quinta-feira, 24 de agosto de 2023

 

Tríduo em Preparação a Ordenação Diaconal de Victor Henrique Ramos Silva

Diác. Carlos Alberto dos Santos Dutra








1-Padre Luiz, peço licença

Comunidade presente

Todos alegres contentes

A Igreja toda canta

Voz que salta da garganta

E em coro a Deus louvar

Neste Tríduo celebrar

Por quem vai ser ordenado

Diácono, abençoado

Filho da terra querido

Por isso estamos reunidos

Peço a Deus em Oração

Todos num só coração

Queremos aqui lhe saudar

E juntos homenagear

Victor Henrique, esse irmão.

 

2-Vocação é uma resposta

A um chamado de Deus

Ele escolhe os filhos seus

Se aproxima cuidadoso

Tal qual um pai amoroso

Sussurra no nosso ouvido

E o coração comovido

Se abre para o além

Força do alto intervém

Que invade a nossa alma

Algo que nos tira a calma

Dilacera o nosso peito

Não sabe explicar direito

Este chamado que clama

Que mantém acesa a chama

Então ele diz: aceito!


3-E então, não é mais possível

Guardar para si o chamado

De quem já caminha a seu lado

Lhe dá força, mostra o mundo

Os desafios, num segundo

É impelido a vencê-los

Ter Jesus como modelo

Trilhar firme a formação

Saber estender a mão

Desamarrar a sandálias

O cálice sobre a toalha

Do altar e o serviço

Vento que dobra o caniço

Mas se ergue pela graça

Junto aos irmãos que abraça

E a Igreja compromisso.


4-Mas quem é esse menino?

Que amanhã é ordenado

Por todos abençoado

Victor Henrique é seu nome

Ramos Silva, sobrenome

De Brasilândia ele é filho

Da Paróquia, domicílio

É da Cristo Bom Pastor

Foi aqui brotou o amor

E que logo floresceu

18 de agosto nasceu

93 era o ano

Nosso Deus já tinha planos

Para o filho do Gilberto

Solange, coração certo

Para um mundo mais humano.


5-Onze de dezembro estava

Ante a pia batismal

Padre Lauri jovial

Ministrando o sacramento

O primeiro acolhimento

Lhe inspirando o sorriso

Juventude, paraíso

E a primeira comunhão

Para a alma, e gratidão

Junho de 2006

Foi quando abraçou de vez

Dia 25, o mistério

Unido a Deus, refrigério

O coração não se engana

Josefa e a Eliana

Catequistas, ministério.


6-Como jovem este menino

Foi aprovado na vida

Faculdade deu guarida

Dotes de gastronomia

Compartilhou na harmonia

Ser leitor e desportista

Alma pura de um artista

Valorizando a amizade

Sempre com fé na verdade

Colocando seus talentos

A serviço, e os sacramentos

Celebrados com fervor

Estudioso, observador

Devolve alegria à tristeza

Promete servir a Igreja

Com carisma e ardor.


9-Siga em frente meu irmão

É o que todos desejamos

Nas mãos de Deus colocamos

Nossa intenção e a prece

Operário para a messe

Brasilândia está entregando

Filho dileto, e rogando

A Deus Pai que o ilumine

E que nunca desanime

As pedras pelo caminho

Que não lhe falte o carinho

E que tua fé multiplique

Parabéns Victor Henrique

Somos todos teus padrinhos.


Parabéns Diácono Victor Henrique.


Brasilândia/MS, 25 de agosto de 2023.

 

terça-feira, 15 de agosto de 2023

 

O medo, a lágrima e o dever de denunciar.

Carlos Alberto dos Santos Dutra




O tema é sempre guardado a sete chaves. Dói na alma saber que aquele em quem depositamos nossa confiança nos traiu. Mais que isso. Transpassou um punhal no coração frágil e desarmado de quem estava próximo, ferindo-o de morte. É assim que o ser humano se sente ao saber de um caso de estupro de vulnerável em uma comunidade.

Por maior que seja o número de pessoas que circundam a nossa volta e frequentam os noticiários que divulgam esses acontecimentos horrendos e inomináveis nas grandes cidades, de certa forma fazendo com que aos poucos fomos nos acostumando a eles, o mesmo não acontece nas pequenas cidades, no seio de comunas onde todos se conhecem e o sentimento de espanto e repulsa se mostra a flor da pele no olhar de quem passa.

Quando esta realidade vem à público, infelizmente, ela é apenas a ponta do iceberg. No mais das vezes esconde sob as águas profundas e sombrias da conivência e do silencio, o grito de alerta que deveria ser dado em alto e bom som, por quem responsável e sentinela da integridade física e emocional de seus protegidos, sobretudo, de seus rebentos.

Mais do que indignar-se quando isso acontece tão próximo de nós, exige que façamos uma profunda análise de consciência do porquê isso acontece com tanta frequência no tempo que se chama hoje.

Uma rápida digressão histórica sobre os apontamentos e registros policiais de cinquenta anos atrás, difícil a comarca que não tenha registrado casos de assédio, raptos, defloramentos, curras, agressões e estupros de mulheres, sobretudo quando jovens.

Fruto de um mundo patriarcal de configuração machista onde o indivíduo masculino manteve-se sempre no topo da cadeia alimentar do poder e mando nas sociedades emergentes pelo interior deste país, tal realidade sempre foi vista com complacência pela moral e a frouxa legislação de uma época que encarava esses delitos, classificando-os como de pequena monta, tipificando-os apenas como contravenções penais, quase nunca alcançando os agressores para puni-los.

Nos últimos tempos, entretanto, a despeito das mudanças na legislação que se tornou mais rigorosa, dando espaço para inovações na penalização de crimes que passaram a ser hediondos, sobretudo aqueles praticados contra a mulher, a criança e o adolescente, o idoso, contra a injuria racial e o racismo, entre outros avanços que ocorreram, ainda assim, a ferida permanece aberta. A mácula da discriminação e da violência praticada contra esses segmentos historicamente excluídos e ocultado das pautas e políticas públicas de segurança, permanece exposta, merecendo apenas, em doses homeopáticas, a preocupação social do Estado.

No fundo da aldeia, no quarto insalubre do barraco, no descampado aberto ou areão da estrada, pelos confins do cerrado e becos lúgubres das cidades, altas e baixas, lá se encontra a inocência, diuturnamente arrancada, dilapidada e morta, como se amordaçada estivesse.

É o medo que a consome. O medo do antes e do depois. O medo gritar e não ser ouvida. O medo de falar e não ser entendida. O medo de chorar e não ser acolhida.

Uma inocência quando violada em sua intimidade; uma criança quando vê descobertos seus segredos e sonhos; um adolescente quando forçado a trilhar caminhos que não deseja; um jovem quando pressionado a conviver com a contradição e o jogo das aparências.... Sim, ele tem razões de sobra para desacreditar na vida, na humanidade, na família, tornando mortal sua existência, fazendo-o acreditar em mais nada. Até em mãos bens intencionadas que buscam alcança-lo no oceano existencial desta travessia.

Para quem tudo sabe, assiste e contempla, a indignação e a repulsa é o primeiro passo, porém, insuficiente. É preciso ir além.... Mas quem? Se os olhos que tudo podiam ver, teimam em se manter fechados, fingindo que tudo está bem?

São mães que, descuidadas, não colocam reparo na filha, usada e abusada pelo marido na sua ausência. São mãe que, desatentas, não percebem a recusa da filha em abraçar o tio ou o avô, e insiste para que a enfant o faça, exponho-a ao constrangimento. São mães que, coniventes, para não perder seus parceiros, toleram as investidas furtivas e sórdidas do padrasto sobre os seus inocentes.

O medo estampado no rosto da criança e da jovem que sofreu abuso, ao não encontrar ambiente e confiança para abrir seu coração e relatar o que acontece quando a mãe sai, quando vai passear com o pai ou padrasto, quando fica na casa de conhecidos, por fim, quando todas as portas se fecham, ela se resigna e cala.

Somente seus olhos e gestos agora falam um pedido de socorro. Com o tempo, sentindo-se segura, irá confidenciar seus segredos com a melhor amiga. Quando em idade escolar, seu jeito de falar e ser, podem denunciar o que ocorre, tudo dependendo, entretanto, da sensibilidade rara do professor atento em sala de aula.

O acolhimento e o apoio psicológico, imprescindíveis, é o que, de um lado, o Estado deve oferecer. E de outro, o braço da Justiça que deve alcançar o monstro a partir da denúncia e retirá-lo do convívio social. Aos familiares cumplices dessa insanidade doméstica, igualmente, o rigor da Lei também se espera.

................

Segundo dados do Ministério da Saúde, a maior parte das vítimas de estupro é constituída de crianças e adolescentes, em torno de 70% dos casos denunciados. Os agressores mais recorrentes são membros da própria família ou pessoas do convívio da vítima.

A conscientização sobre o dever humanitário de denunciar esses casos é fundamental para que mais agressores sejam punidos, e se possa ir além da indignação, estancando o medo, a dor e a lágrima de uma alma ferida.

Brasilândia/MS, 15 de agosto de 2023.


Foto/Fonte: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/stj-reconhece-estupro-de-vulneravel-incitado-por-meio-virtual 



domingo, 13 de agosto de 2023

 

Oração de Adeus a dona Laura, nossa mãe. Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

No dia 21 de agosto de 2022, oito irmãos enterravam sua mãe. Coube na ocasião, durante as exéquias, junto a dezenas de amigos e a família, rezarmos em coro, não sem dor, uma oração de gratidão e fé, confiança, paz e amor em honra desta grande mulher.

Ó Deus. Tu nos deste o mandamento de honrar pai e mãe. Ouve com benevolência a prece que fazemos agora por nossa mãe Laura. Concede-lhe a paz e o descanso eterno ao Teu lado. Nos seus 89 anos de idade sobre a terra cultivaste, ó mãe querida, carinho, amor e respeito. Abençoa e acolhe Senhor, esta tua filha considerando a caminhada que ela empreendeu aqui na terra.

Abençoa as vitórias e fadigas que ela suportou, sobretudo nos últimos dias, quando a doença lhe fez companhia, fazendo-a atravessar o vale das sombras. Mas Tu estavas lá, ao seu lado, segurando a sua mão, confortando-a e ajudando a suportar essa travessia. É isso que nos conforta. É isso que nos enche de esperança e confiança em Vós, ó Pai celeste. 

E é por este motivo, Senhor, que estamos aqui reunidos, rezando e orando a Deus pelo seu descanso e sua salvação. Que os ouvidos desta peregrina agora ouçam no céu a Tua voz. Pois confiamos e cremos que Tu, Pai eterno, vieste para libertar os que sofrem e trazer a salvação. Tu nos abrigas na sombra de Tuas asas e nossas almas encontram refúgio em Ti, até que a tormenta passe.

Obrigado, mãe querida por ter semeado em nós plantinhas que se tornaram fortes e virtuosas. E que causaram tanta alegria e satisfação a seus filhos, parentes e amigos. Mãe alegre e generosa, para ti toda nossa gratidão pela felicidade que depositastes no coração de cada um de nós. Fiques tranquila, e em paz dona Laura. Que seus passos, como a menina das curvas do trem, irão pisar firmes em direção à estação celeste.

Para nós serás sempre aquela mãe presente olhando a vida e descortinando a sorte. Estarás sempre no coração de cada um de nós na medida que permanecemos juntos, unidos, cuidando uns dos outros. E festejando a vida e o amor; um amor para todo o sempre. 

Que o Pai eterno e nossa Mãe do céu acolham as nossas preces e coloquem a mão sobre a cabeça de nossa mãezinha e guarde sua mente, seu coração e todos seus sentidos, perdoando todos os seus pecados, santificando essa sua passagem e vida que é exemplo para todos nós.

Obrigado meu bom Deus por ter-nos emprestado este anjo -dona Laura-, que nos protegeu com suas asas, mas também nos ensinou a voar. Obrigado dona Laura por tudo que fez por nós. E que Deus a recompense pois nós seremos sempre gratos por sua dedicação, sua alegria e vigor que permanecem dentro de nós. E que seus ouvidos ouçam a melhor das canções e poemas que cantarolou e declamou difundindo alegria e otimismo por toda vida que viveu e fez viver. 

Teus filhos, familiares e amigos, a tua volta, nesta hora, te saúdam, te abraçam e te beijam, dizendo e sussurrando ao teu ouvido, que fostes maravilhosa e querida. Sinta-se, pois, abraçada pelos braços do Pai de todos nós. Por fim, humildemente Te pedimos, Senhor, que acolha dona Laura dos Santos Dutra no céu. Nutridos na fé que professamos, rogando a vossa bênção e proteção sobre ela e todos nós. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Cacequi/RS, 21 de agosto de 2022.





sábado, 12 de agosto de 2023

 

Homenagem ao Dia do Diácono Permanente





1-Amigos me dão licença / Neste dia especial

Por favor não leve a mal / A minha xucra linguagem

Mas me encho de coragem / Para falar deste dia

Todo cheio de alegria / De poder participar

Com o Bispo festejar / Este santo dedicado

O diácono lembrado / Por sua comunidade

Pelos ministros e padres / Eleva a Deus sua prece

Aos operários e a messe / Em honra de São Lourenço

A este grupo pertenço / Com ministros ordenados

Que se sentem irmanados / Nesta celebração festiva

Faço uma retrospectiva / Dos irmãos vocacionados.


2-A Diocese é pioneira / Nesta missão diaconal

Referência estadual / Desde quando ainda latente

Campo Grande pertencente / Com dom Antônio Barbosa

E a pastoral exitosa / Do padre Nicolau Hammes

Incentivador dos exames / De admissão e estudos

Naqueles anos bicudos / De regime de exceção

Garantindo aos irmãos / E auxiliares do Bispo

Congregar o povo arisco / Com homens vindos do povo

E lá vai o sangue novo / Já com a voz, experientes

Os diáconos permanentes / Aos poucos foram surgindo

As paróquias assumindo / Pros desafios emergentes.


3-Relembrando a história / Só pra se ter uma ideia

Na primeira assembleia / No tempo de dom Majela

Primeiro bispo, sentinela / A Diocese possuía

Um clero que constituía / Um só padre diocesano

3 salesianos, 6 agostinianos / 7 paróquias e 1 em formação

2 diaconias e 5 congregação / Femininas, Salesiana, Agostiniana

Batistina, Franciscana / E Jesus Crucificado.

Todo o trabalho apoiado / Por 8 diáconos permanentes

Firmes no altar os valentes / Semeando fé nas paragens

Por isso nossa homenagem / A todos os pioneiros

Diáconos e companheiros / Os daqui, fraternidade

Os que partiram, saudade / Rumo do Céu, estradeiro.


4-Presto aqui a reverência / Pedro Barbosa, o primeiro

Com Jorge Silva, parceiro / Ano de 73

Ordenado, vejam vocês / Orgulho prá Catedral

João Garcia, inicial / Arapuá, veio depois

E de vez, ordenou dois / O Antônio e o Zé Manoel

Na João Batista, fiel / 75 era o ano

Depois, outros veteranos / Com o Afonso Donato

Alberto Tranin, diaconato / 77, Yamakami

Estava completo o certame / E por isso nós somos gratos.


5-Os anos foram passando / Semente estava plantada

Dom Izidoro na estrada / Ordenando o Joaquim 

E ninguém achou ruim / 98, o Cidão

Alceu Rosa, nosso irmão / Entre outros que passaram 

E que aos poucos ingressaram / O Eulálio, o Laurito

Gerson, Dorival e o Carlito / Com dom Moreira, o Roberto

Chanceler de peito aberto / Depois o Armando e Valdir

A tempo de garantir / As bênçãos de dom Luiz

Tudo nos torna feliz / Gratidão é o que sentimos

Confiantes persistimos / À São Lourenço, rogando

Com o Clero comungando / A missão diaconal

Numa igreja sinodal / Peço a todos rezando.


Brasilândia/MS, 10 de agosto de 2023. Memória da São Lourenço. Pajada escrita e gravada especialmente para a celebração presidida por D. Luiz Gonçalves Knupp na igreja matriz da Paróquia Santa Rita, Diocese de Três Lagoas/MS.


 

A menina que vendia sonhos.

Carlos Alberto dos Santos Dutra



Falar em sonhos, logo nos vem à mente aqueles acontecimentos que nos alcançam a noite, durante o sono. Às vezes assustadores, outras vezes paradisíacos. Às vezes nos deixando preocupados, outras vezes semeando em nós otimismo.

Logo pela manhã, no esforço de contar para as primeiras pessoas que encontramos, eis que o sonho nos escapa, foge da memória e facilmente o esquecemos na sua totalidade ou em boa parte esses eventos, frutos do nosso subconsciente.

Há, entretanto, aqueles sonhos  motivacionais, sonhos que contemplamos acordados. Nos acompanham no dia a dia e, quando não, de quando em vez, os carregamos na algibeira. Uns guardados no coração, a sete chaves; outros a olhos vistos, impossíveis de serem ocultados, tamanho o brilho nos olhos de quem os conduz.

Eles, esses sonhos da alma, se apresentam de diversas formas: aqueles possíveis de serem realizados e aqueles que perseguimos a vida inteira para alcançá-los, mesmo parecendo impossíveis para os homens. 

São sonhos desejos de cura para doenças que acometem a quem amamos; são sonhos votos de sucesso e êxito para o filho vencer na vida e alcançar um bom emprego. São sonhos preces a Deus pela salvação e felicidade eterna daqueles que caminham e que partem do nosso convívio, na família e na comunidade. São sonhos lutas diárias em busca de sustento e segurança financeira para não desanimar e tocar a vida em frente.

Sonhos também são os presságios de alegria e de contentamento para a alma e o espírito que movem o ser humano, aqueles que têm os olhos fixos no amanhã, confiando na força de seus braços.

Por fim e não menos importante, existem os sonhos palpáveis, reais: pequenos bolinhos comestíveis que podem ser de chuva, cobertos com açúcar e canela, ou simplesmente sonhos, com ou sem recheio de doce de leite ou outra guloseima que o confeiteiro preferir.

E olhe que, uma vez entregues, em nossas mãos, eles, generosamente, nos retribuem devolvendo-nos o paladar da vida. Como um paraíso na terra de leite e mel, que nos toma pela boca, desce pela garganta e conforta todo o nosso ser, que agradece e se encanta. Um lazer, um prazer, uma gostosura, quando não, uma travessura, de certa forma, desafiando a padaria e o mercado formal.

Reza a lenda que o sonho se popularizou em diversos países quando, durante a Segunda Grande Guerra, grupos de judeus refugiados em outros países da Europa começaram a fazer essa sobremesa. O folclorista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) faz menção a essa herança culinária em sua obra História da Alimentação no Brasil. Ele descreve que os sonhos ficavam na bandeja cercados pelas ondas de açúcar fino e de canela em pó. A diferença é que os sonhos portugueses tinham recheio.

E lá se foram ao longo do tempo, alcançando distâncias, aqueles sonhos, escondidos e misturados à massa, farinha e fermento natural. Às vezes assados, outras vezes fritados, com recheio ou sem; fofinhos, saborosos, prontos para serem servidos acompanhando um café, um chá ou um suco natural.

....................

Foi este último sonho visível e abençoado que Brasilândia acostumou-se a ver circulando pelas ruas, sendo entregue um a um àqueles, dispostos a dividir e retribuir àquela cujo par de mãos também partilhava suas aspirações. Gesto que sempre fazia com dignidade e altivez. Isso porque parido pelo trabalho de uma mulher aguerrida, vencedora no silêncio suas batalhas, orgulho de sua família.

Muitos, dias desses, cruzaram por essa mulher de chapéu de ráfia, que hoje, aos 45 anos, nos deixou. Muitos de seus sonhos, ainda continuam posseiros no coração dos que a conheceram, em especial aos que a amaram. Descanse em paz professora Eliete Spina Mariano, a menina mulher e mãe que vendia sonhos, nossos sentimentos de pesar e dor. Para o Alex Sandro e à família.

Brasilândia 12 de agosto de 2023.


domingo, 6 de agosto de 2023

 

 Homenagem a dupla sertaneja Paulo Vinícius e Diego Thot

Carlos Alberto dos Santos Dutra (Letra e Voz)



Amigos me dão licença

Que no más vou me chegando

E a todos vou saudando

Um sincero buenas tarde

Pois sem demora e alarde

Vou falar deste leilão

Tanto esforço do irmão

Prá levantar uns trocados

Com este leilão de gado

Para a paróquia e o padre

Fechar a contabilidade

O equilíbrio financeiro

Prá que não falte dinheiro

Pro trabalho pastoral

Paramentos, coisa e tal

Por isso aqui estão

Comunidade de irmãos

Para a alegria geral.

*

Todos bem acomodados

Atentos a cada lance

Pode ser que a sorte alcance

Arremate uma novilha

Seria uma maravilha

Mas se não der, segue em frente

Da mesma forma contente

Em poder participar

E a Igreja ajudar

Afinal, sou paroquiano

Não quero ser desumano

Peço ao Patrão lá do céu

Quero tirar o chapéu

Para essa equipe buenaça

Deus os cumule de graça

Abençoe suas vidas

Mil orações atendidas

A gratidão vos abraça.

*

Mas peço licença aos senhores

Prá me estender um pouquinho

Quero falar um cadinho

Sobre essa dupla que canta

Passarinho na garganta

Paulo Vinícius e Diego

Com eles não tem arrego

Por isso eu peço licença

Estando na vossa presença

Prá lembrar da trajetória

Falar um pouco da história

Da Poeira da Estrada

O início da caminhada

Festival Sertanejão

Com Edivan no violão

Festival Folclore e graça

Feira, Viola e Praça

Da Pedra e do Ostelino

Ceará, Marcos Galdino

E dez anos se passaram

Com o tempo despertaram

E o talento aprimoraram

Com a viola em orquestra

Desde o clássico à seresta

Com maestro. E na Debrasa

Onde a música criou asas

Ao gosto da juventude

Um repertório amiúde

Som caipira e melodia

Diego Toth, harmonia

Paulo Vinícius, conquistas

Que moldaram os artistas

Queridos desta cidade

Pra gente de toda a idade

Uma década cantando

Co’amigos comemorando

Nunca despreza convite

Se canta, não dá palpite

Mas sempre é prestigiado

Aplaudido nos costados

Ilha Solteira, Dracena

Panorama, lhe acena

Timbre de voz que harmoniza

Canta sem soar a camisa

Quando fala em sentimento

Saudável entretenimento

Música sertaneja raiz

Quando muito ela nos diz

Nos embala, faz lembrar

Ah, como é bom recordar

Dos tempos e dos amores

Sorrisos, lágrimas e flores

São coisas que a dupla canta

Fazendo renascer a planta

Na trilha desses cantores.

*

Pro arremate agradeço

Aos que se encontram presentes

Também saúdo contente

Aqueles que trabalharam

Nos bastidores ralaram

Para o sucesso da festa

Vencendo toda a aresta

Padre Ronaldo e Equipe

Prá que todos participem

Mostrando que é possível

Tornar nosso Deus visível

Laços de fraternidade

Que unem a comunidade

A todos conforta saber

Que do Céu vai receber

O dobro que aqui doaram

Pois a Jesus abraçaram

Fartura que nos faz viver.

Brasilândia/MS, 5 de agosto de 2023