quarta-feira, 27 de maio de 2020


O dia que a Cidade Esperança venceu o Covid-19
Carlos Alberto dos Santos Dutra


Aquele dia o céu de Brasilândia amanheceu coberto de belas nuvens, num tom rosa que surpreendia seus moradores. A aurora naquela manhã irradiava um sol brilhante deitando seus raios sobre os campos, sobre as ruas e sobre as casas da Cidade Esperança que lentamente despertava para mais um dia. Mas o efeito de euforia que causava se fazia sentir mais no coração e na alma das pessoas que saíam às ruas para saudar aquele dia singular.

Sim. Aquele não era um dia qualquer. Havia algo de especial, algo envolvente e agradável que o diferenciava dos demais: uma aura de luz e satisfação que causava alegria em todos. A população saiu de suas casas, contemplou aquela imagem irradiante como se estivesse bebendo néctar de uma fonte luminosa e retornou para seus afazeres cotidianos, mas de um jeito diferente.

A maioria deles se dirigiu ao trabalho e deram graças a Deus porque a grande empresa onde trabalhavam como empregados, ela ainda estava lá e os acolheu. Outros ergueram a porta de seus pequenos negócios e voltaram a vender seus produtos cheios de satisfação a sorrir. E outros, tendo em mãos carrinhos, bicicletas, enxadas, pincéis, alicates e outros, como ambulantes e autônomos, puderam vender e prestar seus serviços ao público voltando a viver.

Outro grupo, basicamente de senhoras e senhores idosos, depois de arrumar seus filhos e netos, e os deixar na escola infantil do bairro, vendo-os correr para os braços das educadoras cheias de saudade, aquele grupo se dirigiu à igreja que finalmente abriu suas portas para os receber. Ali então puderam fazer suas orações com os olhos voltados para a Cruz e a Hóstia santa no sacrário, cheias de esperança e fé.

Aquelas pessoas tinham, sim, muito a agradecer por suas vidas e a saúde de seus familiares. Acreditavam que somente Deus em sua infinita bondade e tolerância para com seus filhos amados poderia ter intercedido por elas e as protegido desta pandemia. Por isso ali estavam, de joelhos, dando graças pela proteção divina.

Em suas preces, em silêncio, manifestavam também gratidão pelos médicos e enfermeiros que, no único hospital da cidade, dedicaram-se de corpo e alma para socorrer aqueles acometidos deste vírus mortal. Foram mãos, braços e rostos, cobertos por luvas, aventais e máscaras de profissionais de saúde carregando e entregando o melhor de si, portando corações sinceros e almas dedicadas a salvar vidas.

Eram agentes de saúde, de todos os níveis; motoristas de ambulâncias; auxiliares e serventes, no cuidado com a limpeza e higienização dos ambientes; foram equipes e horas extras, plantões noturnos e trabalho itinerante, distanciamento social que os privava do convívio da família, dos amigos, situação que exigiu sacrifício a todos. Por essa gente dedicada, por cada recuperação alcançada, sempre festejada, lágrimas de felicidade, tudo a Deus foi ofertado.

Na saída da igreja, quase se esquecendo, uma senhora ainda lembrou a tempo de agradecer a Deus pela mão firme do gestor municipal. Preocupação médica e pulso responsável de um prefeito que impôs a todos a ordem de isolamento, toque de recolher e uso de máscara obrigatória; barreira sanitária, boletins e informativos diários através do rádio e internet. Medidas sanitárias lúcidas e benéficas que ajudaram Brasilândia a conter o vírus e minimizar seus efeitos deletérios e de dor.

Sim. Deus havia sido bom para todos, mesmo para aqueles que nunca acreditaram nas medidas tomadas pela administração municipal e zombaram da inteligência que Deus deu a cada um, esquecendo-se que ‘a sabedoria habita com a prudência e acha conhecimento nos conselhos’ (conforme Provérbios 8,12). As orações não presenciais realizadas nas casas, o terço em família, as celebrações e comunhão da Ceia Pascal de forma espiritual, por todos os crentes no Evangelho, com certeza e humildade podemos reconhecer que foram agradáveis aos olhos de Deus Pai.

A tarde começa a declinar e os moradores da cidade começam a voltar para suas casas; todos com a convicção que mais um dia, com disciplina e fé, foi vencido. O medo e a angústia haviam passado, pelo menos até aquele dia. O distanciamento social vivido por dois meses serviu também para os aproximar ainda mais, e aquela cidade naquela noite, debaixo de um céu estrelado, pode descansar em paz, na confiança de que tudo pode n’Aquele que a fortalece. E voltou a ser feliz.

Brasilândia/MS, 27 de maio de 2020
Dia do Serviço de Saúde.


Foto: Edna Saia/Facebook.

segunda-feira, 18 de maio de 2020


Flores para Zélia Terezinha Luzzi Schio
Carlos Alberto dos Santos Dutra


Existem situações no presente de nossas vidas que mesmo distantes elas nos remetem ao passado. Assim é, sobretudo, nos momentos de despedida, quando não mais veremos uma pessoa que esteve por muito tempo ao nosso lado, ou que simplesmente passou pela nossa vida.

Com dona Zélia Terezinha Luzzi Schio foi assim. 

Das poucas vezes que estive ao seu lado, lá em Aparecida do Taboado, de onde nos chega a notícia que ela se despediu para sempre de seus familiares e amigos, recordo, a sensação que a circundava era como uma espécie de aura que ia além do seu jeito gentil e elegante  de caminhar e conversar.

Um sopro de conhecimento e vida circundava aquela senhora que foi mãe, professora e manteve com o esposo um acolhedor hotel. De estatura pequena e de aparência frágil transparecia ao contrário, traços firmes, vigor e resistência aos embates cotidianos. 

E não guardou somente para si essa dádiva: isso também foi transferido a seus rebentos que, um a um, herdaram essa virtude, garra e temperança, algo como um encantamento, uma graças que ela deu de presente a cada um de seus filhos.

De poucas palavras, mas de raciocínio reto e ponderado, ao lado do esposo que partiu mais cedo para os campos do Senhor depois de uma longa vida feliz, levou adiante com altruísmo e paciência a tarefa final de seus dias de ser avó e bisavó, mãe conselheira de uma família que sempre lhe devotou agradecida respeito e admiração.

E hoje ao deixá-la na campa escura, assim, tão célere e sem adeus maior, causa em todos nós um vazio na alma fazendo cada um, por derradeiro, recorrer à fé para suportar a dor. 

Fé inquebrantável que dona Zélia sempre professou e que lhe deu forças para seguir em frente, superando as dores dos últimos dias e os dissabores de uma vida inteira.

Fé que impregnou na alma de cada um de seus filhos sábias lições de vivência do amor, do respeito e a certeza de que tudo tem um propósito e que a vida não acaba aqui.

Partes hoje dona Zélia, não sem dor para aqueles que ficam; dor que cala mais fundo no coração de seus eternos filhinhos: Deolir, Deomir, Deolino, Neuza, Maria Luíza, e dos familiares e amigos. 

Sim, Maria Luíza, vossa mãe, esta flor singela foi desabrochar no céu. E com certeza, segurando na mão de Deus e da Virgem Maria, ela foi ao encontro daquele anjo menina que conhecemos, que a espera, de mãos dadas com a linhagem celeste que a antecedeu...

E com um ramalhete de rosas para lhe saudar. 

Descanse em paz, noninha Zélia, mãe dileta dos amigos meus.

Brasilândia/MS, 18 de maio de 2020.


quarta-feira, 13 de maio de 2020


Júnior Marceneiro, a arte e a vida
Carlos Alberto dos Santos Dutra.



Tem certos dias em que eu penso em minha gente, e sinto assim todo o meu peito se apertar...

É assim a canção de Vinícius de Moraes e Chico Buarque, que embalou o sonho e rebeldia de uma geração inteira nos anos 1970. 

É assim que muitos se sentem no dia de hoje.

Mesmo aqueles mais distantes ou que vivem a nossa volta, não há como não chorar e lamentar a partida do amigo André Cardamone Júnior, o popular Júnior Marceneiro.

Roda a cortina do tempo e vejo aquele jovem de 25 anos, sempre muito dinâmico ajudando nos preparativos da grande quermesse realizada no bairro onde morava, a Cohab Tomaz de Almeida, em 1989.

Nascido em 21 de outubro de 1962 era um homem de muitas habilidades profissionais, entre elas a marcenaria, um dom que Deus graciosamente lhe ofertara. 

Era o homem certo para todas as ocasiões.

E lá estava o artífice, o artista, o construtor, o marceneiro, sempre solícito a estender a mão para quem precisasse na comunidade que ainda dava seus primeiros passos.

Pai exemplar e dedicado, enquanto ali viveu, era possível vê-lo brincando com os filhos e ensinando-lhes o ofício através das palavras e dos gestos, exemplos que edificaram e floresceram nos seus rebentos.

Homem de aparência simples e de um grande e generoso coração, também se preocupou com a administração de sua cidade engajando-se no campo político como candidato ao cargo de vereador nas eleições de 2004 e de 2012.  

Ah Júnior Marceneiro, o tempo passou e a vida  seguiu seu curso. Mas tu continuaste transformando a madeira bruta em obras de utilidade e uso; lapidando a natureza transformando-a em poesia e arte.

Como aquele mimo, um carrinho de bois talhado em madeira, de forma artesanal que entregaste ao prefeito de Brasilândia em seu gabinete por ocasião da transmissão do cargo, salvo engano, em 2005.

Nos contornos da história tua criatividade e beleza ainda permanecem nas obras que criastes, fazendo história, adornando e dando consistência e calor à vida que não morre...

Vida que experimentamos hoje nos escapar entre os dedos, mas que agora, lá no azul celeste, experimentas vivê-la em plenitude.

E aí me dá uma tristeza no meu peito, feito um despeito de eu não ter como lutar. E eu que não creio, peço a Deus por minha gente, é gente humilde, que vontade de chorar.... 

A canção prossegue arrastando a dor da despedida pelo resto dos nossos dias, até essa tempestade passar. Descanse em paz, amigo Júnior Marceneiro.

Brasilândia, 12 de maio de 2020.
        


sábado, 9 de maio de 2020


Feliz Dia das Mães, mamães atletas
Carlos Alberto dos Santos Dutra



Naquele ano o Dia das Mães foi diferente. Igual aquele nunca tinha acontecido na cidade.
Não. Não estou falando do isolamento social dos dias atuais que fez redobrar o trabalho das mulheres, donas de casa com a dupla e tripla jornada de trabalho, atendendo marido, filhos, casa e profissão, por causa do novo coronavírus.
Falo de um tempo pretérito brando e suave, nostálgico talvez. Falo de um dia na história, que ficou para trás, mas que ainda vive na lembrança de algumas mães e senhoras. E o faço em homenagem a elas nesta data especial.
Aquele dia havia despertado no coração das mulheres algo que somente homens, pais, maridos e filhos, gentis e educados, criativos e poéticos poderiam lhes ofertar. Em que pese as motivações políticas que o evento possa ter, não deixou de ter o seu brilho original.
E lá estavam as mamães: Áurea, dona , Lúcia, Angelina Amorim, Maris, Márcia Amaral, Elizete, Tica, Cida do Doca, Marilza, Maria José e Elizabete Costa, adentrando  o tapete verde do Estádio Municipal Joaquim Cândido da Silva, que se estendia a seus pés.
Mas elas não estavam sós. Ovacionadas por uma torcida vibrante e animada, pisaram firmes no gramado portando o esplendor de suas juventudes, mulheres solteiras, prontas para o embate: Gélia, Cristina, Roseli, Neuza, Maria Aparecida, Ivonete, Eunice, Elizabete, Érika, Sandra, Joelma, Eliane, Patrícia, Andréia, Ana Lúcia e Ângela.
Tratava-se do jogo Mulheres Casadas x Mulheres Solteiras realizado em Brasilândia que ocorria naquele sábado, dia 12 de maio de 1990, promovido pelo Departamento Municipal de Desporto e sua dedicada equipe que organizou aquele jogão de bola, registrou o Jornal de Brasilândia, na época.
E elas entraram em campo todas perfiladas saudando a torcida que compareceu em massa ao estádio. Uma bateria de fogos, bem ao estilo da época, na administração do Prof. José Cândido da Silva, explodiu no ar saudando as queridas mamães pelo seu dia. Motivo de alegria para todos os que se encontravam nas arquibancadas prestigiando o evento.
O jogo, modesta à parte, foi muito bom e engraçado, lembram aqueles que lá estavam na época: só não sorriu quem era banguela ou tinha dente de ouro com medo de ser assaltado, brincou o repórter na ocasião.
A exemplo de anos anteriores, as mulheres Solteiras deram uma goleada no time das mulheres Casadas pelo placar de 4x0. O placar só não foi maior devido a forte marcação defensiva das mamães Tica, dona Jô e Sandra que mostraram toda sua habilidade na zaga.
O jornal não traz maiores detalhes sobre o jogo, mas o que fica para nós, passado 30 anos deste evento, é que as mulheres, sobretudo as mamães, a partir de então, cada vez mais começaram a ter seu espaço garantido em esportes tidos como restrito somente aos homens, como o futebol de campo. Exemplo maior foi o pioneirismo do BRASAC.
E assim, naquele dia Brasilândia viu mamães entrar em campo exercitando naquele espaço lúdico de afirmação, criatividade e sonho, a sua liberdade.
Num tempo ainda eivado de preconceito contra certas atividades exercidas pelas mulheres, aquele Dia das Mães diferente oportunizou a todos reconhecer o valor da mulher.
E lá, nas arquibancadas, cada um do seu jeito, aqueles homens simples de aparência rude puderam, com sua atenção e aplauso, homenagear suas mamães, esposas e filhas. Feliz Dias das Mães, mamães atletas.

Brasilândia/MS, 09 de Maio de 2020.


quarta-feira, 6 de maio de 2020


Ariobaldo Badim pelos Campos do Senhor
Carlos Alberto dos Santos Dutra


Nem todos os dias são iguais. Dias de sorrir e dias de chorar. Dias de festejar e dias de lembrar. 

Os olhos do observador debruçam-se sobre uma silhueta que, com passos firmes, vai cruzando a pé o centro da cidade. É a mãe, Dorvina Ferreira Oliveira que, ao lado da filha Nadir Carlos, marca o chão desta terra cotidiana com sua história de vida. 

Conquista que orgulharia muito o falecido Ico, seu Andrelino Carlos que lá do alto observa orgulhoso sua gente, seus rebentos. 

No burburinho do trânsito, no contorno da Praça Santa Maria ainda é possível contemplar o passado: o tempo em que o Hotel Avenida, ainda pertencia ao pioneiro Noel Cândido...

Mas seu Andrelino desta vez não está só. Ao seu lado, o filho dileto Ariobaldo Carlos de Oliveira, carinhosamente chamado de Badim, que lhe faz companhia, recém-chegado da viagem que todos nós faremos um dia. 

A família celeste está feliz. Depois de um longo abraço cheio de saudade e lágrimas, olhos nos olhos e já não precisam ser ditas mais palavras, tamanho o encantamento e sintonia. 

E juntos contemplam a cidade a seus pés, sua gente, suas vitórias, em especial, aquelas carregadas de fé e nostalgia.

A primeira lembrança é um momento de rara beleza dos anos 1970 registrado pela observação atenta e cuidadosa da professora Áurea Cândido que lhe oferta uma foto onde o artista, o jovem Badim participa de uma cerimônia religiosa na igreja matriz de Brasilândia representando um dos apóstolos, onde o rapaz se apresenta paramentado em vestes litúrgicas próprias ao lado de colegas e paroquianos.

Num outro momento lá encontramos Badim, já como dedicado músico, perfilado, tocando bumbo na banda – Fanfarra – de Brasilândia, na quadra de esportes do antigo Grupo Escolar Arthur Höffig, no ano de 1978, durante ensaio dos preparativos para o 12º aniversário de emancipação político administrativa da Cidade Esperança...

São momentos de felicidade vividos que só envaidece o pai e o filho lá no alto. E cá na terra, a mãe, a mana Nadir, os irmãos, os parentes e amigos entoam hinos de agradecimento. 

Badim, com os olhos cheios d’água ao olhar aquele filme passando diante de si, sorri de alegria. Depois de tanto sofrimento suportado nos últimos meses, quando a doença lhe corroía as forças, agora, não sentia mais dores, somente o perfume das flores. E se encontra em paz, em boa companhia, a melhor que podia existir.

De súbito, os aplausos de uma torcida agitando bandeiras o desperta para o calor da realidade. E lá está Badim, o atleta, entrando em campo ao lado de Neto Arruda; Eliseu Soares (Bili); Pedrinho; Mauro Alves; Maurílio, Joaquim Polícia, Oseias, Arnaldo, Selê, Nico, Beto entre outros. Alegria maior não há.

Anos dourados do esporte brasilandense vividos pelo Brasilândia Atlético Clube – BAC, o chamado Galo da Fronteira. Sim, Badim carregou nos ombros e nos pés de seus dedicados atletas toda a garra e força do esporte de uma época, para a alegria de uma cidade que dava seus primeiros passos.

Badim com o tempo e a maturidade se tornou um atleta disputado pelos clubes locais que se sucederam. Em 1995, integrado às fileiras da Sociedade Esportiva Brasilandense – SEB, na categoria Master’s, ajudou este time, entre tantas vitórias, a conquistar honroso vice-campeonato pela Liga Três-Lagoense de Desportos, em disputada partida no Estádio Municipal Joaquim Cândido.

Tempos de garra e muito suor para quem usava as pernas e os pés para extravasar o que mandava o coração. A verdadeira paixão pelo futebol de campo que fazia de atletas simples e sem um vintém no bolso enfrentar agremiações feras, a nata da mais fina e original prática do futebol desta época.

E lá estava novamente o nosso saudoso Badim ao lado de Quero-Quero, Frangão, Pascoal, Dorval, João Gaúcho, Roque, Tonhão, Nê, Joaquim, Zé Brito, Beto, Hamilton José, Hamilton Véio, Zé Mendes, Kobayashi, Pedrinho, Oséias, Boni, Florindo, Paulinho Barbosa, Toninho, Eliseu Soares, Jami Doce, Biro-Biro, entre outros, cruzando a bola fatal na linha do gol.

Ah, meu Pai e meus amigos. Foram tempos áureos. Valeu a pena ter vivido e sentir a alegria desses momentos de emoção, algo que meu coração não suporta recordar... 

As imagens continuam rodando ilustrando o caminho percorrido enquanto o atleta se prepara para mais uma vez entrar no gramado... desta vez, pelos campos do Senhor.

A música cadenciada da orquestra e seu bumbo agora eleva aos Céus o espírito deste nosso irmão enquanto ele acena para os que o saúdam numa sinfonia de adeus.

É a vida que segue deixando o seu rastro de saudade. E felicidade por ele ter estado aqui conosco e ter jogado sobre nós lances de alegria e esperança. Descanse em paz Ariobaldo Carlos de Oliveira, o nosso eterno Badim.

Brasilândia/MS, 5 de maio de 2020.


terça-feira, 5 de maio de 2020


Políbio Leal de Freitas, uma vida, um olhar.
Carlos Alberto dos Santos Dutra


Brasilândia vive tempos sombrios, de temor e insegurança em razão de uma ameaça que nós não vemos, mas a sentimos na alma e no coração. 

Não. Não falo do COVID-19, este Vírus que aos poucos vai ceifando vidas, patrimônio e liberdade, enquanto um que outro irresponsavelmente zomba de sua capacidade e o desafia.

Falo da dor que trespassa nossas vidas neste dia pela perda de um ente querido, entre tantos que todos os dias se apartam de nós.

Conhecido, sobretudo, dos mais antigos, é impossível não lembrar o seu jeito peculiar, sentado ao lado da esposa Glorinha, na Alameda Arthur Höffig proseando com os amigos. E o seu inconfundível chapéu de palha Panamá que ostentava com elegância doméstica.

Sim, hoje, podemos relembrar os bons tempos desde pioneiro, Políbio Leal de Freitas, que chegou a Brasilândia em 1963, antes, portanto, da emancipação da cidade, e que acompanhou de perto os passos iniciais desta comuna. Tocando sua Casa Nova, uma das primeiras lojas que serviram a população que emergia em meio ao cerrado, ao lado de outras, Casa Mendes, Casa Talayeh...

Homem lúcido e de negócios, também possuía visão política tendo militado nas fileiras da antiga ARENA, partido que presidiu nos primeiros anos de existência da Cidade Esperança, firmando-se depois, com o tempo, como fiel representante do comércio e das classes atuantes na vida social e econômica de Brasilândia. Em 1995 encontrava-se filiado ao PSDB onde conquistou adesões significativas para essa sigla e progresso local.

Os ponteiros do relógio do tempo não param e lá o encontramos, ainda jovem, ao lado da esposa, com os olhos rasos d’água: era a sua Marissol, filha e fruto da terra recebendo o grau de cirurgiã dentista abrindo seu consultório dentário. 

Cidade que também viu nascer a filha Maris. Rebentos que aprenderam as primeiras lições na Escola Estadual Adilson Alves da Silva, depois Três Lagoas, e o mundo afora. E que se tornaram no correr dos anos, exemplo e estímulo para os demais brasilandenses, e a maior alegria daquele pai.

Natural de Paranaíba/MS, Políbio Leal de Freitas nasceu em 11 de outubro de 1934, e logo após sua chegada a Brasilândia nutriu amizade sincera com José Francisco Marques Neto, primeiro prefeito de Brasilândia, falecido recentemente, há menos de um mês, contribuindo em muito para a edificação do município que escolheu para construir sua família e escrever a sua história.

Homem engajado das causas sociais e comunitárias, em 2003 constava como sócio fundador da ASSOBRAA, o que honrava a entidade, tendo participado igualmente de outras entidades de cunho benemérito, sempre com lisura e honestidade, mantendo-se sóbrio nas palavras e gigante nas ações.

Para a neta Laís Imada a despedida do avô Políbio é ainda mais dolorosa devido ao momento e circunstâncias em que vivemos, o que não lhe permitia abrir os braços da comunidade para despedir-se dele. Pede orações para que ele descanse em paz.

Da mesma forma a amiga professora Sandra Louzada da Costa, que, sensível, estende os seus sentimentos de dor à amiga Glorinha, esposa de Políbio, pedindo a Deus que a conforte e amenize o seu sofrimento. 

De igual modo, o mesmo Políbio que ontem estendia a palma da mão para receber a Ceia Eucarística, todos os domingos na igreja matriz, hoje, ele deve estar recebendo-A do próprio Senhor Jesus.

Brasilândia 5 de Maio de 2020.