quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Os projetos, a pastoral e a memória da terra

Os projetos, a pastoral e a memória da terra
Carlito Dutra

Há 27 anos, os tempos eram outros, mas os sonhos ainda perduram.

Corria o mês de dezembro de 1989 e o regional Mato Grosso do Sul da Comissão Pastoral da Terra-CPT reunia-se em Campo Grande, na sede da combativa FETEMS, ex-FEPROSUL, na rua 26 de agosto, nº 2296, no bairro Amambai, para uma importante reunião.

E lá estavam, sob a assessoria das agentes, Pompéia Bernasconi, da CPT nacional e Regina, do ISER-RJ, assentados, sindicalistas, pescadores, sem-terra, mulheres, jovens rurais, representantes das CEBs e agentes de pastoral. 

Como convidados, estavam presentes também os bispos representantes do regional do CIMI, agentes e indígenas, representantes da Pastoral do Migrante, do Movimento Sem Terra, da Pastoral Rural e de Associações.

Secretariavam o evento, Graciele de Barizón, Belkiss de Kudlavicz e Lorita Druzian. Padre Adriano e Equipe, responsabilizando-se pela liturgia; Edvaldo, na coordenação do mural; o Tetila e o Egon, com a representação dos painéis das equipes diocesanas.

E os trabalhos de grupos se entrecruzavam com a espiritualidade, análise de conjuntura e propostas de linhas de ação em favor dos pequenos.

Não, não. Esses tempos não eram de flores, e a pauta dos dias 8, 9 e 10 daquele final de ano, girava em torno dos grandes projetos da agroindústria e pecuária ainda incipientes no Estado, as usinas de álcool, os reflorestamentos, as irrigações, mineradoras e hidrelétricas. 

Mal sabíamos que 20 anos depois, seríamos engolidos por dezenas de muitos desses empreendimentos.


E lá estavam todos irmanados na luta pela causa dos mais pobres, posicionando-se firmes em face do latifúndio, e o desenvolvimento a qualquer custo, apoiando a luta sindical e a organização dos assentados, acampados e associações urbanas e rurais. 

Bons tempos levados adiante por dedicados e combativos agentes, como Irmã Cléofa Marlisa Flack, coordenadora da CPT nesta época, entre outros que persistiram na luta a até os dias atuais... 

Memória de ontem que urge ser transformada em história concreta e atualizada em gestos eficazes e posições firmes contra este malgrado turbilhão que vem de longe e tudo arrasta...

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

O governador, o fotografo e um rosto na multidão.

O governador, o fotografo e um rosto na multidão.
Carlito Dutra

Aparentemente era apenas mais um rosto na multidão.
O governador Reinaldo Azambuja falando em Brasilândia, rodeado de secretários de estado, o prefeito municipal da cidade, Jorge Diogo e o staff da administração local. 

Mais ou menos trezentas pessoas circundava o palanque montado para receber aquele chefe do Executivo estadual que por vez primeira, oficialmente, pisava o solo brasilandense...

E, em meio a multidão, ali percebia-se um rosto a mais.

Cabelo grisalho, boné, corpo agasalhado do frio, levemente curvado, mas os ouvidos muito atentos às palavras do governante vindo lá do Palácio dos patrícios Guaicuru. 

Seu rosto, quase imperceptível aos olhos de quem falava a poucos metros dali, contemplava. 

Mais que isso, ouvia atentamente as palavras daquele jovem governador, se comparado a idade do ex-cacique Ataíde Francisco, o Xehitâ-ha Ofaié que, apesar de seus 60 anos vividos, já se sentia alquebrado.

Entre os presentes e ouvintes, entretanto, talvez ele fosse o mais atento. 

Sem a distração do celular ou do colóquio dos amigos e tendências políticas dos bastidores, comum em todos os pronunciamentos, carregava ao lado, uma pequena sacola com alimento e peças de roupa, e também um caderninho de anotações e uma caneta que sempre se esmerava em conservá-la junto de si.

Fez até menção em tirá-la para anotar alguma coisa, porém, logo desistiu tamanha a fluência das palavras do jovem governador. 

Enquanto o homem falava de obras, ordens de serviços, estradas e progresso..., o coração do velho índio acalentava sonhos e esperanças, sem perder, contudo, o tino de liderança.

-- Carlito, nenhum Ofaié está aqui..., disse-me preocupado. 
-- Você está aqui, tranquilizei-o. 

Ele sorriu e continuou seus passos, trôpegos, caminhando lentamente como que desviando a bebida, a hanseníase, o diabete que lhe acometem  hoje, e a saudade de um tempo de juventude e realizações que há muito o abandonou.

Foi quando um fotógrafo da comitiva oficial do governador o descobre na multidão e gentilmente aceita a sugestão de tirar uma fotografia deste anônimo entre tantos que ali estavam prestigiando a visita alvissareira para o povo daquela pequena cidade.

O velho índio contempla a beleza das ruas calçadas, as praças..., e lembra quando, ainda menino, corria por estes campos colhendo guavira e pequi. Quando ainda nem havia Brasilândia...

Ah, que bom seria se o governador um dia visitasse a nossa aldeia Anodhi... no km 10 da rodovia MS-040. Sonha.

Ele que também já teve seus momentos de glória, tendo discursado em vários lugares importantes, até mesmo no Auditório Nereu Ramos, na Câmara Federal em Brasília no ano de 1989.

Ou quando esteve cara-a-cara com Romero Jucá, então presidente da Funai, em 1987, para defender a demarcação da terra imemorial de seu povo Ofaié, na capital da República.


É. Concordo com Ataíde Francisco, confiante. Que bom seria se um governador, um dia, visitasse e ouvisse o povo Ofaié... assim como aquele velho índio lhe dedicara tanta atenção naquele dia.








segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Pelos Caminhos da Política Local

Pelos Caminhos da Política Local
Carlito Dutra


Com a decisão de Jorge Diogo - eleito pelo PT e depois filiado ao PDT -, de não mais concorrer à reeleição para a Prefeitura Municipal de Brasilândia, as classes menos favorecidas, as lutas populares, as lideranças comunitárias e sindicais, e as associações de bairro e de classe, por um momento sentiram-se desamparadas.

Logo, entretanto, surgiram dois caminhos. 

De um lado, uma luz, que logo busca fortalecê-los, convidando-os a agruparem-se em torno de um nome afeito a essas bandeiras, e que lhes parece garantir a continuidade dos direitos conquistados e criando também novas oportunidades de emprego e renda para os mais pobres.

Um nome, Márcia, que, a despeito da sigla, em nível local representa, paradoxalmente, a opção mais à esquerda dos caminhos a seguir, de aparente oposição ao desmonte que nacionalmente está posto.

Surge, assim, arregimentando sonhos e lutas, apostando no apoio do Governador do Estado, como uma esperança para Brasilândia. Com a promessa de que o município não será esquecido pelo Palácio Guaicuru.

De outro lado, outra luz com potencial brilho, no divisor das águas da política local, que conclama as forças que apostam na razão e no progresso, representada pelo candidato Antônio.

Candidato que aposta no empreendedorismo e a força dos diversos setores da nova sociedade emergente que dia a dia vem modificando vertiginosamente a geografia humana e social da cidade.

Também elas, em ambos os casos, estão aí sendo postas, centradas no reforço às ideias de austeridade e trabalho, que caracterizam o perfil da política moderna, despontando como forma de alcançar o desenvolvimento sustentável local e garantir um futuro melhor para Brasilândia.

A despeito da crise que assola a economia dos pequenos municípios - o que exigirá esforço redobrado a qualquer um dos prefeitos que vierem ser eleitos -, o tempo é de esperança.

Tempo, sobretudo, de acurada atenção para as propostas que cada um desses blocos e seus partidos irão apresentar ao cidadão para conquistar o seu voto.

São apenas 35 dias (a propaganda no rádio e na TV) para olhar nos olhos e sentir o que vai no coração; ouvir as propostas e saber se elas são exequíveis; sentir as exigências do hoje para conquistar com justiça o amanhã.