segunda-feira, 11 de outubro de 2021

 

Arê Francisca Hegue-í Ofaié vive!

Carlos Alberto dos Santos Dutra





Francisca da Silva, indígena da nação Ofaié era uma legítima pioneira desta terra.

Conhecida na aldeia Anodhi pelo nome de Arê (minha avó, no idioma Ofayé), porém seu nome na língua materna era Hegue-í.

Nasceu em terras brasilandenses no dia 6 de setembro de 1938 e faleceu em 8 de outubro de 2005.

Vivia ao lado de João Pereira de Souza, o professor da língua e do sorriso, chamado Pereirinha, que tinha o nome de He-í na sua língua materna.

Hegue-í não teve filhos, mas nos 50 anos que labutou junto a este povo ressurgido adotou muitos rebentos, netos e sobrinhos, tendo-os criado como se seus filhos fossem.

E deixou sábias lições que alcançam longe...

Nos últimos anos de vida, quando convidada ir ao médico para receber tratamento, determinadamente negava-se, dizendo que quem adentrasse ao hospital dali não sairia com vida.

Afinal, os tempos eram outros e a fila de óbitos que seus olhos viram, um a um ao longo dos anos, de parentes e patrícios que de lá não mais voltaram, lhe davam certeza disso.

Com uma única exceção que guardo no lado mais terno de meu coração. Foi no dia em que ela concordou ser conduzida ao hospital, pois encontrava-se com muita dor no peito. 

Mas frisou que só ia desde que fosse nos braços do então missionário que por lá se encontrava.

De corpo frágil e gestos delicados enquanto adentrava ao hospital, ela brindou-me com um sorriso e um afago de luz:

Com a mão espalmada sobre meu rosto fez um círculo sobre minha face, como que agradecendo ou quem sabe despedindo-se...

Sim, passados 16 anos, Arê Francisca ainda se encontra presente em nossos orações. 

Brasilândia, 11 de outubro de 2021.

Foto: Manuel Ferreira Lima Filho, 1998.

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