segunda-feira, 12 de abril de 2021

 

Há 36 anos nascia o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 


Houve um tempo em que estas terras eram banhadas por muita injustiça e opressão. Sobretudo ao homem do campo sujeito ao mando dos senhores e políticos de plantão que por esses cerrados trilhavam estradas recém-desprendidas do Palácio Alencastro.

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia-STRB nasceu neste tempo, oito anos após a divisão do Estado, quando o Mato Grosso do Sul começou a ter vida própria, sem, contudo desprender-se dos velhos hábitos coronelistas de outrora.

Corria o dia 12 de abril de 1985 e lá estava fundado, depois de muita luta com os dirigentes locais da época, o primeiro sindicato dos trabalhadores rurais do município de Brasilândia. Sua primeira sede era uma instalação simples localizada na Rua Coterp numa cidade que ainda era praticamente um povoado de poucos fogões.

Quatro anos depois, no dia 3 de dezembro de 1989, numa cerimônia realizada no Salão Paroquial da cidade, durante o encontro do Grupo Alternativo Sindical, autoridades de várias cidades do Estado presenciaram a eleição de Irineu de Souza Brito que fora reconduzido ao cargo de presidente pela classe. Dezessete anos depois este mesmo presidente seria eleito o melhor sindicalista do estado de Mato Grosso do Sul.

Nos seus 36 anos de existência estiveram à frente do STRB como presidente, de 1984 a 2001, Irineu de Souza Brito, sendo que a partir de 2004 assumiu a presidência José Leite de Noronha, eleito em 17 de maio de 2004, permanecendo até 2012, quando foi eleito João Brito de Souza, que permaneceu presidente até 2016 quando assumiu Valdemar Batista a direção da entidade permanecendo até os dias atuais.

Nos tempos áureos da entidade, há de se lembrar de que no dia 14 de junho de 1988, encontramos um posicionamento firme de seu presidente, Irineu de Souza Brito, que manifestava-se desafiando as autoridades da época, em especial ao deputado estadual Akira Otsubo, da Comissão para Assuntos da Usina de Porto Primavera.

Revelava sua preocupação com a inundação das terras da barranca do rio Paraná pelo fechamento da barragem de Porto Primavera. Sabendo que o município de Brasilândia seria um dos mais atingidos pela tal barragem, desapropriando cerca de 400 famílias de diversas atividades, saiu em defesa destacando os oleiros, que perderiam suas atividades e funções, pois é na barranca que está a melhor argila para a produção de tijolos e blocos.

Nestes tempos recém saídos do regime de exceção, o sindicato foi uma voz que ecoou a jusante e a montante do Rio Paraná em defesa dos agricultores e oleiros ribeirinhos.

Às autoridades da época, o líder sindical questionava o motivo de ter sido convocado o 1º debate sobre Porto Primavera na cidade de Três Lagoas e não em Brasilândia. Evento que contou com a presença dos diretores da CESP e políticos da região e do Estado.

Perguntava o presidente do STRB na ocasião: Por que Vossa Excelência não fez o debate no local onde está o povo mais atingido? Por que não convocou o próprio povo atingido? Ou pelo menos o órgão que representa a classe, neste caso o Sindicato dos trabalhadores Rurais dos municípios atingidos?

Consta nos anais da história o posicionamento solidário da entidade aos companheiros do Porto João André e barranca do Rio, que tiveram suas indenizações irrisórias. Preocupados com este problema, nós, barranqueiros e sindicalistas conclamou: devemos estar unidos para agilizar junto à CESP as negociações para que nossas famílias tenham suas indenizações satisfatórias (...).

Foi um tempo pré-Constituinte onde, graças à força do trabalhador do campo e os sindicatos a Constituição Federal Cidadã, de 1988 marcou avanço na garantia de direitos fazendo valer a voz e o grito dos excluídos desde os rincões mais distantes. Num tempo onde o direito do trabalhador rural só era ouvido através da mobilização e reivindicação organizada, o papel do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia foi um divisor de águas, deixando para trás o tempo de obscurantismo e apartheid coronelista a que era submetido o cidadão retirante do campo permitindo-lhe ingressar num novo tempo, tal qual o que o iluminismo representou para a humanidade.

Corre o relógio do tempo e lá encontramos José Leite de Noronha assumindo a direção da entidade, renovando as lutas e as estruturas da entidade. O sindicato se moderniza: adquire aparelho de fax, bicicleta, aparelho celular, registro da carteira de trabalho da secretária, um micro computador com impressora, uniforme para funcionários, parceria com o Condomínio HJ no sentido de representação dos funcionários do grupo, parceria com os trabalhadores na área canavieira, recebimento e doação aos sem-terra de cestas básicas, aquisição de lona preta para acampados do Acampamento Esperança e convênio com a prefeitura para aquisição de jogos de cadeiras para atender trinta alunos do acampamento, entre outras realizações.

Homem profundamente dinâmico, Zé Leite deu impulso também na luta pela reforma agrária, crédito fundiário, a luta da Marcha das Margaridas que são as mulheres do Brasil, a luta dos aposentados, da 3ª idade, dos jovens, da previdência e agora da educação no campo. Nesta época o sindicato possuía mais de dois mil associados, embora a participação efetiva já começasse a declinar.

Hoje os tempos são outros e o nível de esclarecimento e poder de reivindicação que o trabalhador rural possui e é detentor, dá outro significado ao sindicato exigindo deste cada vez mais engajamento e poder de negociação entre a classe trabalhadora e o sistema neoliberal e empresarial sofisticado atuais. Tempos que, se por um lado, sepultou de vez a luta pela Reforma Agrária, por outro, garantiu direitos básicos como alfabetização e luz no campo ao trabalhador rural.

Ainda assim, ao sindicato exige vigilância e redobrada atenção contra retrocessos praticados pelos governos que se sucedem, onde novos e antigos desafios insistem em permanecer.

Parabéns Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia-STRB.

 

Brasilândia/MS, 12 de abril de 2021. 

36º aniversário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia.








Mais informações sobre o STRB e outras entidades conferir História e Memória de Brasilândia/MS, Volume 2 - Patrimônio (no prelo).

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