quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Indulto de Natal e crime de lesa-pátria


Carlos Alberto dos Santos Dutra.

Leio que o Presidente do Brasil irá conceder indulto natalino a criminosos do colarinho branco presos na Lava Jato numa atribuição que lhe é autorizada pelo artigo 84, inciso XII da Constituição Federal, e que é sempre aguardado todos os anos com muito interesse por aqueles que fazem jus ao benefício.

É sempre muito bom perdoar. E neste caso, conceder indulto a quem se encontra preso, perdoar ou comutar a sua pena é verdadeiro ato de libertação. É como se ofensa ou o crime cometido contra alguém fosse redimido. Por isso o perdão deve ser proporcional a dimensão da falta cometida e a remissão conquistada.

Nesta linha de raciocínio, entendo que o perdão institucional que está sendo proposto devesse alcançar não a politicastra empedernida que desviou recursos da pobre sociedade brasileira – a criança, o jovem, a educação, o idoso --, mas sim dirigida àquele que desafortunadamente cometeu um crime em circunstância extrema, geralmente famélica e passional de sua existência.

Não indulto àqueles senhores bem nascidos e criados, cuja educação nunca lhes faltou, brancos e afeiçoados, homens de paletó e gravata, ocupando altos cargos em empresas privadas e estatais, palácios e parlamentos, secretarias e instituições bancárias, sindicais e filantrópicas de toda a ordem.

Indulto, sim, entendo, devesse ser dirigido àqueles presos primários bem comportados, que estão estudando e trabalhando durante o cumprimento da pena, e, uma vez avaliados psicologicamente, deram sinais de que estão arrependidos e redimidos, mesmo que suas condenações tenham o agravo da violência ou ameaça à pessoa humana.

Entendo ser esse o espírito da lei. Perdão como medida de justiça e promoção humana. Um prêmio ao esforço e empenho de cada um dos milhares de presos, muito deles encarcerados injustamente em situação desumana e que cumprem suas penas em silêncio, esquecidos, amordaçados, e sob constante vigilância de seus pares, assassinos e tiranos, colegas de cela.

Não a liberdade para aqueles que, de sã consciência, surrupiaram os cofres públicos, das entidades e órgãos que lhes foram confiados. Não o indulto àqueles que privaram pais de famílias de alimentar seus filhos, subtraindo-lhes cada vintém de seu salário, do transporte, da saúde, e a oportunidade de crescer.

Não o indulto àqueles que praticaram crime de lesa-pátria e impediram o Brasil de ser a potência e fartura de felicidade que despontava ser. Não o indulto àqueles que nem acreditam no Natal e seu significado religioso mais profundo, pois há muito viraram as costas para o amor ao próximo e a prática da justiça.

Entendo que o indulto de Natal deveria atingir sobretudo àqueles que depositam suas esperanças na democracia e num Presidente capaz de lhes estender a mão num gesto de confiança e soerguimento patriótico; não àqueles que sequer o admiram e respeitam, e tampouco manifestam qualquer sinal de respeito ao erário, a res publica, e ao cidadão.

Brasilândia-MS, 28 de novembro de 2018

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

A intelligentsia do futuro e a Educação





Carlos Alberto dos Santos Dutra



Todos sabem que pelo nível da Educação se pode avaliar o grau de desenvolvimento de uma cidade ou de um país. As mães geralmente sabem muito bem disso. 


É o caso daquela dona de casa que todas as manhãs, muito cedo, preparava o leite quente dos filhos, cuidava do remendo na roupa do caçula e da lancheira de sua princesinha de olhos escuros que sonhava ser veterinária. No rigor daquele inverno, lá ia o casal de filhos para a Escola do bairro, todos confiantes de que o amanhã estava logo ali, muito seguro, na sua frente.
 
A mãe põe a mão espalmada sobre os olhos e acompanha ao longe os filhos que aos poucos vão sumindo no declínio da rua formada de pedriscos que brilhavam ao encontro com o sol. Entra em casa, pensa no marido que saiu cedo para o trabalho e logo se põe na limpeza dos quartos e da cozinha. Pensa no cardápio que irá preparar para o almoço, pois a família, ao meio dia, estará toda reunida ao redor da mesa, faminta, como de costume.

Aquela senhora tinha orgulho de seu pequeno mundo, de seu pequeno tesouro. Maior orgulho ainda sentia do casal de filhos que Deus lhe dera, pois eram obedientes, estudiosos e amorosos. Sempre agradecia aos céus por isso, porque eles gostavam de estudar, chegando a passar a maior a parte do tempo às voltas com suas tarefas escolares. O que resultava em muito pouco tempo para fazerem alguma tarefa ajudando a mãe e o pai na lida doméstica.

O casal achava que aquilo era o mais importante: ver os filhos estudando, estudando, estudando, até se formarem. Obterem um diploma, uma profissão na vida, e poderem, assim, conquistar um emprego. Depois, casar e construir uma família, dando continuidade ao ciclo da vida, como seus pais e seus avós, assim por diante. Depois viriam os netos, os bisnetos, e a felicidade estaria completa.

A Educação era o único bem que aquela família modesta possuía e que pretendia deixar para os filhos. Era a maior herança que os filhos desfrutariam para sempre. A Educação, neste universo, começava em casa e se aperfeiçoava na Escola. Escola maravilhosa que fazia seus filhos crescerem cada vez mais, em estatura e em conhecimento, em valores e em sabedoria. Mesmo que a tigela da merenda fosse uma simples sopa de legumes, a harmonia que ali reinava, entre professores e alunos, tudo contribuía para o desenvolvimento integral daquelas pequenas criaturas, sementes para o amanhã.


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Esse modelo de família que ainda vive no imaginário de tantos pais e mães, avôs e avós, infelizmente, não existe mais. O tempo que se chama hoje pauta suas metas em horizontes bem mais pragmáticos. Vive-se o aqui e agora, sob o império da economia e do consumo. E esse tempo corre por demais célere, exigente, sobrando raros espaços para o diálogo e a convivência. Famílias, onde os filhos, mesmo que voltassem mais cedo para casa, não encontrariam os pais a sua disposição, pois ambos ainda se encontram no trabalho, na dupla ou tripla jornada, que exige esforço redobrado para manter uma família de pé.

Da mesma sorte a Educação padece do mesmo desafio. Acompanhar o progresso tecnológico e a pluralidade dos reclamos sociais e morais que são trazidos para as salas de aulas desde o centro de educação infantil, ensino fundamental e médio, até à universidade. Avanço que exige, sem dúvida, revisão nas pedagogias escolares no rumo de uma educação integral e libertadora. Mesmo que isso tenha sobrecarregado ainda mais a árdua tarefa desses verdadeiros heróis anônimos: os professores.

Pensando no futuro, mas com os pés muito firmes no presente, lá estão esses mestres ministrando os elementos básicos para a vida de tantos aluninhos, no desafio de uma sala de aula superlotada, entre celulares e ipod, puxões de cabelo e disputas entre colegas. Lá estão esses professores, de volta às suas casas, não preparando o leite quente de seus filhos ou dando-lhes maior tempo e atenção às suas tarefas escolares. Lá está aquela professora que também é mãe, preparando suas aulas, suas provas e diários cheios de detalhes chatos e exigências tolas. Tudo por amor à profissão que abraçaram. Isso para não falar dos baixos salários e pisos de uma categoria que deveria ser mais bem respeitada por governos e parlamentares.

Pode interessar a alguns políticos que haja sempre um número significativo de analfabetos, pois afinal, não é de hoje que a Educação vem sendo usada como cabo eleitoral em campanhas políticas. Mas o futuro da Educação, deve-se reconhecer, aponta para um outro rumo, o do progresso. Rumo distante daqueles que desejam ver a Educação amordaçada e refém dos problemas sociais – muitos deles criados pela própria ineficiência do Estado. O rumo da Educação agora segue os passos do desenvolvimento integral e sustentável. Palavrinhas novas, mas que têm o poder de revolucionar o mundo. O rumo da pluralidade e da diversidade, do relativismo cultural e o da não violência.

O futuro da Educação já está traçado nestes tempos de pós-modernidade. Quem não se atualizar está fora do círculo das grandes realizações. Com o apoio das novas tecnologias a Educação deu um salto de qualidade, instrumentalizando o saber que agora está ao alcance da tela de LED de qualquer tablet. O que separava, em horas a distância entre dois mundos, hoje o google e o GPS trazem de graça, em poucos segundos, para dentro da sala de aula. O saber universalizou-se e a Escola não é mais a detentora de todo o saber. Ela apenas lida com esse saber em constante mudança sob o prisma de novos olhares e interpretações, provocando a intelligentsia nos alunos.

O progresso de uma cidade ou de uma nação, portanto depende da Educação. Ela é a base de sua cultura e de suas potencialidades. Somente com uma educação de qualidade é que a população de uma cidade como Brasilândia poderá ter esperança no futuro pautada no presente. Por isso precisamos estudar, estudar, estudar. E valorizar a nossa Escola. Para poder entender e enfrentar as transformações radicais que acontecem a nossa volta. Precisamos opinar sobre isso, dizendo o que pensamos, educadamente.

Aquele espaço chamado Escola continuará existindo como o lugar que receberá nossos pequenos e grandes tesouros, nossos filhos queridos e que esperamos sejam o orgulho de seus pais e de seu País. Espaço cada vez mais equipado e qualificado, onde o profissionalismo de seu corpo docente saberá como enfrentar eficazmente a complexidade dos temas vividos por seus educando. Por conseguinte a Educação, como política pública, haverá de ampliar seus horizontes e repensar que tipo de homens e mulheres ela está ajudando a construir. Educação com mais responsabilidade e menos preconceito, para um mundo com menos violência e mais sabedoria.


Publicado originalmente em http://dutracarlito.com em 21 de abril de 2013.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Criativos na Escola de Brasilândia-MS





Criativos na Escola 
Onde estão? 
Quem são?
Eles estão aqui e acolá.
Às vezes ocultos na esperança de brilhar
Este foi o desafio:
Mostrar o rosto, a alma, a cor
Eu sou capaz de brilhar
Eu sou capaz de criar
Sou capaz de transformar.
Sou capaz de sustentar, 
Uma ideia, uma ação
E soltá-la, engendrá-la para além do pensamento
Não leve, livre e solto no ar, 
Pelas ruas da cidade
Pelas aldeias e matas...
Mas na prática, conseqüente, 
Com força e potência máxima.

Isso mesmo: sou capaz.
Apesar da pouca idade.
Mas é isso que nos dá a vantagem
Destemidos é o que somos.
Protagonistas agora: com o olho no amanhã
Futuro que começa hoje, 
Sem demora.
Estamos aqui para vencer!

Mãos à obra e lá se foram: 
Milhões de crianças no mundo
Jovens da Índia e do Globo inteiro
Fazendo da criatividade 
A arma da paz e vitória
Para conquistar o direito, 
Do seu jeito, com efeito
De ser e estar... 
Ser aceito e mostrar
Que existe o melhor lugar: ele é aqui
Brasilândia é o lugar
Eu sou capaz de cantar, de contar e de lutar
Sorrindo e fazendo história
Coragem que vem de dentro
Que passa pelas mãos, arte e pensamento
E explode nos corredores
Das escolas, ruas e praças, 
Livros, palácios e parlamento
Novas idéias, realizações e propostas
Tudo fazendo por merecer
Para os alunos, a surpresa: a viagem. 
O sorriso do professor
E a alegria da escola.

Parabéns Alunos, 
Parabéns Professores, 
Parabéns Escolas 
E todos os que apoiaram essa iniciativa Inovadora. 

Ao vencedor em nível nacional do Criativos na Escola
A nossa alegria 
Porque é tempo de abrir as portas da invisibilidade Indígena
E este Dicionário Ilustrativo Ofaié e Guarani, parido pelos protagonistas destes povos tradicionais, marca um novo tempo para Brasilândia e Mato Grosso do Sul.

Prof. Carlito Dutra (Brasilândia-MS, 22/11/2018)


quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Ao Professor Lauro dos Santos



As lições de afeto do Professor Lauro.
Carlos Alberto dos Santos Dutra


Para quem não sabe, Lauro dos Santos era professor catedrático em matemática e vivia em Porto Alegre/RS. 

Ensinava com gosto e conquistou ao longo de seus 87 anos de idade uma legião de amigos, alunos e admiradores. 

Calmo e profundo desde a sua juventude semeava lições que serviam para a vida e as coisas práticas do dia a dia, vencendo o temor que acomete a todos quando se trata de contas e números.

Tive o privilégio de ser seu aluno particular por alguns dias em preparação a uma prova de admissão ao Colégio Agrícola (do ensino médio pela UFSM, no Alegrete/RS), lá nos idos anos 1970.

Lições de aritmética e geometria que guardo até hoje na memória, e que me foram dadas com lucidez e brandura.

Homem de um brilhantismo singular viveu para a Educação, lecionando no Centro de Formação de Professores do Estado do Rio Grande do Sul.

Viajou pelo interior gaúcho e Brasil afora, sacrificando muitas vezes o convívio da família para ver brilhar nos olhos dos alunos e professores as maravilhas do conhecimento e do saber tão necessário à vida de todos.

Nos anos 1990, já aposentado, um dia desses esteve em Brasilândia/MS visitando seu sobrinho, este escrevinhador.

Acolhido pela nossa cidade, teve a oportunidade de se reunir com professores da Escola Adilson Alves da Silva num gostoso bate-papo conversando sobre técnicas de ensino, trocando experiência, no ofício que o mestre nunca se apartou. 

Alguns professores locais daquela época ainda se lembram deste feito.

Ao lado dos livros, de gosto apurado, também era um amante da música, em especial a latina e o ritmo portenho com o qual familiarizou-se desde o tempo de estudante na fronteiriça Uruguaiana/RS. 

Em uma de suas últimas fotografias, ainda cheio de charme, tive a graça de encontrá-lo deliciando-se ao som de Carlos Gardel nos braços de sua imã Laura, minha mãe, música tocada numa antiga vitrola da família: momento arrebatadoramente imorredouro. 

É a imagem eterna e brilhante que fica, substituindo outras, quando ele já se encontrava numa casa de repouso e tratamento hospitalar.

Esse era o meu tio Lauro sorridente, amado pelos filhos e festejado pelos netos e bisnetos. Esse era o professor Lauro dos Santos. 

Porto Alegre, com certeza saberá prestar honrosa e póstuma homenagem a esse operário do saber que se doou em grau máximo, como bem lembrou meu irmão João reportando-se a frase lapidar dita por um de seus amigos. 

Porque o sol -- dizia ele --, se dá por inteiro. Não se esconde, a exemplo da lua, em nuances. Assim como o amor e o afeto, esses sentimentos não podem ser vividos aos pedaços, parcimoniosamente. 

Tio Lauro parte, mas sua memória permanece em nós. Continua a ser aquele farol sobre o céu de brigadeiro que nos protege, iluminando o comboio do tempo que segue, inexoravelmente, o seu curso.

Um beijo no coração tio querido.