O dia que a Cidade Esperança venceu o Covid-19
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Aquele dia o céu de Brasilândia amanheceu
coberto de belas nuvens, num tom rosa que surpreendia seus moradores. A aurora
naquela manhã irradiava um sol brilhante deitando seus raios sobre os campos,
sobre as ruas e sobre as casas da Cidade Esperança que lentamente despertava
para mais um dia. Mas o efeito de euforia que causava se fazia sentir mais no
coração e na alma das pessoas que saíam às ruas para saudar aquele dia singular.
Sim. Aquele não era um dia qualquer.
Havia algo de especial, algo envolvente e agradável que o diferenciava dos
demais: uma aura de luz e satisfação que causava alegria em todos. A população
saiu de suas casas, contemplou aquela imagem irradiante como se estivesse
bebendo néctar de uma fonte luminosa e retornou para seus afazeres cotidianos, mas de um jeito diferente.
A maioria deles se dirigiu ao trabalho e
deram graças a Deus porque a grande empresa onde trabalhavam como empregados, ela ainda
estava lá e os acolheu. Outros ergueram a porta de seus pequenos negócios e voltaram a
vender seus produtos cheios de satisfação a sorrir. E outros, tendo em mãos carrinhos, bicicletas,
enxadas, pincéis, alicates e outros, como ambulantes e autônomos, puderam vender
e prestar seus serviços ao público voltando a viver.
Outro grupo, basicamente de senhoras
e senhores idosos, depois de arrumar seus filhos e netos, e os deixar na escola
infantil do bairro, vendo-os correr para os braços das educadoras
cheias de saudade, aquele grupo se dirigiu à igreja que finalmente abriu suas
portas para os receber. Ali então puderam fazer suas orações com os olhos
voltados para a Cruz e a Hóstia santa no sacrário, cheias de esperança e fé.
Aquelas pessoas tinham, sim, muito a
agradecer por suas vidas e a saúde de seus familiares. Acreditavam que somente
Deus em sua infinita bondade e tolerância para com seus filhos amados poderia ter
intercedido por elas e as protegido desta pandemia. Por isso ali estavam, de
joelhos, dando graças pela proteção divina.
Em suas preces, em silêncio,
manifestavam também gratidão pelos médicos e enfermeiros que, no único
hospital da cidade, dedicaram-se de corpo e alma para socorrer aqueles
acometidos deste vírus mortal. Foram mãos, braços e rostos, cobertos por luvas,
aventais e máscaras de profissionais de saúde carregando e entregando o melhor de si, portando corações sinceros e
almas dedicadas a salvar vidas.
Eram agentes de saúde, de todos os
níveis; motoristas de ambulâncias; auxiliares e serventes, no cuidado com a
limpeza e higienização dos ambientes; foram equipes e horas extras, plantões noturnos
e trabalho itinerante, distanciamento social que os privava do convívio da família, dos
amigos, situação que exigiu sacrifício a todos. Por essa gente dedicada, por cada recuperação
alcançada, sempre festejada, lágrimas de felicidade, tudo a Deus foi ofertado.
Na saída da igreja, quase se
esquecendo, uma senhora ainda lembrou a tempo de agradecer a Deus pela mão firme do gestor
municipal. Preocupação médica e pulso responsável de um prefeito que impôs a todos a ordem de
isolamento, toque de recolher e uso de máscara obrigatória; barreira sanitária,
boletins e informativos diários através do rádio e internet. Medidas sanitárias lúcidas e
benéficas que ajudaram Brasilândia a conter o vírus e minimizar seus efeitos
deletérios e de dor.
Sim. Deus havia sido bom para todos, mesmo para aqueles que nunca acreditaram nas medidas tomadas pela
administração municipal e zombaram da inteligência que Deus deu a cada um,
esquecendo-se que ‘a sabedoria habita com a prudência e acha conhecimento nos
conselhos’ (conforme Provérbios 8,12). As orações não presenciais realizadas
nas casas, o terço em família, as celebrações e comunhão da Ceia Pascal de
forma espiritual, por todos os crentes no Evangelho, com certeza e humildade
podemos reconhecer que foram agradáveis aos olhos de Deus Pai.
A tarde começa a declinar e os
moradores da cidade começam a voltar para suas casas; todos com a convicção que
mais um dia, com disciplina e fé, foi vencido. O medo e a angústia haviam passado, pelo
menos até aquele dia. O distanciamento social vivido por dois meses serviu também para os aproximar ainda mais, e aquela cidade naquela noite, debaixo de um céu estrelado, pode descansar em paz,
na confiança de que tudo pode n’Aquele que a fortalece. E voltou a ser feliz.
Brasilândia/MS, 27 de maio de 2020
Dia do Serviço de Saúde.
Foto: Edna Saia/Facebook.
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