quinta-feira, 22 de abril de 2021

 

Dona Cida da Horta, a Pastoral e a Saudade.

Carlos Alberto dos Santos Dutra.

 


Falar sobre alguém que devotamos afeto faz bem. Como se diz, lava a alma e conforta. Sobretudo quando aquele ser precioso se encontra vivo e ao nosso lado. Da mesma forma, mas num sentido muito mais profundo e verdadeiro é quando aquele tesouro já não se encontra mais entre nós.

Corremos os olhos sobre as fotografias e o perfume de seus guardados, tudo na  ânsia de trazê-lo de volta para os nossos braços. É assim que, geralmente os filhos se sentem em relação aos pais. Perdem-se na saudade e se encontram nas lembranças.

Para cada um essas recordações têm um significado que pode divergir, mas quase sempre reconhece o quão importante aquele que partiu foi e daria tudo para seguir seus passos e caminhar na trilha do seu exemplo. 

É assim que os filhos e amigos da senhora Aparecida Conceição de Lima Dias se sentem ao relembrar o quão valiosa foi sua passagem entre nós, digna desta singela homenagem.

Falar da Pastoral da Criança no distrito Debrasa é tarefa impossível se não mencionarmos o nome da senhora Aparecida Conceição de Lima Dias.

Conhecida como Cida da Horta, ela nasceu em Nhandeara, no estado paulista, no dia 21 de abril de 1946. Era a primeira filha do senhor Alvino Leandro de Lima e da dona Augusta Conceição de Lima, criança queao lado de seus nove irmãos, experimentou ainda muito pequena colocar os pés na outra margem do rio Paraná, juntamente com sua família.

Brasilândia ainda era um povoado quando acolheu aquela família que adquiriu um pequeno sitio na região conhecida como Cabeceira Perdida, naquela época próspera comunidade de agricultores e pecuaristas. Foi ali, em meio aos vizinhos e trabalhadores daquele bairro, que Aparecida conheceu aquele que seria seu honrado esposo: Eurípedes Dias.

Corria o dia 25 de setembro de 1965 e lá se encontrava a jovem de 19 anos de idade, a noiva Aparecida toda vestida de branco unindo-se em matrimônio com seu Eurípedes. O município recém-emancipado ainda não dispunha de uma igreja, razão pela qual o casamento realizou-se nas dependências do Grupo Escolar Arthur Höffig.

A filha Rozenir recorda que certa vez sua mãe lhe contou que aconteceu na cidade, durante a inauguração da Escola Arthur Höffig, ao que parece, uma espécie de gincana ou promoção para o primeiro casal de noivos que se inscrevesse para casar, premiando-o com o não pagamento da documentação no cartório. O seu Euripedes correu para inscrever-se, mas chegou em segundo lugar, não sendo agraciado com o brinde, sorri a filha com esta lembrança.

O casal teve três filhos: os dois primeiros, que nasceram na região da Cabeceira Perdida foram: Ademir Dias de Lima e Rozenir Dias de Lima; e o terceiro, Ademilson Dias de Lima, que nasceu em Três Lagoas.

O casal lá residiu de 1974 até 1986, época em que a família se mudou para o distrito Debrasa, quando a indústria canavieira encontrava-se em alta e aquela comunidade se apresentava promissora e densamente povoada.

Desenvolveram ali o ofício que sempre praticaram ao longo de suas vidas. E graças a essa habilidade e dom de lidar com a terra, passaram a plantar horta para abastecer o refeitório da usina (Destilaria de Álcool de Brasilândia-Debrasa), recebendo em função desta lida a denominação que a tornou popular: dona Cida da Horta

E não somente ela, também seus filhos passaram a ser chamados de Horta, todos nós ficamos com o sobrenome de Horta, recorda a filha Rozenir.

Com o passar dos anos foram vendendo outras coisas e por fim eles abriram um mercadinho com o nome de Nossa Senhora Aparecida. Sempre muito devota e participante das celebrações na capela que foi construída na Debrasa - Comunidade São José Operário -, foi convidada pelo padre Lauri Vital Bósio, pároco de Brasilândia, a fundar um grupo da Pastoral da Criança no distrito.

E foi o que aconteceu. Segundo consta ela começou oficialmente a trabalhar na Pastoral da Criança em 15 de janeiro de 1998, porém já atuava na assistência às crianças e à comunidade desde 1986 quando ali chegou tornando-se uma respeitada liderança no local. 

E era isso que ela mais gostava de fazer: ajudar as pessoas, explica a filha com saudade. Recorda que todos os anos, no dia de Nossa Senhora Aparecida ela entregava brinquedos paras crianças. Era uma festa. A filha volta no tempo e parece acompanhar os passos da mãe, toda festiva, ajudando a organizar aquele significativo evento que fazia brilhar o coração e os olhinhos das crianças.

O trabalho desenvolvido pela senhora Cida da Horta alcançou tamanho relevo e magnitude que em 2000, a vereadora Mara Márcia de Jesus, conhecedora do trabalho da Pastoral da Criança no distrito, apresentou Moção de Apoio defendendo na tribuna da Câmara Municipal que a entidade deveria ser indicada para concorrer ao Prêmio Nobel da Paz de 2001, uma vez que, segundo a vereadora, esta entidade vinha desenvolvendo um trabalho espetacular junto às famílias de baixa renda na Debrasa, contribuindo para melhorar a qualidade de vida destas famílias, lutando pela paz e os direitos humanos.

Com a doença do esposo Eurípedes e o declínio econômico do distrito Debrasa, o casal já não mais tinha condições de saúde para continuar morando no lugar. Mudou-se então no mês de maio de 2016 para a sede do município de Brasilândia onde dona Cida dois meses depois haveria de se despedir para sempre de seu esposo, indo ela também ao seu encontro na eternidade, dois anos depois, em 25 de junho de 2018, aos 72 anos de idade.

O trabalho da Pastoral da Criança manteve-se firme, enquanto dona Cida da Horta permaneceu na Debrasa, juntamente com outros voluntários. Após sua saída do lugar a memória de sua presença ali ainda permanece, enquanto as ações assistenciais da entidade passaram a ser desenvolvidas na sede do município de Brasilândia.

Hoje a Pastoral da Criança se encontra sob a coordenação da assistente social Carmen Esmelinda Irigojen Olmedo Galiani que, juntamente com os demais membros voluntários da entidade que também conheceram dona Cida da Horta, prestam-lhe honrosa homenagem póstuma pelo trabalho que realizou e o iluminado ser humano, dedicado e prestativo que sempre foi.

Brasilândia-MS, 21 de Abril de 2021.





















Fotos e informações cedidas pela filha Rozenir Dias de Lima.

 

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