sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

 

TBC, a Vacina e o roteiro da Felicidade.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

Dividir com os amigos a alegria de viver é sempre um privilégio, para os que possuem amigos e para os que têm algo para comemorar. Pois os dois últimos dias foram assim para este escrevinhador: dias de muita felicidade.

Primeiro, recebo das mãos do empresário da Agropecuária A.H., Dr. Helder Höfig, 80 exemplares do livro História e Memória de Brasilândia-MS, Volume 1-Pioneiros, impresso pela Editora Life, de Campo Grande-MS, que o neto do fundador de Brasilândia nos brindou com o selo de patrocínio cultural.

Poder distribuir às entidades, escolas, bibliotecas e instituições de nossa cidade o 1º volume desta coleção, já era o suficiente para encher de alegria o coração do autor ao receber em seu escritório das mãos do próprio patrocinador da obra, que trouxe pessoalmente os volumes até os olhos do autor que ficou lambendo a cria e acariciando aquele filho parido a duras penas e que finalmente veio à lume da forma impressa.

No dia seguinte, outra surpresa: a Agente de Saúde bate no portão e avisa que o Carlito devia ir até o Posto de Saúde receber a sua dose de vacina contra o Covid-19. Médico veterinário desde 1995, lotado na Secretaria Municipal de Saúde e tendo coordenado o Núcleo de Vigilância Sanitária durante muitos anos desde as administrações anteriores, atualmente é o coordenador do Núcleo de Vigilância em Saúde, cargo que ocupa há quatro anos.

Nos últimos dias havia, inclusive, redigido a minuta do Plano Municipal de Vacinação contra a Covid-19, e chegou a presenciar a chegada do primeiro lote da vacina no Posto de Saúde, no dia 19 último, tendo saído de férias no dia seguinte. Desde então, aguardava sua vez de ser vacinado juntamente com os trabalhadores em saúde.

E o fato aconteceu. Hoje chegou a sua vez. E lá foi ele comparecer ao UBS local para receber a 1ª dose da vacina, o que deu graças a Deus. Sim, neste dia tinha muito para comemorar e agradecer aos colegas profissionais de saúde que permanecem na linha de frente no enfrentamento à Covid-19. 

Muito festejado, o idoso (prestes a completar 65 anos de idade) e que há 25 anos trabalha na Saúde foi recebido pelos colegas com alegria. Sentiu-se lisonjeado quando elogiaram sua imensa cabeleira branca, que, cheio de coragem, ele resolveu libertá-la e deixá-la ao vento.

Tamanha emoção o fez lembrar uma palestra que assistiu durante os seus primeiros dias de férias. Falava da importância de TBC – Tirar a Bunda da Cadeira, e olhar a vida de frente. Foi assim que aquele idoso sentiu-se após vacinar-se. Não sentiu a tentação de saber quem não quis vacinar, se assinou termo de desistência ou não. Não quis saber se a vacina era eficaz ou se custou mais do que devia. Se tal marca estava atrelada ao presidente ou se a outra estava atrelada aos inimigos da pátria.

Tirar a Bunda da Cadeira, entendeu o mantra como uma forma de animar, não somente negócios, mas tocar a vida em frente. Receita ideal para todos que foram vacinados. Mesmo mantendo os cuidados sanitários, uso de máscara e distanciamento social, a ideia seria esta: que cada um toque o seu projeto de vida. E para isso o curso do grupo Pindorama (que ainda está disponível na Internet) apontava 3 regras para implementar o seu projeto de vida: 1) comece onde você está; 2) use o que você tem; e 3) faça o que você pode.

A primeira regrinha, entendeu o escrevinhador, servia para ajudar o cidadão e cidadã a colocar os pés no chão, sem deixar de olhar para o horizonte. O sucesso de qualquer empreendimento depende disso. Também para nossa vida existencial. Começo a ser feliz a partir de onde eu estou. Não posso sonhar como se estivesse morando na Suíça. Portanto, a felicidade neste momento, para mim, é estar em casa, de férias, com minha família, com meus livros, e com a vacina.

A segunda regra nos mostra que o caminho da felicidade será trilhado com o que eu possuo e disponho no momento. Não posso construir a minha felicidade com algo que ainda não tenho. O ponto de partida é o meu patrimônio, meu repertório, meu baú de guardados, e como devo otimizar a utilização disso tudo; como devo melhorar para que me proporcione mais felicidade.

E a terceira regra me diz que devo fazer o que posso. Não mais que minhas forças. Tudo ao seu tempo; as forças aos poucos nos alimentam. Não podemos fazer tudo de uma vez. Sem excessos. Para não haver frustração. Fazer o que podemos fazer nos conforta e nos dá força para amanhã avançarmos um pouquinho mais.

Assim foram os últimos dois dias de minha vida: de muita felicidade... E você, depois de vacinado? Já começou a escrever o roteiro da sua felicidade?

Brasilândia-MS, 29 de janeiro de 2021.


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Para adquirir o livro História e Memória de Brasilândia/MS, Volume 1-Pioneiros, na versão impressa:

https://clubedeautores.com.br/livro/historia-e-memoria-de-brasilandia

 

Para baixá-lo em PDF:

https://www.institutocisalpina.org/Historia-e-Memoria-de-Brasilandia-V1-2Edicao2020.pdf

 

Também em:

http://www.agropecuariaah.agr.br/brasilandia-ms-history/


sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Feliz Aniversário Professora Maria Rita Santini

Carlos Alberto dos Santos Dutra




Tem amizades que a gente não sabe explicar. Não são aqueles amigos de infância que levamos recordações para o resto da vida. Não são também aqueles amigos que estão todos os dias ao nosso lado e que nos fazem sorrir e chorar juntos...

São aqueles amigos que partilhamos nossas ideias. Mesmo à distância e às vezes sem nunca termos estado na sua presença, ousamos dividir nossos sonhos e utopias. 

Mais que isso, caminhamos juntos e sedimentamos um lastro de propostas que irradiam em nós e aos que estão a nossa volta, luz, direção, caminho, crítica, conselho, esperança e humanidade.

Foi assim com aquela menina professora nascida lá da antiga Xavantina, vinda de uma família tradicional na região, que se aquerenciou por Brasilândia, se casou em 1988 e construiu sua bela família ao lado do esposo, o médico veterinário Roque Santini.

Hoje, ao ver o casal de filhos criados e as gerações começando a se suceder é tempo de relembrar a caminhada percorrida, sobretudo os êxitos, não sem persistência e altruísmo.

E foi assim que ela instalou-se feito um posseiro no coração da cidade. E no jardim da Educação onde lançou sementes de saber viu elas florescer e frutificar.

Desde a aridez dos tempos primeiros desta cidade até o coração das entidades educacionais e assistenciais da Brasilândia que emergia ela participou.

Sempre muito dinâmica, deu impulso decisivo a diversos grupos e entidades locais. Entre eles, o surgimento da APAE, ao lado da professora Elidia Soriano. 

Também coordenou o Núcleo de Educação de Brasilândia, militou na liderança sindical e destacou-se politicamente nos primeiros anos do pós-ditadura, nas primeiras eleições democráticas por estas terras ofaié.

Batalhadora, na condição de cidadã abraçou causas públicas na vertente da justiça, da não discriminação, da coragem de professar e proclamar o que pensa e seu melhor desejo para o futuro de sua cidade e seu país. 

Sim, nossa amiga faz por merecer todo o aplauso e o reconhecimento...

Uma amizade nasce assim, quando os caminhos se encontram e se caminha no mesmo rumo. Mesmo que distante ainda esteja de aprender a conjugar o verbo amar, escreveu o poeta Tiago de Melo, com quem dividimos admiração.

A professora Maria Rita Ferreira de Gusmão Santini hoje aniversaria. E com ela toda sua história, de feitos e realizações, lhe acena e a saúda. Sua aparente discrição e modéstia muitas vezes a privou de receber merecidas honrarias. O que a cidade e seus amigos, agora, podem neste dia abertamente brindá-la.

Feliz Aniversario professora Maria Rita!

Brasilândia/MS, 22 de janeiro de 2021. 

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

 

Francisca Ribeiro da Cruz: as flores e a cidadania

Carlos Alberto dos Santo Dutra


A cada notícia que recebemos anunciando a partida de um familiar, de um amigo ou conhecido, morremos um pouco. Não nos acostumamos com a ideia de que aquela pessoa se foi para sempre. As lembranças, entretanto, se nos apresentam como uma forma de amenizar a dor. Mais que isso: conforta e revigora em nós a coragem que precisamos para nos acercarmos com delicadeza, respeito e orgulho daquele que se apartou de nós.

É assim que nos sentimos em relação à senhora Francisca Ribeiro da Cruz que aos 67 anos de idade realizou sua Páscoa definitiva entre nós. E deixa um rastro de realizações e saudade para os familiares e aqueles que acompanharam os passos desta mulher corajosa nos últimos anos de sua vida, quando lutou bravamente contra a doença que nunca lhe fez esmorecer.

Dona de um humor sutil e sempre brincalhona fazia sorrir os que se encontravam a sua volta e a conheciam na intimidade. Nos últimos anos, acostumamo-nos a ver suas encantadoras postagens do Facebook ofertando aos amigos imagens e vídeos de belas flores, folhagens, jardins, plantas medicinais, receitas culinárias, tudo sempre muito colorido e que irradiava vida e esperança. Era como se o amanhã sempre lhe reservasse o melhor dos dias e que a impelia anunciá-los ao mundo.

Por trás destes gestos delicados e criativos, por vezes imperceptíveis havia, entretanto, uma mulher determinada e forte que desde a sua infância vivida lá em Pacaembu/SP acabou por transformá-la em mestre no cultivo da fé e perseverança, com vigor e comprometimento com a vida e o semelhante.

Nascida em 25 de julho de 1953, na cidade de Alexandria, no Rio Grande do Norte, a filha de dona Isabel da Conceição e seu José Ribeiro da Silva, dividiu a infância com a família e os nove irmãos sempre com alegria contagiante e espírito de uma dedicada pedagoga. Até chegar à Brasilândia, no ano de 1959, aos seis anos de idade.

Ainda adolescente, numa Brasilândia de poucos fogões, conquistou seu primeiro emprego na secretaria de educação, trabalhando na prefeitura como ajudante de cozinha, no antigo prédio onde hoje funciona a APAE. Muito jovem, com 17 anos de idade, a pioneira uniu-se em matrimônio com Adventino Gonçalves da Cruz com quem constituiu família e tiveram dois filhos: Genival e Alessandro.

Muito dinâmica, depois dos filhos criados, começou a trabalhar no distrito Debrasa, onde agenciou e transportou mão de obra para tocar o plantio de cana, no auge da produção agrícola daquela destilaria. Por ser uma pessoa humana e amiga dos mais simples, tornou-se conhecida de todos, popularizando seu epíteto Tica.

O fruto deste trabalho e promoção que dispensou aos mais humildes haveria de conferir-lhe o prêmio e a honra de eleger-se vereadora por dois mandatos (1992 e 1996). Cidadã engajada e propositiva deixou sua marca no Legislativo local. Quem viveu naqueles tempos primeiros pode melhor testemunhar o que esta mulher e seu perfil guerreiro e ousado representaram para o desenvolvimento do município de Brasilândia.

Numa rápida digressão histórica, cumpre lembrar que são de sua autoria as Indicações para a construção de uma escola na Fazenda Bom Jardim, sendo também sua a Indicação para a criação da Creche Municipal Raio de Luz, inaugurada dois anos depois no distrito Debrasa. Em outra ocasião, na Escola Municipal Arthur Höffig, lá estava ela ao lado de muitas mães, contemplando o ambiente poético e melódico proporcionado pelo músico Mário Nelson da Silva que abria as portas do céu com a harmonia de sua voz para os convidados.

Em outro momento a encontramos, incansável, ao lado de quatro corajosos vereadores semeando alento ao coração de um jovem lutador e seu pequeno grande sonho de criar uma Escolinha de Futebol para Crianças e Jovens, votando favoravelmente ao projeto do esportista Everaldo Vieira da Silva, Fogoió.

De outra feita, nos debates com a CESP pelo não cumprimento de acordo da concessionária elétrica com a prefeitura ela posicionou-se junto da Comissão em defesa do patrimônio histórico, contra o desmatamento e a retiradas de ossadas dos cemitérios existentes na barranca dos rios Verde e Paraná.

A cidadã Francisca Ribeiro da Cruz participou de diversos órgãos nas distintas administrações que se sucederam: num ano fez parte da Comissão de Avaliação Imobiliário dos Imóveis Urbanos, e noutro, integrou a 1ª Comissão Municipal de Alimentação-PRODEA, responsável pela distribuição de gêneros alimentícios para as famílias carentes do município.

Nossa vereadora também esteve presente nas discussões sobre o Albergue Municipal que perpassou diversas administrações até os dias atuais, quando a cada Legislatura todos renovavam o pedido de sua criação. Em 1997 coube à esta vereadora apresentar Indicação solicitando a construção do propalado Albergue Noturno na cidade, o que foi seguido depois sem sucesso por outros vereadores.

Foi no Legislativo municipal, portanto, que a vereadora Tica notabilizou-se tendo a oportunidade de mostrar sua garra e seu empenho no compromisso com a causa que abraçou ao eleger-se diante de uma Câmara formada basicamente por homens onde foi a única vereadora mulher eleita no seu primeiro mandato.

Os mais antigos ainda guardam na memória a célebre discussão havida entre ela e o presidente da Câmara no ano 1997 quando o chefe do Legislativo na época invocou o artigo 38 do Regimento Interno da Casa para aplacar o arroubo das palavras da vereadora quando esta manifestou seu descontentamento contra um dos temas apresentados em plenária por um opositor.

Esta corajosa cidadã que foi a 3ª vereadora mulher eleita para a Câmara Municipal de Brasilândia[1], nunca se sentiu diminuída perante os desafios. Nunca se deixou amordaçar. De espírito guerreiro e proativa, sempre demonstrou coragem ao desafiar seus colegas vereadores no campo das ideias, sem, contudo, deixar de ser humana e sensível.

As flores e os jardins que esta cidadã admirou e cultivou em vida, no dia de hoje estão pontuadas de gotas de orvalho que parecem lágrimas. Pedem permissão para saudá-la e homenageá-la por sua bravura e pelo legado que deixa. Na condição de vereadora e personalidade cívica desta cidade é merecedora de nossas homenagens póstumas e nosso sentimento de pesar extensivo aos familiares e amigos. 

Que as flores e os jardins que cultivou continuem lhe perfumando e embelezando o caminho em direção ao Céu. Descanse em paz, vereadora.

Brasilândia/MS, 12 de janeiro de 2021.



[1] - A 1ª vereadora eleita para a Câmara Municipal de Brasilândia foi Marilza Maria Rodrigues do Amaral, em 1982; a 2ª vereadora eleita foi Sandra Aparecida Louzada Costa, em 1988; e a 3ª vereadora eleita foi Francisca Ribeiro da Cruz, em 1992.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Pequena História de Brasilândia

Carlos Alberto dos Santos Dutra (1)




Tudo começou quando a estrada de ferro Noroeste do Brasil-NOB adentrou o solo sul-mato-grossense em 1914, e o povoado ainda era apenas uma ideia, um sentimento que pulsava cheio de vida no coração do cerrado. As croas de mata e o cerradão eram habitados somente pelos indígenas Ofaié, chamados de Xavante pelos primeiros colonizadores. Segundo narram equivocadamente os livros de história, esses indígenas, juntamente com os Kayapó que dominavam ambas as margens do rio Sucuriú, em Três Lagoas, atemorizavam os viajantes e exploradores que, desde 1710, faziam o percurso pelos rios Tietê-Paraná-Pardo em direção às minas auríferas de Cuiabá. Nessa época, este território pertencia ainda ao município de Santana do Paranaíba, do qual Três Lagoas era apenas um distrito.

Em 1919, a empresa norte-americana Brazil Land Cattle and Packing Company, conhecida como firma inglesa da marca Argola, de propriedade do empresário Percival Farquhar (1864-1953), adquiriu 800 mil hectares de terras na margem direita do rio Paraná, passando a dedicar-se a criação de gado bovino do tipo hereford e shourton, importado dos EUA e da Europa. Segundo consta, este gado não teria se adaptado ao clima e a rusticidade do cerrado. Mais tarde, estes animais foram substituídos pelo gado da raça zebu, trazido da região sudeste da Índia (Nelore), que era de porte mais robusto e mais resistente à intempérie e às doenças.

Na década de 1940, quando o mundo agitava-se em guerra mundial contra Adolf Hitler, as empresas estrangeiras que haviam sido implantadas no Brasil passaram a sofrer dura ação do Estado Novo, de Getúlio Vargas, que nacionalizou as propriedades de muitos estrangeiros que viviam no Brasil. Vastos territórios são encampados pela Superintendência das Empresas Incorporadas ao Patrimônio Nacional-SEIPN, que se encarrega de promover, a partir de 1949, já no governo do general Eurico Gaspar Dutra, a distribuição de terras não exploradas economicamente, através de programas de colonização, a quem se interessasse explorá-las. Para aplacar a especulação imobiliária que campeava no Estado, tendo a frente o governador Dr. Arnaldo Estevão Figueiredo, diversas firmas particulares de colonização foram criadas, entre elas a Companhia Boa Esperança Comércio de Terras e Pecuária S.A. (COTERP), de propriedade do Sr. Arthur Höffig (1912-1983) e seu sócio Alberto Amin Madi, que a partir de 1952, semeou alento a esta terra através da fundação do município de Brasilândia.

O rio Paraná sempre foi a via de navegação utilizada pelas monções, antigas expedições que desciam e subiam os rios levando progresso aos habitantes de suas margens. A partir de 1905, utiliza-se desta via fluvial também a Companhia de Viação São Paulo-Mato Grosso, que dá suporte comercial às principais cidades ribeirinhas do lado paulista através dos portos de Santo Anastácio, Porto Tibiriçá e Porto XV. O surgimento do povoado de Porto João André, na margem direita do rio Paraná se dá nessa época, configurando-se a única via de acesso ao que viria a ser o futuro município de Brasilândia. O Censo de 1940 acusava neste povoado, célula-mater de Brasilândia, uma população de apenas 147 pessoas na zona urbana.

O sonho e ousadia do patriarca e professor Arthur Höffig, escreveu José Cândido da Silva, materializou-se em 1957, quando o pequeno patrimônio composto de poucas ruas e uma praça central, viu erguer na região mais alta da cidade, uma cruz, doada pelo fundador Arthur Hoffig, que passou a ser conhecida como o Cruzeiro, simbolizando o marco da presença e da religiosidade dos que aqui aportaram. A primeira missa realizada no município, e que contou com a presença do fundador da cidade, autoridades e o povo em geral, foi celebrada pelo padre tchecoslovaco João Thomes. Produto da aglutinação das palavras do nome da antiga firma Brazil Land Cattle (Brazil=Brasil, Land=Terra, Cattle = Gado), BRASIL + LÂNDIA, foi elevada à condição de Distrito em 12 de julho de 1961, através da Lei 1.501/61.

Recebendo migrantes de várias partes do país em função de sua atividade econômica predominante, as fazendas de gado, em pouco tempo Brasilândia vê seu perfil transformado em uma verdadeira cidade, fato este que começa a despertar interesse administrativo na matriz Três Lagoas. Dois anos depois, é apresentado um Projeto de Lei na Assembleia Legislativa do Estado visando à criação do município de Brasilândia. Em 14 de novembro de 1963, através da Lei nº 1.790/63, é criado oficialmente o município de Brasilândia, sendo logo batizada com o codinome Cidade Esperança.

A instalação do município de Brasilândia deu-se oficialmente no dia 25 de abril de 1965 quando as ordens ainda vinham do Palácio Alencastro, na distante Cuiabá. Neste dia, às 10 horas da manhã, foi instalada a primeira Câmara de Vereadores. Ao tempo dessa emancipação houve quem resistisse em aceitar o seu desmembramento por se tratar da melhor parte das terras do município de Três Lagoas que perdia 11.082 Km² de sua área. Com este ato Brasilândia, através de seu primeiro prefeito, José Francisco Marques Neto, vê empossado Luiz Eugênio Primo, Manoel Ciríaco Neto, Paulo Simões Braga, Wilson de Arruda e João Carlos da Silva, seus primeiros vereadores.

No ano de 1978 Brasilândia já possuía um banco, o Banco Financial, um Cartório de Paz, tinha 46 casas comerciais, 30 escolas, sendo 26 na zona rural e teve até um cinema. A vila Debrasa tornou-se distrito e logo se transformou num grande centro produtor a gerar divisas e empregos para o município. A criação da Comarca de Brasilândia deu-se em 18 de setembro de 1986, pela Lei nº 664/86 e sua instalação deu-se em 11 de março de 1987. O distrito de Xavantina emancipou-se e foi desmembrado de Brasilândia em 1987, reduzindo a área do município para 5.806,6 km².

Hoje, a cidade respira com folga o ar do progresso. Seu orçamento, no decorrer dos anos mais que quadriplicou e os prêmios conquistados por excelência de suas administrações são reveladores do acertado caminho percorrido não somente na economia e finanças públicas, mas também no grau de maturidade e profissionalismo do corpo de servidores, diligentemente motivados e instruídos na perspectiva e horizontes largos e seus cidadãos. Sim, o tempo é o senhor da história e os desafios de ontem foram transformados em sábias e novas lições para o sucesso que hoje experimentamos. Por isso há sobejas razões para se amar e respeitar a cidade que acolheu a todos, como eternizou o nosso hino oficial.


(1) Especialista e Mestre em História pela UFMS. 

Para mais informações sobre Brasilândia acesse: https://institutocisalpina.org/executivo.html. Também em https://www.institutocisalpina.org/Historia-e-Memoria-de-Brasilandia-V1-2Edicao2020.pdf