sábado, 23 de dezembro de 2023

 

Homenagem aos tropeiros, peões boiadeiros, cavaleiros e suas cavalgadas.

Carlos Alberto dos Santos Dutra












Quando a poeira baixava, o barulho do cincerro anunciava a chegada da tropa com o gado, os animais de carga e as traias da comitiva. E nela o experiente tropeiro e seus peões que, depois de uma longa viagem, dava por cumprida mais uma jornada, este verdadeiro herói das estradas”.


--Quem são esses homens que desafiam distâncias? Enfrentam o horizontes para cumprir jornadas? --Que sina é essa alimentada há tempo por tropeiros e invernadas? Herança de pai pra filho, transportando esperança? 

E lá se vão os valentes, de madrugada, tocando a tropa. Com seus animais de carga, burros, mulas e bruacas. O cavalo dos arreios, as traias, e a faca na guaiaca. A correia de couro, o peitoral, o arrocho, e o cabresto. No canto da boca, um cigarro de palha... O que não lhe atrapalha..., para o peão pensar. Na saudade e os amores que deixou prá trás. 

1-E lá vai Jorge Boiadeiro coragem. Que conhece muito bem essa história. Se apaixonou pela lida e o manejo com o gado ainda piá, em Vera Cruz, lá no interior paulista. Desde o dia 19 de outubro de 1951, quando nasceu, seus olhos já marejavam, ao ver os animais passar.  

Aos 15 anos, já em Brasilândia, viu a cidade se emancipar. Enquanto trabalhava com seu pai, numa máquina de arroz, aqui decidiu viver, se instalando no lugar. Na chácara, criando éguas. Comprando e vendendo animais. Logo montou sua tropa, de muares coisa e tal. 

E começou a viajar, já comissário de tropa. Anos 70 chegaram, e ele se aquerenciou. Namorou e casou, constituiu sua família. Todos com gosto na lida: Kleber, Erika, Larisse e o Bruno irmanados em guarida. Tantas boiadas transportadas, ao lado dos capatazes João Caju, Trajano, Tuca, Bimba. Oh, saudade.

Entre tantas tropeiradas. Mil e oitocentos bois, em uma única boiada. Maior viagem, lá no Alto Araguaia, que durou 108 dias de estrada.  

Hoje, com 72 anos de idade, Jorge Luiz Temporim, para o orgulho dos filhos e netos, ainda conduz boiadas. Não foi uma pranchada que sofreu de uma mula, que lhe fraturou a perna, que o impediria de continuar na lida. E lá vai ele, conduzindo a tropa de seus sonhos. Recolhendo os louros e glórias desta campeirada. Quanto a nós, só resta aqui homenageá-lo. 

2-Diz o ditado que a fruta não cai longe do pé. Pois na esteira do pai, Kleber Rogério, popular BIMBA, também seguiu os passos do seu Jorge Boiadeiro. Começou muito cedo a tomar gosto pela lida: conduzir gado com o pai e a peonada.  

Filho da terra, brasilandense, em 11 de novembro de 1975 nasceu. Aos seis anos floresceu e já empreendia até pequenas viagens. Que alegria, poder acompanhar a tropa. De quando em vez, os membros da comitiva caçoavam dele. Entre risos, diziam que ele fazia xixi na rede, o que o deixava contrariado. Tudo encarado com alegria e respeito. 

Isso até os 15 anos quando fez sua primeira cavalgada completa, levando sua primeira boiada. E assim, pegou gosto pela profissão firmando-se como tropeiro. Aos 22 anos se casou com Márcia Maria. Vieram os Thaís e Diego. Dez anos depois, já em Santa Rita do Pardo, continuou levando boiadas e trabalhando em fazendas. 

Foi numa dessas empreitadas que por lá também se acidentou quando o cavalo rodou causando-lhe uma fratura na bacia e órgãos internos afastando-o da atividade por meses. Foi graças ao seu empenho e resiliência, depois de passar por vários procedimentos médicos, conseguiu voltar a montar e a trabalhar naquilo que mais lhe causava prazer na vida: voltou a cavalgar e realizar as viagens levando boiada como sempre fizera. Razão que nos leva a prestar a merecida homenagem como um valente tropeiro deste município de Brasilândia. 

3- Outro tropeiro é Élio Jesus dos Santos, filho do lavorista Orisvaldo e da comerciante Ezilda. Nascido em 1961, viu seu pai falecer muito cedo indo então morar na fazenda com sua avó materna Isabel, que o apelidou de Pedro. Foi aí que Pedrinho aos 09 anos começou a gostar de montar a cavalo e conheceu o saudoso Aparício que já seguia a vida de tropeiro com comitiva no estradão. 

Aos 11 anos de idade Pedro já viajava junto a comitiva do senhor Aparício que o ensinou muita coisa sobre a profissão. Foram quase 15 anos viajando na sua companhia. Neste tempo casou-se com a Marcinha e teve uma filha, Hellen. 

Depois de adquirir onze animais muares, formou uma comitiva em sociedade com Sidney de Andrade conhecido como Jeguinho. Trabalhou também por alguns anos em fazenda dando uma pausa nas viagens do estradão. Voltou a profissão de tropeiro e foi levando gado que passou pela cidade de Paraíso das Águas onde para lá decidiu se mudar. 

E seguiu com sua família, permanecendo na atividade como condutor de gado. Hoje já não atua mais nesta profissão, mas ficou a saudade e muitas histórias para contar. Cada viagem, cada pouso, cada amigo que fez pelo caminho deixa marcado o que passou e segue orgulhoso do que viveu. Hoje a comunidade o agracia com essa homenagem. 

4-Um tropeiro de renome que merece homenagem póstuma foi Aparício Bonifácio Silva que deixou sua marca por essas estradas desde 1971 quando chegou a Brasilândia vindo de Londrina, no Paraná onde nasceu. Sempre ligado à labuta do campo, logo começou a trabalhar pelas  fazendas, entre elas: fazenda Brasília, Formoso, Limoeiro, e fazenda Fátima, com o Sr. Jorge Temporim. Foi na fazenda Boa Esperança, entretanto, que começou a formar suas primeiras tropas, através da doma de burros. 

Quando completou 25 anos, casou-se com Odete Cruz da Silva tendo com ela 4 filhos: Edmilson, Elisandra, Eliane e ElizangelaA partir daí firmou-se na profissão, trabalhando como boiadeiro por  32 longos anos, quando veio a falecer de enfarto, no ano de 2005. 

Seu Aparício levava uma boiada para Água Clara. Já estava decidido que, em razão dos problemas de saúde, não iria mais tropear pelas estradas. Pois foi nesta ocasião que, sentindo uma dor profunda no peito, caiu de sua mula e, no desvão das distâncias, e sem tempo de ser socorrido, em decorrência do ocorrido, veio a falecer. 

Ele havia nascido no dia 27 de junho de 1948. E no dia 3 de fevereiro de 2005, ainda jovem, aos 57 anos de idade, empreendeu sua derradeira viagem, despedindo da profissão, da família e dos amigos, fazendo, contudo, sempre o que mais gostou de fazer. A ele, portanto, também as nossa homenagem até querência do Céu. 

5-Outro mestre no manejo da tropa que já se foi, mas que deixou ternas lembranças, foi o senhor Gonçalo Carlos dos Reis, que desde janeiro de 2015, já se encontra na estância do Céu com o Patrão Celestial, quando deixou sua comitiva aos 83 anos de idade. 

Pois este senhor, desde menino, onde nasceu no dia 5 de dezembro de 1932, lá nas Minas Gerais, que mostrava que seria bom de laço. Ainda moço, depois de se estabelecer na região de Araçatuba, depois Andradina e Castilho, casou com Francisca Maria dos Reis, tendo com ela cinco filhos, José Carlos (Minhoca), Messias, Osmar, já falecido, Roberto (Neguinho) e Valdeci. 

Era um mineiro feliz e amante da natureza. Os filhos ainda lembram do zelo que tinha para com os animais chegando a criar na Fazenda São Jorge, onde trabalhava, a criar três filhotes de onça na sede da propriedade, apenas por puro afeto. 

Chegou por estas terras de Brasilândia por volta de 1983 quando começou a trabalhar na Fazenda Cisalpina, do saudoso Luigi Cantone, dedicando-se logo após a suas primeiras comitivas boiadeiras, sempre acompanhado de um menino esperto e alegre, o filho Roberto, popularmente conhecido como Neguinho. 

A partir de sua primeira tropa que era formada de 15 animais entre burros e mulas, na profissão se firmou cruzando campos e cerrados, com suas comitivas transportando gado para o senhor Nelson Bertiplaglia, na fazenda Pedra Branca e Taperi. Cruzou estradas também com uma comitiva histórica quando transportou animais para o senhor Isoldino Ferreira, na fazenda Califórnia, chegando ao feito heroico de tocar 320 cabeças de boi desta fazenda até a fazenda Santa Helena, em Naviraí, aqui no Mato Grosso do Sul. 

Sim. Seu Gonçalo Carlos do Reis, fez sua profissão em cima de um burro, e domava-o com sabedoria e destreza. Um homem que se orgulhava de nunca ter caído de um animal, mesmo aquele mais xucro pulador. 

Nas caçadas que realizava, sempre muito habilidoso, não usava arma de fogo: capturava a presa no laço. Depois de abatida e assada, saboreava com todos a sua volta o valor da amizade, ao som da boa música caipira de raiz, bem ao estilo do homem do campo, dos antigos tropeiros que aos poucos nos escapam da memória, mas que hoje homenageamos. 

--Sim, meus amigos, o tempo não para. Assim se fizeram fortes e experientes esses senhores. Tropeiros, peões boiadeiros, cavaleiros e suas cavalgadas, firmando os cascos da tropa, nas trilhas empoeiradas que o asfalto com o tempo cobriu. Mas que ainda assim, insistem e resistem, com gana e garra,  pela margem do estradão. 

Fazem pulsar o coração da comunidade, vendo esses heróis bons de laço ainda rijos sobre suas mulas e cavalos. E nós aqui que a tudo assistimos, resta-nos acolhe-los com um abraço de gratidão e orgulho, saudando a todos com esta singela homenagem.

 

Brasilândia/MS, 17 de dezembro de 2023.

Fonte: Com informações fornecidas pela Drª Larisse Temporim. Fotos: Rogner Walter - Agência Anunciar Certo e Álbum de Família. Confira também: Cavalgada (brasilandia.ms.gov.br)

Jorge:


Bimba:



Pedrinho:


Gonçalo:

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

 

Catarina e o Natal que mais cedo chegou.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

Hoje, 21 de dezembro de 2023, no hemisfério Sul, inicia o Verão. E no hemisfério Norte, temos o início do Inverno. Não, não estamos no Alaska ou na Noruega, na Finlândia ou nas ruas da nostálgica Londres. Lá os ramos das árvores tornam-se brancos como a neve, enlevando o espírito de todos neste tempo de Natal que vivemos.

Estamos no Brasil e a um sol de 40 graus que nos faz buscar lugares sombrios, arejados e refrescantes. Sensação que impulsiona, até mesmo os mais diminutos rebentos da natureza a buscar um lugar de melhor aconchego.

Talvez por causa do clima, é como se o Natal, por aqui, tivesse pressa. O vir ao mundo e dar à luz, sinal da renovação da esperança, são sinais que demonstram o quanto estamos ansiosos para ter nos braços esse Menino.

São tantos Meninos que nascem em diversas partes do mundo. E todos eles chegam para encher os corações de alegria de seus pais e suas comunidades. 

Sim, Natal é sinal de nascimento. E aqui, no coração da Cidade Esperança, no seio da nossa comunidade Paróquia Cristo Bom Pastor, um nascimento especial pode ser comemorado e cantado, cheio de graça.

Esperado e amado, este nascimento – à semelhança do Menino Jesus --, eis que se encontra agora nos braços de uma mãe, balbuciando, quiçá, palavras que só o coração entende. Lágrimas de gratidão, é impossível contê-las. 

E lá está também o pai, com o peito radiante de felicidade, que só tem olhos para aquela criança. Inocente, ela representa uma cadinho de seu esforço e testemunho de fé que o tem movido com a graça de Deus para seguir em frente. É como se anjos celestes rufassem suas asas sobre aquela menina cumulando-a de luz e bênçãos.

Sim. Seu nome – Catarina --, há muito foi pronunciado e festejado por parentes e amigos. Foi cultivado e celebrado com todo o carinho e afeto por muitos. Motivo de preces e votos à Virgem do Bom Parto dedicados àquela mãe por sua comunidade de fé.

E lá a encontramos, Janaína, dedicada ministra do altar do Senhor, ao lado do esposo, Júlio, desdobrando-se em tamanho zelo, dedicação e alegria com a chegada dessa criança, filha amada.

Seja bem-vinda Catarina. A comunidade católica a acolhe e agradece aos Céus, ter-lhe antecipado o Natal revelando o rosto materno e feminino de Deus entre nós. Sim, que saibamos entoar as mais belas canções de ninar, num coro de milhares de anjos, pelo mundo afora, para desejar Paz, Amor e Felicidade a todos nós inspirados nesta menina.

Parabéns Janaína, Júlio e Catarina. Que o Deus Menino os abençoe.

Brasilândia/MS, 21 de dezembro de 2023.

Foto: @ Júlio e Janaína. WhatsApp Terço dos Homens.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Feliz Aniversário Padre Jorge Paim dos Santos

Diác. Carlos Alberto dos Santos Dutra



Caro amigo Padre Jorge Paim dos Santos. Paz e bem.

Sim, já faz muito tempo. Estamos nos anos 1980 e mais de 40 anos se passaram. Mas seu rosto ainda guarda o mesmo brilho de antigamente. Brilho de otimismo e esperança no futuro. Seus passos e caminhar, embalados pelo frescor da juventude, frutos de uma caminhada de fé, pautada na convicção de poder ser útil à construção de uma sociedade o mais cristã possível, ainda permanecem.

Sim, mas não estavas só. Eles também lá estavam. Naquela pequena comunidade de teólogos, no bairro Parthenon, mais precisamente na rua Santa Maria, em Porto Alegre/RS, no pé da Vila Vargas e Morro da Cruz. Foi ali que os seminaristas vindos das Dioceses de Bagé e Pelotas, do interior do Rio Grande do Sul, exerceram suas atividades pastorais voltadas para comunidades isoladas e carentes de toda a sorte naqueles tempos bicudos.

E você estava ali, Jorge Paim dos Santos, ao lado de Roque Paloschi, Luiz Zanetti e Carlos Alberto dos Santos Dutra, com o mesmo estilo da foto acima que ilustra este texto redigido em homenagem ao teu aniversário. Sim, esse quarteto em sua juventude fez e em sua maturidade continuou fazendo história e semeaduras pelos campos do Senhor. 

Necessário lembrar que na mesma época ali conviviam naquele espaço de formação e estudos teológicos, como bons filhos da PUCRS, também Cláudio Alves de Deus, Sady Luiz Manfron, Flávio Martinez de Oliveira e o saudoso e sempre lembrado Pedrinho que Deus o levou mais cedo, companheiros inseparáveis.

Sim, tratava-se de uma das pioneiras comunidade de vocacionados adultos, seminarista da teologia que iniciavam uma experiência ad extra, fora dos seminários tradicionais. Uma experiência de inculturação junto a uma comunidade urbana participando do seu dia a dia, desafios e sobrevivência. 

Enquanto o costume das Dioceses era enviar seus seminaristas filósofos e teólogos do clero diocesano para o Seminário de Viamão, os Bispos de Pelotas e Bagé, num gesto profético e ação partilhada montaram essa comunidade em Porto Alegre/RS para acolher e dar impulso a seus vocacionados.

Bispos que ousaram e deram asas para a ação do Espírito Santo sobre seus afilhados. Vivia-se um tempo propício à encarnação, prática proposta pela Igreja que, por meio das orientações pastorais de Medelin e Puebla, abriam as portas dos templos, os sacramentos e os ministérios, para uma ação mais concreta e histórica, em favor dos mais necessitados, levando a risca a opção preferencial pelos pobres apresentada pelos documentos episcopais da época.

E lá estavam Dom Jaime Chemello, pela Diocese de Pelotas, e Dom Ângelo Mugnol, depois Dom Laurindo Guizzardi, pela Diocese de Bagé, promovendo e garantindo a orientação espiritual dos seminaristas, visitando-os periodicamente e com eles se reunindo para avaliação e planejamento pastoral.

Sim, foi um tempo de aprendizado e formação, espiritualidade e conversão que deu oportunidade àqueles jovens poder se entregar inteiros à causa do Reino a partir dos pequenos gestos e o serviço aos mais pobres e excluídos. Lições de um aprendizado que deixaram marcas indeléveis em todos os que por lá passaram.

Período que consolidou frutos e graças: as vocações de Padre Luiz Zanetti, Padre Cláudio Alves de Deus e Padre Flávio Martinez de Oliveira, que hoje são sacerdotes no Rio Grande do Sul; a vocação de Padre Roque Paloschi, hoje  bispo Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho/RO; Carlos Alberto dos Santos Dutra, que é Diácono permanente no Mato Grosso do Sul, e Sady Luiz Manfron que seguiu a vocação matrimonial.

Pois bem amigo e colega Padre Jorge Paim dos Santos, que nesta data, 18 de dezembro de 2023, festejas 40 anos de ordenação sacerdotal e 65 anos de vida, a Igreja está completa e a alegria é imensa. Aceite, pois, as orações de ação de graça que uma legião de amigos sobre ti lançam em razão da bela e virtuosa caminhada que empreendeste com fidelidade ao Evangelho. Que a tua alegria seja também a alegria de todos, teus familiares e amigos -- também os colegas de seminário --, que conquistastes ao longo do caminho.

(...) Não fossem os compromissos e a distância, neste tempo de Advento, gostaríamos de poder abraça-lo pessoalmente e externar a nossa alegria por saber que a vida foi maravilhosa para ti. E a opção que tomaste, assim como a de teus colegas, foi a melhor de todas, porque escolhida e abençoada por Deus. Um grande abraço e que o Natal lhe seja repleto de bênçãos e alegria. Parabéns e Feliz Aniversário.

Brasilândia/MS, 18 de dezembro de 2023.

Diác. Carlos Alberto dos Santos Dutra (Carlito), família e comunidade.




sábado, 16 de dezembro de 2023

 

Como celebro o nascimento de Jesus?

Diác. Carlos Alberto dos Santos Dutra (Carlito)


 



As leituras de hoje nos colocam frente a frente com as palavras de Isaías, Paulo e João. Isaías, proclama o tempo da graça do Senhor. Faz o anúncio do tempo novo. Tempo de curar as feridas da alma e de libertar os que se encontram presos a algo que os impede de ser felizes. Paulo nos incentiva a viver este tempo com alegria, rezando sem cessar e dando graças a Deus em todas as circunstâncias de nossa vida. E João, pela boca de João Batista, clama que a mensagem de Cristo é a voz que grita no deserto, pedindo aos discípulos que aplainem os caminhos do Senhor. A voz de um homem que prepara outros os homens para acolher Jesus, a luz do mundo, o Poderoso, que o Salmo cantou, e que fará em cada um de nós maravilhas.

Este é o roteiro da Palavra neste 3º Domingo do Advento e que em síntese nos convida a refletir sobre uma pergunta: Como celebro o nascimento de Jesus? Celebro um acontecimento do passado que deixou marcas na história OU celebro o encontro com alguém que é luz e ilumina a minha existência? O cerne da questão aqui, é a palavrinha “encontro”. Com quem eu me encontro hoje? Com quem gasto a maior parte do meu tempo?

Todos sabem, vivemos hoje num mundo repleto de vendedores de sonhos e propostas de felicidade, algumas delas, absolutamente garantidas, elas nos chegam e enchem os nossos olhos: 

É o novo aplicativo que, nada inocente, aos poucos vai entupindo nosso celular; é o novo cartão de crédito virtual sem taxas de um banco que nem sabemos onde fica; é a oferta de compras parceladas a perder de vista pela internet e tantos outros sonhos de consumo que nos atraem e nos seduzem. E que no fundo, nos manipulam, nos escravizam, roubando o tempo de todos nós.

E quando todo esse brilho, dos atrativos, não conseguimos alcançar, passamos a alimentar um sentimento de decepção com a vida, uma onda de infelicidade começa a invadir o nosso coração. Passamos então a viver angustiados, inquietos, perdidos, frustrados. Presas fáceis para outras crenças, verdades e rumos estranhos para o nosso existir.

Que fazer, então? As leituras de hoje nos falam pela boca de João Batista que só Jesus é a luz capaz de libertar os homens dessa escravidão. Só Jesus é capaz de nos mostrar o caminho da verdadeira felicidade. Por isso Ele nasce todos os anos no Natal, para encher o coração dos homens, em toda a face da terra, que são seus filhos, da mais pura esperança e confianças no Salvador que virá.

Ah. Mas como é difícil não dar atenção àquilo que está na moda, o novo modelo de tudo, o politicamente correto, o brilho das lives e a exposição gratuita da intimidade das pessoas nas redes sociais, sem perceber a banalização da vida e dos valores mais caros à família e ao ser cristão?

Como não dar atenção àquilo que nossos amigos e contatos pensam sobre os diversos temas da realidade e da vida? Como não curtir as publicações machistas, racistas e antidemocráticas postadas por quem mais amamos? Ah, quanto dói. Quantas vezes calamos para não perder amigos, negando a nossa própria fé?

Mas, e os valores de Jesus? Como é que ficam? Eles têm algum peso na nossa vida? Eles são considerados fardos pesados demais para serem anunciados?

Sabe, meus irmãos, seguir a Jesus não é um peso para o cristão. São Paulo nos fala hoje que seguir a Jesus deve ser um gesto de alegria. A alegria é um modo de ser e estar em sintonia com a vida e a graça de viver. Viver o contentamento de ser conduzido por quem me ama e me chama todos os dias para que eu dê testemunho desse amor, que eu seja grato pela vida.

Testemunhar Jesus. Eis o desafio do nosso tempo. Dar testemunho de suas ideias, de suas palavras e de seus gestos. Dar testemunho da fraternidade, respeito e solidariedade, justiça e liberdade que Ele mesmo praticou com toda sua força até o último suspiro pela vontade do Pai.

Celebrar o Natal é isso. Viver esse encontro. É saber reconhecer Jesus quando Ele vem, nas suas diversas formas: no pobre que nos estende a mão; no ramalhete de flores que recebemos dos amigos; na visita do afilhado distante que lembrou do padrinho; nos braços abertos da mãe e dos filhos para acolher em  casa a todos que desejam e cultivam a paz e o amor.

Celebrar o Natal é deixar Jesus bambino entrar em nossa morada, fazer parte da nossa família e se tornar posseiro em nosso coração. Preparemo-nos, pois, para achegada do Natal aplainando os caminhos para sua chegada. Para que o Menino não tropeça em alguma pedra que nós mesmos esquecemos de remover, e tarde a nos encontrar.

Iluminemos, pois esse caminho com a luz de seu Santo Espírito para que Ele venha direto para os nossos braços e nos ajude a desinstalar da nossa vida aquilo que não constrói o Reino de Deus. Que Ele nos ensine a desviar o olhar da tela do celular e passe a olhar mais para o irmão que se encontra ao nosso lado à espera de uma oportunidade para também nos desejar um Feliz Natal. 

Isso tudo porque o Senhor fez e irá fazer em nós maravilhas! Alegrai-vos, portanto, com este encontro. Alegrai-vos sempre no Senhor, pois Ele está perto! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Paróquia Cristo Bom Pastor, Brasilândia/MS, 17 de dezembro de 2023. Fonte e Inspiração: Liturgia - Dehonianos

domingo, 10 de dezembro de 2023

 

O Natal e o rosto suave de Daniel.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

Seu nome é Daniel. Mas poderia ser também João Batista, aquele que aplainou os caminhos, endireitou as veredas e pediu conversão para que o Príncipe da Paz fizesse morada entre nós.

E ei-lo cá nos braços da comunidade, frágil e terno, livre e belo, como que nos mirando a alma, espreitando o nosso íntimo e sondando nossos sentimentos.

Ah. Que vontade, meu Deus, de aprender e reaprender com este menino, a recuperar a confiança de me entregar a Ti..., presente nos braços da mãe, da família e dos irmãos na fé.

Ah. Que necessidade, meu Deus, de aprender e reaprender com este menino a ser paciente, sorrir e esperar em Ti..., que tudo sabe e tudo vê, e que é o Senhor da História.

E, então, receber do Alto um toque de luz: o calor de um abraço, a segurança na dúvida, o conforto na tristeza; alcançar o socorro para o desafio de ver este menino, um dia, sorrindo, saudável e feliz.

Sabedoria para vencer as distâncias e as longas noites de espera: por um médico, por um exame, pelo recurso que não chega. E ajudar a dedilhar o Rosário de penas que compõe a oração singela daquela jovem mãe sempre presente.  

Ah. Somente a inspiração da Estrela de Belém que nos brinda com o Natal verdadeiro será capaz de conformar a humanidade para o que realmente importa. 

Somente o toque real sobre a face límpida e suave deste anjo que carregamos nos braços, será capaz de enriquecer o Espírito que habita em nós.

Sim. É Daniel que nos abraça. É o próprio Cristo que nos abraça, em sua fragilidade e potência transformadora, e que constantemente nos interpela na busca da paz. 

Abraço que anuncia o Dia que logo, logo, vem -- cheio de alegria e esperança --, com o Menino Jesus em  nossos corações.

Comunidade São Vicente de Paulo, Brasilândia/MS, 2º Domingo do Advento, 10 de dezembro de 2023.



sábado, 9 de dezembro de 2023

 

Homens do Terço: a Oração e a Ação.

Carlos Alberto dos Santos Dutra



Nos últimos meses, com a capilaridade das informações carreadas pelas redes sociais para o seio da comunidade, não há como não perceber um movimento de extraordinária relevância que acontece e toma corpo no coração da Paróquia Cristo Bom Pastor, de Brasilândia/MS.

Trata-se de um rol de atividades e serviços desenvolvidos por um grupo de fiéis que, após reunirem-se todas as terças-feiras, onde rezam uma terça parte do Santo Rosário, arregaçam as mangas e, no decorrer da semana, transformam a Oração em Ação.

Sim. São os chamados Homens do Terço que, com obstinada dedicação se propõem a colocar os seus dons a serviço da Igreja, a começar pelo trabalho e zelo pela sede da matriz onde celebram e cultivam a sua fé.

Não. Não são uma congregação de irmãos, confraria ou clube seleto e fechado. Ao contrário, estão abertos, solidários, e a cada dia este grupo pastoral do Terço dos Homens cresce. 

Inspiração que nasceu há mais de 20 anos com os padres Maurício e Luiz Carlos, a messe e os operários frutificaram lançando sementes para o surgimento também do Terço das Mulheres que passaram a se reunir nas quartas-feiras para rezar com a mesma devoção.

E lá estão eles, lavando o piso do templo e salão paroquial; lixando e pintando bancos e portas da igreja; consertando instalações e equipamentos avariados; carpindo e podando árvores no entorno da matriz. Tudo de forma voluntária, desprendidos, e contagiante alegria proativa.

A lista de atividades não estaria completa se não mencionarmos as ações solidárias ad extra que o grupo se dispôs a realizar: serviço de estacionamento em festas beneficentes; campanhas de arrecadação solidárias à outras entidades; participação em celebrações e sacramentos nas comunidades e capelas, como fiéis escudeiros em quem o pároco de Brasilândia, sempre pode contar.

As ações realizadas por esses servos manifestam, sem dúvida, o zelo que devemos ter com as coisas do Alto. Da mesma forma, somente o Pai, que está no Céu poderá mensurar e abençoar estes seus filhos.

Filhos que, em rede de WhatsApp são capazes de, rapidamente, mobilizar dezenas de cidadãos e pais de família, de operários a empresários, e reuni-los, a exemplo de Jesus de Nazaré que também partilhou da mesa com os comensais na festa da Liturgia da vida, prenúncio do Reino prometido que virá, fruto de nossas Ações e Orações.

Parabéns Pe. Ronaldo, Serginho, Cido, Coxiba, Deomir, Marcos, Edi, Firmino, Guilherme, Guincho, Tonho, João, Jorge, Soriano, Quintino, Júlio, Lucas, Lúcio, Luilson, Luiz, Mauricio, Nico, Nivaldo, Jefin, Deley, Rafael, Zuque, Samuel, Silvério, Valdecir, Max, Adilson, Ailton, Alaor, Nezinho, Anderson, Toninho, Beto, Carlos, Dalmo, Danilo, Diego, Dirceu, Gabriel, Eder, Aparecido, Edinaldo, Edmilson, Edson, Enzo, Geferson, Geraldo, Gilberto, Helton, Henrique, Hilton, Idalécio, João, Fábio, Bueno, Zé, Leandro, Léo, Luciano, Manoel, Milton, Paulo, Pedrinho, Renato, Rodrigo, Sandrinho, Vagner, Valdionor, Vitor, Wilson, entre tantos outros que integram esta legião de arautos. Deus os abençoe.


Brasilândia/MS, 09 de dezembro de 2023. Dia de São Juan Diego Cuauhtlatoatzin e a Nossa Senhora de Guadalupe.  

 

domingo, 26 de novembro de 2023

 

Parabéns Professores Inovadores e Inclusivos de Brasilândia

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

Naquela tarde a chuva caía mansa sobre a aura daqueles mestres. Uma espécie de bruma os envolvia presos ao liame de seus corações e mentes. Impossível não ser tomado pela emoção ao ver reunidos ali uma pequena amostra do talento e criatividade do corpo docente e discente de um setor da sociedade tão duramente exigido e que carrega nos ombros a responsabilidade e esperança de gerações no campo do saber idealizado de forma igual e integral para todos.

A intenção foi  de reunir por meio de um prêmio – Professor Inovador e Inclusivo --, a iniciativa de professores e comunidade sobre o que pensam os alunos e espera a Educação para o tempo que se chama hoje, apontando rumos e semeando luzes para o amanhã. Professores  inovadores capazes de transformar o imaginável em projetos palpáveis, sonhos possíveis, incluindo todas as dimensões do ser humano.

Em rápidas palavras, tomo a liberdade de reunir a ideia principal dos 12 projetos desenvolvidos pelo Ensino Fundamental e que foram apresentados no concurso cujos prêmios foram entregues em solenidade que ocorreu no anfiteatro do Centro Cultural Ramez Tebet. Sem dúvida, por revelarem a força e a criatividade com que abraçaram seus objetivos, merecem nossas homenagens.

E lá  estavam eles, aqueles rostos de jovens e adolescentes orientados pelos seus professores que, com ousadia e audácia, rompem com o obscurantismo de outrora, mostrando ao mundo o quanto é possível realizar e o quanto ainda temos que progredir e avançar:

A professora MARLEM VICIOLI DOS SANTOS RIBEIRO, da Escola Municipal Antônio Henrique Filho, reuniu 53 alunos em torno de um projeto com o objetivo de  Explorar Números Decimais com Tecnologia. Tendo como ponto de partida a experiência prática do Mercadinho Virtual e outras atividades, os alunos exercitaram operações com números racionais buscando, na prática, elaborar e resolver problemas, fazer estimativas, realizar arredondamentos e controle de gastos, numa atividade por demais atual e necessária. A proposta desta professora classificou-se em 6º lugar no Prêmio Professor Inovador e Inclusivo de Brasilândia 2023

A professora ANA LÚCIA BARBOSA ALVES ALENCAR, da Escola Municipal Arthur Höffig, e seus 40 alunos desenvolveu o projeto também nesta mesma linha: Economize para Sustentar, com olhar para a Educação Financeira e Ambiental. Com o objetivo de impactar a vida e o comportamento financeiro da comunidade escolar o projeto buscou promover mudanças no cotidiano dos alunos com reflexo em suas famílias, discutindo temas como o ato de poupar, o consumismo, a influência da mídia e a importância da reciclagem para a economia do planeta. Projeto que lhe garantiu o 2º lugar no Prêmio Professor Inovador Inclusivo de Brasilândia 2023.

No campo dos avanços tecnológicos e da era digital, o professor ELIAS AZEVEDO DA SILVA, da Escola Municipal Antônio Henrique Filho envolveu 110 alunos com o projeto Geografia em Rede, trazendo para a sala de aula a Sócio Biodiversidade do Brasil, ao vivo e a cores, como ele mesmo observa, reunindo professores e estudantes de diferentes região do país numa metodologia interativa onde os resultados foram perceptíveis a olhos vistos pelos alunos e professores de Norte a Sul do país que participaram. Um projeto inovador de troca de experiências, realidades e jeito de ser, entender e fazer. Projeto que lhe garantiu o 4º lugar no Prêmio Professor Inovador Inclusivo de Brasilândia 2023. 

A professora GISELE DE LIMA ALVES LEITE, reuniu 65 alunos da Escola Municipal Arthur Höffig e apresentou uma experiência de aprendizagem igualmente inovadora: mais envolvente e significativa que as usuais nas disciplinas de História e Geografia: Conhecer para Pertencer. O contato com obras literárias, patrimônios locais e visita a pontos de referência cultural e ambiental do município, projeção de filmes e a capsula do tempo foram momentos que os alunos ativamente vivenciaram. A iniciativa mereceu a 3ª colocação do Prêmio Professor Inovador Inclusivo de Brasilândia 2023.

A professora ALINE DE CARVALHO SILVA, da Escola Municipal Antônio Henrique Filho, mobilizou os alunos do 4º ao 9º ano por meio de uma retumbante Gincana que mobilizou a comunidade escolar com o tema Práticas Ambientais Sustentáveis envolvendo nada menos do que 590 estudantes que foram instigados através das disciplinas do currículo a arrecadar  tampinhas plástica, esponjas de louça e óleo usado, sensibilizando a comunidade escolar e a sociedade em geral para a importância da coleta seletiva dos resíduos sólidos, tema de extrema atualidade e urgência ambiental para a sobrevivência do planeta. Uma maravilha de projeto que, não obstante obteve o 5º lugar no Prêmio Professor Inovador Inclusivo de Brasilândia 2023.

A professora MARCIANA SANTIAGO DE OLIVEIRA, pela Escola Municipal Antônio Henrique filho, apresentou o projeto Africanize, propondo a construção de uma educação antirracista, anticapacitista e horizontal. Envolveu 180 alunos entre protagonistas e diretamente envolvidos, impactando um total de 650 alunos, abrindo um leque de participação, inclusão e parceria de autores, artistas, instituições dos diversos segmentos da comunidade. Rico em expressões culturais que afloraram da própria comunidade o projeto promoveu metodologias ativas de valorização da identidade racial oportunizando aos alunos maior conhecimento e contato com a cor dos antepassados, espaço de diálogo entre a comunidade escolar e a sociedade conclamando-a a livremente manifestar-se. Sem dúvida o projeto que fez jus ao 1º lugar do Prêmio Professor Inovador e Inclusivo de Brasilândia 2023.

A professora ANA FLÁVIA MIRANDA MARTINS, através da disciplina em que é mestre -- a Geografia --, abordou o tema do uso das Ferramentas Digitais na construção da Aprendizagem. Para tanto reuniu 98 alunos do 5º ano D e E, e 6º ano C e D, habilitando-os e incentivando-os a adentrar o mundo das plataformas digitais, organizando imagens e sons, fazendo-os viajar agradavelmente, pelo Google, de forma coletiva com a comunidade escolar da Escola Antônio Henrique Filho que recebeu medalha de Participação.

A professora ANA IVA CORRÊA BRUM BARROS, pedagoga da Escola Municipal Arthur Höffig, apresentou o projeto Estação da Aprendizagem, reunindo 68 alunos em busca de recuperar aprendizagens, recompor déficits apresentados, sempre valendo-se de metodologias atrativa e lúdica, buscando oferecer recursos que despertassem o interesse dos alunos. O resultado inovador foi o avanço nos níveis da escrita e influência da leitura em cada estudante, o que lhe garantiu igualmente medalha de Participação. 

A professora EDNA CUSTÓDIO BERALDO DE SOUZA, da Escola Municipal Paulo Simões Braga e seus 21 alunos do 4º ano realizaram o projeto Álbum de Leitores buscando despertar nos alunos o gosto e prazer pelo mundo da leitura. Para tanto a pedagoga trabalhou com os gêneros literários e estabeleceu um roteiro de atividades que foi desenvolvido pelos alunos: a hora da leitura, a escolha da leitura e o álbum de leitura, projeto recebeu medalha de Participação.

A professora ANA PAULA MONTEIRO DA SILVA LEONEL reuniu 15 de seus alunos do 2º ano do Ensino Fundamental em torno de uma ideia que buscou resgatar Memórias através de fotografias no horizonte da Geografia e da História. Incentivou, assim os alunos a explorar o conceito de memória por meio de fotografias identificando, por exemplo, objetos, tipos de moradia comuns a cada época, também de nossa cidade, questionando o descarte das coisas do passado em oposição a importância da preservação cultural desses bens. Este projeto recebeu medalha de Participação. 

A professora ROSÂNGELA  MARA DE SOUZA, desenvolveu junto a sua turminha do 1º ano da Escola Paulo Simões Braga o tema Brincando também aprendo voltado para os aluninhos com TEA – Transtorno do Espectro Autista, trabalhando as dificuldades de aprendizagem  não descuidando do enfrentamento à discriminação e propondo metodologias que estabeleçam as mesmas oportunidades e possibilidades que os demais, valendo-se de atividades apresentadas de forma lúdica e simples. De igual sorte, um projeto inclusivo que recebeu medalha de Participação.

No mundo das novas tecnologias, a professora MAURA MOREIRA DE SANTIAGO envolveu em torno de 150 alunos da Escola Antônio Henrique Filho na seara do mundo da IA-Inteligência Artificial e da comunicação visual na busca de solução de conflitos e autogestão emocional dos alunos, num mundo cada vez mais digital que impactam a vida e o sentimento dos estudantes e suas comunidades. Este projeto foi agraciado com medalha de Participação. 

Por fim, cabe dizer que os projetos apresentados neste Prêmio Professor Inovador e Inclusivo encerram todos uma imensa variedade e riqueza de abordagens e resultados obtidos. O que só reafirma a qualidade da Educação empreendida em nossa cidade e a confiança que a comunidade escolar deposita na gestão que não se cansa de mirar o amanhã. Parabéns, professores, alunos e comunidade. 

Brasilândia/MS, 23 de novembro de 2023.

Confira as fotografias do evento em: (3) Facebook

Aos Professores do Ensino Infantil confira a homenagem:

https://carlitodutra.blogspot.com/2023/10/aos-professores-mestres-dos-sonhos.html


quinta-feira, 16 de novembro de 2023

 

O Selê e seu dia de alegria no Céu.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

Roda serelepe o tempo e lá estão eles com suas violas, pandeiros, chocalhos e percussão lembrando os valores da terra que muitos deixaram para trás: o Nordeste, as Minas Gerais, os paulistas e o Sul deste imenso país, que aos poucos foi transformando a cidade numa imensa salada multicultural de raças, costumes, gostos e sons; manifestações artísticas que espontaneamente brotavam ao som do berrante, em meio ao mugido do gado das fazendas, sítios e chácaras; aldeias indígenas, distritos rurais e povoados. 

E foi neste caldo de cultura que lá se encontrava, entre tantos talentos da terra, uma dessas vozes e um som, livremente entrando e saindo das rodas de samba e de amigos, festas de aniversários, bailinhos e eventos esportivos promovidos pelos administradores locais cada um ao seu tempo e estilo (...). 

Um talento que há anos firmou-se na história musical de Brasilândia e embalou os sonhos da juventude nos bailes do Salão Municipal, Associação Atlética Brasilandense - AAB e Associação Recreativa Máster - ARM, Rotary Clube, sítios e fazendas, estabelecimentos comerciais e casas de amigos a partir dos anos 70. 

Sim, estamos falando do artista Selê, o Oliveira Soares Gonçalves e seu lendário Musical Sombras, que inspirou o Grupo Nascer do Sol, os Coringas, e, por fim, o autoral, Selê e seu Grupo. 

Nascido no dia 1º de setembro de 1954, no distrito de Jaciporã, em Dracena/SP, era uma figura rara de nossa cidade.  Ele veio para Brasilândia com os pais em 1970, trabalhando inicialmente na serraria Xavantes. Desde menino produzia seus instrumentos musicais com objetos que encontrava: uma simples lata era transformada em bateria, e os vizinhos reclamavam da barulheira. 

Nesta cidade esperança, logo fez amizades com todos, em especial os aficionados pela música: Josias Caetano, Ismael Caetano, Elifas Veles, Paulo Borges e muitos outros jovens da então pacata cidade. 

Reuniam-se nos finais de tarde para tocar e cantar; era a única diversão da época. De tanto cantar Malaguenha, foi logo sendo chamado de Salerossa, depois, Selerossa e por fim, Selê.  

No final da década de 70 o baixista e técnico de som começou a tocar em bailes organizados pelo senhor Ostelino Cardoso (in memoriam); depois veio o primeiro grupo musical criado pelo senhor Ditinho do Táxi, onde atuavam Sele, Paulo Borges e Wilton da Sanfona, (de Santa Rita do Pardo). 

Depois veio o Grupo Coringas, com Paulo Borges, Aparecido dos Santos (Cido), Wilson Santos e João Soares (Salsicha). No dia 5 de maio de 1990, Os Coringas animaram o baile de formatura do 3º Magistério do Ginásio Escolar Adilson Alves da Silva, evento realizado no Clube (Salão) Municipal. 

Na década de 1990 surge nova formação musical: O conjunto Sombras formado pelas palavras Som + Brás (o Som de Brasilândia), com Wanderlei Bueno (Wando), Selê, Betão (in memoriam) Jamelão, Henrique, Bugão, Ricardinho Pereira, Danielzinho e outros com passagem mais rápida.

É. Mas o tempo não para. A partir de 2000, o grupo tornou-se Selê Som, com Selê e Denis, a partir de som mecânico, que permaneceu por vários anos, com parceria de seu filho Kelcio Souza. A esposa, Profª Joana Nogueira Gonçalves, lembra que ele sempre tocou de ouvido, como ele mesmo dizia: não entendo partitura (...). 

No palco florido de amigos para onde o instrumentista dedicado -- o Selê da alegria -- foi conduzido pelas mãos de anjos celestes no dia de ontem, certamente não faltarão instrumentos para ele continuar fazendo o que mais lhe dava satisfação na vida e tornava os outros felizes: através da música desvendar os segredos da vida e da felicidade. 

Descanse em Paz amigo Oliveira Soares Gonçalves, nosso estimado artista musical Selê.

 

Brasilândia/MS, 16 de novembro de 2023.

Fonte: História e Memória de Brasilândia/MS, volume 2-Patrimônio, Cantores e Vozes da Terra, pág. 13s.




 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

 

Seu Alcides e as imagens do coração

Carlos Alberto dos Santos Dutra



Lidar com o gado é uma arte. É necessário ter nascido com o dom e saber aproveitar a oportunidade que a vida nos dá. Foi assim com Alcides Gonçalves Diniz, com quem tive a satisfação de conversar num dia desses que já vai longe. Era o dia 22 de julho de 2016.

A ideia de colocar este relato num livro prende-se ao desejo puro e simples de homenageá-lo e junto dele a todos aqueles que dedicaram sua vida à lide do campo.

A casa simples por fora, pátio asseado, e por dentro escondia um tesouro que o tempo não destrói. São imagens que se encontram plasmadas na memória e se materializam nas paredes daquela pequena casa por onde circula um aroma de fazenda.

Paredes bordadas de troféus e imagens estampadas em fotografias de todos os tamanhos revivem um tempo distante, que já se foi, mas que todas as manhãs insistem em saudá-lo e desejar-lhe bom dia.

Olhar aguçado sob a sombra da aba do chapéu, corpo esbelto e mantendo a indumentária campeira sempre à vista, faixa sobre o cinto de couro, bota cano curto e o inseparável canivete completam a vestimenta do homem da cidade, mas que um dia se vestiu muito mais a caráter para enfrentar o rigor da lida no manejo dos animais e da tropa.

Gentil e obsequioso seu olhar repousa sobre as fotografias cuidadosamente molduradas em quadros que os faz recordar o tempo de infância, desde quando nasceu, lá nos idos 5 de maio de 1938.

Sim, foi na sede da velha matriz da firma inglesa apelidada de marca argola, Fazenda Boa Esperança, que a criança deu o seu primeiro choro, à semelhança de um bezerro desmamado com saudade da mãe. Depois de moço veio aprender com o capataz Antenor Fonseca, o ofício de vaqueiro e tocador de tropa.

E lá se encontra ele na bela planície da Fazenda Fátima, onde muito trabalhou e cavalgou. As imagens e o som característico do ranger das rodas do carro de boi, tocado por dez bois, aponta ele com o dedo orgulhoso.

Noutra imagem o burro de broaca. Mas o que é broaca? Pergunto. Ao que me responde com um sábio sorriso: --é um caixote de couro e pau para colocar alimentos nos dois lados do burro para acompanhar a comitiva, brinca.

A emoção destes tempos primeiros lhe invade a alma e ele volta no tempo percorrendo o Retiro Sapé, hoje Fazenda Sertaneja, dizem; o seu tio que foi capataz; o Olegário que lhe ensinou a lide; e o matador de onça contratado pela fazenda para garantir a segurança do gado, José Joaquim de Carvalho.

Em outras fotos contemplamos a porteira e duas cabeças de boi na entrada da Fazenda São Cristóvão, do Diogo, lembra ele. Noutra foto ele, seu Alcides, perfilado ao lado de um touro, próximo às casas da colônia, animal que só ele podia tocar, me informa com um sorriso nos lábios.

E lá segue ele, mostrando-me uma coisa ou outra, falando em voz alta o nome dos irmãos e parentes de seus quase dez irmãos: Benício, Assis, Eunice, Edite, Enilda, Hermínia, entre outros. Agora está dentro de um galpãozinho no fundo da casa e me mostra suas tralhas e arreios utilizados nos cavalos que montou. Coisas que não esquece.

Pega na mão dois ou três arreios e perfila-se para tirar uma fotografia. Lembra então que está sem chapéu e rápido vai buscá-lo para logo se aprumar para a fotografia. Entre os seus pertences, ainda nos mostra uma espécie de pelego que chamou de coxonilho, que ao encilhar o animal ia por cima da badana, informa.

Ao despedir-me e agradecer a oportunidade de conhecer um pouco de sua história, ele me abraça e também me agradece por ter lhe dado aquele momento mágico de reviver no tempo o passado que ainda lhe alimenta a esperança de viver e seguir em frente com a consciência de ter realizado o que mais lhe dava satisfação na vida: camperear em comitivas.

E assim com ele, seguimos nós, nesta trilha... aprendendo sempre um pouco mais com a vida.


Brasilândia/MS, 13 de novembro de 2023. Publicado originalmente em http://carlitodutra.com/seu_alcides_e_as_imagens_do_coracao.html, em 02.Abril.2017. E no vol. 3-Cidadania, da coleção História e Memória de Brasilândia, pág. 427.