quarta-feira, 6 de maio de 2020


Ariobaldo Badim pelos Campos do Senhor
Carlos Alberto dos Santos Dutra


Nem todos os dias são iguais. Dias de sorrir e dias de chorar. Dias de festejar e dias de lembrar. 

Os olhos do observador debruçam-se sobre uma silhueta que, com passos firmes, vai cruzando a pé o centro da cidade. É a mãe, Dorvina Ferreira Oliveira que, ao lado da filha Nadir Carlos, marca o chão desta terra cotidiana com sua história de vida. 

Conquista que orgulharia muito o falecido Ico, seu Andrelino Carlos que lá do alto observa orgulhoso sua gente, seus rebentos. 

No burburinho do trânsito, no contorno da Praça Santa Maria ainda é possível contemplar o passado: o tempo em que o Hotel Avenida, ainda pertencia ao pioneiro Noel Cândido...

Mas seu Andrelino desta vez não está só. Ao seu lado, o filho dileto Ariobaldo Carlos de Oliveira, carinhosamente chamado de Badim, que lhe faz companhia, recém-chegado da viagem que todos nós faremos um dia. 

A família celeste está feliz. Depois de um longo abraço cheio de saudade e lágrimas, olhos nos olhos e já não precisam ser ditas mais palavras, tamanho o encantamento e sintonia. 

E juntos contemplam a cidade a seus pés, sua gente, suas vitórias, em especial, aquelas carregadas de fé e nostalgia.

A primeira lembrança é um momento de rara beleza dos anos 1970 registrado pela observação atenta e cuidadosa da professora Áurea Cândido que lhe oferta uma foto onde o artista, o jovem Badim participa de uma cerimônia religiosa na igreja matriz de Brasilândia representando um dos apóstolos, onde o rapaz se apresenta paramentado em vestes litúrgicas próprias ao lado de colegas e paroquianos.

Num outro momento lá encontramos Badim, já como dedicado músico, perfilado, tocando bumbo na banda – Fanfarra – de Brasilândia, na quadra de esportes do antigo Grupo Escolar Arthur Höffig, no ano de 1978, durante ensaio dos preparativos para o 12º aniversário de emancipação político administrativa da Cidade Esperança...

São momentos de felicidade vividos que só envaidece o pai e o filho lá no alto. E cá na terra, a mãe, a mana Nadir, os irmãos, os parentes e amigos entoam hinos de agradecimento. 

Badim, com os olhos cheios d’água ao olhar aquele filme passando diante de si, sorri de alegria. Depois de tanto sofrimento suportado nos últimos meses, quando a doença lhe corroía as forças, agora, não sentia mais dores, somente o perfume das flores. E se encontra em paz, em boa companhia, a melhor que podia existir.

De súbito, os aplausos de uma torcida agitando bandeiras o desperta para o calor da realidade. E lá está Badim, o atleta, entrando em campo ao lado de Neto Arruda; Eliseu Soares (Bili); Pedrinho; Mauro Alves; Maurílio, Joaquim Polícia, Oseias, Arnaldo, Selê, Nico, Beto entre outros. Alegria maior não há.

Anos dourados do esporte brasilandense vividos pelo Brasilândia Atlético Clube – BAC, o chamado Galo da Fronteira. Sim, Badim carregou nos ombros e nos pés de seus dedicados atletas toda a garra e força do esporte de uma época, para a alegria de uma cidade que dava seus primeiros passos.

Badim com o tempo e a maturidade se tornou um atleta disputado pelos clubes locais que se sucederam. Em 1995, integrado às fileiras da Sociedade Esportiva Brasilandense – SEB, na categoria Master’s, ajudou este time, entre tantas vitórias, a conquistar honroso vice-campeonato pela Liga Três-Lagoense de Desportos, em disputada partida no Estádio Municipal Joaquim Cândido.

Tempos de garra e muito suor para quem usava as pernas e os pés para extravasar o que mandava o coração. A verdadeira paixão pelo futebol de campo que fazia de atletas simples e sem um vintém no bolso enfrentar agremiações feras, a nata da mais fina e original prática do futebol desta época.

E lá estava novamente o nosso saudoso Badim ao lado de Quero-Quero, Frangão, Pascoal, Dorval, João Gaúcho, Roque, Tonhão, Nê, Joaquim, Zé Brito, Beto, Hamilton José, Hamilton Véio, Zé Mendes, Kobayashi, Pedrinho, Oséias, Boni, Florindo, Paulinho Barbosa, Toninho, Eliseu Soares, Jami Doce, Biro-Biro, entre outros, cruzando a bola fatal na linha do gol.

Ah, meu Pai e meus amigos. Foram tempos áureos. Valeu a pena ter vivido e sentir a alegria desses momentos de emoção, algo que meu coração não suporta recordar... 

As imagens continuam rodando ilustrando o caminho percorrido enquanto o atleta se prepara para mais uma vez entrar no gramado... desta vez, pelos campos do Senhor.

A música cadenciada da orquestra e seu bumbo agora eleva aos Céus o espírito deste nosso irmão enquanto ele acena para os que o saúdam numa sinfonia de adeus.

É a vida que segue deixando o seu rastro de saudade. E felicidade por ele ter estado aqui conosco e ter jogado sobre nós lances de alegria e esperança. Descanse em paz Ariobaldo Carlos de Oliveira, o nosso eterno Badim.

Brasilândia/MS, 5 de maio de 2020.


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