quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Que disparidade salarial é essa?


Eu ganho mil; ele ganha 100 milhões.
Carlos Alberto dos Santos Dutra

Fonte: Getty Images/BBC News, 08/01/2019

A notícia da BBC News fala que os tais CEOs (sigla derivada do inglês que se refere ao cargo de diretor executivo) de algumas empresas chegam a ganhar em 30 minutos o que um trabalhador comum levaria o ano inteiro para ganhar.
O levantamento que compara salário de diretores executivos de empresas com rendimentos anuais de trabalhadores médios em 22 países não deixa de ser um tapa na cara do trabalhador comum.
Os menos céticos poderão dizer que na virada do ano, depois de vestir amarelo ou ter definido metas para incrementar seus rendimentos nos próximos 12 meses, eles se sentiram bastante otimistas...
Mas o que dizer depois de saber que, dependendo do país em que o cidadão viva, o chefe da empresa onde ele trabalha já pode ter feito, já nos primeiros dias do ano, mais dinheiro do que ele, reles cidadão, conseguirá reunir o ano inteiro?
Segundo a empresa do ramo financeiro e midiático, Bloomberg, em artigo publicado na BBC News, em 08/01/2019,  só nos Estados Unidos, por exemplo, estes executivos precisam de menos de dois dias para superar a renda média anual dos trabalhadores. Na Índia, é preciso ainda menos: um terço de dia.
“É prá acabar!”, diria uma amiga minha. Isso porque, segundo a pesquisa, de uma forma geral, parece que uma semana é mais do que suficiente para grande número de altos executivos chegarem ao salário anual do trabalhador em diferentes partes do mundo. Na África do Sul são necessários quase três dias, enquanto na China são necessários 2 dias.
E no Brasil? Boa pergunta. Ah, mas a Bloomberg não estendeu sua coleta de dados sobre a sinecura que ronda nosso colorido Pindorama. Como consolo, busquemos na FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), informações para verificar que os CEOs daqui, não tão bem remunerados como os de lá, também levam bela vantagem sobre o trabalhador comum.
Podemos observar que os diretores executivos de empresas implantadas aqui gastam apenas oito dias do ano para levar a seus cofres, em média R$ 1,2 milhão, o ganho médio que o trabalhador brasileiro irá labutar o ano inteiro.
Na maior parte das grandes corporações nacionais e internacionais, os trabalhadores típicos teriam que trabalhar mais de três séculos para chegar ao que seus diretores especializados ganham em um ano. 
Na empresa McDonald's, pasmem!, um trabalhador típico teria que trabalhar mais de 3 mil anos para equiparar seu salário ao do seu patrão.
Há, entretanto, alguém que diga: “Nem todo lugar é igual...”. Sim. Existem fatores que fazem variar os salários de executivos ao redor do mundo. Na Suécia, por exemplo, que tem fama de ter uma sociedade mais igualitária do que no resto mundo, a proporção é de 60 para 1 - ou seja, os rendimentos de um CEO são 60 vezes maiores que os de um trabalhador médio.
Na Noruega, as coisas estão mais equilibradas, mas, ainda assim, eles ganham em média 20 vezes mais do que o salário médio nacional, de cerca de R$ 191 mil. Já a Rússia é desses países em que CEOs superaram o rendimento anual dos trabalhadores no primeiro dia o ano.
Nossos Deputados, Senadores e Ministros da Suprema Corte, também não ficam para trás. Desfrutam eles de tamanhas benesses que os transformam numa verdadeira casta privilegiada. Se comparado com o salário mínimo nacional, o rendimento auferido a esses executivos da res pública pode chegar a 100, 200, 300 vezes ao que é pago ao trabalhador privado.
Um escândalo! Uma disparidade inaceitável! "Quando você escuta a quantia recebida por um CEO, isso vai soar ultrajante. As pessoas vão reagir com paixão", disse Ethan Rouen, professor assistente de administração de empresas em um artigo publicado no site da Harvard Business School no início do ano passado.
E defendeu: “Que as disparidades sejam explicadas ao público e aos trabalhadores!”. "Portanto, toda empresa que for obrigada a revelar esses dados terá que dar alguma explicação e uma resposta que justifique a disparidade salarial". A receita também vale para os políticos, ministros e magistrados tupiniquins.
Brasilândia/MS, 10 de Janeiro de 2019.