O técnico Baiano, o CD-Brás e a partida
final.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
A vida pode ser comparada a uma partida de futebol. Para os amantes deste esporte que é verdadeira paixão nacional, cada disputa - tenha ela resultado em vitória ou amargado o sabor da derrota -, há sempre a esperança de que na próxima, tudo possa mudar.
Tanto para os
atletas de uma determinada agremiação como para o técnico que corre e sofre
junto, do lado de fora do tapete verde, seu coração, olhos e sentidos acompanham passo a passo o percurso da bola e os pés de seus atletas, tal qual
um pai amparando os filhos.
Assim se sucedeu
com o amigo José Olívio Rodrigues de Souza, o popular Baiano,
que nos deixou hoje. Conhecido na cidade pelo seu comércio mais recente, localizado em frente ao terminal rodoviário Patrocínio de Souza Marinho, antes como vendedor ambulante, especializou-se no ramo hortifrutigranjeiro, e ao
longo dos anos angariou uma legião de amigos.
Quem o conheceu há
mais tempo pode lembrar que este jovem senhor também deu muitas alegrias aos
amantes do esporte, dentro e fora das quatro linhas do tapete verde das
emoções. Para quem foi atleta e técnico do antigo CD-Brás,
fazendo-o renascer das cinzas, no dia de seu passamento, os mais antigos têm
razões de sobra para rememorar os feitos deste pequeno grande homem.
Corria o dia 23 de
março de 1998, e lá no Sitio São Miguel acontecia uma grande reunião para a
fundação, eleição e posse da primeira diretoria de um pequeno clube
denominado Clube Desportivo Brasilandense, que passou a se
identificar pela sigla CD-Brás, e que tinha como presidente o já saudoso José Rodrigues da Silva.
O livro de atas e
as anotações referentes a esta agremiação de cor azul e branca e que marcou a
história do futebol de campo e futsal em Brasilândia, tudo estava lá,
preservado, guardado por mãos zelosas do técnico Baiano. Ele
as carregava nas mãos como se fosse o coração e a alma do que restou daquela
entidade esportiva.
O próprio Zé
Rodrigues havia pedido que ele continuasse o treinamento de seus
meninos. E assim ele fez, com todo o seu empenho e dedicação. Após o dia 7 de
outubro de 2003, quando o fundador daquele time amador despediu-se para sempre
dos gramados brasilandenses, o CD-Brás continuou honrando o
passado de glória que conquistou, agora sob o apito e regras do técnico Baiano.
Já no ano seguinte
e lá o encontramos animado, posicionando-se à frente do CD-Brás disputando
um campeonato rural de futebol de campo ocorrido na fazenda Santa Odila. O ano
era 2004, a mesma época em que seu time enfrentou as equipes da Pedra Bonita,
depois da Debrasa e por fim do Vista Alegre.
Sempre muito
atencioso com os atletas, com palavras medidas e respeitosas, suas orientações alcançavam longe e sempre faziam o efeito moral desejado: os
jogadores adentravam o campo otimistas e convictos do sucesso, o que
invariavelmente traduzia este ânimo em vitória.
Os anos seguem seu
curso e o treinador igualmente continua seu ofício. Em 2007 e lá o encontramos
participando de um campeonato de futebol de campo enfrentando equipes da
fazenda Modelo, do Porto “B”, da Agropecuária Höfig, do Bazar Avenida/Soberano,
do Barcelona, entre outras.
Outros técnicos,
anos mais tarde assumiram o comando do CD-Brás, entre eles Wanderlei
de Lima e Aparecido da Silva, mas a lembrança do técnico Baiano permaneceu até o momento em que o antigo time
começou a perder as forças, como se estivesse despedindo-se da alegria e dos
tempos de glória. Foi quando o ex-técnico passou a dedicar-se a seus afazeres
particulares, tocando a vida.
Tal qual uma
partida de futebol, ao som do apito final, correm para o vestiário os que
perderam, e para os braços da torcida os que ganharam. Distante dos campos, o
antigo técnico Baiano, hoje comerciante, contempla
uma clássica fotografia de seus atletas perfilados durante a final de uma
partida de futebol de campo.
Ao lado dos atletas,
ele está ali, presente, dando vida àquele momento que já se perdeu no tempo.
Mas uma chama, entretanto, ainda o alimenta e conforta. Também àqueles amigos e
familiares que hoje lamentam sua partida: igualmente o veem correndo,
gesticulando e falando a seus pupilos, enquanto se abre a sua frente um
iluminado campo santo, repleto de aplausos e uma taça de vitória bem no centro o
espera e que lhe é entregue pelo maior dos Juízes. Descanse em paz, eterno atleta e amigo Baiano.
Brasilândia/MS, 16 de outubro de 2021.
Foto:
Técnico Baiano e atletas do Clube Desportivo
Brasilandense CD-Brás, em campeonato ocorrido na fazenda Santa Odila., Cortesia
José Olívio Rodrigues de Souza, 2004.
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