas aquilo não fora o bastante. O grande encontro ainda estava por acontecer. Olho para o lado e, sentado um pouco mais adiante, observo a figura de um senhor de idade, com o olhar distante, como que a espera de alguma coisa que o fizesse ser notado.

Era o senhor Joaquim Ferreira de Souza, popularmente conhecido como Joaquim Quinança, apelido que recebeu ainda na sua terra natal, a cidade de Paraíso/SP. De camisa social e calças bem alinhadas, traços do rosto simétrico bem definidos, ostentava ainda uma pequena barba que lhe cobria parte do rosto. Parecia um galã maduro, de cinema, figurante do filme Novecento, de Bernardo Bertolucci.

Chegou até a mim e num olhar cumprido de tristeza suspirou, revelando sua preocupação com a saúde da esposa, não se conformando de vê-la assim, impedida de voltar a caminhar e falar, de ser a companheira que era, de tantos anos. Às vezes saía pela rua caminhando a esmo, para a preocupação das filhas Maria Helena e Cleonice que saíam em sua busca, o acompanhando a distância, cuidando para não serem notadas, durante as escapadas furtivas que o pai dava pela redondeza.

Homem criativo, de fôlego e tenaz vigor, sempre foi assim, desde sua juventude. Quando nasceu, em 26 de fevereiro de 1930, seu pai Ovídio e dona Maria Felícia depositaram nele todas as suas esperanças, mesmo sendo ele o mais novo dos irmãos, Manoel, Pedro, Benedito e Felícia. E não se decepcionaram: o menino cresceu e venceu tornando-se um homem forte e altivo.

Passou a infância e juventude na sua cidade natal. Ali fez seus primeiros estudos, não avançando, porém, além do quarto ano primário. Tinha pressa de viver e colocar em prática seus sonhos e aspirações. Aos 20 anos de idade, no dia 15 de julho de 1950, casou com dona Ignes da Costa Souza que vivia na mesma cidade, com quem construiu uma linda e longínqua história de amor.

Muito religioso, o casal nutria o entendimento que o casamento era para toda a vida. E os anos foram generosos com eles. Em 2000 comemoraram bodas de ouro (50 anos de casados); em 2010, festejaram bodas de diamante (60 anos de casado), e em 2020, tiveram a graça de celebrar, como poucos, suas bodas de vinho (70 anos de casado). Não haviam recebido bênção maior.

Desde moço viveu os seus dias intensamente. Seu Joaquim tinha o dom de transformar cada dia vivido numa deliciosa e promissora aventura. A máxima latina de Horácio que dizia carpe diem, ele viveu-a em plenitude. Recorda a filha que, além do estado de São Paulo, também morou no estado do Paraná, vindo depois, para Brasilândia chegando aqui no mês de fevereiro de 1971.

Homem de vários ofícios, sua primeira casa em Brasilândia a construiu de madeira, com as próprias mãos. Depois, finalmente edificou sua casa definitiva no centro da cidade, onde passou o resto de sua vida, residência onde a esposa vive até hoje. Também teve uma máquina de beneficiar arroz localizada nos fundos da atual Prefeitura e onde hoje é a casa do senhor José Leite de Noronha, na Avenida Boa Esperança.

Como todo o pioneiro desta cidade, em tempos passados enfrentou todas as dificuldades que o pequeno município então apresentava: viagens em estradas precárias, todas de terra; a carência de energia elétrica, quando a iluminação da cidade era garantida por um motor a diesel somente por algumas horas; a água que era de poço ou de caminhão pipa, mesmo no centro da cidade, entre outros desafios.

Ah, seu Joaquim Quinança...

Quem o visse assim, de aspecto franzino e sorridente, mal sabia o homem de fibra que aquele semblante escondia. Trabalhou a maior parte da vida num sitio que adquiriu de seu irmão Dito Quinança, no córrego Jardim. Foi neste contato com a cultura do campo e interação com a terra e seus frutos que a vida lhe pareceu mais digna de ser vivida, dando-lhe forças para constituir uma família sólida e carregar no colo as dedicadas filhas, Maria Helena e Cleonice, ternos e doces presentes que Deus lhe deu.

Família que iniciou pequena, logo, entretanto, desabrochou. Em poucos anos, já se encontrava o casal rodeado de cinco netos: Heder, Heldir, Hilton, Alessandra e Celso Filho. Mais alguns anos e um renovado sorriso se instala no rosto de Joaquim e Ignes com a chegada de dez bisnetos: Amanda, Giovana, Lana, Ryan, Yoná, Laura, Beatriz, Hiago, Heitor e Rafaela. E por fim, pouco antes de seu falecimento, a tataraneta Maria Luiza, deu-lhe a alegria de deixar-se abraçar e receber a bênção de despedida de tão carinhoso e sorridente avô.

Olho para o seu Joaquim de agora e o pensamento retorna no tempo, quando este escrevinhador, ainda de cabelo negros e longos, causava estranheza àquele senhor. Mas o tempo é o senhor da história, e agora tão próximo vejo o quão alegre e feliz era este homem. Carregava sempre na algibeira da alma sua historia e suas memórias, permanecendo o que sempre fora: um homem de trato simples, sempre conversador, tinha o habito de falar alto, sempre gesticulando, lembra a família.

De uma coisa seu Joaquim não abria mão. Uma das coisas que mais gostava era contar causos, relembrando os seus tempos de caçada e pescarias. Isso o fazia remoçar e o enchia de satisfação, tornando a vida, para ele, pura diversão. Estava sempre cantarolando e inventando letras para as músicas. Um ser fantástico para quem o conheceu de perto.

Estando no sítio ou em sua casa, ele tinha o maior prazer em receber os amigos e parentes, mesmo de passagem, fazia questão que entrassem, sentassem e conversassem, recebendo a todos e sempre fazendo-lhes um agrado. As filhas com emoção lembram que ninguém saía dali sem tomar o seu café. Com aquele ar de obstinada inocência ele dizia para dona Ignes: --Minha ‘veia’ faz um cafezinho para as visitas. Aquilo era sagrado.

Para quem viveu 70 anos ao lado de alguém, a vida pode representar uma eternidade. Também pode ser lembrada em um segundo, com uma palavra: dedicação. São flashes de momentos vividos pelo casal que enchem de ternura e saudade as filhas e os netos que estiveram ao seu lado. E lá vai seu Joaquim em sua caminhonete levando o sustento da família, ano após ano, quase anônimo pelas estradas, indo e voltando todos os dias do sítio para o trabalho, na lida no campo e a vida na cidade.

Profundamente católico, seu Joaquim era um homem de muita fé. Não saía de seu quarto pela manhã sem antes fazer sua oração de agradecimento e pedido de proteção para mais um dia que iniciava. Foram dias que Deus em sua generosidade o presenteou em abundância - 90 anos de vida -, permitindo mantê-lo lúcido e com os olhos voltados para o que era mais importante: sua esposa, seu maior tesouro e a família.

Os olhos estão marejando enquanto seu Joaquim acena para a esposa Ignes que o observa somente com os olhos, pois se encontra imobilizada devido a uma paralisia facial progressiva que cada vez mais avançava. Não suporta vê-la assim. Abana a cabeça em sinal de tristeza, mas não se desespera. Olha firme nos meus olhos, como que comunicando a sua dor, e prossegue. Encontra forças no fundo da alma e sorri. Sim, ele sorri, manifestando a alegria que sempre demonstrou a todos. Torna a colocar o chapéu na cabeça, marca registrada sua, e decide me acompanhar até o portão onde me despeço.

Foi a última vez que vi o seu Joaquim Quinança. Ele faleceu no dia 15 de outubro de 2020 e a cidade chorou a partida de mais um pioneiro que ajudou a construir essa cidade. Mais que isso, seu Joaquim com sua bela história de amor, foi alguém que conferiu em silêncio um pouco de humanidade em todos nós, deixando lições de humildade, honestidade, honradez. Foi um semeador do bem.

Sua Páscoa definitiva ocorrida no Dia do Professor, de certa forma foi a data que o Pai Celeste escolheu para seu Joaquim homenagear as filhas que são professoras e zelosas cuidadoras de sua esposa. E lá está ele, no Alto, com um ramalhete de flores do campo a espera de sua adorada e sempre jovem Ignes. E de todos nós..., quando Deus assim permitir. 

Brasilândia/MS, 25 de Outubro de 2020.







[1] Quando chegou em Brasilândia (Foto de 1971, Cortesia da Profª. Cleonice)







[2] Missa das Bodas de Ouro (Foto de 2000, Cortesia da Profª. Cleonice).






[3] Bodas de Diamante (Foto de 2010, Cortesia da Profª. Cleonice)




sexta-feira, 23 de outubro de 2020

 

O candidato ideal: Ideologia ou Amizade?

Carlos Alberto dos Santos Dutra




Em tempo de eleição, falar de candidatos é fácil, sobretudo quando se está na esquina, falando com estranhos, em uma cidade estranha. Quando se fala para familiares e amigos, dentro da própria cidade, a tarefa passa a ser mais exigente e se transforma em verdadeiro desafio para os neurônios de qualquer um.

Isso porque, sobretudo nas pequenas cidades, como Brasilândia/MS onde todos se conhecem, o que se fala de alguém, na maioria das vezes, já é do conhecimento de todos não sendo novidade alguma o que se revela sobre este ou aquele cidadão ou cidadã.

Mas o calor da disputa desperta paixões e o coração de alguns, em certos momentos, salta pela boca em defesa de seus candidatos, sejam eles benfeitores, familiares ou amigos; seja por ideologia, interesse ou gratidão. E as palavras tomam forma e corpo, agigantam-se em volume e cores, às vezes ásperas e afiadas como lanças que cortam e ferem.

Dificilmente os comentários oponentes são abonadores e construtivos. Uma vez pronunciados tem como fim último, mesmo involuntariamente, um compromisso com a destruição e o aniquilamento do outro. Se o oponente não existisse melhor seria; a vitória estaria garantida, pensam.

Ideia equivocada, entretanto, é esta que os move, uma vez que a disputa é justamente o embate dos contrários. São partes da sociedade organizada em partidos que se apresentam e envidam esforços para melhor representá-la. Os adeptos e filiados dessas siglas partidárias deveriam saber disso. Até mesmo para não ferir a si e aos outros.

Na maioria das vezes defende-se pessoas e dificilmente fala-se nos partidos e ideologias que os orientam. E isso pode ser explicado devido a parca formação política do povo brasileiro que, durante 21 anos de ditadura, desaprendeu o quanto é necessário se fazer política e se ter nas mãos o destino de suas vidas e comunidade, e não entregá-lo a qualquer um.

Mas o povo a cada eleição tem a oportunidade de tomar nas mãos o exercício da democracia e poder escolher seus governantes nos três níveis de poder. Em que pese, para o nosso desalento, o olhar repousa sempre sobre aqueles que estão mais próximos e não na ideologia que defendem.

Razão até certo ponto compreensível devido ao constante troca-troca de partidos que presenciamos todos os dias no Brasil. O que é favorecido pela mesa farta de partidos que a Justiça Eleitoral coloca a disposição: neste ano, 73 partidos em formação e 35 em vigência. Uma festa!

Aqui em Brasilândia, se o critério for a insatisfação do candidato com sua sigla partidária original, entre os que pleiteiam o Executivo municipal neste ano, o índice é zero, pois a exceção do candidato do MDB, fidelíssimo, os demais, PSDB e PTB (cabeças de chapa) participam da política local com candidatos novos no segmento desta eleição de 2020.

Já no Legislativo não ocorre o mesmo. Dos 69 concorrentes, entre os 24 candidatos que já disputaram eleições locais, 20 já trocaram de partido, duas, três ou quatro vezes. Entre as trocas mais recentes, a mais emblemática é a dos candidatos eleitos pelo PT, um partido de esquerda, e que migraram para o PSDB e PODE, partidos de centro, deixando um vazio da sigla petista que já administrou o município.




Em síntese, não se pode esperar fidelidade da maioria desses candidatos. Salvo raras e honrosas exceções, se não foram fiéis à ideologia de seus partidos, por que seriam às promessas apresentadas aos cidadãos? Por que não vieram a público, até mesmo por respeito a seus eleitores, explicar os motivos de terem abandonado a sigla que os elegeram? Não consideraram o cidadão; haveriam de ser considerados agora por eles?

Ao cidadão comum, que vive alheio às questões ideológicas e partidárias, resta submeter-se a cantilena dos candidatos amigos que lhe batem a porta. E, presos aos ditames e laços do coração, acabam por descuidar de prestar atenção na sua cidade e no seu futuro, olhando somente para o presente mais próximo.

Pode-se dizer que, invariável e pesarosamente, as escolhas realizadas somente pelo critério da amizade podem resultar em frutos amargos. Isso porque o candidato eleito nem sempre será o amigo, nem sempre será o candidato da família ou do coração. E não importa que seja, desde que cumpra a sua missão.

Seus lindos olhos, seu sorriso, ou sua ajuda emergencial econômica, dada num momento de precisão, não importam. Embora sejam predicados que devam ser considerados, agradecidos e louvados, não devem ter como pagamento o voto. É um investimento muito alto cuja vida e o futuro o cidadão não pode arriscar.

Amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito, diz o poema de Milton Nascimento. Eleição, porém, não é uma canção ou festival de flores lançadas de um palco. Numa eleição o candidato ideal nem sempre é o amigo. Ele pode ter estado a nossa frente e ainda assim nem havíamos notado.

De certa forma estamos diante de duas concepções: aquela descrita por Max Weber e a desenhada por Nicolau Maquiavel. Para o pai da sociologia, o candidato ideal é aquele que busca o impossível em vez do possível e defende que quem vive para a política faz da política a sua vida, e quem vive de política, faz dela uma fonte de ingressos, em benefício próprio, dizia.

Já o candidato que se alinha com o pensamento de Maquiavel, tem a [má] concepção de quão é fácil manipular os homens. Ele exaltava esta condição fundada na astucia do governante e na ignorância dos homens, a ponto de dizer que aquele que engana sempre encontrará aquele que quer ser enganado[1].

Que saibamos, portanto, escolher nosso candidato não pela amizade, mas pela capacidade e o vigor com que defende suas propostas. E depois de vê-lo eleito, prossigamos acompanhando de perto sua atuação, sem escrúpulos, colaborando e fiscalizando o seu mandato.

 

Brasilândia/MS, 23 de outubro de 2020.

 



[1] - Cf. O político ideal e o mau político. Por Jeferson Bertolini. Observatório da Imprensa, Feitos e desfeitas. Edição 818, 30.Set.2014.

sábado, 17 de outubro de 2020

A aparência, a essência e a responsabilidade do eleitor.

Carlos Alberto dos Santos Dutra



Numa sociedade onde se valoriza mais a aparência do que a essência, o nome e a imagem de alguns candidatos nesta eleição em Brasilândia inspiram os mais diversos comentários, o que é reforçado não somente pelo preconceito, mas também pelo comportamento diverso e hilário, por vezes, de alguns candidatos. Vencida a barreira desta primeira impressão – pois afinal conhece-se todo mundo numa cidade pequena --, os olhos do observador repousa sobre a individualidade e boa intenção de cada um, o que nos leva a considerá-la e destacá-la.

Entre os que podemos chamar de candidatos pequenos e, no mais das vezes, invisíveis aos olhos dos chamados grandes em razão do pouco brilho e recurso na mídia, bem como seu discreto número de seguidores que os aplaudem, há de se destacar que muitos deles fazem por merecer também o elogio. 

É pela fotografia de seus santinhos e algumas declarações e imagens postadas nas redes sociais que arriscamos tecer algum comentário com a intenção de promovê-los e homenageá-los, por dever de dignidade e justiça.

Causa-nos surpresa ver rostos comuns de trabalhadores, profissionais de diversas áreas manifestando-se sobre temas importantes e de interesse de todos numa comunidade introspectiva mas que também é solidária. 

São mecânicos, vendedores autônomos, comerciantes, donas de casa, pastores, manicures, missionárias, agentes da reciclagem, ambulantes, entre outros, que revelam o quanto batalham pela vida, no mais das vezes distantes das rodas sociais e status da fama, para manter suas famílias. E ainda assim, lançam-se candidatos.



Ao lado de outros segmentos, digamos mais esclarecidos e economicamente estáveis, como os profissionais liberais, servidores públicos, policiais, escriturários, desenhistas, professores, empresários, entre outros, esses heróis anônimos, ao contrário, contam somente com a cara e a coragem. E carregam nos ombros o orgulho de ter uma chance de poder representar o seu município da forma que lhe é possível, angariando a confiança própria e a simpatia de seus familiares e amigos.

Colocar o nome à apreciação pública é sempre um desafio, sobretudo para aqueles que nada possuem, a não ser uma história de vida cheia de realizações e alguns sobressaltos. A vida não é igual para todos, e cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, diz a canção dom de iludir, de Caetano Veloso. 

Isso porque durante a campanha, a vida pregressa e quiçá futura dos candidatos, de uma hora para outra é colocada em xeque, quando não revirada do avesso na busca de algum fato desabonador. Vencido este desafio, resta o consolo de terem conseguido candidatar-se. E isso configura a maior vitória; a despeito do que possam dizer sobre sua pessoa e seu passado.



Depois de ver seus nomes aprovados em convenções, muitas vezes sob a tutela de velhos caciques da política local, esses cidadãos, conquistam o direito de poder falar e dizer o que pensam para melhorar a sua cidade. –Mas quem lhes dará ouvidos? Ainda que possam ter uma visão diminuta e amadora da complexidade que encerra o exercício do poder, ainda assim, insistem, reivindicam, sonham: representam um novo olhar, visto do chão e cimento social ao qual a maior parte da população vive ou neste lugar teve origem e ascendeu. 

Ato de verdadeira coragem e altruísmo que, se por um lado demonstra o quanto a democracia representativa ainda é a melhor forma de aquisição do regime político, por outro lado, garante que todo e qualquer cidadão e cidadã possam ter acesso a este processo e passar de representado à condição de represente.



Alguém poderá dizer que os cargos que tais candidatos almejam – prefeito ou vereador – são por demais importantes para arriscar entregar na mão de qualquer um. Sim, há de se concordar. Porém, é para isso que existe a liberdade de escolha, princípio basilar da democracia que garante o governo da maioria, devendo os demais submeter-se a ela. Cabe, portanto, ao eleitor promover a sua escolha, acurada e responsável, suplantando, inclusive os apelos do afeto, amizades e interesses particulares.

Sempre é possível extrair o sabor doce de uma fruta, até provarmos. Sempre é possível apalpá-la com os olhos e imaginar o paladar suave que ela nos proporcionará, até poder tocá-la e perceber o seu perfume e textura delicada. Pessoas não são frutas e sequer objetos; elas pensam e falam, e podem dizer a que vieram; o que entendem e o que pretendem. Como candidatos devem, sim, arcar com a responsabilidade do percurso que empreenderam até aqui rumo ao pódio.


 


Ao eleitor, portanto, cabe inquiri-los, questioná-los, procurar saber o que, onde e como irão executar o que prometem. Estarão assim, prestando-lhe a sua maior homenagem, valorizando a candidatura de seu amigo, parente ou conhecido, por mais simples que ele seja. Em síntese, dotando-o de condições, apoio e respeito pelo que são e contribuindo com responsabilidade para o que poderão vir a ser.

Brasilândia/MS, 17 de Outubro de 2020.

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. 










quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Um Parque Natural Municipal para Brasilândia

Carlos Alberto dos Santos Dutra


O caso recente de invasão por uma família em um lote no Assentamento Santana traz a tona um assunto que há muito vem sendo protelado pelo poder público de diversas administrações, qual seja, a ocupação responsável do solo rural e urbano do município de Brasilândia. Para uma cidade rodeada de mata nativa desde a sua fundação, depois de cinco décadas o descuido com a preservação ambiental ainda é visível... E preocupante.

O tema já foi motivo de amplo debate no ano de 2005 pelo Legislativo local quando este escrevinhador, então neófito edil, ocupou a tribuna da Câmara para dizer: É do conhecimento de todos que dezenas de lotes desses dois Reassentamentos (Santana e Santa Emília) tem sido fartamente vendido a qualquer um que queira adquiri-los e se disponha a pagar alguns trocados aos seus proprietários.

Proprietários que, na maioria das vezes, não dispõe de alternativa que não seja a de vender o lote em razão da falta de recursos para investir no lote. Em que pese os problemas financeiros que cada um enfrenta não achamos justo que terceiros possuidores de sítios e fazendas, comércio e sobejo patrimônio, adquiram esses lotes a preço de banana e transformem-no em sítios para o seu lazer particular, quando não emendando terra a terra voltando à feição das antigas fazendas (...).

Foi o estopim que fez desencadear na época a aprovação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, a chamada CPI do Reassentamento Santana s Santa Emília[1] que levantou, entre outras questões, a necessidade de se criar uma Unidade de Conservação-UC naquela região.

O tema foi proposto no dia 27 de novembro de 2006, há 14 anos, portanto, pelo presidente da CPI que já naquela época solicitava às autoridades locais e estaduais, a criação de uma Unidade de Conservação do tipo Parque Natural Municipal no município[2], através de recursos oriundos das medidas compensatórias ambientais que seriam preconizadas pelas empresas Votorantim Celulose e Papel S.A, e International Paper do Brasil Ltda, cujos projetos se encontravam em fase de implantação nos municípios de Brasilândia e Três Lagoas.

Passado todos esses anos e Brasilândia ainda hoje não conseguiu implantar uma área verde de lazer, próxima à sede do município, e seus cidadãos permanecem órfãos de uma iniciativa que lhes devolva também o Balneário Natural que lhes foi subtraído das margens dos rios Verde e Paraná, sendo que o ressarcimento prometido nunca foi viabilizado pela CESP e tampouco pelas administrações passadas.

Entre as propostas apresentadas naquele ano e que ainda encontram ressonância na comunidade está a sugestão da ONG local, Instituto Cisalpina de Pesquisa e Educação Socioambiental, que chegou a ser mencionada no EIA-RIMA, documento elaborado pela Empresa Environmental Resources Management Group - ERM Brasil Ltda, pedindo a aquisição por desapropriação de uma área conhecida como Chácara São João, do senhor Antônio Augusto Fonseca, hoje falecido, para transformá-la num Parque municipal.

Integrava a proposta a área contígua dos lotes ao fundo e a direita desta propriedade, o que ampliava a área de preservação ambiental. É visível que ali ainda hoje se conserva uma rica amostra da flora do cerrado sul-mato-grossense, numa diversidade de espécies cultivadas com zelo e primor pelo antigo proprietário. Lugar que, a despeito de estar localizada praticamente no centro da cidade, configura-se um atrativo cultural, verdadeiro santuário da natureza preservada.

Era intenção de o Instituto Cisalpina transformar aquela área e a construção ali existente numa Escola Ambiental, aberta a visitação pública e realização de cursos para crianças. Para fins fundiários, observou-se na época que a área pleiteada integrava a chamada Reserva Industrial B do loteamento Cidade Brasilândia, e que no conjunto perfazia cerca de cinco hectares: espaço ideal para garantir a permanência da flora ali preservada.

 

Outra área reivindicada na época foram os lotes 07 e 08 que fazem fundos com os lotes 17 e 18 confrontantes aos lotes 31 e 32, no Reassentamento Santana, onde se encontra ali uma mata intacta, cuja presença de animais silvestres, como cervos e bugios, já foi verificada no local, o que requer medidas urgentes de preservação e conservação pelos órgãos ambientais oficiais para que coíbam em tempo a sua derrubada (salvo melhor juízo, resquício de mata atlântica) ali existente.

Nesse mesmo sentido, pedia o vereador na época, para que a Prefeitura revesse a destinação desses lotes que ainda não se encontravam ocupados, destinando-a a uma entidade ambientalista ou órgão que garantisse a sua preservação; ou assumindo-os, porque titular dos lotes, na condição de Unidade de Conservação nos moldes de um Parque Municipal.

Temia a CPI instalada naquele ano que pessoas estavam somente esperando a conclusão dos trabalhos da Comissão (que segundo diziam iria acabar em pizza) para promover a ocupação dessas áreas e iniciar a derrubada da mata, o que nos dias atuais está na iminência de acontecer.

O alerta dado há 14 anos permanece silente e o risco de destruição do ecossistema ali preservado continua a revelar perda inestimável e denúncia de mais um crime contra a natureza que se vislumbra diante dos nossos olhos.

O embate de outrora frente às gigantes da celulose Votorantim, depois Fibria e agora Suzano não evoluiu e a Indicação do estreante vereador perdeu-se no tempo sem assegurar que o recurso proveniente de compensação ambiental relativa aos empreendimentos da fábrica de papel e celulose que recém se instalava viesse para Brasilândia, ficando todo o montante em Três Lagoas.

O desafio está lançado aos novos vereadores e futura administração pública municipal. Tal qual um dedicado professor os novatos agentes políticos devem exigir que se corrijam os erros do passado e superem de uma vez por todas ultrapassados conceitos sobre a preservação ambiental vista por muitos como empecilho ao desenvolvimento.

Brasilândia/MS, 15 de outubro de 2020 - Dia do Professor.

 

[Fotos] Vista aérea da Chácara São João, PMB, 2015; Lotes 7 e 8 do Reassentamento Santana, Dutra, 2005. [Mapa] TopoSat Engenharia, PMB, 1999 [1] - Jornal A Tribuna, de Campo Grande/MS, edição de 20-27 de março de 2005. [2] - Parque é classificado como uma categoria de Unidade de Conservação de Proteção Integral pela Lei Federal nº 9.985, de 17/07/2000, conhecida como Lei do SNUC (Sistema de Unidades de Conservação).




terça-feira, 13 de outubro de 2020

 

O Verde, a Criatividade e a Jabuticabeira.

Carlos Alberto dos Santos Dutra.



Passada a euforia da surpresa dos nomes e epítetos dos candidatos que concorrem nas eleições municipais neste ano, os brasilandenses começam a olhar com mais atenção e cuidado para as propostas e projetos que estão sendo apresentados.

No campo do Legislativo, em razão do aumento do número de candidatos, a quantidade de projetos é maior e bastante diversificada. Alguns deles, nem sempre da alçada do vereador, são defendidos com reforçada dose de otimismo, principalmente pelos iniciantes na política.

A visibilidade nas mídias sociais de alguns desses projetos chama a atenção daqueles que se dispõe a ouvi-los e interessar-se por eles. Não é para menos. Com o crescimento do nível de consciência do eleitorado, cada vez mais discordante do modus operandi da velha política do toma lá dá cá e da compra de voto, os projetos são hoje o cartão de visita dos candidatos.

Algumas das propostas que estão sendo apresentadas por candidatos a vereador são de suma importância para o desenvolvimento e o bem-estar do cidadão e sua cidade. De certa forma, pelo simples fato destas ideias virem a público, esses projetos agregam valor às legendas e coligações que concorrem, obrigando, por conseguinte, os candidatos a prefeito, caso eleitos, a se comprometerem na sua exceção.

Só para citar um exemplo, a partir de alguns vídeos postados nas redes sociais nos últimos dias, podem-se destacar as propostas relacionadas ao Meio Ambiente, como as apresentadas pelos candidatos Patrícia do Banco, Juliane do Porto e José Henrique, que se revestem oportunas e desafios a enfrentar.

 



Na percepção da candidata Patrícia do Banco Brasilândia é contemplada com uma vasta fauna e flora, razão que leva a jovem brasilandense estreante na política a defender a construção de uma Área Verde. A proposta idealizada é uma área (...) amplamente arborizada, com espécies nativas da mata atlântica e cerrado, com lagoa, pista para prática de ciclismo, caminhada e corrida, escreveu ela nas redes sociais. 

Pensa, assim, positivamente estar contribuindo para a melhoria da produção de água, da qualidade do ar e da qualidade de vida, podendo se transformar em uma atração turística, o que contribuiria para a geração de mais trabalho e renda. A proposta teve repercussão na mídia social e logo apareceram sugestões reforçando o seu entusiasmo: Que tal o balneário que a Cesp ainda deve para Brasilândia? (...). Que tal desapropriar a chácara do finado Antônio Fonseca e transformá-la num parque municipal? Observa um eleitor.

Ao que ela respondeu, agradecendo e detalhando o seu sonho falando que sua proposta é pela manutenção, implantação e implementação de áreas de lazer em nossa cidade. E antecipa: Essas áreas serão uma opção de entretenimento para as famílias e em especial aos jovens, que chega o fim de semana e se sentem ociosos por não terem nenhum local de descontração.

A candidata, que é professora de Geografia, sabe da importância do meio ambiente e das relações sociais, pois o ser humano precisa se relacionar com outras pessoas e [que] é de suma necessidade as áreas de lazer. Para ela nesse momento de convívio, em especial para os nossos jovens, as áreas de lazer adequadas é mais que essencial. Por isso, eu defenderei a manutenção, a implantação e implementação de áreas de lazer em nossa cidade, conclui convicta a professora que ainda defende a criação de um Centro de Atendimento ao Trabalhador e Empreendedor, entre outras propostas. Nome e propostas que merecem toda a nossa atenção.

 



Nesta mesma linha, de defesa do meio ambiente e áreas que representam patrimônio do município encontramos outra candidata, a jovem estreante Juliane do Porto que manifesta através de seus projetos, também preocupação com o tema, apresentando propostas igualmente ricas e interessantes.

Com o foco inicialmente voltado para a comunidade onde vive, a jovem ressalta a importância de ter um representante daqui, do Reassentamento Novo Porto João André, na Câmara Municipal. Ao lado da importância de se ter uma ambulância no Reassentamento para prestar socorro a doentes e acidentados num bairro que cada vez mais cresce e pessoas se mudam para cá em busca de oportunidades de trabalho nas cerâmicas, a preocupação da jovem também repousa sobre o lazer e o meio ambiente.

Entre suas ideias está a revitalização da área da chamada Jabuticabeira, que se transformou em local de lazer e encontro da população, não somente do Reassentamento Novo Porto João André, como também dos moradores da sede do município. É o que se percebe num vídeo distribuído por ela nas redes sociais e que obteve boa repercussão entre a população.

Assim argumentou ela: Somos sabedores que a Jabuticabeira, que fica bem perto do nosso bairro, já se tornou um ponto de encontro das pessoas daqui da cidade e até de outras localidades que passam seus momentos de lazer aqui. Porém, no espaço falta uma infraestrutura básica e também lixeiras, local para que as pessoas possam fazer suas necessidades e também não deixar nenhum rastro de sujeira. Defende a candidata, se for eleita, que irá solicitar ao Executivo que faça as adequações necessárias, respeitando o meio ambiente, para atender os visitantes da Jabuticabeira, conclui sua postagem.

O diferencial das propostas apresentadas por esta jovem é, sem dúvida, o seu histórico de vida construído no lugar. Como ela mesma escreve: A minha história não é diferente da de muitos moradores do Novo Porto João André. Nós saímos da barranca, vimos os sítios onde nós morávamos sendo abandonados (...). Após chegar ao reassentamento nós tivemos que renovar nossas esperanças e recomeçar (...). Desde quando cheguei aqui, eu trabalhei em muitas coisas, até na cerâmica e ainda continuo ajudando a minha família.

No seu currículo Juliane do Porto conta: Ingressei na faculdade de Direito em 2006, onde tive a oportunidade de ser estagiária na Comarca de Brasilândia, por quase dois anos. Em 2014 tive a oportunidade de ingressar na Prefeitura, na Assistência Social, onde trabalhei por sete anos. Hoje estou concorrendo ao cargo de vereadora e conto com vocês para ter um representante para lutar pelos interesses do povo, conclui a jovem neste seu desafio.

 



Outro candidato preocupado com o meio ambiente, porém, sob o olhar arguto do produtor rural, que postou vídeo e material sobre este tema é José Henrique. Sob o título de Economia Criativa, sua proposta abarca o tema do meio ambiente ampliando-o sob a ótica da preservação e da produção, que nada mais é [do] que o aproveitamento dos potenciais que o município já tem (...), assim criaremos mecanismos de incentivo e usaremos a criatividade para impulsionar esses potenciais pra girar a economia local, explica o jovem estreante na política local.

O candidato que na sua formação tem curso de elaboração de projetos, entende que esse é o caminho para geração de emprego e renda para nossa cidade: promover a união entre inovação, tecnologia, cultura, criatividade e sustentabilidade. Para ele o projeto de Economia Criativa irá criar pontes que ligam toda a cadeia produtiva local. E não parte do teórico somente, ele demonstra isso na prática o quanto sua proposta é exequível.

Cita como exemplo, a suinocultura, fonte de renda e emprego no município, que pode ter um melhor aproveitamento do chorume (resíduo das fezes do porco) como fertilizante de alto teor nutritivo para o solo cujo excedente poderá ser utilizado na irrigação de pastagens, pecuária e o setor hortifrutigranjeiro dos demais produtores rurais. Seu projeto, que nos detalhes demonstra rigor técnico admirável, não se restringe apenas ao setor agrícola: também tem proposta para a política participativa e o desenvolvimento de Brasilândia.

Outra preocupação de José Henrique são as constantes queimadas, onde de forma trágica presenciamos a morte de animais e a destruição da natureza. Segundo ele, precisamos fazer nossa parte e preservar o meio ambiente porque ele é nosso meio de sobrevivência. Acredita que uma solução para o problema será alcançada por meio de uma parceria com o setor privado (...) com os equipamentos certos para apagar pequenos incêndio e profissionais qualificados para o trabalho. E conclama os eleitores: Vamos arregaçar as mangas e proteger nossa flora, nossa fauna e os animais. São as belezas naturais que temos aqui em Brasilândia, e são nossas!

As propostas apresentadas por estes três candidatos são uma amostra e demonstração da imensa riqueza de ideias que nossa gente é portadora. Se mostram como legítimas alternativas, inteligentes e dignas de serem apreciadas com carinho e respeito pelo cidadão que ama esta cidade e quer o melhor para ela. Outros candidatos também têm veiculado na mídia suas propostas sobre este e outros temas. 

Sobre eles ainda voltaremos a falar.

 

Brasilândia/MS, 13 de outubro de 2020.


Fonte: https://www.facebook.com/patricia.costajardimhttps://www.facebook.com/juliane.doportohttps://www.facebook.com/josehenrique.almeida.77/