sexta-feira, 13 de junho de 2025

 

Homenagem da Capela Nossa Senhora Aparecida, da Pedra Bonita, à Ministra da Comunhão Tereza Castro.

 

Entre as muitas vocações
Uma delas, quando abraçada
Tem a vida abençoada
Seja homem ou mulher
Venha de onde vier
Enche o povo de alegria
Ministro da Eucaristia
Ser aquilo que Deus quer.
 
Com TEREZA foi assim
Vida de felicidade
Quando alcançou a idade
Desde jovem peregrina
Iluminou a menina
De família religiosa
Uma alma preciosa
Se casou em Adamantina.
 
Teve esposo, teve filhos
Em Deus sempre confiando
Por aqui ela foi chegando
Vinte e seis anos na fazenda
Depois montou sua tenda
Na terra da Pedra Bonita
Começando uma nova escrita
Deu-se à Igreja em oferenda.
 
Pelas mãos do Padre José
Recebeu nobre missão
Ministra de comunhão
Dedicou-se ao serviço
Do altar e o compromisso
Estar junto a quem precisa
Verdadeira Diaconisa
Sendo mais feliz por isso.
 
Nos treze anos de Pedra
Visitava os doentes
Deixava a todos contentes
Entregando a Eucaristia
Idosos com alegria
Lhe acolhiam em oração
Mais que um aperto de mão
Sua palavra animava
Esperança que brotava
De um sábio coração.
 
Assim é a irmã TEREZA
Humilde serva de Deus
Acolhendo os filhos Seus
Laborou na construção
Da capela em mutirão
Nos almoços e quermesses
Na catequese e nas preces
Santa Missa e Comunhão.
 
Por isso peço licença
Para aqui homenagear
A Deus Pai poder cantar
Este canto de louvor
Rogando a Nosso Senhor
Àquela que deixa o exemplo
Dentro e fora do templo
Dona TEREZA, com amor.


Com gratidão do Diác. Carlito e comunidade pela amizade e serviço prestado pela Ministra da Comunhão Tereza Castro à Capela Nossa Senhora Aparecida, Reassentamento Pedra Bonita. Brasilândia/MS, 13 de junho de 2025, Dia de Santo Antônio.


domingo, 8 de junho de 2025

 

Homenagem aos 36 anos da AMATA


 1-Amigos aqui presentes

Um momento vou falar

Quero aqui homenagear

Uma entidade querida

Que pelas estradas da vida

Cismou de fazer viagem

E se encheu de coragem

Convocando os habitantes

Que se reuniram confiantes

Fundaram uma associação

Foram amigos, irmãos

Acolhendo com amor

O amigo morador

Daquele bairro Cohab

Onde o coração não cabe

A força de um fundador.

 

2-A começar pelo centro

Comunitário erguido

Aquele povo unido

Começou a construção

A Cebemo deu a mão

Lá de longe, da Holanda

E o dinheiro nos manda

Para a entidade Amata

Cinco de junho era a data

89 era o ano

E o Beto tinha um plano

Juntamente com o Carlito

Logo já prendeu o grito

Um a um foram chegando

Mão na massa foi botando

Trabalhar em mutirão

Todos num só coração

Todos sorrindo e cantando.

 

3-Tia Neuza a prefeita

Só de longe apreciando

E o povo trabalhando

Não a troco de dinheiro

Orientação do engenheiro

Da Agehab o arquiteto

Que enviou o projeto

Para a sede da entidade

Foi muita felicidade

Ver aquela construção

Todos de enxada na mão

E o prédio foi surgindo

A estrutura foi subindo

Para alegria do povo

Desde o mais velho ao novo

Todos estavam sorrindo.

 

4-10 mil dólares enviados

Ele foi todo empregado

Garantindo o resultado

Pra sede ser concluída

Um local de acolhida

Orgulho dos moradores

Olha esses nobres senhores

Homem, mulher e criança

Guardo todos na lembrança

Desde o Betão Bamerindus

O Vilson Júnior sorrindo

E lá estava o Ceará

O Abadio, seu Amaral

Marcelo, o Tenente Neto

No tijolo e no concreto

E até o Joaquim Polícia

Olha o Freitas, sem malícia

E também o Manoel Dário

No trabalho voluntário

O Robson e o Franckito

Edilson Fera, bonito

Jones Galli e o PM José

Entre o tereré e o café

Tinha o Valdenir Nininho

Seu Ricardo, bom vizinho

E o Júnior Marceneiro

Que saudade, companheiro

Quem nunca ficou sozinho.

 

5-Pais que levavam seus filhos

Ensinando a dar valor

Ao trabalho com amor

Verdadeiros professores

Hoje são velhos doutores

Deixaram o seu legado

Ao mais novo motivado

A continuar nessa luta

Ao povo que aqui me escuta

Deixo a todos o meu abraço

A amizade no compasso

Da festa que nos alegra

Do mutirão que integra

Um coração encantado

Com lembranças do passado

Neste dia de quermesse

Enquanto a tarde anoitece

Deixo aqui, muito obrigado.

 


Pajada declamada por Carlito Dutra, sócio fundador da Amata, durante a Quermesse realizada no bairro no dia 07/06/2025.

Confira também: 

https://carlitodutra.blogspot.com/2021/06/amata-o-bem-comum-e-uma-viagem-no-tempo.html


sábado, 7 de junho de 2025

 

Alcides Lopes, o pioneiro da ACIABRA

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 







Caía a tarde no dia 25 de maio de 1988 e uma das salas da escola municipal de 1º Grau Prof. Arthur Höffig acolhia importantes cidadãos da emergente Brasilândia da época. Um jovem comerciante, acompanhado de outros cidadãos tinha um sonho a realizar: convencer o setor do comércio sobre a importância de se ter uma associação, o que de fato, ocorreu naquela noite: a fundação da Associação Comercial, Industrial e Agropastoril-ACIA, de Brasilândia/MS, que depois evoluiu para ACIAB e por fim ACIABRA. 

Foi quando tudo começou e a ACIABRA deu seus primeiros passos, estimulando e dando impulso ao pequeno comércio local que foi surgindo pelas mãos de seu primeiro presidente: Alcides Lopes. 

Hoje esse cidadão deixou o convívio de seus familiares e amigos porque foi chamado no céu para outra tarefa, quiçá, homem sempre atarefado que foi em vida. No ambiente celeste, com certeza, irá encontrar aqueles mesmos amigos que, há 37 anos, estiveram naquele encontro histórico.

Reunião que congregou os hoje saudosos: Nelson Pedretti, Robert Gerhart Hippler, Agenor Marinho de Souza, Adão Gardino de Souza, Hélio Martinez Júnior, Isac Honorato Barbosa, Mauro Alves de Oliveira, Alcides Servilla Martinez, Gilvaez de Almeida Rodrigues, Ezilda de Souza Santos, entre outros que ainda convivem conosco que assinaram a ata de fundação. 

E lá encontramos o presidente, Alcides Lopes, ao lado de seu vice-presidente, Roberto Rodrigues; o 1º Tesoureiro, Hélio Martinez Júnior, e a 2ª Tesoureira, senhora Maria de Fátima Servilla Barbosa, buscando soluções para o comércio local que passava nos primeiros anos por dificuldades.

Como bem posicionou-se o presidente Alcides Lopes: (...), pois além de todos os encargos que temos mensalmente [de honrar] com impostos e taxas, altas contas de luz, água, telefone, encargos sociais, trabalhistas, previdenciários, [ainda] mantemos sob nossa responsabilidade o sustento de nossas famílias, dando serviço o mês inteiro para os mesmos, até de forma suicida, [enquanto] aguardamos por melhores dias. 

Em nota publicada no Jornal de Brasilândia, editado no ano de 1993 por Jamil Fernandes, o pioneiro presidente da ACIABRA, frisava: Quando nos surge a possibilidade de um melhor faturamento, o que ocorre no 1º e 2º sábado de cada mês em nossa cidade, com o pagamento das fazendas a seus empregados, eis que, como num passe de mágica, nossa cidade recebe um batalhão de estranhos vendedores (ambulantes, camelôs, mascates, etc.) que, como numa feira livre, dificultam até mesmo os empregados das fazendas de fazerem suas compras. 

Firme na defesa dos comerciantes, a este cidadão brasilandense, muito o comércio deve por ter fomentado uma cultura de fortalecimento, proteção e incentivo ao comércio local. É o que se depreende de algumas de suas preocupações que permanecem atuais: Esses vendedores, de um modo informal não possuem empregados, não pagam impostos, alvarás de licença, alvarás sanitários, etc. (...). Então perguntamos: Devemos fechar nossas portas? Irmos todos embora? E as autoridades competentes tomarão alguma providência? Esperamos que sim, pois como está não podemos ficar. Contamos com providências urgentes das autoridades locais e regionais (...), concluía e guardião dos interesses do comércio local na época, Alcides Lopes. 

O legado que este cidadão que permaneceu na presidência da CIABRA até 1998, quando Waldemar Firmino de Campos assumiu a presidência, tendo Alcides Lopes seu vice-presidente, é inconteste. A ele se deve o avanço da entidade quando ela empunhou a bandeira levantada na época, e que resultou na criação do SPC, o Serviço de Proteção ao Crédito em Brasilândia, que foi definitivamente implantado no ano de 1996 e oficializado em 1999 quando da inauguração da sede da entidade. 

O homem é, sem dúvida, um pouco de sua obra, de seus erros e acertos, mas, sobretudo, o que carregou na sua concha cultural e profissional, humana e familiar. Em vida, não raro, pouco valorizamos o que se encontra perto, e raramente lhe dissemos muito obrigado. Por isso, nos esmeramos em honrá-lo, pelo menos, na sua partida. Não para o homem que parte, mas para aqueles que ficam.

Na partida de Alcides Lopes, lembremo-nos do que ele semeou nos corações e nas pilastras desta cidade a partir da memória de seus feitos, o que irá encher de orgulho as instituições e a família pelo fato de ter estado estado aqui, abrindo caminhos e construindo pontes para o comércio local, o que merece gratidão pelos feitos realizados. 

Descanse em paz, pioneiro da luta pelo comércio de Brasilândia, Alcides Lopes. Teu nome será lembrado.

 

Brasilândia/MS, 07 de junho de 2025.


Fonte: DUTRA, C.A.S. História e Memória de Brasilândia/MS, Vol. II. Patrimônio, Brasilândia, 2021, pág. 298-303.










Jornal de Brasilândia, 1997

domingo, 1 de junho de 2025

 

Quando escrever é abraçar, sentir e sangrar…

Carlos Alberto dos Santos Dutra








A arte de agradar ou corresponder a expectativa de uma pessoa é uma tarefa sempre muito difícil, se não quase impossível. Em especial quando se é escritor. Isso porque o que se diz fica registrado no papel onde o tempo não apaga, mesmo que passem os anos nunca se está livre de que alguém, um dia vá encontrar as palavras plasmadas nas páginas de um livro ou postagem em uma rede social que sobreviveu aos avanços da tecnologia virtual. E passemos a ser julgados por elas.

Pois bem. Escrevo desde os 7 anos de idade, histórias infantis e fantasiosas que contava para meu irmãos maiores quando aqueles cinco guris se reuniam para ouvir o irmão mais velho no galpão do fundo de nossa casa lá no Rio Grande do Sul. Essas e outras histórias com o tempo foram ganhando o papel consolidando uma prática que me acompanha até hoje.

Mas para escrever, muito cedo aprendi, deve se ter um propósito, ir além do iludir e encantar como nos contos de ficção e romances. Foi com o auxílio da filosofia, já na minha juventude, que coloquei de vez os pés na realidade incorporando a ideia de que todo o ponto de vista é a vista a partir de um ponto, ou seja a escrita depende do lugar social onde você se encontra. 

E o meu lugar, muito cedo entendi, era o chão, o homem, os animais, a natureza, onde ambos se encontravam em desvantagem, quando não alijados, diminuídos, marginalizados, destruídos. Ou seja desde cedo dediquei meu verbo impregnado no papel, à morte e à vida como objeto de minha escrita, buscando sempre promover e elevar o que se encontrava caído.

Sem dúvida essa opção preferencial pelos pobres e o viés de esquerda de minhas opções ideológicas acabaram por intervir na minha escrita, quando não a consolidando numa linha que assumi por convicção e sem nenhuma fidelidade a este ou aquele ídolo, chefe ou senhor. Vencida esta fase primeira de minha juventude, quando a maturidade me alcançou, entreguei-me de vez aos braços e apelos do coração.

Sim. Passei a escrever norteado pelo sentimento que brotava das relações humanas, geralmente carentes de afeto, incompreensões, desânimo, dor e sofrimento. Nos últimos tempos, a tônica tem sido as lágrimas dos que acenam despedida a seus entes queridos. São essas palavras que tenho lançado ao vento na esperança de que elas afaguem a dor e devolvam o orgulho aos rebentos daqueles que se despedem de nós.

Mas para adentrar neste terreno delicado e sensível do coração humano, sempre há de se ter cuidado e sobretudo misericórdia. Por isso, meus últimos escritos têm se resumido a descrever emoções e sentimentos que vivi e senti junto aqueles a quem me dedico a escrever. Raras vezes os familiares me concederam a gentileza de fornecer maiores informações sobre a história de vida da pessoa querida que estou descrevendo. 

Por isso escrevo e descrevo somente histórias e experiências de vida de pessoas que cruzaram o meu caminho, que conhecia algo de suas almas que merecesse perenizar no tempo e causasse felicidade aos que lhe acenavam na dor. Sentimentos que, por alguma razão que não sei explicar, meu coração desejava homenageá-lo.

De quando em vez, entretanto, nos chega alguém fazendo cobrança pelo fato de não ter escrito sobre uma determinada pessoa. Como uma senhora que hoje me mandou uma mensagem dizendo o que abaixo reproduzo (in verbis) e que me motivou a escrever este texto, algo assim, como uma carta de adeus as letras.


É doutor antes eu me espelhava em tudo o que o senhor fazia em tempos eu te achava um ídolo, porém quando é alguém que tinha ou teve algum comércio ou algum bem o senhor vai lá e deixa o seu poema pra aquela pessoa que se foi quantas pessoas que já se foram e eram pioneiros da nossa querida Brasilândia mas que mal tinham seu pedaço de chão pra sobreviver nunca vi uma sequer homenagem, meu pai tinha minha família mas nunca foi visto como um alguém, mas acho que deve ser porque não era comerciante e nem alguém da alta socialite, mas sei que Deus já honrou cada um desses pioneiros igual a meu velho pai, sem mais até te agradeço pelo pouco de compaixão pelo qual o senhor ainda se dispõe a escrever algum verso...(in verbis).


Claramente a missivista se encontra indignada por eu não ter escrito nada sobre seu pai, pelo mote de seu nome não ter sido reconhecido pelo município, uma vez que foi um dos pioneiros, merecedor portanto de uma honraria pública que a ele deveria ter sido dedicada. Nada mais justo, entretanto, caberia ao Legislativo essa comenda.

Como se não bastasse, o sentimento de indignação da senhora recaiu sobre este escrevinhador, como se ele tivesse a pecha de privilegiar somente os comerciantes e os que frequentam a alta sociedade como pretexto literário para redigir seus escritos. O que não é verdade. Foi o que procurei responder acima na introdução deste artigo. 

Ainda assim, cabe aqui repisar: não escrevo para a elite pura e simplesmente, e se assim o fizesse seria para chamá-la as suas responsabilidades, a semelhança dos demais cidadãos. Escrevo muito mais para aqueles que meu coração abraça, deseja e sangra, como escreveu Ernest Hemingway, independente de cor, credo ou condição econômica. É só dar uma boa olhada nas minha postagens e textos nos livros que tenho escrito para perceber isso, desfazendo essa equivocada percepção.

Por essa falta involuntária, ainda assim, peço desculpa a esta senhora por não ter escrito nada sobre seu pai. Quiçá, nem o conhecia ou dele fui lembrado o seu passamento. Perdão se não correspondi ao que seu coração reclamava e esperava daquele que um dia, como disseste, foi seu ídolo. Deus a abençoe também.

Brasilândia/MS, 1º de junho de 2025.

Dia da Imprensa

Foto: A importância do bom Português - L.A. Fitness


Para conhecer a produção literária do autor cf. 

Carlos Alberto dos Santos Dutra - Clube de Autores

 

 

A máquina de arroz e a última corrida do Valdir do Táxi.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 




O vento impetuoso do decesso quando aponta na colina sempre avança para os baixios. Em campo plano, na ausência de cerros, ele espraia pelos cerrados e nos alcança sem piedade. O som da despedida sempre nos embarga a alma que transborda em agonia e aos poucos o transformamos em palavras, abraços e afetos para manifestar a saudade que já estamos sentindo.

Despedir-se sempre é e será doloroso, por mais confiança em Deus que tenhamos. Pois é justamente esse amparo celeste que nos permite olhar nos olhos de quem parte e dizer: obrigado, me perdoa, te amamos.

A despedida do amigo Valdir Pantaleão nos faz recordar o quão importante ele foi para sua família, para seus filhos e para seus amigos. O vento que nos envolve agora, não entristece o nosso rosto somente, ele também nos anima a contemplar aquele que deixou em nós marcas profundas de amor, respeito e lembranças...

E olha lá o menino Valdir, ao lado dos irmãos Valter, Vanderlei, Valdecir, Valentim e Valdomiro dando trabalho ao casal, seus pais, seu Sebastião e dona Mirta, que viviam às voltas com sua máquina de arroz nos tempos primeiros desta cidade.

Ah, como o tempo voa e os meninos crescem, tornam-se homens enquanto seus pais aos poucos também se despedem de nós. A máquina no seu ritmo cadenciado permanece trilhando o arroz do sustento da família e da cidade. Um pioneiro no ramo da indústria alimentícia de Brasilândia, seu Sebastião Pantaleão e esposa, hoje, recebem um visitante perene na nova morada.

Se encontram com o filho, quiçá o caçula, lá no céu. Sempre risonho e comunicativo, jovem amante da pesca, e que também teve sonhos políticos por sua cidade, abraçou por anos a profissão de taxista em nossa comunidade: o Valdir do Táxi. Muitos moradores o conheceram e de seus serviços se valeram.

Antes que o vento lhe alcançasse e desse conta de atender o último chamado para a derradeira corrida celeste que haveria de percorrer, acenou para todos já entre aquelas paredes brancas do adeus, nunca só, sempre tendo alguém ao seu lado... para lhe dizer obrigado.

Descanse em paz, amigo Valdir Pantaleão. Parada final de sua corrida no tempo.


Brasilândia/MS, 1º de junho de 2025.

Foto: Facebook, /Jornal de Brasilândia, 2007.

 


sábado, 31 de maio de 2025

 

O menino, os tamancos e a saudade

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 




Um dia que já vai longe, existiu uma pessoinha, um menino ainda pequeno, inexperiente da vida. Graças ao empenho dos pais, muito bem iniciado nas diversas circunstâncias e realidade a sua volta e no seio familiar, teve a graça de contar com pessoas especiais no curso de sua trajetória. 

Lembro que por um tempo determinado, para a casa de seu tio ele foi levado e por lá permaneceu por quase um ano. Foi muito bem acolhido, laços de sangue os unia, mas o que mais ali o prendia era o amor e a maestria, e tanta sabedoria que lhe era ensinado. 

Lidar com a natureza, os animais e o labor da profissão de entregador de leite pelas ruas da cidade. Lida que seu tio construiu e consolidou como homem honrado e verdadeiro, um humilde e valoroso leiteiro que o nosso bom Deus àquela família havia enviado. 

Pois aquele homem e sua esposa foram verdadeiros pai e mãe para aquele tímido guri em meio a penca de filhos que tiveram. E a cada um deles o menino conheceu e por eles foi inspirado. Beber na fonte a amizade pura e simples, verdadeira e lapidada com o carinho que brotava daquele ninho, e que tudo ele guardava no seu jovem coração. 

Ali estava a razão de tanto afeto e cuidado desprendido: um par de tamancos que sua tia Nelci lhe entregara para vencer as geadas nas manhãs frias de inverno que aqueles campos cobria. 

Tio Guilherme, seu esposo, irmão mais velho de meu pai, Vilson, a exemplo deste, transformaram o menino num homem a partir daquele gesto simples e ao mesmo tempo de alcance tão profundo. 

São as lembranças do menino de sete anos de idade em suas andanças pelos campos que o faz ainda ouvir o som dos tamancos quebrando geada enquanto apartava as vacas e terneiros, madrugada a fora e coração a dentro. Sim são essas imagens que ele ainda guarda e as tem sempre presentes. 

Cada um dos doze primos daquela família, cada um com suas virtudes, qualidades e bondades, desde o mais velho Lizito até o caçula Paulinho, todos compunham o álbum que não consegue olvidar, e os sente sempre por perto com vontade de chorar. 

Tia Nelci, assim como minha mãe Laura, obsequiosa e celeste, neste universo ainda muito vivas permanecem presentes ao meu lado. Mesmo nestas horas, quando um rufar de asas angelicais nos chegam e nos pealam chicoteando adeus para além das lembranças. 

Os olhos do menino, dos irmãos e primos, agora se voltam para os apelos e reclames do coração em lágrimas. Pois foi num cair da tarde que a notícia da partida de um desses elos antigos que circundam o peito entristeceu aquela grande família que, um dia, o menino, hoje de cabelos brancos, conheceu. 

Pessoas simples e herdeiras de uma marca telúrica encravada no coração do tempo e pampa gaúcha alhures: tempo em que o respeito era a maior virtude e o amor dedicado aos pais, a maior das orações. 

Adeus Mariazinha, minha prima. Ainda a vejo, mulher trabalhadeira, desde muito cedo dedicada às tarefas da casa ajudando a criar e acudir quem necessitava, dom que Deus a brindou de graça embelezando o seu e o nosso mundo. 

Vencendo os desafios da vida no campo e na roça, com mãos firmes, mas também jeitosas, dando conta do riscado sobre o tecido, não descuidando o bordado, um luxo que poucos tinham, mas que a tornou valorosa, preservando o seu legado. 

Hoje, prima, descansaste da lida. Hoje és uma senhora encantada, uma estrela que brilha no céu e para além dele. Não a encontraremos na estrada, mesmo que procure o menino, para lhe abrir a porteira, ajudar a descer os tarros depois de mais esta jornada. 

Hoje viverá nas lembranças teu rosto de juventude, de trabalho e vida lançada ao vento. A lembrança da geada, os tamancos talhados na cortiça e as flores, o jardim que tu plantaste: filhos, amigos, amores... Colhas prima o que semeaste. 

Acenam os que ficam guardando no peito e na lembrança o quão zelosa e gentil tu fostes. Me integro a todos filhos, primos, sobrinhos, netos teus e de outros que criastes, no aceno, não sem lágrimas, o menino de pernas finas que um dia conheceste entre porteiras e abraços. 

Aceno pra ti o meu lenço branco de despedida. Mesmo que ainda insista esse peralta correr inocente, implorando a Deus a sua volta, ou por fim, que acolha essa senhora que há pouco nos deixou. Descanse em paz, prima Mariazinha, Maria Soares Dutra. 


De Brasilândia/MS para Cacequi/RS, 26 de maio de 2025.

Foto: https://www.planocritico.com/critica-a-arvore-dos-tamancos




quinta-feira, 29 de maio de 2025

 

Oração de adeus a dona Nair Gallon Bózio

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

Nem todas as mães tiveram a graça de ver seus filhos realizados, poder abraçar os netos com saúde, e colher em vida o carinho da família que gerou e dos amigos que cultivou.

Nem todas as mães tiveram a alegria de caminhar lado a lado do esposo durante uma vida inteira, sofrendo junto e também vendo-o receber os louros do sucesso.

Nem todas as mães passaram pela dor de enterrar o filho numa inversão dos papéis na vida quando a ordem natural é os filhos enterrarem os pais.

Pouquíssimas mães receberam a bênção de ter entre seus rebentos dois filhos que abraçaram o sacerdócio, o que lhes encheu de confiança cada vez maior nas suas orações e fé...

Pois uma dessas mães encantadas, na data de ontem (28 de maio), se despediu de seus filhos e netos, da família e dos amigos e de sua comunidade.

Naquele dia sombrio e frio, na acolhedora e distante Capitão Leônidas Marques, lá no estado do Paraná, uma guerreira admirável, no alto de seus 93 anos de idade, descansou.

Para a glória dos céus e da terra ela transpôs a linha do tempo celebrando a sua Páscoa definitiva, da mesma forma que sempre viveu, acreditou e praticou seus valores: serena e confiante na força e na vontade de Deus.

Naquele dia, dona Nair Gallon Bózio não mais dialogou à distância com o Pai, como sempre fizera ao longo dos anos. Por uma deferência celeste, o bom Deus neste dia a dispensou desta tarefa. Decidiu chamá-la para um encontro pessoal.

Oh! Meu bom Deus que Graça! Foi a recompensa pelos anos que viveu dedicando todo o seu amor e carinho àquelas suas flores e à sua família que hoje chora a sua partida.

Dona de casa determinada e sempre muito dinâmica, regeu com maestria e criatividade a sinfonia da casa. Ao lado do esposo, seu Artemiro, gerou e educou os filhos Nartes José, Lauri Vital, Laurice, Marco Antônio, Clistenes Natal, Luiz e Márcia Aparecida.

Depois de ver crescer em estatura e sabedoria os filhos e poder abraçar os netos, alegrou-se com a formatura de cada um deles, participando de seus sucessos, como toda mãe se sente: feliz.

Alegrou-se quando o esposo lançou o seu pequeno grande livro “Sementes para um Gigante”, viajando em sonhos tocada pelas longas histórias que ele contava.

E chorou quando ele partiu deixando um grande vazio na família, da mesma forma que chorou quando seu filho Padre Lauri partiu para os braços d’Aquele para quem dedicou sua vida inteira.

Mas a história de uma existência não é somente um rosário de dores. Entre as lembranças de dona Nair durante a viagem de retorno ao encontro do Redentor, também leva nas dobras do coração muitas pétalas doces de felicidade.

Entre elas a de ter podido presenciar e beber o cálice da graça da ordenação sacerdotal de dois de seus diletos filhos: os padres vicentinos Lauri VitalClístenes Natal. Graça que a manteve sempre grata e cada vez mais firme e confiante na sua fé.

Dona Nair parte mas deixa um legado de mulher corajosa e paciente, determinada e criativa, exemplo de fé e confiança em Deus, e que permanecerá no coração dos filhos e dos amigos, entre eles este escrevinhador. 

Missão cumprida, mamãe Nair. Você está em boa companhia. Descanse em paz. Deus está contigo.


Brasilândia/MS, 29 de maio de 2025.

 Fotos: Facebook, Laurice Bozio.