terça-feira, 27 de abril de 2021

 

Dona Maria Aparecida Puci Alves: seus cabelos dourados e as jaçanãs.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

 







Oh. Que dor despedir-se de uma mãe. Depois de mais de duas semanas internada lutando pela vida, eis que a notícia que ninguém gostaria de receber nos chega: Dona Maria Aparecida Puci Alves partiu.

A morte nunca é a notícia que gostaríamos de receber. Muito menos quando se trata de quem nos é caro, sangue do nosso sangue, de quem nos cobriu de afeto, de carinho e nos deu a vida.

Ah, como dói ver os filhos e netos, parentes e amigos do Novo Porto João André ter de devolver à terra uma de suas filhas diletas, menina dos olhos da margem de um rio que já vai longe.

E lá estão os filhos: Jorge, Regina, Alfredo, Renata, Francisco, e Regiane, sobrinhos e netos acenando a despedida daqueles cabelos dourados num barco que corre em direção ao mar, levando a joia mais rara, a lembrança mais terna de quem não volta mais.

Palavras são insuficientes para expressar o sofrimento daqueles que estiveram perto, lado a lado, acompanhando a luta desta mulher que soube vencer os desafios da vida e construir uma família.

Nascida em Bauru/SP no dia 22 de janeiro de 1945 foi casada com Francisco Alves, popular Chicão e juntos escreveram sua história na barranca do rio Paraná onde consolidaram um comércio que foi referência nos tempos áureos de progresso do Porto João André.

A torrente insana das águas de Porto Primavera levaram a família e demais ribeirinhos a tomar caminhos distintos, desagregando a comunidade e os laços que os unia. Mas dona Maria Aparecida permaneceu firme no ramo do comércio iniciado por seu esposo.

Transferidos para o núcleo cerâmico-oleiro do Reassentamento Novo Porto João André, ali, ela terminou de criar os filhos e viu nascer seus primeiros netos. 

A felicidade estava completa, apesar da peleja que sempre lhe fez companhia e a manteve firme no leme do barco da vida. Vida que hoje nos foi tirada.

Perder a mãe é o maior de todos os sofrimentos que um filho pode suportar. Ainda mais em circunstâncias tão amargas e perversas que indignam a todos e somente cada um sabe a dor que é suportá-la.

Tudo que podemos fazer nesta hora é chorar ao lado dos amigos e pedir a Deus força para suportar esse momento. 

Na esperança de que as lágrimas que rolam pelo rosto de cada um sejam sinal de fé e uma doce certeza, verdadeira benção celeste a que dona Maria Aparecida experimentou em vida mirando as águas tranquilas do paranazão.

É esta fé que conforta o coração dos irmãos, filhos e netos, sobrinhos, genros e amigos da vovó Maria Aparecida. O esteio da casa não cedeu. Ele continua firme no coração de cada um, por maior que seja o vazio e a dor que dilacera o peito.

As águas seguem serenas em direção ao mar enquanto suas margens acolhem o canto singelo das jaçanãs andejas. Sob a calmaria da tarde, flutua aquele barco azul em tom celeste como uma luz em meio à escuridão da travessia.

Ao longe o ruído da balsa, saudosa, chegando. O comércio funcionando. A torrente de lembranças. O olhar no horizonte. É a vida que continua.

Em sua homenagem aos filhos da terra, nutridos pelo suor de seus pais, no rosto daquela mãe e vovó querida, não sem dor, decidem continuar unidos conservando o edifício sólido da família que ela edificou.

Que a Virgem Maria a acolha e a conduza por mãos seguras até o novo porto, o Porto da Vida: onde o Pai Eterno de todos nós, a espera radiante no Céu. Amém.

Brasilândia/MS, 26 de abril de 2021.

domingo, 25 de abril de 2021

 

O aniversário de Brasilândia e as lições da pandemia.

Carlos Alberto dos Santos Dutra



Brasilândia cidade esperança, ainda criança, cultivando a flor... Assim canta o hino oficial da cidade, querendo dizer que a urbe na qual vivemos ainda tem muito que crescer e aprender para tornar-se plena e orgulho de seus habitantes.

No dia em que ela completa 56 anos de emancipação político administrativa, impossível não recordar o que parece tão óbvio aos jovens que aqui vivem e controlam o mundo: Brasilândia não é mais uma criança.

Embora estejamos cercados delas, desde jovens que sequer ouviram falar de um John Tomes ou uma Rita Morena; de um Didi ou uma Dona Fia, até as crianças que viveram naquele tempo e que hoje se tornam adultos. Poucos ainda lembram desta época de ouro.

A maturidade é sempre uma encruzilhada. Relembra-se o passado sem perder de vista o futuro. Esperança que deita os passos no caminho trilhado por aquele que um dia foi criança. Trilha que tem a virtude de corrigir os erros e acertar o rumo.

Assim foi com Brasilândia. A cidade que cresceu e se tornou adulta faz por merecer hoje acertar o passo, buscar horizontes novos, quiçá seguros, para sua gente.

Aniversário é sinônimo de festa e de alegria. Mesmo que esta alegria seja pequena, do tamanho de sua realidade. Realidade, aliás, que em tempo de pandemia, só tem mostrado dor e sofrimento.

A verdade é que, ao longo deste ano, muito pouco temos para comemorar. Para os que sobreviveram à Covid-19 é motivo de alegria e gratidão. Para os que perderam entes queridos é motivo de consternação e saudade.

Mas como festejar aniversário em meio essa guerra entre a vida e a morte?

Há quem possa dizer que a morte não é uma fatalidade e sim o destino de todos, o que consola aqueles mais céticos sobre a existência humana. Há quem confere a morte sinal salvífico e de redenção, o que conforta aqueles que creem na Páscoa definitiva dos que partem.

Mas a morte, entretanto, independe das motivações de como as pessoas encaram a perda recorrente de seus familiares. No caso da Covid-19 ela se apresenta de forma estúpida, sem ao menos permitir aos familiares poderem homenagear seus mortos com os ritos fúnebres tradicionais de suas crenças.

Por mais que doa a separação daquela dezena de parentes e amigos que perdemos ao longo deste ano, ainda assim, é preciso lembrar e festejar os vivos. Agradecer por ainda estarem aqui: uns com saúde perfeita, outros ainda lutando contra a morte.

Nas igrejas e nos lares, pelas ruas e pelas estradas, há milhares de preces e canções, hinos e salmos sendo entoados que ecoam em direção aos Céus, rogando a Deus por saúde e cura para os que ainda vivem e lutam contra a doença. Nunca se invocou tanto o santo nome de Emanuel como agora.

Na data emblemática de hoje, dia 25 de abril de 2021, aniversário de Brasilândia, o homenageado mor, a estrela de maior brilho a ser festejada é, sem dúvida, o brasilandense. O sobrevivente da Covid-19 que, a cada dia, graças ao esforço e dedicação dos profissionais de saúde do Hospital Dr. Júlio César Paulino Maia e a rede municipal do SUS, se veem medicados e alimentados na esperança de sobreviver.

Segundo o Boletim Epidemiológico do dia 21 de abril último, havia em Brasilândia 109 pacientes em tratamento contra a Covid-19, sendo que quatro pacientes se encontravam nas UTIs de Três Lagoas, Aparecida do Taboado e Bataguassu. Entre eles, com certeza, familiares e amigos nossos lá estavam.

Festejar o aniversário de Brasilândia neste contexto de pandemia é, portanto, reverenciar nossos mortos e homenagear nossos vivos. Tirando as lições da caminhada que empreendemos até aqui, ao lidar com este vírus mortal.

Continuar respeitando as medidas sanitárias preconizadas pela Secretaria Municipal de Saúde, fazendo uso corriqueiramente da máscara em todo o lugar, praticar o distanciamento social: isso é uma bela forma de festejar os 56 anos de Brasilândia.

Evitar aglomerações e não descuidar da etiqueta respiratória ao espirrar ou tossir, e respeitar as determinações legais e decretos municipais que disciplinam a circulação de pessoas pelas ruas, e redução do horário de funcionamento de empresas e instituições não essenciais: também é outra bela forma de festejar os 56 anos de Brasilândia.

É a homenagem que podemos fazer àqueles que ainda estão vivos na impossibilidade que temos de abraçá-los e dizer o quanto o amamos e que eles são importante para nós.

Será uma prova de que estamos fazendo a nossa parte, respeitando aqueles que esperamos de volta aos lares, preservando vidas e evitando a disseminação do vírus. 

Para que no ano que vem, possamos estar todos juntos, numa bela alvorada festiva, como nos velhos tempos, festejando o aniversário da nossa cidade, com toda a nossa confiança, fé a amor, como frisa o refrão de nosso hino.

Feliz Aniversário Brasilândia! Parabéns administração pública da Cidade Esperança!

Brasilândia/MS, 25 de abril de 2021.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

 

Dona Cida da Horta, a Pastoral e a Saudade.

Carlos Alberto dos Santos Dutra.

 


Falar sobre alguém que devotamos afeto faz bem. Como se diz, lava a alma e conforta. Sobretudo quando aquele ser precioso se encontra vivo e ao nosso lado. Da mesma forma, mas num sentido muito mais profundo e verdadeiro é quando aquele tesouro já não se encontra mais entre nós.

Corremos os olhos sobre as fotografias e o perfume de seus guardados, tudo na  ânsia de trazê-lo de volta para os nossos braços. É assim que, geralmente os filhos se sentem em relação aos pais. Perdem-se na saudade e se encontram nas lembranças.

Para cada um essas recordações têm um significado que pode divergir, mas quase sempre reconhece o quão importante aquele que partiu foi e daria tudo para seguir seus passos e caminhar na trilha do seu exemplo. 

É assim que os filhos e amigos da senhora Aparecida Conceição de Lima Dias se sentem ao relembrar o quão valiosa foi sua passagem entre nós, digna desta singela homenagem.

Falar da Pastoral da Criança no distrito Debrasa é tarefa impossível se não mencionarmos o nome da senhora Aparecida Conceição de Lima Dias.

Conhecida como Cida da Horta, ela nasceu em Nhandeara, no estado paulista, no dia 21 de abril de 1946. Era a primeira filha do senhor Alvino Leandro de Lima e da dona Augusta Conceição de Lima, criança queao lado de seus nove irmãos, experimentou ainda muito pequena colocar os pés na outra margem do rio Paraná, juntamente com sua família.

Brasilândia ainda era um povoado quando acolheu aquela família que adquiriu um pequeno sitio na região conhecida como Cabeceira Perdida, naquela época próspera comunidade de agricultores e pecuaristas. Foi ali, em meio aos vizinhos e trabalhadores daquele bairro, que Aparecida conheceu aquele que seria seu honrado esposo: Eurípedes Dias.

Corria o dia 25 de setembro de 1965 e lá se encontrava a jovem de 19 anos de idade, a noiva Aparecida toda vestida de branco unindo-se em matrimônio com seu Eurípedes. O município recém-emancipado ainda não dispunha de uma igreja, razão pela qual o casamento realizou-se nas dependências do Grupo Escolar Arthur Höffig.

A filha Rozenir recorda que certa vez sua mãe lhe contou que aconteceu na cidade, durante a inauguração da Escola Arthur Höffig, ao que parece, uma espécie de gincana ou promoção para o primeiro casal de noivos que se inscrevesse para casar, premiando-o com o não pagamento da documentação no cartório. O seu Euripedes correu para inscrever-se, mas chegou em segundo lugar, não sendo agraciado com o brinde, sorri a filha com esta lembrança.

O casal teve três filhos: os dois primeiros, que nasceram na região da Cabeceira Perdida foram: Ademir Dias de Lima e Rozenir Dias de Lima; e o terceiro, Ademilson Dias de Lima, que nasceu em Três Lagoas.

O casal lá residiu de 1974 até 1986, época em que a família se mudou para o distrito Debrasa, quando a indústria canavieira encontrava-se em alta e aquela comunidade se apresentava promissora e densamente povoada.

Desenvolveram ali o ofício que sempre praticaram ao longo de suas vidas. E graças a essa habilidade e dom de lidar com a terra, passaram a plantar horta para abastecer o refeitório da usina (Destilaria de Álcool de Brasilândia-Debrasa), recebendo em função desta lida a denominação que a tornou popular: dona Cida da Horta

E não somente ela, também seus filhos passaram a ser chamados de Horta, todos nós ficamos com o sobrenome de Horta, recorda a filha Rozenir.

Com o passar dos anos foram vendendo outras coisas e por fim eles abriram um mercadinho com o nome de Nossa Senhora Aparecida. Sempre muito devota e participante das celebrações na capela que foi construída na Debrasa - Comunidade São José Operário -, foi convidada pelo padre Lauri Vital Bósio, pároco de Brasilândia, a fundar um grupo da Pastoral da Criança no distrito.

E foi o que aconteceu. Segundo consta ela começou oficialmente a trabalhar na Pastoral da Criança em 15 de janeiro de 1998, porém já atuava na assistência às crianças e à comunidade desde 1986 quando ali chegou tornando-se uma respeitada liderança no local. 

E era isso que ela mais gostava de fazer: ajudar as pessoas, explica a filha com saudade. Recorda que todos os anos, no dia de Nossa Senhora Aparecida ela entregava brinquedos paras crianças. Era uma festa. A filha volta no tempo e parece acompanhar os passos da mãe, toda festiva, ajudando a organizar aquele significativo evento que fazia brilhar o coração e os olhinhos das crianças.

O trabalho desenvolvido pela senhora Cida da Horta alcançou tamanho relevo e magnitude que em 2000, a vereadora Mara Márcia de Jesus, conhecedora do trabalho da Pastoral da Criança no distrito, apresentou Moção de Apoio defendendo na tribuna da Câmara Municipal que a entidade deveria ser indicada para concorrer ao Prêmio Nobel da Paz de 2001, uma vez que, segundo a vereadora, esta entidade vinha desenvolvendo um trabalho espetacular junto às famílias de baixa renda na Debrasa, contribuindo para melhorar a qualidade de vida destas famílias, lutando pela paz e os direitos humanos.

Com a doença do esposo Eurípedes e o declínio econômico do distrito Debrasa, o casal já não mais tinha condições de saúde para continuar morando no lugar. Mudou-se então no mês de maio de 2016 para a sede do município de Brasilândia onde dona Cida dois meses depois haveria de se despedir para sempre de seu esposo, indo ela também ao seu encontro na eternidade, dois anos depois, em 25 de junho de 2018, aos 72 anos de idade.

O trabalho da Pastoral da Criança manteve-se firme, enquanto dona Cida da Horta permaneceu na Debrasa, juntamente com outros voluntários. Após sua saída do lugar a memória de sua presença ali ainda permanece, enquanto as ações assistenciais da entidade passaram a ser desenvolvidas na sede do município de Brasilândia.

Hoje a Pastoral da Criança se encontra sob a coordenação da assistente social Carmen Esmelinda Irigojen Olmedo Galiani que, juntamente com os demais membros voluntários da entidade que também conheceram dona Cida da Horta, prestam-lhe honrosa homenagem póstuma pelo trabalho que realizou e o iluminado ser humano, dedicado e prestativo que sempre foi.

Brasilândia-MS, 21 de Abril de 2021.





















Fotos e informações cedidas pela filha Rozenir Dias de Lima.

 

quarta-feira, 21 de abril de 2021

 

Diácono Cidão e o dom de transformar vidas.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 








A morte de uma pessoa sempre nos leva a pensar no sentido da vida. Esquecemos, em meio às lágrimas, que somos nós que damos sentido a ela.

Com o diácono Walter Aparecido Ribeiro, conhecido como Cidão, foi assim. No dia 19 de abril último, aos 87 anos de idade, ele colheu os frutos de ter dado sentido a sua vida, cumpriu sua missão e se despediu do bairro Santa Luzia.

O primeiro bairro residencial de Três Lagoas está de luto. Pelas ruas empoeiradas do antigo Formigueiro não mais encontramos o menino esbelto que corria entre os desvãos de uma imaginária infância por aquele recinto ferroviário.

Os sons dos engates e estalos de martelos dos operários da antiga oficina de manutenção de máquinas, locomotivas e vagões da ferrovia, já não os escutamos mais, e tampouco o apito do trem ecoando por entre as casas de madeira simples que aos poucos iam surgindo naquela esplanada da NOB.

O homem que partiu ainda recorda o menino e aquele som que o embalou, onde ele cresceu e realizou o sonho de tornar-se ferroviário. É o escritor Jonir Pedro de Souza que nos faz lembrar os passos deste morador do bairro que tem o nome da santa protetora dos olhos, janela da alma: Santa Luzia. 

Sim. Seu Walter Aparecido Ribeiro, o nosso querido Cidão foi ferroviário, e trabalhou até se aposentar nas oficinas da NOB.

Profundamente religioso desde sua juventude, o casamento, a família e os filhos tornaram-no um cidadão ainda mais respeitado e querido por todos. Mais que isso, sempre solidário e dedicado a sua comunidade de fé.

Recorda o clero diocesano que o diácono Cidão ofertou sua vida para o bem da comunidade desde muito cedo. E lá o encontramos rezando o Santo Terço com um grupo de ferroviários, os assim chamados Marianos, em uma casa pertencente à estrada de ferro NOB que abrigou o primeiro quadro de Santa Luzia.

Foi a partir dos 40 anos de idade que ele começou a exercer suas atividades ministeriais regularmente junto a Paróquia Santa Luzia, sendo que a partir de 1984 foi nomeado Ministro Extraordinário da Sagrada Eucaristia.

O padre Rogério Fernandes Gomes anota que em 1986, por dois anos, este ministro foi acólito, sendo que dois anos depois, em 1988, lá estava ele recebendo das mãos de D. Izidoro Kosinski a ordem do diaconato permanente.

A nota da Diocese de Três Lagoas bem lembrou que o diácono serviu, na maior parte de seu ministério, à comunidade do bairro Santa Luzia, incentivando-a na missão e evangelização do povo.

Ao longo dos 34 anos de caminhada no ministério, este amigo que nos deixou, experimentou a alegria prometida pelo Senhor para os que decidem por atender o Seu convite de, mais de perto, segui-Lo, lembrou.

Homem simples, caridoso e leal, cujas raízes locais davam-lhe a força que precisava para levar adiante o seu testemunho de fé e de devoção, revelavam o seu pertencimento ao lugar onde viveu.

Homem de opinião própria, correto e sincero, e por isso querido por todos, era um líder nato. O amigo Jonir recorda ainda que ele sempre exerceu influência naqueles jovens, que o amavam como a um paiNão é exagero dizer que seu Cidão era unanimidade no bairro Santa Luzia e adjacências.

E arrisca dizer que a ausência de seu Cidão deixa muitos jovens que sempre lhe dedicaram muito respeito e amizade, órfãos da sua sinceridade, da sua palavra de carinho, do seu exemplo de vida, inspiração a centenas de jovens daquele lugar.

Homem reto de caráter, de prestígio, credibilidade e amizade verdadeira, sua presença no ambiente lúdico, a roda de amigos há de lamentar, a partir de agora: ...estão sobrando cadeiras nas trucadas de domingo à tarde, na Praça Santa Luzia.

É, Jonir. Não há quem esqueça sua maneira cordial de atender a todos, o jeito dele se portar no jogo de truco nos fins de tarde, e falar depois de perder várias quedas seguidas: ...da última, eu faço questão!, como bem lembraste.

Em 2002 o diácono Cidão esteve em Brasilândia durante a ordenação diaconal deste escrevinhador, ao lado de outros diáconos, Joaquim FerreiraJorge da SilvaAlceu Rosa de Oliveira, o que muito nos honrou e fomos gratos.

A mensagem que o bispo de Três Lagoas, D. Luiz Gonçalves Knupp dirigiu durante a missa de despedida celebrada na presença do clero e familiares, com certeza, são as palavras ditas pelo próprio diácono Walter Aparecido Ribeiro, que assim podem ser traduzida:

Tenho experimentado uma alegria que vai além de rir sem motivos, é uma alegria capaz de penetrar os corações e transformar vidas. Desejo com a graça de Deus gastar toda minha vida, na minha singela, para colaborar na edificação do Reino de Deus [1].

Continues sendo inspiração para a juventude e transformando vidas, no céu, diácono Walter Aparecido Ribeiro.

 

Brasilândia/MS, 21 de abril de 2021

 

 

[1] - Palavras do diácono Walter Aparecido Ribeiro, em 04 de dezembro de 2019, por ocasião da Novena em Honra a Santa Luzia.


Fonte: Jonir Pedro de Souza, Facebook, 19.abril.2021;19:43; Diocese de Três Lagoas, Facebook, 19.abril.2021; 19:00; Paróquia Santa Luzia, Facebook, 19.abril.2021; 19:47; Revista JP 100 anos de Três Lagoas, 14.Jul.2015.

 


 


*30.Março.1939 - +19.Abril.2021












domingo, 18 de abril de 2021

 

Maria Risalva da Silva e seu sonho realizado de servir a Deus.

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 

Um a um aqueles que nos cercam estão partindo. Corremos em vão ao seu encontro em busca de abraços, pedidos de perdão, agradecimento ou simplesmente desejo de estar ao seu lado. 

E eis que, de súbito, não mais os encontramos, eles se ausentam deixando apenas um rastro de saudade.

Nesses momentos corremos para dentro de nós mesmos e procuramos encontrar o que ficou, réstias de luz daquele que partiu. 

O perfume das flores que um dia nos ofertou; o sorriso de seus lábios que nos dirigiu; o dia e a hora em que dele nos aproximamos e sentimos sua aura e presença...

A partida de dona Maria Risalva da Silva, com certeza, está sendo dolorosa para seus familiares e sua tradicional e extensa família local.

Nascida no dia 25 de março de 1961 na cidade de Panorama/SP, numa época em que Brasilândia ainda não possuía hospital, era filha de Isaura Maria de Jesus SilvaSebastião Nunes da Silva, fruto de uma família de oito irmãos.

E lá estavam reunidos Joel Nunes da Silva, Samuel Nunes da Silva, Paulo Nunes da Silva, Jonas Nunes da Silva, Isaías Nunes da Silva, Ana Ruth da Silva, Egídio Bonfim Silva e Bruno Bonfim da Silva, os rebentos daqueles pais cuja família havia aportado por Brasilândia no ano de 1959.

Deixando as raízes da família lá em Rio das Contas, na Bahia, residiram inicialmente na barranca do Rio Paraná, na altura do Km 18. Passados dois anos, em 1961, começam a trabalhar pelas fazendas mudando-se definitivamente para a sede do município de Brasilândia em 1965, ano da emancipação político administrativa da cidade.

Nestes tempos primeiros, trabalho era o que não faltava. E lá encontramos seus irmãos mais velhos trabalhando pelas fazendas. Uma delas foi a fazenda São Cristóvão, do sr. Paulo Carrara. Enquanto a jovem menina Maria Risalva construía seu castelo de sonhos, igualmente, ajudando seus pais nas atividades do lar.

Os irmãos relembram que ela trabalhou na farinheira da família, no restaurante do Dondô Fonseca, mas sempre se esforçou nos estudos, concluindo seu magistério, onde lecionou como professora de 1º Grau por algum tempo e na juventude também foi professora de datilografia.

O magistério ela concluiu na Escola Estadual Adilson Alves da Silva, enamorando-se e depois casando com Benedito Gomes de Castro em dezembro de 1982. Desta união, três filhos nascidos vivos: Ezequias Riciel da Silva Castro, Samuel da Silva Castro e Risia Raquel da Silva Castro.

Dona Maria Risalva sempre foi uma lutadora. Após casar, recorda a família, continuou exercendo funções do lar e mais tarde começou a vender roupa de porta em porta juntamente com o esposo que também exercia atividade rural numa pequena propriedade que adquiriram. Desta atividade angariaram força e coragem para abrir sua própria loja. Entretanto, após divorciar-se dedicou-se exclusivamente a atividade comercial.

Confessava abertamente para a família e amigos de fé, da Congregação Cristã da qual era membro, que seu sonho era servir a Deus para herdar o céu. Talvez por essa razão era carinhosamente chamada pela família de cigarrinha pois sempre cantava hinos de louvores e súplicas a Deus no seu dia a dia.

Viva a vida com simplicidade e alegria, independente das circunstâncias; seja temente a Deus servindo-O com disposição: esse era o seu lema.  A mensagem que sempre ofertava a quem lhe procurava era: se buscares as coisas dos céus as demais te serão acrescentadas .

Quem a conheceu de perto sempre soube das virtudes desta mulher que aqui se aquerenciou e firmou-se no comércio local, construiu uma família, conquistou amigos e auxiliou o próximo.

Desta senhora de fé, seus filhos e demais familiares devem nutrir belas lembranças e muitas recordações que hão de consolá-los neste momento de dor e sofrimento.

Por mais que a confiança e o temor a Deus seja o sustentáculo dos que creem, sempre há o que lamentar pela separação eterna.

Sobre esta senhora guardamos na lembrança a solicitude e atenção com que sempre nos tratou quando, por dezenas de vezes, garantiu vestimenta e abrigo aos indígenas Ofaié, quando coordenávamos o trabalho de assistência a esta comunidade autóctone pelo CIMI.

De aspecto sereno, tratando a todos por igual, mesmo sem demonstrar emoção aparente, porém seu coração estava sempre a disposição e atento. 

Sua presença foi decisiva naquele momento vivido por aqueles pequeninos do Reino, suprindo-lhes suas necessidades e confortando-os em seus reclamos.

Por essa e outras gentilezas, obséquios e cortesias que esta senhora angariou e nutriu somos grato, porque fez florir em nós e na comunidade que servia, o respeito e admiração, embora nunca lhe tenha sido dito.

Razão que nos faz, nesta hora de despedida triste e solitária (em razão da Covid-19) recordar, não sem dor, que esta senhora de apenas 60 anos de idade combateu o bom combate, terminou a corrida, e guardou a fé.  

E, com certeza, ela pode dizer no dia 13 de abril último diante do Trono: Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda (2Tim 4,7-8).

Descanse em paz dona Maria Risalva.

 

Brasilândia/MS, 18 de abril de 2021.



Com informações gentilmente cedidas pela família.

sábado, 17 de abril de 2021

 

Dona Antônia Pereira da Costa, uma lembrança, uma história.

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 


O dia corria calmo. O telefone toca. É uma senhora de voz grave que me dirige a palavra pela primeira vez. Falava-me que queria agradecer as palavras de consolo e alento dirigidas à família por ocasião do falecimento de seu esposo, Hélio Katsumi Kobayashi falecido no dia 21 de março de 2019.

Falava que minhas palavras haviam tocado o seu coração e que queria me conhecer, pois, segundo ela, eu deveria ser uma pessoa especial com quem teria o máximo prazer em conversar.

Minha esposa já tinha me falado desta gentil senhora que, certa vez, dedicou-lhe um bom par de horas para contar-lhe os segredos da vida, sua história e seus sonhos. Tratava-se, sim, de uma pessoa onde nossos ouvidos podiam descansar como se numa rede estivesse, ao som dos pássaros no fim de uma tarde outonal.

Pois essa senhora, no dia de ontem, deixou a cidade de Brasilândia para sempre. Dona Antônia Pereira da Costa, conhecida pelos mais íntimos como Tonica, não resistiu à investida cruel da Covid-19 e rapidamente partiu, sem mesmo poder se despedir da família e dos amigos.

Aquela foi a ultima vez que ouvi sua voz e suas palavras, e lembro que havia lhe prometido visitá-la. Não o fiz. E como lamento não ter podido vê-la. Não para receber suas homenagens pela admiração que todos nós dispensávamos ao seu amado Hélio Kobayashi, mas para poder igualmente beber na fonte de sua sabedoria, bom gosto e simplicidade.

Nascida na cidade de Paranaíba no dia 15 de setembro de 1932, seu pai chamava-se Antônio Rangel Gusmão e sobre sua mãe, que morreu de parto após ela nascer, só sabia que se chamava Maria. Era uma família de quatro irmãos, dois meninos e duas meninas; ela era a caçula, lembra a neta Michelle.

E a menina cresceu, cheia de sonhos e encantos com a vida que despertava. A infância passou-a na cidade natal, e desde cedo mostrou gosto pela Educação, passando a dar aulas para as crianças nas fazendas com apenas 15 anos de idade.

Muito determinada, demonstrando traços de uma natural elegância e fina formação, associada à vocação para o magistério como professora de alfabetização rural, também ensinava etiqueta e crochê para filhas de fazendeiros que eram preparadas para se casar.

O sonho de ser professora só se realizou quando ela deixou Paranaíba e foi morar com seus padrinhos em São José do Rio Preto, onde iniciou e concluiu seus estudos formando-se professora.

Conheceu seu Hélio Kobayashi quando foi morar em Andradina para ensinar a filha mais velha do ‘Rei do gado’ , Antônio Joaquim de Moura Andrade, contava ela com muito orgulho. 

Quando a jovem Tonica colocou os olhos sobre aquele jovem balconista que trabalhava na farmácia do irmão mais velho, Hydetian Kobayashi, um novo tempo para ela abria-lhe as portas da felicidade.

A vida dá muitas voltas na caminhada que empreendemos. No seu caso o sonho mais antigo era abrir uma butique. Já tinha experiência, pois havia trabalhado vendendo roupas e atendendo mulheres em casa quando se mudou para Três Lagoas. 

Nesta época, recorda a neta Michelle,  quando meu avô foi se aventurar como garimpeiro no Amazonas e passava meses sem vir pra casaminha avó teve que sustentar a casa e os dois filhos, Alberto e Theotonio, um estudando para engenharia e outro para concurso público do Estado.

Esta guerreira, desde que chegou a Brasilândia na década de 1990, também foi uma engajada cidadã. Fotografias antigas revelam seu rosto presente desde a fundação Rotary Club local ao lado do esposo, participando e depois assumindo a presidência da Casa da Amizade em 1999 tornando-se presidente de honra da entidade por muitos anos.

No foro íntimo, dona Antônia era uma legítima matriarca e gostava de ser informada sobre tudo que ocorria a sua volta, sobretudo no âmbito da família, onde ela era a senhora do lar. Segundo a neta Michelle, em todas as situações, mesmo quando nós fingíamos fazer o que ela determinava, a palavra final sempre era dela.

Sempre foi uma lady, desde a juventude, até para cozinhar. A neta relembra que morou com seus avós dos seis aos trinta e três anos e confessa: só vi minha avó parar de cozinhar de calçado de salto, quando suas pernas já não a obedeciam mais por causa da osteoporose e descalcificação adquirida com os anos e as longas jornadas carregando pesadas malas de roupas para vender.

Guerreira de coroa, minha avó era uma muralha que estava sempre ao lado do meu avô em tudo; mestre zelosa criou os filhos e os netos ensinando-lhes a serem firmes e honestos. Também foi sempre muito caridosa. 

Deixam saudade os aniversários e festas comemorativas, cujas mesas estavam sempre cheias de coisas gostosas, um carneiro recheado assado inteiro com o melhor tempero do mundo, as quatro saladas, duas refrescantes e duas cremosas, o Gohan (arroz japonês) que não podia faltar...

Ah. Vó Antônia, mãe Antônia, tia Antônia, amiga Antônia. É só saudade nesse vazio que você deixou.

E essa doença maldita que nos tirou o direito de consolar e ser consolados, sem o direito de nos despedir, tudo tão frio e solitário.  Doença que nos roubou o bem mais precioso e acabou inclusive com os planos que todos temos em relação à morte, queixa-se a família. 

Sem dignidade alguma, enrolada em um plástico impermeável foi colocada em um buraco: ‘área dos mortos por Covid19’. Nem o direito de repousar ao lado do marido e do filho no túmulo ela teve...

Por aqui a dor vai permanecer por muito tempo. Embora isso não seja mais importante. Porque sua alma, temos convicção, descansa nos braços do Pai e sob os cuidados da Mãe Celeste. Fique em Paz dona Antônia Pereira da Costa.

... 

Como bem nos confidenciou o querido amigo e mestre Mário Nelson da Silva numa síntese perfeita do que foi e representou esta senhora para Brasilândia: Dona Antônia, a Grande Dama foi reunir-se com o Esposo Dr. Hélio Kobayashi, e o Filho Alberto ‘Koba’ na Casa Celestial. A Elegância e a Inteligência da Senhora Antônia, lhe conferia o ar e postura de Nobreza que marcou o seu tempo na Sociedade brasilandense. Deus a tenha!

Brasilândia/MS, 16 de abril de 2021.




Com informações gentilmente cedidas por Michelle Alves de Oliveira Quintino.



terça-feira, 13 de abril de 2021

Ruth Roberta de Souza: o basquete, a felicidade e o Céu.

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 


Ruth Roberta de Souza, campeã brasileira paulista, sul-americana e pan-americana de basquete despediu-se das quadras de esporte para sempre.

Uma trajetória de sucesso e conquistas nunca vistos por uma jogadora de basquete que por uma boa temporada passou por Brasilândia e fez crianças felizes no distrito Debrasa.

Três-lagoense de nascimento, pivô do basquete brasileiros encheu de orgulho a todos quando conquistou o Pan de Havana (1991), Olimpíadas de Barcelona (1992) e Ouro no Mundial da Austrália (1994), recebendo homenagem da Confederação Brasileira de Basquete no ano de 2004.

Foram inesquecíveis momentos vividos pela menina pobre que sonhou ser estrela e chegou lá dando seus primeiros passos na carreira na Unimed, na cidade de Araçatuba, no estado de São Paulo, passando depois pelo BCN de Osasco, a Ponte Preta.

Depois de uma carreira de sucesso, despediu-se das quadras como atleta no BCN de Osasco em 1999 após 10 anos atuando pela seleção brasileira ao lado de Paula, Hortência, entre outras de igual renome.

Sua presença foi um marco, num tempo onde só eram valorizados aqueles que jogavam futebol de campo e os demais atletas não eram valorizados, disse certa vez.

Perguntado se ela aconselharia aos jovens ingressar no basquete, ela respondeu: Sim, é um ótimo esporte; mágoas nenhuma. Se fosse preciso faria tudo de novo. E dizia que estava feliz fazendo o que Deus havia determinado para ela.

No Grupo José Pessoa e o Projeto Criança Feliz, ao lado de outras professoras abriu as portas do coração aos alunos daquele distrito distante do mundo que se expressavam através da pintura e do esporte um salto para o amanhã.

Corria o ano 2003 e lá se encontravam crianças de 9 a 17 anos em busca de oportunidade, bebendo na fonte daquela diva do esporte, inspiração para muitos jovens dali e além mais.

Pois nossa campeã, depois de brilhar entre os pequeninos a quem ensinou o jogo e a arte do basquete, foi desafiada pela Covid-19 e convocada a voltar às quadras para ajudar o time celeste a vencer a tristeza e a dor, brilhando com seu sorriso e sua ginga para o arremesso final, acolhida no grande estádio do Céu.

Descanse em paz, humilde guerreira, Ruth Roberta de Souza. Que continues fazendo muitas cestas de alegria em nossos corações.

Brasilândia/MS, 13 de abril de 2021.

Fonte: História e Memória de Brasilândia/MS, Volume 1, página 136-137.




segunda-feira, 12 de abril de 2021

 

Há 36 anos nascia o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 


Houve um tempo em que estas terras eram banhadas por muita injustiça e opressão. Sobretudo ao homem do campo sujeito ao mando dos senhores e políticos de plantão que por esses cerrados trilhavam estradas recém-desprendidas do Palácio Alencastro.

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia-STRB nasceu neste tempo, oito anos após a divisão do Estado, quando o Mato Grosso do Sul começou a ter vida própria, sem, contudo desprender-se dos velhos hábitos coronelistas de outrora.

Corria o dia 12 de abril de 1985 e lá estava fundado, depois de muita luta com os dirigentes locais da época, o primeiro sindicato dos trabalhadores rurais do município de Brasilândia. Sua primeira sede era uma instalação simples localizada na Rua Coterp numa cidade que ainda era praticamente um povoado de poucos fogões.

Quatro anos depois, no dia 3 de dezembro de 1989, numa cerimônia realizada no Salão Paroquial da cidade, durante o encontro do Grupo Alternativo Sindical, autoridades de várias cidades do Estado presenciaram a eleição de Irineu de Souza Brito que fora reconduzido ao cargo de presidente pela classe. Dezessete anos depois este mesmo presidente seria eleito o melhor sindicalista do estado de Mato Grosso do Sul.

Nos seus 36 anos de existência estiveram à frente do STRB como presidente, de 1984 a 2001, Irineu de Souza Brito, sendo que a partir de 2004 assumiu a presidência José Leite de Noronha, eleito em 17 de maio de 2004, permanecendo até 2012, quando foi eleito João Brito de Souza, que permaneceu presidente até 2016 quando assumiu Valdemar Batista a direção da entidade permanecendo até os dias atuais.

Nos tempos áureos da entidade, há de se lembrar de que no dia 14 de junho de 1988, encontramos um posicionamento firme de seu presidente, Irineu de Souza Brito, que manifestava-se desafiando as autoridades da época, em especial ao deputado estadual Akira Otsubo, da Comissão para Assuntos da Usina de Porto Primavera.

Revelava sua preocupação com a inundação das terras da barranca do rio Paraná pelo fechamento da barragem de Porto Primavera. Sabendo que o município de Brasilândia seria um dos mais atingidos pela tal barragem, desapropriando cerca de 400 famílias de diversas atividades, saiu em defesa destacando os oleiros, que perderiam suas atividades e funções, pois é na barranca que está a melhor argila para a produção de tijolos e blocos.

Nestes tempos recém saídos do regime de exceção, o sindicato foi uma voz que ecoou a jusante e a montante do Rio Paraná em defesa dos agricultores e oleiros ribeirinhos.

Às autoridades da época, o líder sindical questionava o motivo de ter sido convocado o 1º debate sobre Porto Primavera na cidade de Três Lagoas e não em Brasilândia. Evento que contou com a presença dos diretores da CESP e políticos da região e do Estado.

Perguntava o presidente do STRB na ocasião: Por que Vossa Excelência não fez o debate no local onde está o povo mais atingido? Por que não convocou o próprio povo atingido? Ou pelo menos o órgão que representa a classe, neste caso o Sindicato dos trabalhadores Rurais dos municípios atingidos?

Consta nos anais da história o posicionamento solidário da entidade aos companheiros do Porto João André e barranca do Rio, que tiveram suas indenizações irrisórias. Preocupados com este problema, nós, barranqueiros e sindicalistas conclamou: devemos estar unidos para agilizar junto à CESP as negociações para que nossas famílias tenham suas indenizações satisfatórias (...).

Foi um tempo pré-Constituinte onde, graças à força do trabalhador do campo e os sindicatos a Constituição Federal Cidadã, de 1988 marcou avanço na garantia de direitos fazendo valer a voz e o grito dos excluídos desde os rincões mais distantes. Num tempo onde o direito do trabalhador rural só era ouvido através da mobilização e reivindicação organizada, o papel do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia foi um divisor de águas, deixando para trás o tempo de obscurantismo e apartheid coronelista a que era submetido o cidadão retirante do campo permitindo-lhe ingressar num novo tempo, tal qual o que o iluminismo representou para a humanidade.

Corre o relógio do tempo e lá encontramos José Leite de Noronha assumindo a direção da entidade, renovando as lutas e as estruturas da entidade. O sindicato se moderniza: adquire aparelho de fax, bicicleta, aparelho celular, registro da carteira de trabalho da secretária, um micro computador com impressora, uniforme para funcionários, parceria com o Condomínio HJ no sentido de representação dos funcionários do grupo, parceria com os trabalhadores na área canavieira, recebimento e doação aos sem-terra de cestas básicas, aquisição de lona preta para acampados do Acampamento Esperança e convênio com a prefeitura para aquisição de jogos de cadeiras para atender trinta alunos do acampamento, entre outras realizações.

Homem profundamente dinâmico, Zé Leite deu impulso também na luta pela reforma agrária, crédito fundiário, a luta da Marcha das Margaridas que são as mulheres do Brasil, a luta dos aposentados, da 3ª idade, dos jovens, da previdência e agora da educação no campo. Nesta época o sindicato possuía mais de dois mil associados, embora a participação efetiva já começasse a declinar.

Hoje os tempos são outros e o nível de esclarecimento e poder de reivindicação que o trabalhador rural possui e é detentor, dá outro significado ao sindicato exigindo deste cada vez mais engajamento e poder de negociação entre a classe trabalhadora e o sistema neoliberal e empresarial sofisticado atuais. Tempos que, se por um lado, sepultou de vez a luta pela Reforma Agrária, por outro, garantiu direitos básicos como alfabetização e luz no campo ao trabalhador rural.

Ainda assim, ao sindicato exige vigilância e redobrada atenção contra retrocessos praticados pelos governos que se sucedem, onde novos e antigos desafios insistem em permanecer.

Parabéns Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia-STRB.

 

Brasilândia/MS, 12 de abril de 2021. 

36º aniversário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia.








Mais informações sobre o STRB e outras entidades conferir História e Memória de Brasilândia/MS, Volume 2 - Patrimônio (no prelo).