sábado, 16 de outubro de 2021

 

O técnico Baiano, o CD-Brás e a partida final.

Carlos Alberto dos Santos Dutra





 

 

A vida pode ser comparada a uma partida de futebol. Para os amantes deste esporte que é verdadeira paixão nacional, cada disputa - tenha ela resultado em vitória ou amargado o sabor da derrota -, há sempre a esperança de que na próxima, tudo possa mudar.

Tanto para os atletas de uma determinada agremiação como para o técnico que corre e sofre junto, do lado de fora do tapete verde, seu coração, olhos e sentidos acompanham passo a passo o percurso da bola e os pés de seus atletas, tal qual um pai amparando os filhos.

Assim se sucedeu com o amigo José Olívio Rodrigues de Souza, o popular Baiano, que nos deixou hoje. Conhecido na cidade pelo seu comércio mais recente, localizado em frente ao terminal rodoviário Patrocínio de Souza Marinho, antes como vendedor ambulante, especializou-se no ramo hortifrutigranjeiro, e ao longo dos anos angariou uma legião de amigos.

Quem o conheceu há mais tempo pode lembrar que este jovem senhor também deu muitas alegrias aos amantes do esporte, dentro e fora das quatro linhas do tapete verde das emoções. Para quem foi atleta e técnico do antigo CD-Brás, fazendo-o renascer das cinzas, no dia de seu passamento, os mais antigos têm razões de sobra para rememorar os feitos deste pequeno grande homem.

Corria o dia 23 de março de 1998, e lá no Sitio São Miguel acontecia uma grande reunião para a fundação, eleição e posse da primeira diretoria de um pequeno clube denominado Clube Desportivo Brasilandense, que passou a se identificar pela sigla CD-Brás, e que tinha como presidente o já saudoso José Rodrigues da Silva.

O livro de atas e as anotações referentes a esta agremiação de cor azul e branca e que marcou a história do futebol de campo e futsal em Brasilândia, tudo estava lá, preservado, guardado por mãos zelosas do técnico Baiano. Ele as carregava nas mãos como se fosse o coração e a alma do que restou daquela entidade esportiva.

O próprio Zé Rodrigues havia pedido que ele continuasse o treinamento de seus meninos. E assim ele fez, com todo o seu empenho e dedicação. Após o dia 7 de outubro de 2003, quando o fundador daquele time amador despediu-se para sempre dos gramados brasilandenses, o CD-Brás continuou honrando o passado de glória que conquistou, agora sob o apito e regras do técnico Baiano.

Já no ano seguinte e lá o encontramos animado, posicionando-se à frente do CD-Brás disputando um campeonato rural de futebol de campo ocorrido na fazenda Santa Odila. O ano era 2004, a mesma época em que seu time enfrentou as equipes da Pedra Bonita, depois da Debrasa e por fim do Vista Alegre.

Sempre muito atencioso com os atletas, com palavras medidas e respeitosas, suas orientações alcançavam longe e sempre faziam o efeito moral desejado: os jogadores adentravam o campo otimistas e convictos do sucesso, o que invariavelmente traduzia este ânimo em vitória.

Os anos seguem seu curso e o treinador igualmente continua seu ofício. Em 2007 e lá o encontramos participando de um campeonato de futebol de campo enfrentando equipes da fazenda Modelo, do Porto “B”, da Agropecuária Höfig, do Bazar Avenida/Soberano, do Barcelona, entre outras.

Outros técnicos, anos mais tarde assumiram o comando do CD-Brás, entre eles Wanderlei de Lima e Aparecido da Silva, mas a lembrança do técnico Baiano permaneceu até o momento em que o antigo time começou a perder as forças, como se estivesse despedindo-se da alegria e dos tempos de glória. Foi quando o ex-técnico passou a dedicar-se a seus afazeres particulares, tocando a vida.

Tal qual uma partida de futebol, ao som do apito final, correm para o vestiário os que perderam, e para os braços da torcida os que ganharam. Distante dos campos, o antigo técnico Baiano, hoje comerciante, contempla uma clássica fotografia de seus atletas perfilados durante a final de uma partida de futebol de campo.

Ao lado dos atletas, ele está ali, presente, dando vida àquele momento que já se perdeu no tempo. Mas uma chama, entretanto, ainda o alimenta e conforta. Também àqueles amigos e familiares que hoje lamentam sua partida: igualmente o veem correndo, gesticulando e falando a seus pupilos, enquanto se abre a sua frente um iluminado campo santo, repleto de aplausos e uma taça de vitória bem no centro o espera e que lhe é entregue pelo maior dos Juízes. Descanse em paz, eterno atleta e amigo Baiano.


Brasilândia/MS, 16 de outubro de 2021.

 

Foto: 

Técnico Baiano e atletas do Clube Desportivo Brasilandense CD-Brás, em campeonato ocorrido na fazenda Santa Odila., Cortesia José Olívio Rodrigues de Souza, 2004.

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