quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Ao Professor Lauro dos Santos



As lições de afeto do Professor Lauro.
Carlos Alberto dos Santos Dutra


Para quem não sabe, Lauro dos Santos era professor catedrático em matemática e vivia em Porto Alegre/RS. 

Ensinava com gosto e conquistou ao longo de seus 87 anos de idade uma legião de amigos, alunos e admiradores. 

Calmo e profundo desde a sua juventude semeava lições que serviam para a vida e as coisas práticas do dia a dia, vencendo o temor que acomete a todos quando se trata de contas e números.

Tive o privilégio de ser seu aluno particular por alguns dias em preparação a uma prova de admissão ao Colégio Agrícola (do ensino médio pela UFSM, no Alegrete/RS), lá nos idos anos 1970.

Lições de aritmética e geometria que guardo até hoje na memória, e que me foram dadas com lucidez e brandura.

Homem de um brilhantismo singular viveu para a Educação, lecionando no Centro de Formação de Professores do Estado do Rio Grande do Sul.

Viajou pelo interior gaúcho e Brasil afora, sacrificando muitas vezes o convívio da família para ver brilhar nos olhos dos alunos e professores as maravilhas do conhecimento e do saber tão necessário à vida de todos.

Nos anos 1990, já aposentado, um dia desses esteve em Brasilândia/MS visitando seu sobrinho, este escrevinhador.

Acolhido pela nossa cidade, teve a oportunidade de se reunir com professores da Escola Adilson Alves da Silva num gostoso bate-papo conversando sobre técnicas de ensino, trocando experiência, no ofício que o mestre nunca se apartou. 

Alguns professores locais daquela época ainda se lembram deste feito.

Ao lado dos livros, de gosto apurado, também era um amante da música, em especial a latina e o ritmo portenho com o qual familiarizou-se desde o tempo de estudante na fronteiriça Uruguaiana/RS. 

Em uma de suas últimas fotografias, ainda cheio de charme, tive a graça de encontrá-lo deliciando-se ao som de Carlos Gardel nos braços de sua imã Laura, minha mãe, música tocada numa antiga vitrola da família: momento arrebatadoramente imorredouro. 

É a imagem eterna e brilhante que fica, substituindo outras, quando ele já se encontrava numa casa de repouso e tratamento hospitalar.

Esse era o meu tio Lauro sorridente, amado pelos filhos e festejado pelos netos e bisnetos. Esse era o professor Lauro dos Santos. 

Porto Alegre, com certeza saberá prestar honrosa e póstuma homenagem a esse operário do saber que se doou em grau máximo, como bem lembrou meu irmão João reportando-se a frase lapidar dita por um de seus amigos. 

Porque o sol -- dizia ele --, se dá por inteiro. Não se esconde, a exemplo da lua, em nuances. Assim como o amor e o afeto, esses sentimentos não podem ser vividos aos pedaços, parcimoniosamente. 

Tio Lauro parte, mas sua memória permanece em nós. Continua a ser aquele farol sobre o céu de brigadeiro que nos protege, iluminando o comboio do tempo que segue, inexoravelmente, o seu curso.

Um beijo no coração tio querido.




4 comentários:

  1. Linda homenagem mano. Nosso querido tio Lauro será sempre lembrado pois semeou a semente do conhecimento e esta germina e floresce a cada estação para sempre!

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  2. Querido mano Carlitos, somente estas qualidades de historiador do humano e poeta da vida, que exerces de forma tão brilhante , para retratar este mestre no sentido amplo da palavra . Expressastes em tua homenagem o que desejariam todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo. Gratidão por esta confissão de carinho que prestas ao nosso querido "tio Lauro" . Com certeza ele foi para mim muito mais que um tio, pois teve por mim o zelo que um pai tem pelo seu filho.Bjs

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  3. O amor nao morre na proporção da saudade e do reconhecimento. Prof. Lauro Vive!

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