sexta-feira, 14 de julho de 2023

 

Enrico Caruso - Sorrento

Escrita por Lucio Dalla no verão de 1986 e publicada em outubro desse mesmo ano no álbum "DallAmeriCaruso".



Lúcio Dalla teve seu barco quebrado em Sorrento, (Itália) e para poder hospedar-se havia disponível somente um luxuoso apartamento no Grand Hotel Excelsior Vittoria, onde o famoso tenor italiano Enrico Caruso havia vivido os dois últimos meses de sua vida e no qual foram conservados intactos seus livros, suas fotografias e seu piano.

Ângelo, que tinha um bar no porto, contou a Lúcio esta história... e ele a presenteou ao mundo como música. 

Caruso estava doente de câncer na garganta e sabia que tinha os dias contados, mas isso não o impedia de dar lições de canto a uma jovem de quem estava enamorado.

Uma noite de muito calor não quis renunciar em cantar para ela que o olhava com admiração, então mesmo estando mal, fez levarem o piano ao terraço que dava para o porto e começou a cantar uma apaixonada declaração de amor e sofrimento.

Sua voz era potente e os pescadores, ouvindo-o, regressaram ao porto e ficaram ancorados sob o terraço. As luzes das barcas eram tantas que pareciam estrelas ou talvez as luzes dos arranha céus de Nova York... 

Caruso não perdeu as forças e continuou cantando mergulhado nos olhos da moça apoiada ao piano. Essa noite seu estado piorou. Dois dias mais tarde, 2 de agosto de 1921, morria aos 48 anos em Nápoles, cidade em que havia nascido em 25 de fevereiro de 1873. 

Esta canção narra o drama dessa noite... com luzes e sombras do passado... com morte e vida... Um homem enfermo que busca nos olhos da mulher um futuro que já não existe... Um testamento de amor... Esse foi seu último concerto... a esse seu excepcional público... o mar, as estrelas, os pescadores, as luzes das barcas e sua amada...


CarusoTradução.

“Aqui onde o mar brilha e sopra forte o vento, sobre um velho terraço, em frente ao golfo de Sorrento. Um homem abraça uma garota, depois de ter chorado. Depois se limpa a voz e recomeça o seu canto.
Gosto tanto de você, mas tanto, sabe? É uma corrente que dissolve o sangue dentro das veias, sabe.

Viu as luzes no meio do mar, pensou nas noites lá na América, mas eram só as lâmpadas e a branca faixa de uma hélice

Sentiu a dor na música, se levantou do piano, mas quando viu a lua sair de uma nuvem, e a morte lhe pareceu  mais doce. Olhou nos olhos da garota, aqueles olhos verdes como o mar, depois, de improviso saiu uma lágrima e ele acredita se afogar.

Gosto tanto de você, mas tanto, sabe? É uma corrente que dissolve o sangue dentro das veias, sabe.

A potência da música, onde cada drama é uma mentira e que com um pouco de truque e com a mímica pode tornar-se uma outra coisa. Mas os dois olhos que lhe olham, assim de perto e verdadeiros, lhe fazem esquecer as palavras, confundindo os pensamentos.

Assim, tudo se torna pequena, até mesmo as noites lá na América. Se vira e vê a sua vida como a faixa branca na agua feita por uma hélice.  Mas, sim é a vida que termina, mas ele não pensou tanto nisto, pelo contrário se sentia já feliz e recomeçou o seu canto

Gosto tanto de você, mas tanto, sabe? É uma corrente que dissolve o sangue dentro das veias, sabe.”

 Fonte:

http://marcionicolacebueno.blogspot.com/2012/04/homenagem-enrico-caruso-por-dalla.html acesso em 14/07/2023.

https://www.sandrasantosporai.com/caruso-em-sorrento-um-terraco-dedicado-a-lucio-dalla/




terça-feira, 11 de julho de 2023

 

Dr. Antônio, o Governador e a homenagem

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

Desafio de articulista, se tem um tema difícil de abordar é, sem dúvida, escrever sobre uma autoridade. Se ela está distante, tudo bem. É até fácil, pois livremente pode-se deitar o verbo ao sabor do momento tal qual a ocasião exige. Se a personagem descrita está próxima, a coisa muda de figura, sobretudo, se o que se propõe a escrever destina-se a uma população diminuta e circunscrita a uma pequenina urbe.

Isso, porque nesses casos, as autoridades, sejam elas políticas, religiosas, civis ou militares, todos os dias elas podem ser encontradas na rua, na igreja, no mercado, ou num estabelecimento público: secretaria, câmara ou prefeitura. No caso de Brasilândia, onde este articulista reside há 37 anos, a realidade social, política e econômica que nos cerca, se transforma numa verdadeira sopa de letras e imagens: um convite para impregná-las no papel.

Sem dúvida, por vezes, neste ato de escrever, suas palavras nem sempre são bem entendidas. São tidas como ofensivas ou presas a laços de compadrio e, portanto, não merecedoras de crédito. Mesmo assim, correndo risco, lá encontramos o escritor deitando a pena sobre o papel (como se dizia antigamente) para falar daquilo que seu coração e razão reclamam.

Particularmente tenho o hábito de escrever meus textos a mão; somente depois os digito no computador. Entendo que as ideias afloram melhor vendo a caneta deslizar sobre a folha de papel branco e o pensamento sendo impresso aos poucos sob o ritmo e impulso da mão. E com a vantagem de exercitar a caligrafia e poder riscar e corrigir o texto com mais facilidade na medida em que vai se avançando cada parágrafo escrito.

Mas falemos da autoridade que nos propomos discorrer, já com atraso, uma vez que a proposta era homenagear um aniversariante especial: o prefeito municipal de Brasilândia, Dr. Antônio de Pádua Thiago, que aniversariou no dia 14 de junho. Antes de iniciar e alongar-me na retórica, um alerta aos desavisados: há quem possa achar ou dizer que o que escrevo é verossímil, justo e oportuno; outros, entretanto, haverão de interpelar as palavras como sendo dignas de um puxa-saco interessado em alguma benesse.

Ambos estão errados pois o texto que ora apresento tem a intenção de tão somente exaltar o homem público, o administrador municipal no exercício de seu múnus de dirigente. Para além da bajulação à pessoa e suas vicissitudes, deméritos ou virtudes. O que escrevo são mais que palavras, tem a pretenção de fazer despertar o reconhecimento para o que foi realizado e o caminho trilhado por este médico que um dia, há 38 anos por aqui chegou.

A redação, em forma de Carta Aberta, foi escrita no dia 5 de julho, véspera da viagem que a comitiva de lideranças empreendedoras da cidade inclusiva, Brasilândia, realizou até Campo Grande, e manteve contato com diversas autoridades na Assembleia Legislativa e Governadoria do Estado de Mato Grosso do Sul protocolando diversos pleitos do terceiro setor a deputados e ao governador.

A missiva que reproduzimos abaixo deveria ter sido lida na audiência que os representantes de Brasilândia tiveram com o chefe do poder Executivo do Estado. Em razão do aniversário do governador ter ocorrido no dia anterior, optou-se por parabeniza-lo com uma poesia (pajada) declamada na ocasião por este escrevinhador. Para efeito de registro, publicamos esse documento que, em síntese, ao recordar a trajetória do prefeito de Brasilândia, acaba por presta-lhe uma oportuna e justa homenagem. Um presente de aniversário tardio.

Carta Aberta ao Governador Eduardo Riedel.

Senhor Governador. Honrado em poder estar na vossa presença, agradeço a oportunidade de poder lhe dirigir breves palavras. Não falo sobre mim, este modesto escrevinhador de uma minúscula cidade do interior, mas para lhe transmitir o sentimento de uma comunidade valorosa, representada aqui por seu prefeito – Dr. Antônio de Pádua Thiago --, com o qual nos somamos e que tem motivo de sobra para lhe saudar.

Pois saiba, senhor Governador, que este prefeito de Brasilândia, já no seu 1º mandato, iniciado em 2005, foi um dos homenageados pelo Prêmio SEBRAE e Prefeito Empreendedor, o que já confirmava, desde então, a sua vocação de empreendedor. Impossível não registrar que  sua trajetória começou há 38 anos, quando um jovem médico pediatra chegou nestas terras sul-mato-grossenses carregando numa modesta maleta de couro os ideais urbanos de centros maiores e o cuidado em auscultar os lamentos e dores do povo, gente simples.

Colocava, assim, na prática, o juramento de Hipócrates, buscando devolver a saúde e a dignidade aos que eram submetidos pela força, ao esquecimento naqueles anos difíceis. Ouvindo mais do que falando, e atendendo a todos pela trilha empoeirada das estradas, desde o Porto João André até o distrito Debrasa, passando também pela vizinha Panorama e outras cidades do Oeste paulista, esta realidade e compromisso, moldaram o perfil do curador que Brasilândia precisava. Levou alento e esperança ao cerrado carente de profissionais, assistência e respeito.

Com sabedoria e consideração foi conquistando a simpatia do povo. De tanto tratar feridas e prescrever saúde, de estetoscópio e receituário na mão, alargou horizontes, se transformando aos poucos em inspiração e alento para uma legião de seguidores. O que o levou buscar, inevitavelmente, um instrumento mais ágil e eficaz capaz de reverter o quadro perverso da injustiça e do atraso social que campeava.

Depois de casado, pai de família e estabelecido na profissão, este médico, então, ingressou confiante no desvão da política partidária. Elegeu-se vereador em 92 e concorreu a prefeito nos anos de 96 e 2000, tendo ficado em 2º lugar nestas eleições. Sendo que nos anos seguintes, 2004, 2008, 2016 e 2020, elegeu-se Prefeito de Brasilândia.

Durante toda essa caminhada, entretanto, manteve-se em sintonia com os Secretários e Parlamentares das esferas estadual e federal, sempre recebendo apoio incondicional do Governador ao longo de todos os seus quatro mandatos como Prefeito.

Nesta seara galgou a inabalável confiança da população, pela retidão na aplicação dos recursos públicos e o equilíbrio financeiro que sempre imprimiu em suas administrações. Também nunca descuidou do zelo para com o cidadão, promovendo-lhe dignidade e cidadania.

E ei-lo aqui, senhor Governador. Este é o Prefeito que o povo de Brasilândia confia; homem que consolidou a marca de ter transformado Brasilândia numa Cidade Empreendedora e Inclusiva. Cidade, registre-se, que tem colecionado diversos títulos de excelência em administração pública em nível nacional.

Pois bem, senhor Eduardo Riedel. Brasilândia, aqui representada por suas lideranças, neste momento o saúda. Ao mesmo tempo em que reafirma os laços de parceria e cooperação que sempre nutriu com a governança estadual. Que neste encontro, portanto, Vossa Excelência acolha as demandas apresentadas e fortaleça a presença do Estado na construção de uma Brasilândia cada vez mais forte, dentro de um Mato Grosso do Sul forte. Obrigado Senhor Governador. Parabéns Dr. Antônio de Pádua Thiago. Brasilândia/MS, 06 de julho de 2023. 

 

segunda-feira, 10 de julho de 2023

 

Aprendendo e ensinando a fazer política pública

Carlos Alberto dos Santos Dutra






Daqui a 15 meses, os eleitores vão voltar às urnas para escolher os representantes nas eleições municipais, que elegem prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. O próximo pleito será em outubro de 2024. As datas exatas ainda não foram definidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), porém, o primeiro turno sempre é marcado para o primeiro domingo de outubro, que será dia 6. Já o segundo turno, acontece no último domingo do mês, que será dia 27.

Aos poucos a Imprensa começa a veicular informações sobre o pleito que elegerá os 27 prefeitos das capitais, do Distrito Federal e das 5.568 cidades do país. Sem dúvida, entretanto, a disputa de maior concorrência é para a Câmara dos Vereadores de cada uma das cidades e isso é resultado do calor da aproximação física e emocional que os candidatos têm com os membros de suas comunidades.

Pois bem. Por aqui, pelos nossos rincões, em terras Ofaié, as peças do tabuleiro político, aos poucos, vão sendo movidas, com arte e sem procrastinar uma tarefa e serviço imprescindível à democracia necessários, mas que demanda sabedoria e spiritus corporis daqueles que manejam a política tendo familiaridade com ela.

Bem sabem aqueles que já estiveram integrando as vicissitudes de algum pleito eleitoral. Bem sabe este escrevinhador que já foi vereador e concorreu ao cargo de governador. Todos sabem dos desafios enfrentados e sobretudo o quanto devem empenhar-se para sensibilizar mentes por vezes desacreditadas quando o tema é a política.

Para os que já se encontram no exercício de seus cargos, o momento torna-se oportuno para reavivar na memória os feitos já realizados, os que se encontram em curso e os que pretendem ainda realizar até o final de seus mandatos. Uma espécie de prestação de contas antecipada que, de maneira salutar se reveste de estímulo e convencimento.

Para muitos, a recente viagem realizada por uma comitiva de entidades e lideranças do município de Brasilândia à Campo Grande/MS (na qual tive a honra de participar), tinha a intenção desditosa descrita acima. Da mesma forma, assim foi entendida a motivação que levou a delegação de autoridade e lideranças locais à Brasília, há pouco tempo atrás.

Ainda que o cidadão possa livremente se manifestar classificando como demérito este esforço da municipalidade, há de se observar, em contrário, que as lideranças comunitárias e políticas que integraram a tal comitiva tiveram a oportunidade de apresentar diretamente suas reivindicações à mais alta instância do poder público estadual.

E lá estavam os munícipes da cidade empreendedora e inclusiva, Brasilândia, em caravana, adentrando a Capital rumo às portas da Assembleia Legislativa e Governadoria do Estado de Mato Grosso do Sul. Conduzidos pelo prefeito Dr. Antônio de Pádua Thiago, na condição de cicerone realizava o que já havia antecipado em sua live semanal, por ocasião da viagem à Brasília, realizada em maio deste ano.

A imprensa da Capital fez questão de dar destaque ao evento elencando o nome das autoridades com as quais a comitiva teve contato, descrevendo passo-a-passo o trajeto percorrido. 

Na Assembleia Legislativa, a comitiva ouviu, no plenarinho da Câmara, inicialmente o deputado Júnior Mochi que explanou as atividades realizadas pela Casa. No plenário da Câmara, depois, o prefeito de Brasilândia recebeu deste deputado, uma Moção de Congratulação pelos relevantes serviços prestados a nossa cidade, agradecendo a comenda.

Depois do almoço (onde cada participante pagou no próprio bolso sua refeição), a comitiva reuniu-se com o governador do Estado, Eduardo Riedel, quando ouviu dos participantes, em coro, a principal reivindicação da cidade esperança: a pavimentação asfáltica da rodovia MS-040 entre Brasilândia e Santa Rita do Pardo!

Ao cair da tarde, já retornando, as lideranças que lá apresentaram diversas reivindicações em benefício de suas entidades, entre elas o pedido de instalação de uma unidade do Corpo de Bombeiros no município, buscavam acomodar-se na poltrona da van-furgão que os conduziu naquela empreitada.

Para aqueles que tiveram a oportunidade de ter seus nomes apresentados um a um àquelas autoridades e terem mostrado seus rostos revelando o quanto se empenham pelo município, aquele esforço, sim, valeu a pena.

Além das petições, também foram entregues presentes às autoridades. A pajada declamada por este escrevinhador e a entrega ao governador de um exemplar de um livro de sua lavra, com um pedido de patrocínio, para os demais volumes, são também uma das recordações daquele encontro.

A noite já ia alta, o veículo avança e o céu estrelado sobre a pista remetia o pensamento ao azul cintilante das águas do aquário do Bio Parque Pantanal que brindou de beleza e esperança aqueles cidadãos, cada vez menos distantes do centro, da res publica, que puderam visitá-lo. E seguiam agradecidos, aprendendo e ensinando a fazer política pública.

  

Brasilândia/MS, 10 de julho de 2023.

 









Fonte:

https://www.brasilandia.ms.gov.br/portal/noticias/0/3/3845/caravana-empreendedora-e-inclusiva-solicita-melhorias-para-autoridades-do-estado 

https://jornaldoestadoms.com.br/noticia/24660-governador-reafirma-o-compromisso-de-pavimentar-a-ms-040 

https://agenciadenoticias.ms.gov.br/governo-assume-o-compromisso-de-asfaltar-trecho-da-ms-040-entre-santa-rita-do-pardo-e-brasilandia/ 

https://www.brasilandia.ms.gov.br/portal/0/galeria-de-fotos/375/caravana-empreendedora-e-inclusiva#fotos-33 

https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2022/guia/2022/10/quando-vao-ser-as-eleicoes-de-2024-veja-os-cargos-e-possiveis-datas.ghtml

 

 

sábado, 8 de julho de 2023

 

O dia que o Povoado de Brasilândia virou Distrito de Paz

Carlos Alberto dos Santos Dutra


As ordens ainda vinham do Palácio Alencastro, de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso uno, sob as mãos do então governador da UDN, Fernando Correia da Costa. Corria o dia 12 de julho de 1961 e o prefeito de Três Lagoas era Francisco Leal Queiroz, do PSD. Neste dia através da Lei nº 1501/61, promulgada pelo então Presidente da Assembleia Legislativa daquele estado, Manoel de Oliveira Lima, um pequeno povoado em meio ao cerrado era elevado ao status de Distrito: Estava criado o Distrito de Paz de Brasilândia.


Tempos difíceis, diga-se de passagem, a considerar que em menos de três anos depois o País entraria num regime de exceção onde as liberdades democráticas foram restringidas e os chefes do Executivo de cidades estratégicas, como Três Lagoas, passaram a ser nomeados pelo Governo Federal que estendeu o seu mando até 1º de janeiro de 1986, quando Antônio João Campos de Carvalho foi eleito o primeiro prefeito da cidade das águas, já sob o novo regime de abertura política.

A criação do Distrito de Paz de Brasilândia e, quatro anos depois, a sua emancipação como Município, pode-se dizer vieram à lume sob o tom das cores verde oliva que governavam o Brasil nesta época. No estado de Mato Grosso do Sul, que só viria a ser desmembrado do antigo Mato Grosso em 1977, uma penca de municípios foi emancipada neste período. Verdadeiros filhos da ditadura, viram no regime vertical uma forma de consolidar os feitos e anseios do povo, sobretudo o povo simples e ordeiro, o brasilino desta terra.

Brasilândia assim, já não mais como Povoado idealizado pelo patriarca Arthur Höffig e consolidada sua urbanidade pelo traçado de suas ruas projetadas pelo engenheiro Ídolo Guastaldi sob os auspícios da empresa Companhia Boa Esperança de Terras - COTERP, mas como Distrito, transformava o homem do campo em citadino da urbe com acesso à energia elétrica, ao comércio e a escolaridade de nível médio, enfim a civilização.

Sob o aspecto administrativo, entretanto, um fato curioso deste pedaço da história de Brasilândia é importante destacar: o Distrito de Brasilândia não nasce do município de Três Lagoas, mas sim do desmembramento do Distrito de Xavantina. Quem nos revela esse fato é o ex-secretário de administração de Brasilândia, Waldemar Firmino de Campos, 55 anos depois, ao confrontar a documentação histórica que versa sobre a criação do município de Brasilândia.

A Lei nº 1501, de 12 de julho de 1961 que criou o Distrito de Paz de Brasilândia, no município de Três Lagoas, deixa claro em seu artigo 1º que esta instância administrativa fora criada a partir do desmembramento do Distrito de Xavantina. Ao definir os limites do novo Distrito, o artigo 3º da citada Lei enuncia: O Distrito terá por sede o povoado de Brasilândia, sito no divisor de águas dos córregos Beleza, Jardim e Cabeceira Perdida.

Os limites do Distrito de Brasilândia - rezava a Lei - partia da embocadura do rio Verde no rio Paraná, por aquele acima até o ribeirão Água Limpa, seus afluentes da margem direita; subindo o córrego Água Limpa, até a foz do córrego Pulador, seu tributário da margem direita; subindo o Pulador, até a sua mais alta cabeceira; da cabeceira do Pulador, por uma linha reta, até a extrema cabeceira do córrego Piruá, já do sistema do Taquarussu; descendo o Piruá , até sua barra no rio Taquarussu; descendo o Taquarussu, até a embocadura do ribeirão São Pedro, da sua margem direita; subindo o ribeirão São Pedro, até o córrego Virginia, até sua mais alta cabeceira; daí, por uma linha reta, até a extrema cabeceira do córrego Aldeia, afluente, pela margem esquerda, do córrego Água Branca; pelo córrego Aldeia abaixo, até sua foz no Água Branca; pelo Água Branca abaixo, até sua embocadura no rio Pardo abaixo, até o rio paraná; pelo Paraná acima até a barra do rio Verde, ponto inicial.

Comemorar os 60 anos de elevação do Povoado de Brasilândia à condição de Distrito pode não dizer muito para os cidadãos de hoje, mas para uma comunidade que, quatro anos depois, haveria de conquistar a sua emancipação político administrativa, o que ocorreu em 25 de abril de 1965 com a eleição de seu primeiro prefeito e vice, e ter tomado posse a sua primeira Câmara Municipal... Para aqueles que cruzaram os campos, sob a poeira da estrada, em trilhas só frequentada por animais e carroções, quando ainda nem estradas existiam, sob o sol escaldante, isso foi um grande feito.

Mais que isso, não fosse os ares de civilização e progresso que vinham do Leste, varando as margens do rio Paraná, e que nutriram a vida dos primeiro habitantes fornecendo o agasalho e o medicamento, o utensílio e o fomento para o homem e suas criações, o povo que aqui vivia seguiria pacholento sem notar o curso da história deste lugar.

Foi, portanto, o status de Distrito, o marco que levaria o Município a encontrar o seu destino. Semeou os fundamentos para garantir aos que aqui viviam a credibilidade e o respeito conferido aos feitos que realizavam, num tempo cuja democracia ainda era uma palavra desconhecida e distante para aqueles que já se acostumavam a obedecer e calar.

Este pequeno texto tem o condão de, apenas, lembrar, os passos heroicos que os pioneiros que aqui viveram deram, num tempo em que Brasilândia se resumia a meia dúzia de casas de tábua, um posto de combustível e a famosa Três Placas, como que indicando que a única saída para este lugar estava em deixá-lo: ou para Xavantina, ou para Três Lagoas, ou para Bataguassu, como que se não houvesse qualquer chance deste povoado florescer.

Estava errado, entretanto, quem assim pensasse. Aliada à força dos mais antigos que deitaram o braço sobre o machado, a foice e a enxada formando fazendas e abrindo estradas, lá estão eles apontando um rumo de esperança para o pequeno patrimônio que emergia. Lá estavam João Dantas Filgueiras Patrocínio de Souza Marinho, prefeitos de Três Lagoas nesta época, apostando no progresso de Brasilândia.

No dia em que se comemora a elevação do Povoado de Brasilândia, que nos idos 1957 erigiu sua Cruz fundante na parte mais alta de seu patrimônio, chegando à condição de Distrito, seus habitantes têm motivos de sobra para comemorar este pequeno grande feito, ainda que pouco festejado e lembrado, mas que sedimentou o caminho que viria depois ser trilhado com a emancipação do Município e a posse do primeiro prefeito José Francisco Marques Neto. Mas essa já é uma outra história.

 

Brasilândia/MS, 08 de julho de 2023.

 

Foto: Marques Neto e trabalhadores de Brasilândia/MS em 1965 (Cortesia José Francisco Marques (in memoriam), 2015.

Fonte: Publicado inicialmente em http://institutocisalpina.org/o_dia_que_o_povoado_de_brasilandia_virou_distrito.html e em DUTRA, C.A.S. A emancipação político administrativa de Brasilândia In História e memória de Brasilândia/MS, vol. I-Pioneiros, página 281s. Disponível em https://clubedeautores.com.br/livro/historia-e-memoria-de-brasilandia

 

 


 

 

sábado, 1 de julho de 2023

Espiritualidade e Religião sob o olhar de Teilhard de Chardin

Carlos Alberto dos Santos Dutra


As palavras iniciais são de Rafael Gomide e nos fala de um livro que na sua juventude lhe chamou atenção: O Fenômeno Humano, de autoria do padre Pierre Teilhard de Chardin, filósofo, teólogo e escritor francês (1881-1955)

Ele conta que um dia, quando já estava na faculdade resolveu abrir o tal livro. Ele acabara de discutir com um padre da PUC sobre um determinado conceito religioso e a disciplina se chamava O Homem e o Fenômeno Religioso.

Sua história se assemelha em parte com a trajetória deste articulista que, também, no seu tempo de teologia, começava a questionar, por vários motivos, as diversas religiões, não só a que herdara por tradição de meus pais.

Foi o primeiro contato então com o pensamento deste filósofo, e logo com sua obra-prima. E descobriu que Teilhard também era paleontólogo! Um padre jesuíta que tentava unir suas crenças à ciência. Não havia seminarista que não se identificasse de cara com aquele pensamento.

Em síntese, das ideias deste autor, desnecessário lembrar, quando ele era vivo, que as autoridades da Igreja Católica romana não autorizaram a publicação de muitos de seus escritos no campo da filosofia e da religião. A ideia da evolução da matéria originária até o homem como um impulso de Deus, que põe em movimento o vir a ser do mundo, nunca foi bem digerida pela Igreja.

Sabe-se que esse padre entendia que a religião (ou as religiões) deviam colaborar com a ciência, pois só assim a humanidade encontraria sua verdadeira unidade. Para ele, em essência, o ato de Deus é como um imã que faz sair as coisas do nada, atraindo-as para Ele, sendo isso que faz o mundo evoluir.

É, entretanto, o capítulo da espiritualidade que encontramos relevo para o que ele escreve. E onde Rafael Gomide compartilha, no seu Canal de Espiritualidade, algumas diferenças entre Religião e Espiritualidade, que reproduzimos abaixo:

“A religião não é apenas uma, são centenas; a espiritualidade é apenas uma. A religião é para os que dormem; a espiritualidade é para os que estão despertos. A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer; a espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior. A religião amedronta; a espiritualidade dá Paz Interior.

A religião não é Deus; a espiritualidade é Tudo e, portanto, é Deus. A religião é humana; a espiritualidade é Divina. A religião é causa de divisões; a espiritualidade é causa de União. A religião lhe busca para que acredite; a espiritualidade você tem que buscá-la. A religião se alimenta do medo; a espiritualidade se alimenta na Confiança e na Fé. A religião faz viver no pensamento; a espiritualidade faz Viver na Consciência.

A religião se ocupa com fazer; a espiritualidade se ocupa com Ser. A religião nos faz renunciar ao mundo; a espiritualidade nos faz viver em Deus, não renunciar a Ele. A religião é adoração; a espiritualidade é Meditação.

A religião vive no passado e no futuro; a espiritualidade vive no presente. A religião enclausura nossa memória; a espiritualidade liberta nosso coração e mente. A religião promete para depois da morte; a espiritualidade é encontrar Deus durante a vida.

Segundo Teilhard de Chardin, não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual; somos seres espirituais passando por uma experiência humana…”.


 Brasilândia/MS, 1º de julho de 2023.

 



Foto: https://makia.com.br/a-diferenca-entre-espiritualidade-e-religiao/ Fonte: Rafael Gomide. Arte & Espiritualidade, 13 de julho de 2018. https://artecult.com/a-spiritualidade-de-teilhard-de-chardin/ DUTRA, C.A.S. Razão e utopia, textos rebeldes. 2. Ed. Brasilândia, Edição do Autor, 2016, p. 213s.

Ler também: Missa sobre o mundo. Missa sobre o mundo... (Pe. Teilhard de Chardin sj) | - TERRA BOA -