terça-feira, 25 de setembro de 2018

Adeus Fotógrafo Oscar Martins Filho



Oscar Martins Filho: a lente mirou alto.
Carlos Alberto dos Santos Dutra.



Oscar Martins Filho era o seu nome. Mestre da fotografia era o mais antigo dos fotógrafos em exercício na cidade das águas. Ainda ontem, há 11 anos, numa entrevista concedida no dia do fotógrafo ao portal Perfil News, o veterano três-lagoense falava do seu amor à profissão iniciada em 1943, “depois de um longo período de desencanto, motivado, entre outros fatores, pelo falecimento da primeira esposa”. Amor à arte “que lhe foi devolvido” anos depois pela nova esposa e os filhos que Deus lhe brindou: “Ela abraçou a profissão e, inclusive, fotografa melhor que eu”, admitiu sorridente na época.

Otimista com os novos ventos que sopravam sobre a fotografia com o advento da era digital, manteve por muitos anos o seu negócio -- a loja e estúdio “Condor Foto”, localizado na Rua Paranaíba, 730, no centro de Três Lagoas-MS, ao estilo tradicional. Discípulo do saudoso Otacílio Martins, seu irmão, foi este que lhe ensinou o ofício que aprendera com o pioneiro Feres Zaguir, e o tornou “mais fotógrafo do que empresário do ramo da fotografia”, confessou.

Na entrevista Oscar Martins Filho contou que “o tempo áureo de sua carreira foi no ano de 1977, por ocasião da construção da barragem de Jupiá. Foi nessa época que conseguiu (...) formar advogados o casal de filhos que teve com a primeira esposa”. Nos anos que se seguiram, depois de um longo período afastado da lente da objetiva, eis que seus olhos deitaram sobre uma nova inspiração que lhe trouxe à vida. “Uma injeção de ânimo” o fez voltar para trás das câmaras, incentivado pela nova esposa e seu desejo de “aprender a fotografar”, que o fez novamente investir e modernizar seu estabelecimento fotográfico.

Recordou ainda “com muita saudade, da infância pobre e do início da carreira”. Porém, dizia que “se sentir orgulhoso pelo fato de ter sido engraxate e hoje possuir uma fazenda praticamente dentro da cidade (...). Por tudo isso, sou grato ao povo de Três Lagoas: tudo o que sou e tenho devo a esta comunidade”, reconheceu.

Depois de sucumbir aos encantos da era digital, inicialmente acolhida com reservas, voltou a ter prazer em fotografar: “Passei a entender a velocidade com que o mundo anda”, dizendo que há mais de dez anos havia desativado o laboratório preto e branco, aposentando de vez os filmes de película e as câmeras reflex que aos poucos foram sendo substituídas pelas digitais.

Há pouco, aos 73 anos de idade, o veterano fotógrafo despediu-se da família, dos amigos e de Três Lagoas. Dia 22 de setembro de 2018, a lente da câmera de Oscar Martins Filho paralisou, instantânea, no tempo. O flash que iluminou tantos rostos radiantes, e acontecimentos de luz, de súbito, apagou... 

Mas não para sempre.

Pois logo ele está ali a brilhar, mais adiante, mais acima, mais no alto, sempre no melhor ângulo e enquadramento, com o fito de mirar e revelar, pela concessão divina, o que de melhor restou em cada um de nós: a saudade, o carinho e o respeito que lhe devotamos. Descanse em paz amigo Oscar Martins Filho.

sábado, 8 de setembro de 2018

Padre Lauri: Adeus Profeta do Sorriso.



Adeus Padre Lauri Vital Bósio.
Diác. Carlito Dutra

Existem coisas que a gente não sabe explicar. Elas mexem com o coração da gente. É quando nos despedimos para sempre de uma pessoa que significou alguma coisa para nós.

É sentimento de remorso por não ter feito ou dedicado mais tempo a ela; é sentimento de saudade, pelos momentos de alegria que passamos juntos; é sentimento de agradecimento pela generosidade e gestos de graça recebidos; ou sentimento de perda e dor, pois nunca mais veremos essa pessoa e que acaba levando um pedaço da gente também.

A partida do Padre Lauri planta em nossos corações um desses sentimentos. Um homem alegre e realizado que dedicou a Deus sua vida, e completamente ao Espírito Santo nos últimos anos.

Pois é olhando para sua trajetória de vida entre nós que podemos melhor entendê-lo, agradecê-lo e homenageá-lo in memoriam, este que também era um cidadão brasilandense, título recebido da Câmara Municipal da cidade em 1999.

Nascido em Campo Mourão, no Paraná, o Padre Lauri Vital Bósio veio ao mundo no dia 21 de fevereiro de 1955 e era filho do casal Artemiro e Nair, casal que Brasilândia conheceu, amou e respeitou. Tinha sete irmãos: Laurice, Artenor, Luiz, Narte José, Marco Antônio, Márcia Aparecida e o jovem e querido Clistenes Natal, que também é Padre vicentino, pároco por muitos anos da Paróquia Santa Rita, de Três Lagoas.

Seus estudos tiveram início no Grupo Escolar Marechal Cândido Rondon e Colégio Santa Cruz, em Campo Mourão/PR. Ingressou no Seminário Menor São Vicente de Paulo em Araucária/PR em agosto de 1968, onde estudou até o ano de 1976, concluindo o 2º grau e a Filosofia.

Em 1977 entrou para a Congregação da Missão dos Padres Vicentinos de São Vicente de Paulo, cursando a Teologia no Studium Theologicum, em Curitiba, até o ano de 1980. Enquanto estudante, ao fazer exames médicos, foi constatado que era portador de uma doença rara na época: distrofia muscular, tendo dificuldade no andar, subir escadas, etc.

Para ser ordenado sacerdote, precisou de uma licença especial do Santo Padre, o Papa João Paulo II, e que foi concedida. Foi ordenado pelas mãos de Dom Domingos Gabriel Wisniewski, tornando-se Pároco na Paróquia de Sant’ana de Abranches em 1981, e na Paróquia Nossa Senhora das Graças, da Barreirinha nos anos 1982 e 1983, ambas em Curitiba/PR.

Depois, atendendo ao convite do Bispo Diocesano de Três Lagoas, Dom Izidoro Kosinski, veio para Brasilândia chegando aqui no dia 5 de fevereiro de 1984, quando tomou posse como Pároco da Paróquia Cristo Bom Pastor, e no mesmo ano foi nomeado pelo Bispo como Vigário Geral da Diocese, para substituí-los nas suas ausências, cargo que ocupou enquanto permaneceu na diocese. Foi Pároco de Brasilândia de fevereiro de 1984 até abril de 2010, quando se afastou por motivo de saúde.

Ao assumir a Paróquia Cristo Bom Pastor, de Brasilândia, chegou acompanhado do então seminarista Atílio Benka, quando passou a atender além da comunidade da Igreja Matriz, o Distrito de Xavantina que se chamou depois Santa Rita do Pardo. Nos idos de 1986, começou um atendimento especial ao Distrito Debrasa, e houve um grande avanço com a construção da Igreja São José Operário, que se tornou uma comunidade bem atuante com a organização de Conselho Administrativo e Pastoral.

A partir de 1984 dedicou apoio à comunidade da Barranca do Rio Paraná com o apoio aos ribeirinhos e a Associação ARABAP- (Atingidos pela Barragem da Usina Primavera) que iniciava suas atividades. No Porto João André em 1985, com a ajuda da comunidade dos oleiros e o grande apoio do médico Dr. Elsias Nascentes Coelho Neto (Dr. Cici) foi construído o primeiro Posto de Saúde da barranca.

No plano social, também deu apoio para a fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e fortalecimento da comunidade do distrito DEBRASA. Em 1986 quando surgiu no Porto João André o Acampamento dos Sem Terra América Rodrigues, Padre Lauri deu total apoio à Comissão Pastoral da Terra-CPT. Com a chegada do missionário do CIMI Carlito, juntamente com Dom Isidoro Kosinski, Padre Lauri também deu apoio incondicional à comunidade indígena Ofaié Xavante.

No plano espiritual, ao longo da barranca do rio Verde e Paraná, Padre Lauri atendia a Capela Nossa Senhora das Graças, do Porto João André, a Capela Nossa Senhora Aparecida, do Iate Clube, depois com o surgimento da Capela Senhor Bom Jesus, nas imediações da Balsa para Pauliceia, também lá prestava assistência religiosa.

Incansável, inicialmente com uma camioneta, do tempo do Padre Tadeu, primeiro Pároco de Brasilândia, depois com um fusquinha, e depois com um jipe niva vermelho, adquirido com o auxílio dos católicos alemães, percorria as estradas empoeiradas no tempo seco e enlameadas no tempo das chuvas, celebrando pelas comunidades das Fazendas: Boa Esperança, Jatobá, Café Compadre, Jesuítas, Santa Virginia e Santa Encarnação, onde foram realizadas Missões Populares pregadas pelos Missionários Vicentinos desde agosto de 1984.

Mais tarde passou também a atender pastoralmente às Fazendas: Santa Sofia, São Judas Tadeu, Pinheiro, Horto Rio Verde, Califórnia, Vista Alegre, Modelo e Fazenda Matter, em Santa Rita do Pardo. Na Fazenda Almeida do saudoso Dr. Anísio de Almeida e Dona Áurea Marques em alguns anos foram realizados diversos Retiros da RCC, comunidades que passaram a ser atendidas mensalmente, sendo que na Fazenda Almeida a capela obteve a introdução do Santíssimo Sacramento.

Enquanto Pároco coordenou a construção de duas Igrejas Matriz, a primeira iniciada no ano de 1989, liderada pelo casal Maria de Fátima Sevilha Barbosa e seu esposo o saudoso Sr. Isaac Honorato Barbosa que foram responsáveis pela realização de diversos eventos entre eles a Festa dos Motoristas com o objetivo de angariar fundos para construir a nova Igreja Matriz.

A inauguração da nova Igreja Matriz aconteceu no dia 27 de agosto de 1995 e contou com a presença de dom Izidoro Kosinski,  Padre Lauri Bósio, Padre João Altino Barbosa, de Cassilândia; Padre Natal Bósio, de Três Lagoas, ministros e comunidade.

A majestosa obra, em forma de chalé, que teve início em 12 de setembro de 1990, infelizmente, depois de pronta, no dia 24 de setembro do ano de 2001 aconteceu um desastre da natureza, um vendaval colocou a Igreja nova no chão. A tragédia só não foi maior porque tudo aconteceu quando a Igreja estava vazia.

E a segunda Igreja Matriz, iniciada em novembro de 2001, sob a coordenação do Sr. Valdeires Bento dos Santos, e o servidor público Paulo Galiani, entre outros, construída com muito sacrifício e dedicação de muitas pessoas da comunidade. E finalmente, depois, sob a liderança do Dr. Anísio Gomes de Almeida eis que finalmente acabou pronta aquela, que hoje é a atual Igreja Matriz, na belíssima Praça que recebeu o nome de Praça Anísio Gomes de Almeida.

Um dos grandes legados que Pe. Lauri deixa a todos é ter sido guia espiritual de um povoado que, durante praticamente três décadas, elevou-se a condição de cidade. Promovendo e destacando lideranças, fomentando a solidariedade e fraternidade entre seus primeiros munícipes.

É pai espiritual de milhares aos quais batizou, deu a primeira comunhão, confessou e casou, orou pelos seus enfermos a aconselhou. Brincou e sorriu, irou-se e contrariou interesses também. Foi um ministro de Deus na condição humana que está sempre se aperfeiçoando, para no final da vida encontrar-se com o Pai.

E ele assim o fez. Nunca entretanto descuidando dos jovens, dos idosos, da comunidade solidária, pastoral da criança, apostolado da oração, entre tantas pastorais e movimentos que criou e incentivou.

Ele também esteve ao lado dos menos favorecidos, como os sem terra e povos indígenas, através da CPT e do CIMI. Com um carisma pessoal e de fácil comunicação, dedicou-se por inteiro à causa do Evangelho na integralidade levando-o a todos os rincões da Diocese de Três Lagoas, de Brasilândia à Xavantina (hoje Santa Rita do Pardo).

Homem de estudo e engajamento, de oração e práxis comprometida com o próximo, ousou adentrar os sertões e os cerrados revertendo a incerteza e o desamor. Homem franco e sem rodeios, amigo e generoso, de peito aberto, incontinente, sempre criou espaço para o diálogo, na sociedade e na Igreja. Por vezes enfrentou embates, sendo rejeitados por alguns. Teve mais acertos do que erros. Mas soube renovar-se a cada experiência e isso  prolongou-lhe a vida.

Sempre sorridente, e contando piadas, lá estava ele mostrando a todos, ao mesmo tempo, o rosto sofrido de Deus, na condição de pobre e excluído das rodas sociais. Como um verdadeiro discípulo. Mesmo entre os fazendeiros e empresários abastados, nunca deixou de profetizar com o chamamento à conversão, à prática da justiça e ao perdão.

A Diocese deve ter orgulho de tê-lo acolhido no seio de sua pastoral, da qual foi coordenador diocesano por vários anos e membro de seu tribunal eclesiástico. Sempre disposto a estender a mão de forma acolhedora, transformou a casa paroquial, que estava sempre de portas abertas, num ambiente alegre e acolhedor. Verdadeiro peregrino da fé e das necessidades últimas, para além de suas limitações físicas.

Junto aos acampados do Rio Verde e Paraná, ribeirinhos, sem-terra ou indígenas, lá estava ele, com limitações de movimentos, por causa da distrofia muscular degenerativa que lhe perseguiu durante toda a vida, sempre animando a todos na caminhada em busca de terra, paz, pão e liberdade.

Hoje, quando dele nos despedimos, resta a lembrança de suas realizações e o sentimento que nos enche de tristeza e ao mesmo tempo de felicidade por tê-lo conhecido. Missão comprida Padre Lauri. Foste um baluarte do altar e das pastorais sociais. Podemos, sim, com sinceridade, encomendá-lo à Deus com toda nossa fé e emoção despertada pela vida vicentina que tiveste enquanto esteve entre nós por 26 anos, dos teus 63 anos de vida.

O cálice e a poeira da estrada vivida por ti, amigo, é exemplo para a Igreja e todo o povo de Deus. Fiel à tradição, tua cuia de chimarrão permanecerás unindo a pastoral que salta dos altares para os caminhos da evangelização encarnada de uma Igreja que sai de si para lançar-se no rumo da libertação.

Suas mensagens diárias,de fé e otimismo, pela internet, venciam distâncias, e alojavam-se no coração de milhares de pessoas. Muitas delas, às vezes, esquecidas que elas partiam de quem vivia numa cadeira de rodas, mostrando o vigor e a força do Evangelho que os impulsionava para a vida.

Depois de vencer a morte em 2010, quando permaneceu por quase um mês, em estado de coma induzido, devido a um derrame cerebral que sofreu, saltou para a vida. Um presente de Deus para nos brindar, por 8 anos, com sua alegria, dedicando diariamente palavras de sabedoria e esperança para todos nós. E que alegravam e confortavam o coração de muitos. Agora essas mensagens haverão de continuar vindas do Céu.

Tudo para a honra e glória d’Aquele que abraçamos como Salvador: Jesus Cristo. Descanse em Paz, querido amigo e irmão Padre Lauri. Profeta do sorriso e da alegria.
Capela São José dos Jesuítas

Posto de Saúde Porto João André













Com os Indígenas Ofaié na Barranca do Rio Paraná

Ordenação Sacerdotal do Padre Lauri

Procissão de Ramos Igreja Matriz, 1984

Padre Lauri homenageia o pai em Noite de Autógrafo

Padre Lauri recebe Bispos D. Izidoro e D. Moreira

Missa na Chácara Santo Antônio

Padre Lauri apoia acampados dos Sem Terras no Rio Paraná


Padre Lauri intercede com Luigi Cantone pelos Ofaié 

Batismo na Igreja Matriz de Brasilândia

Capela Nossa Senhora das Graças do Porto João André