sexta-feira, 22 de outubro de 2021

 Quem é esta mulher?

Carlos Alberto dos Santos Dutra 



Quem é esta mulher?

De estatura pequena

E grande testemunho de vida.

Que rompeu com a saga dos homens.

Docilidade na práxis e no olhar?

Quem é esta mulher?

Mãe solitária que multidões acolhe,

E venera seu maternal esforço

De seus filhos criar?

Quem é esta mulher?

Profissional pioneira,

Vereadora de ontem, prefeita de hoje,

Que alimenta sonhos e desejos,

De mudar a vida de muitos para melhor?

Quem é esta mulher?

Que pelos braços do povo,

Pôs-se à frente, coração no poder,

Dedicação e trabalho,

Oportunidade a qualquer um?

Quem é esta mulher?

De alma se abrindo,

Trabalha sorrindo

E que teima em lutar,

Quando a sua volta lhe ceifam.

E fecham caminhos?

Quem é esta mulher?

Tida mãe de Brasilândia,

Socorro dos esquecidos,

Desafio aos esclarecidos.

Que questionam seu pensar?

Seu atuar?

Quem é esta mulher?

Que no correr de seus dias,

Soube a dor de dar-se ao povo.

De receber nada em troca,

Quando capitulou nas promessas.

E ofertou o mais do que tinha?

Quem é esta mulher?

Que no correr de seus dias,

Soube acolher a alegria

Dos que respeitam seus passos,

E a festejam no momento

E tempo certo?

--O nome desta mulher?

--Saiam às ruas e às praças

E perguntem:

--Saiam às escolas e creches, assentamentos e fanfarras.

--Para ouvir onde ecoam rostos de esperança,

--Voltados para o amanhã,

O nome? 

MARILZA é o nome desta mulher.

 

O poema acima foi escrito e publicado no Jornal Dia a Dia na data de 16 de julho de 1998. Onze anos depois, falecia no dia 22 de outubro de 2009 aquela que foi a 9ª e 10ª prefeita de Brasilândia, tendo ocupado o cargo de Chefe do Executivo por dois mandatos, sendo o primeiro 1997 a 2000 e o segundo de 2001 a 2004.

Marilza Maria Rodrigues do Amaral foi a primeira mulher a ocupar o cargo de vereadora no município, exercendo seu mandato desde o primeiro dia do ano de 1983 até o último dia do ano de 1988. Viúva de Dorindo Rodrigues do Amaral com quem foi casada desde 1967 até 1973, ano da morte do esposo vítima de um acidente de carro. Teve duas filhas em seu casamento: a atual vereadora Márcia Regina do Amaral Schio e a advogada Doriane Rodrigues do Amaral. A família e a comunidade, na data de hoje, passados 12 anos, relembra com muita saudade a pessoa desta grande mulher.


Brasilândia/MS, 22 de outubro de 2021.


A Biografia completa sobre a Prefeita Marilza Maria Rodrigues do Amaral se encontra em DUTRA, C.A.S. História e Memória de Brasilândia/MS, Volume 5-Poderes. Pág. 46-53. (no prelo).

domingo, 17 de outubro de 2021

Quebrando o silêncio contra o abuso e violência que nos rodeia

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

Eram 32 páginas, mas valiam por cem, por mil vidas preservadas. E se encontravam a disposição de todos no balcão da sala de recepção dos postos de saúde, consultórios, escolas e instituições públicas e privadas. Deitar os olhos sobre tão rica revista educativa deveria ter sido mais que uma obrigação de pais, educadores, profissionais e formadores de opinião.

Mas foi o que menos se ouviu falar no comentário das redes sociais em âmbito local. Uma lástima para tão oportuno debate que o tema tem suscitado nos últimos anos: o tema da depressão, da violência, da banalização da vida e do suicídio que acomete centenas de jovens pelo mundo afora.

Tratava-se da revista educativa Quebrando o Silêncio Teen, publicada em 2018 pelo Ministério da Mulher, da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Reunindo conteúdos desenvolvidos pelo doutor em psicologia Diego Alexandro Rozendo da Silva, a mestre em psicologia Caroline Raupp, e a mestra em educação Fabiana Paulino Alexandre Retamero, a revista assume uma atitude educativa e preventiva contra o abuso e violência em suas diversas formas.

Apresentada na forma de uma revista em quadrinhos cativa os leitores a partir de situações concretas, vividas pelos jovens, desde uma simples espinha no rosto e o que ela representa para autoestima de uma adolescente, até a bronca do pai que é dada ao filho que nem ouviu direito o pedido que ele fez para auxiliá-lo no trabalho.

É um mundo de emoções que rodeia os jovens que nem eles mesmos sabem explicar. E a revista, didática e calmamente vai conduzindo o leitor adolescente a se redescobrir, e aos pais e formadores, a entendê-lo melhor. E tudo a partir das emoções que brotam do pensamento de um e de outro.

A revista Quebrando o Silêncio Teen explica: a chave são os pensamentos. Por isso é tão importante contemplar coisas que nos fazem ter bons pensamentos, pois esses gerarão boas emoções que, por consequência, resultarão em ações saudáveis.

Com efeito, caso contrário, o jovem se sentirá só e a solidão irá gerar o aborrecimento que o fará se afastar ainda mais do convívio familiar e daqueles que lhe querem bem. As dificuldades, desilusões e fracassos, quando extremos, levam ao desejo mórbido de dar um fim a própria vida, alerta a revista.

Não brinque com coisa séria! Vida e morte são assuntos demasiadamente sérios para serem tratados com leviandade. As pessoas são diferentes e cada uma encara determinada situação de um jeito. Por isso o olhar e atenção dos pais e formadores nestes momentos de crise é determinante, recomenda a revista: demonstre empatia; tenha uma atitude calma, mas solícita; não julgue; não dê sermões; não ignore; busque ajuda de alguém que possa fazer a diferença.

Entre 1980 e 2012 o Brasil registrou um aumento de 90% no número de suicídios na faixa etária de 15 a 29 anos. Passou de 1.523 para 2.900 suicídios resultando uma média de 5,8 óbitos para 100 mil habitantes, a maioria entre os 15 e 29 anos de idade. Se considerarmos todas as faixas etárias de 2012 a 2014 foram 31.507 suicídios

Cabe ainda lembrar a alta taxa de mortalidade por suicídio entre os homens indígenas, 23,1 mortes por 100 mil habitantes, enquanto que a taxa para homens brancos é de 9,5, e negros 7,6 mortes. Entre as mulheres indígenas a taxa também é maior (7,7), na comparação com brancas (2,7) e negras (1,9). No cômputo geral o suicídio de indígenas foi quase três vezes maior que a média nacional, 15,2 registros por 100 mil, sendo 44,8% jovens em idade entre 10 e 19 anos.

A baixa renda, a falta de política de prevenção, o não controle de armas de fogo são alguns indicadores que fazem com que 75% dos casos de suicídio ocorram nos países em que a renda de maior parte da população é considerada baixa ou média, observa a revista.

O grito de socorro de alguém a beira do abismo pode estar bem perto de nós. O Quebrando o silêncio foi lançado e vidas podem ser salvas. Porque o tempo urge, sendo necessário: ouvir, dar crédito, garantir segurança, encaminhar, elevar a autoestima e o espírito das pessoas, valorizando a vida e trabalhando pela prevenção do suicídio.

Parabéns a Equipe da Igreja Adventista do Sétimo Dia pelo trabalho realizado e as informações disponibilizadas. Que pais e educadores possam fazer bom proveito do material produzido e das edições mais recentes deste projeto de alcance inigualável em defesa da vida, porque o mundo não será um lugar melhor sem você!

 Brasilândia/MS 17 de outubro de 2021.


Telefones que podem salvar vidas:

188 e 141- CVV Centro de Valorização da Vida

180- Centro de Atendimento à Mulher

100- Violência sexual contra crianças e adolescentes

190- Casos de Ação Imediata

Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2018/09/24/taxa-de-suicidios-entre-indigenas-e-tres-vezes-superior-a-media-do-pais 24.Set.2018.  http://www.quebrandoosilencio.org

Foto: http://www.cvv.org.br

 

  

sábado, 16 de outubro de 2021

 

O técnico Baiano, o CD-Brás e a partida final.

Carlos Alberto dos Santos Dutra





 

 

A vida pode ser comparada a uma partida de futebol. Para os amantes deste esporte que é verdadeira paixão nacional, cada disputa - tenha ela resultado em vitória ou amargado o sabor da derrota -, há sempre a esperança de que na próxima, tudo possa mudar.

Tanto para os atletas de uma determinada agremiação como para o técnico que corre e sofre junto, do lado de fora do tapete verde, seu coração, olhos e sentidos acompanham passo a passo o percurso da bola e os pés de seus atletas, tal qual um pai amparando os filhos.

Assim se sucedeu com o amigo José Olívio Rodrigues de Souza, o popular Baiano, que nos deixou hoje. Conhecido na cidade pelo seu comércio mais recente, localizado em frente ao terminal rodoviário Patrocínio de Souza Marinho, antes como vendedor ambulante, especializou-se no ramo hortifrutigranjeiro, e ao longo dos anos angariou uma legião de amigos.

Quem o conheceu há mais tempo pode lembrar que este jovem senhor também deu muitas alegrias aos amantes do esporte, dentro e fora das quatro linhas do tapete verde das emoções. Para quem foi atleta e técnico do antigo CD-Brás, fazendo-o renascer das cinzas, no dia de seu passamento, os mais antigos têm razões de sobra para rememorar os feitos deste pequeno grande homem.

Corria o dia 23 de março de 1998, e lá no Sitio São Miguel acontecia uma grande reunião para a fundação, eleição e posse da primeira diretoria de um pequeno clube denominado Clube Desportivo Brasilandense, que passou a se identificar pela sigla CD-Brás, e que tinha como presidente o já saudoso José Rodrigues da Silva.

O livro de atas e as anotações referentes a esta agremiação de cor azul e branca e que marcou a história do futebol de campo e futsal em Brasilândia, tudo estava lá, preservado, guardado por mãos zelosas do técnico Baiano. Ele as carregava nas mãos como se fosse o coração e a alma do que restou daquela entidade esportiva.

O próprio Zé Rodrigues havia pedido que ele continuasse o treinamento de seus meninos. E assim ele fez, com todo o seu empenho e dedicação. Após o dia 7 de outubro de 2003, quando o fundador daquele time amador despediu-se para sempre dos gramados brasilandenses, o CD-Brás continuou honrando o passado de glória que conquistou, agora sob o apito e regras do técnico Baiano.

Já no ano seguinte e lá o encontramos animado, posicionando-se à frente do CD-Brás disputando um campeonato rural de futebol de campo ocorrido na fazenda Santa Odila. O ano era 2004, a mesma época em que seu time enfrentou as equipes da Pedra Bonita, depois da Debrasa e por fim do Vista Alegre.

Sempre muito atencioso com os atletas, com palavras medidas e respeitosas, suas orientações alcançavam longe e sempre faziam o efeito moral desejado: os jogadores adentravam o campo otimistas e convictos do sucesso, o que invariavelmente traduzia este ânimo em vitória.

Os anos seguem seu curso e o treinador igualmente continua seu ofício. Em 2007 e lá o encontramos participando de um campeonato de futebol de campo enfrentando equipes da fazenda Modelo, do Porto “B”, da Agropecuária Höfig, do Bazar Avenida/Soberano, do Barcelona, entre outras.

Outros técnicos, anos mais tarde assumiram o comando do CD-Brás, entre eles Wanderlei de Lima e Aparecido da Silva, mas a lembrança do técnico Baiano permaneceu até o momento em que o antigo time começou a perder as forças, como se estivesse despedindo-se da alegria e dos tempos de glória. Foi quando o ex-técnico passou a dedicar-se a seus afazeres particulares, tocando a vida.

Tal qual uma partida de futebol, ao som do apito final, correm para o vestiário os que perderam, e para os braços da torcida os que ganharam. Distante dos campos, o antigo técnico Baiano, hoje comerciante, contempla uma clássica fotografia de seus atletas perfilados durante a final de uma partida de futebol de campo.

Ao lado dos atletas, ele está ali, presente, dando vida àquele momento que já se perdeu no tempo. Mas uma chama, entretanto, ainda o alimenta e conforta. Também àqueles amigos e familiares que hoje lamentam sua partida: igualmente o veem correndo, gesticulando e falando a seus pupilos, enquanto se abre a sua frente um iluminado campo santo, repleto de aplausos e uma taça de vitória bem no centro o espera e que lhe é entregue pelo maior dos Juízes. Descanse em paz, eterno atleta e amigo Baiano.


Brasilândia/MS, 16 de outubro de 2021.

 

Foto: 

Técnico Baiano e atletas do Clube Desportivo Brasilandense CD-Brás, em campeonato ocorrido na fazenda Santa Odila., Cortesia José Olívio Rodrigues de Souza, 2004.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

 

A Bíblia, o puxão de orelha do Papa e as Fake News

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 







A notícia é antiga: um vereador do PSL, lá da capital Rio Branco, ocupou a tribuna do Legislativo acreano para divulgar que o chefe da igreja católica, o papa Francisco anunciou que vai cancelar a Bíblia, e que isso corresponde a chegada do anticristo.

Mesmo sendo alertado por alguns colegas de parlamento de que se tratava de uma notícia falsa, o vereador continuou. Manteve sua indignação  com a atitude do papa e prosseguiu com as críticas. A notícia se espalhou. A ponto de receber dura repreensão do clero daquele Estado.

A atitude do vereador é irresponsável. Ao propagar fake news contra o papa Francisco, revela que o senhor não se preocupa nem sequer em verificar a veracidade das informações que propaga, o que me dá o direito de pensar que o senhor também não se preocupa com a população que o elegeu, disse o padre Mássimo Lombardi, que recomendou ao vereador que verifique melhor as informações antes de disseminá-las.

Esta fake news, entretanto, é mais antiga que a manifestação do tal vereador que depois mostrou-se arrependido de seu ato. Em abril de 2019 já circulava pelas redes sociais a informação de que o papa Francisco, líder mundial da igreja católica, havia determinado o cancelamento da Bíblia. O pontífice teria tomado essa decisão por achar as escrituras desatualizadas. Seu objetivo seria criar um novo livro sagrado, provisoriamente batizado como Bíblia 2000, noticiou  Imprensa.

A frase atribuída ao papa, até o dia 25 de abril de 2019, tinha sido compartilhada mais de 7,5 mil vezes no Facebook, observou o site Lupa, da Folha de São Paulo, na época, que classificou a afirmação como falsa.

De acordo com o Vatican News, órgão oficial do Vaticano tratava-se de uma notícia falsa, reciclada e importada dos Estados Unidos.

O texto foi veiculado originalmente no site humorístico There Is News em abril de 2018. E a versão disponível no Facebook e que ressuscitou agora pelo WhatsApp, é uma tradução literal da mensagem em inglês, porém, nada do que está ali corresponde a realidade, alerta o site original.

Paralelamente às fake news, à desinformação e à ignorância que gravita ao redor da esfera global, o papa Francisco, nos dias atuais, em resposta a todo este imbróglio confessional, brinda aos cristãos sábias lições justamente sobre a Bíblia, que o acusam de querer cancelá-la.

E lá está Francisco na Audiência Geral, informa o Vatican News, como se estivesse puxando a orelha de todos, lembrando que a Bíblia não foi escrita para uma humanidade genérica, mas para nós, os cristãos. Devemos nos aproximar da Bíblia sem segundas intenções, sem a instrumentalizar. O fiel não procura nas Sagradas Escrituras o apoio para a própria visão filosófica e moral, mas porque espera um encontro, disse o papa.

As palavras das Sagradas Escrituras não foram escritas para permanecer presas nos papiros, nos pergaminhos ou no papel, mas para serem recebidas por uma pessoa que reza, fazendo-as brotar no próprio coração. A palavra de Deus chega ao coração, frisou o papa.

A Bíblia não pode ser lida como um romance, observou, citando o Catecismo da Igreja Católica que afirma: A leitura das Sagradas Escrituras deve ser acompanhada de oração, para que seja possível o diálogo entre Deus e o homem. Para a Igreja, a oração é um diálogo com Deus. Aquele versículo da Bíblia foi escrito também para mim, há muitos séculos, para me trazer uma palavra de Deus. Foi escrita para cada um de nós, disse  Francisco.

E acrescentou: Esta experiência acontece a todos os fiéis: uma passagem da Escritura, ouvida muitas vezes, de repente um dia fala-me e ilumina uma situação que estou vivendo. Mas é necessário que eu esteja presente nesse dia, no encontro com essa Palavra. Que eu esteja ali, ouvindo a palavra. Todos os dias Deus passa e lança uma semente no terreno da nossa vida. Não sabemos se hoje encontrará terra árida, selvas, ou terra fértil que faça crescer essa semente. Depende de nós, da nossa oração, do coração aberto com que nos aproximamos das Escrituras para que elas possam tornar-se para nós a Palavra viva de Deus.

Entre as lições extremamente atuais que o papa recomenda está:  aproximar-se da Bíblia sem segundas intenções, sem a instrumentalizar. O fiel não procura nas Sagradas Escrituras o apoio para a própria visão filosófica e moral, mas porque espera um encontro; sabe que aquelas palavras foram escritas no Espírito Santo, e que por isso nesse mesmo Espírito devem ser acolhidas e compreendidas, para que o encontro se realize.

Fico incomodado quando ouço cristãos que recitam os versículos da Bíblia como papagaios. Você encontrou o Senhor naqueles versículos? Não é um problema apenas de memória, mas de memória do coração, aquela o abre ao encontro com o Senhor. Aquela palavra, aquele versículo o leva ao encontro com o Senhor.

Bíblia não foi escrita para uma humanidade genérica, mas para nós, para mim, para você, para homens e mulheres em carne e osso. Homens e mulheres que tem nome e sobrenome. Como eu e você. A Palavra de Deus, impregnada do Espírito Santo, quando é recebida com o coração aberto, não deixa as situações como antes. Muda alguma coisa. Esta é a graça, a força da Palavra de Deus, disse.

Para Francisco, a Palavra inspira bons propósitos. Isso porque ela brota da tradição cristã [que] é rica em experiências e reflexões sobre a oração com a Sagrada Escritura. Veja o caso do método da lectio divina, nascido num ambiente monástico, mas agora praticado por cristãos que frequentam as paróquias.

Trata-se primeiramente de ler a passagem bíblica com atenção, eu diria com obediência ao texto, a fim de compreender o que ele significa em si mesmo. Posteriormente entra-se em diálogo com a Escritura, para que aquelas palavras se tornem um motivo de meditação e oração: permanecendo sempre fiel ao texto, começo a perguntar-me o que ele diz a mim.

Este é um passo delicado: não devemos resvalar para interpretações subjetivas, mas devemos fazer parte do caminho vivo da Tradição, que une cada um de nós à Sagrada Escritura. O último passo da lectio divina é a contemplação. Aqui as palavras e os pensamentos dão lugar ao amor, como entre os noivos que por vezes se olham em silêncio. O texto bíblico permanece, mas como um espelho, como um ícone a ser contemplado. E assim se há diálogo.

Através da oração, a Palavra de Deus vem habitar em nós e nós habitamos nela. A Palavra inspira bons propósitos e apoia a ação; dá-nos força e serenidade, e até quando nos põe em crise, nos dá paz. Em dias ‘maus’ e confusos, assegura ao coração um núcleo de confiança e amor que o protege dos ataques do maligno.

As Sagradas Escrituras são um tesouro inesgotável. É assim que a Palavra de Deus se torna carne naqueles que a acolhem em oração, sublinhou o pontífice. Em alguns textos antigos emerge a intuição de que os cristãos se identificam tão intimamente com a Palavra que, mesmo se todas as Bíblias do mundo fossem queimadas, um ‘molde’ dela ainda poderia ser salvo através da marca que deixou na vida dos santos. Esta é uma expressão bonita, ressaltou.

A vida cristã é uma obra de obediência e ao mesmo tempo de criatividade. Um bom cristão deve ser obediente, mas deve ser também criativo. Obediente porque escuta a palavra de Deus e criativo porque há o Espírito Santo dentro que o impele a levá-la  adiante. As Sagradas Escrituras são um tesouro inesgotável, concluiu o papa, concedendo a todos a sua bênção apostólica.

 Brasilândia/MS, 14 de outubro de 2021.

 

Foto:

https://www.google.com.br/search?q=papa+francisco+biblia.

 

Fonte:

https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2020/07/17/vereador-le-fake-news-sobre-papa-cancelar-biblia-durante-sessao-no-ac-e-igreja-reage-vergonha.html  Por Iryá Rodrigues, G1 AC — Rio Branco, 17/07/2020.


https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2019/04/25/verificamos-papa-francisco-biblia/ Por Maurício Moraes, 25/04/2019.

https://osaopaulo.org.br/vaticano/francisco-a-biblia-nao-foi-escrita-para-uma-humanidade-generica-mas-para-nos/  Cf. Audiência Geral. Vatican News, 27/01/2021.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

 

Arê Francisca Hegue-í Ofaié vive!

Carlos Alberto dos Santos Dutra





Francisca da Silva, indígena da nação Ofaié era uma legítima pioneira desta terra.

Conhecida na aldeia Anodhi pelo nome de Arê (minha avó, no idioma Ofayé), porém seu nome na língua materna era Hegue-í.

Nasceu em terras brasilandenses no dia 6 de setembro de 1938 e faleceu em 8 de outubro de 2005.

Vivia ao lado de João Pereira de Souza, o professor da língua e do sorriso, chamado Pereirinha, que tinha o nome de He-í na sua língua materna.

Hegue-í não teve filhos, mas nos 50 anos que labutou junto a este povo ressurgido adotou muitos rebentos, netos e sobrinhos, tendo-os criado como se seus filhos fossem.

E deixou sábias lições que alcançam longe...

Nos últimos anos de vida, quando convidada ir ao médico para receber tratamento, determinadamente negava-se, dizendo que quem adentrasse ao hospital dali não sairia com vida.

Afinal, os tempos eram outros e a fila de óbitos que seus olhos viram, um a um ao longo dos anos, de parentes e patrícios que de lá não mais voltaram, lhe davam certeza disso.

Com uma única exceção que guardo no lado mais terno de meu coração. Foi no dia em que ela concordou ser conduzida ao hospital, pois encontrava-se com muita dor no peito. 

Mas frisou que só ia desde que fosse nos braços do então missionário que por lá se encontrava.

De corpo frágil e gestos delicados enquanto adentrava ao hospital, ela brindou-me com um sorriso e um afago de luz:

Com a mão espalmada sobre meu rosto fez um círculo sobre minha face, como que agradecendo ou quem sabe despedindo-se...

Sim, passados 16 anos, Arê Francisca ainda se encontra presente em nossos orações. 

Brasilândia, 11 de outubro de 2021.

Foto: Manuel Ferreira Lima Filho, 1998.

sábado, 2 de outubro de 2021

Parabéns campeões da Saúde de Brasilândia 

Carlos Alberto dos Santos Dutra





Eita turma valorosa esses agentes de saúde de Brasilândia. Tem gente que reclama, mas não sabe viver sem eles.

Se o assunto são nossos petis, eles lá estão: é vacina antirrábica, é teste de leishmaniose, é castração, é eutanásia...

Se o assunto é comunidade, eles lá estão: é fumacê para a dengue, é o posinho para combater a larva, é visita de casa em casa... Debaixo de chuva ou sol, e lá estão eles, os valorosos Agente de Combate as Endemias.

E lá vão eles, no dia de hoje, debaixo de uma santa chuva no seu dever de ofício. Se fosse sol, seria a mesma coisa: todos de seringa na mão, prevenindo a raiva dos cães e gatos que amamos.

Se o assunto são nós, os humanos, também lá estão eles, e como estão. Todos já paramentados, de avental e máscara, e seringas na mão...

Ó meu Deus o que seríamos sem os colegas da Vigilância Sanitária? Sem os Agentes Comunitários de Saúde? Não fosse a sua pertinência e resiliência diante das dificuldades?

Ó meu Deus o que seríamos? Pandemia, dor e morte. O que seríamos sem a dedicação de técnicos e enfermeiros, motoristas e auxiliares?

A população vacinada, um a um em suas mãos. E tanta responsabilidade para os gestores e assessores; vidas que foram preservadas e salvas, mãos abençoada de médicos e o crédito na ciência...

Não tem como não agradecer aos céus e a  Deus pelo dom que ele deu àqueles anjos, homens e mulheres de branco e azul, verde e amarelo. A vida em primeiro lugar, acima do próprio ser.

Obrigado servidor público, que é de carne e osso como nós: tem coração, estômago e voz, sente frio, sede e calor. Mesmo sob a chuva, segue em frente, como no dia de hoje: 

Dia “D’ de Vacinação Antirrábica.


Espalhados em cinco pontos da cidade, lá estão eles, demonstrando ser mais que profissionais do SUS: são os servidores que a Cidade Esperança confia e necessita. E por isso merece o aplauso. Obrigado campeões.



Brasilândia/MS, 02 de Outubro de 2021.