Dona Maria Aparecida Puci Alves: seus cabelos dourados e as jaçanãs.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Oh. Que dor despedir-se de uma mãe.
Depois de mais de duas semanas internada lutando pela vida, eis que a notícia
que ninguém gostaria de receber nos chega: Dona Maria Aparecida Puci Alves partiu.
A morte nunca é a notícia que gostaríamos de receber. Muito menos quando se trata de quem nos é caro, sangue do nosso sangue, de quem nos cobriu de afeto, de carinho e nos deu a vida.
Ah, como dói ver os filhos e netos, parentes e amigos do Novo Porto João André ter de devolver à terra uma de suas filhas diletas, menina dos olhos da margem de um rio que já vai longe.
E lá estão os filhos: Jorge, Regina, Alfredo, Renata, Francisco, e Regiane, sobrinhos e netos acenando a despedida daqueles cabelos dourados num barco que corre em direção ao mar, levando a joia mais rara, a lembrança mais terna de quem não volta mais.
Palavras são insuficientes para expressar o sofrimento daqueles que estiveram perto, lado a lado, acompanhando a luta desta mulher que soube vencer os desafios da vida e construir uma família.
Nascida em Bauru/SP no dia 22 de janeiro de 1945 foi casada com Francisco Alves, popular Chicão e juntos escreveram sua história na barranca do rio Paraná onde consolidaram um comércio que foi referência nos tempos áureos de progresso do Porto João André.
A torrente insana das águas de Porto Primavera levaram a família e demais ribeirinhos a tomar caminhos distintos, desagregando a comunidade e os laços que os unia. Mas dona Maria Aparecida permaneceu firme no ramo do comércio iniciado por seu esposo.
Transferidos para o núcleo cerâmico-oleiro do Reassentamento Novo Porto João André, ali, ela terminou de criar os filhos e viu nascer seus primeiros netos.
A felicidade estava completa, apesar da peleja que sempre lhe fez companhia e a manteve firme no leme do barco da vida. Vida que hoje nos foi tirada.
Perder a mãe é o maior de todos os sofrimentos que um filho pode suportar. Ainda mais em circunstâncias tão amargas e perversas que indignam a todos e somente cada um sabe a dor que é suportá-la.
Tudo que podemos fazer nesta hora é chorar ao lado dos amigos e pedir a Deus força para suportar esse momento.
Na esperança de que as lágrimas que rolam pelo rosto de cada um sejam sinal de fé e uma doce certeza, verdadeira benção celeste a que dona Maria Aparecida experimentou em vida mirando as águas tranquilas do paranazão.
É esta fé que conforta o coração dos irmãos, filhos e netos, sobrinhos, genros e amigos da vovó Maria Aparecida. O esteio da casa não cedeu. Ele continua firme no coração de cada um, por maior que seja o vazio e a dor que dilacera o peito.
As águas seguem serenas em direção ao mar enquanto suas margens acolhem o canto singelo das jaçanãs andejas. Sob a calmaria da tarde, flutua aquele barco azul em tom celeste como uma luz em meio à escuridão da travessia.
Ao longe o ruído da balsa, saudosa, chegando. O comércio funcionando. A torrente de lembranças. O olhar no horizonte. É a vida que continua.
Em sua homenagem aos filhos da terra, nutridos pelo suor de seus pais, no rosto daquela mãe e vovó querida, não sem dor, decidem continuar unidos conservando o edifício sólido da família que ela edificou.
Que a Virgem Maria a acolha e a conduza por mãos seguras até o novo porto, o Porto da Vida: onde o Pai Eterno de todos nós, a espera radiante no Céu. Amém.
Brasilândia/MS, 26 de abril de 2021.