domingo, 18 de abril de 2021

 

Maria Risalva da Silva e seu sonho realizado de servir a Deus.

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 

Um a um aqueles que nos cercam estão partindo. Corremos em vão ao seu encontro em busca de abraços, pedidos de perdão, agradecimento ou simplesmente desejo de estar ao seu lado. 

E eis que, de súbito, não mais os encontramos, eles se ausentam deixando apenas um rastro de saudade.

Nesses momentos corremos para dentro de nós mesmos e procuramos encontrar o que ficou, réstias de luz daquele que partiu. 

O perfume das flores que um dia nos ofertou; o sorriso de seus lábios que nos dirigiu; o dia e a hora em que dele nos aproximamos e sentimos sua aura e presença...

A partida de dona Maria Risalva da Silva, com certeza, está sendo dolorosa para seus familiares e sua tradicional e extensa família local.

Nascida no dia 25 de março de 1961 na cidade de Panorama/SP, numa época em que Brasilândia ainda não possuía hospital, era filha de Isaura Maria de Jesus SilvaSebastião Nunes da Silva, fruto de uma família de oito irmãos.

E lá estavam reunidos Joel Nunes da Silva, Samuel Nunes da Silva, Paulo Nunes da Silva, Jonas Nunes da Silva, Isaías Nunes da Silva, Ana Ruth da Silva, Egídio Bonfim Silva e Bruno Bonfim da Silva, os rebentos daqueles pais cuja família havia aportado por Brasilândia no ano de 1959.

Deixando as raízes da família lá em Rio das Contas, na Bahia, residiram inicialmente na barranca do Rio Paraná, na altura do Km 18. Passados dois anos, em 1961, começam a trabalhar pelas fazendas mudando-se definitivamente para a sede do município de Brasilândia em 1965, ano da emancipação político administrativa da cidade.

Nestes tempos primeiros, trabalho era o que não faltava. E lá encontramos seus irmãos mais velhos trabalhando pelas fazendas. Uma delas foi a fazenda São Cristóvão, do sr. Paulo Carrara. Enquanto a jovem menina Maria Risalva construía seu castelo de sonhos, igualmente, ajudando seus pais nas atividades do lar.

Os irmãos relembram que ela trabalhou na farinheira da família, no restaurante do Dondô Fonseca, mas sempre se esforçou nos estudos, concluindo seu magistério, onde lecionou como professora de 1º Grau por algum tempo e na juventude também foi professora de datilografia.

O magistério ela concluiu na Escola Estadual Adilson Alves da Silva, enamorando-se e depois casando com Benedito Gomes de Castro em dezembro de 1982. Desta união, três filhos nascidos vivos: Ezequias Riciel da Silva Castro, Samuel da Silva Castro e Risia Raquel da Silva Castro.

Dona Maria Risalva sempre foi uma lutadora. Após casar, recorda a família, continuou exercendo funções do lar e mais tarde começou a vender roupa de porta em porta juntamente com o esposo que também exercia atividade rural numa pequena propriedade que adquiriram. Desta atividade angariaram força e coragem para abrir sua própria loja. Entretanto, após divorciar-se dedicou-se exclusivamente a atividade comercial.

Confessava abertamente para a família e amigos de fé, da Congregação Cristã da qual era membro, que seu sonho era servir a Deus para herdar o céu. Talvez por essa razão era carinhosamente chamada pela família de cigarrinha pois sempre cantava hinos de louvores e súplicas a Deus no seu dia a dia.

Viva a vida com simplicidade e alegria, independente das circunstâncias; seja temente a Deus servindo-O com disposição: esse era o seu lema.  A mensagem que sempre ofertava a quem lhe procurava era: se buscares as coisas dos céus as demais te serão acrescentadas .

Quem a conheceu de perto sempre soube das virtudes desta mulher que aqui se aquerenciou e firmou-se no comércio local, construiu uma família, conquistou amigos e auxiliou o próximo.

Desta senhora de fé, seus filhos e demais familiares devem nutrir belas lembranças e muitas recordações que hão de consolá-los neste momento de dor e sofrimento.

Por mais que a confiança e o temor a Deus seja o sustentáculo dos que creem, sempre há o que lamentar pela separação eterna.

Sobre esta senhora guardamos na lembrança a solicitude e atenção com que sempre nos tratou quando, por dezenas de vezes, garantiu vestimenta e abrigo aos indígenas Ofaié, quando coordenávamos o trabalho de assistência a esta comunidade autóctone pelo CIMI.

De aspecto sereno, tratando a todos por igual, mesmo sem demonstrar emoção aparente, porém seu coração estava sempre a disposição e atento. 

Sua presença foi decisiva naquele momento vivido por aqueles pequeninos do Reino, suprindo-lhes suas necessidades e confortando-os em seus reclamos.

Por essa e outras gentilezas, obséquios e cortesias que esta senhora angariou e nutriu somos grato, porque fez florir em nós e na comunidade que servia, o respeito e admiração, embora nunca lhe tenha sido dito.

Razão que nos faz, nesta hora de despedida triste e solitária (em razão da Covid-19) recordar, não sem dor, que esta senhora de apenas 60 anos de idade combateu o bom combate, terminou a corrida, e guardou a fé.  

E, com certeza, ela pode dizer no dia 13 de abril último diante do Trono: Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda (2Tim 4,7-8).

Descanse em paz dona Maria Risalva.

 

Brasilândia/MS, 18 de abril de 2021.



Com informações gentilmente cedidas pela família.

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