terça-feira, 2 de outubro de 2018

Os mansos possuirão a terra


Homenagem ao Sr. Aparecido Gomes de Castro.
(☼06/04/1951 - †27/09/2018)


Corria o ano de 1998 e a matriz da Paróquia Cristo Bom Pastor, ainda em forma de chalé, estava repleta. Era missa de Pentecostes e os fiéis agitavam bandeirinhas na procissão de entrada. E lá, bem ao centro da nave central da igreja, um jovem senhor de cabelos grisalhos também empunhava a sua flâmula, feliz, sorridente.

É a imagem que ficou na memória do tempo, do Sr. Manoel Gomes de Castro, pai do amigo Aparecido Gomes de Castro, fiel cristão que no dia 27 de setembro último nos deixou. Foi agitar bandeiras de fé e amor no céu, ao lado do Pai, para nos cobrir, pela Mãe esperança, com seu manto azul de paz.

Nascido em 6 de abril de 1951 na cidade de Presidente Wenceslau, o jovem Aparecido, muito cedo já andava de mãos dadas com sua mãe Maria Rosa, por estas terras de cerrado brasilandenses na lida do dia a dia do campo que lhe viu crescer e aos poucos foi domando a dureza dos tempos.

Depois de casado com Maria de Lourdes Silva Castro e ter ajudado a criar os filhos que Deus deu ao casal – Márcia, Aparecido Júnior, Elaine Cristina e Edna --, eis que cumpriu sua missão e foi arrebatado para os braços do Senhor da vida que lhe curou as feridas e aliviou as dores.

Foi ter com o Pai Maior de todos nós e contar-Lhe o caminho que percorreu e o seu amor pela vida e pelos filhos que sempre zelou. Oriundo de uma família humilde, beirando a miséria, lá estava os irmãos – Maria, Lázaro, Benedito, Eunice e Santina --, ao lado de Aparecido, homem do campo, olhando para o horizonte, onde a sua maior alegria era tirar o leite, aquilo era sagrado, e lidar com a criação.

Nos seus 67 anos de vida, trilhou em silêncio e humildade sua estrada. Dotado de uma rara pureza se dedicou ao cultivo da terra, sob a poeira, a chuva e o sol, e ação nociva da aplicação de venenos, que aos poucos lhe foi comprometendo a saúde, e agravando seu estado nos últimos anos.

Desde o barraco de lona onde iniciou sua trajetória de vida ao lado da esposa; desde o dia em que o Padre Lauri, pároco da época, uniu pelos laços do matrimônio o casal, que sempre viveu com dificuldades no sítio Nossa Senhora Aparecida, na bacia do córrego Bom Jardim, um raio de luz e otimismo selou sua sorte para nunca  desanimar este manso de coração.

Mesmo quando Deus confiou ao casal o dom precioso de gerar, nutrir e criar a filha Edna, excepcional com seu sorriso e gritinhos de felicidade, seu maior tesouro e graça, ele nunca esmoreceu, tocando em frente o seu sonho de agricultor, tratorista, e conselhos que foi semeando, carregando sua menina nos braços do amor e exemplar dedicação.

Aparecido Gomes de Castro partiu, e a dor maior é da família. Mas deixou filhos, netos e amigos que podem sentir orgulho daquele que foi pai e avô sem medida. Aguentou o quanto pode vivendo com os pés plantados no solo onde construiu com dignidade e mansidão sua vida e sua história.

Terra que hoje cobre o seu rosto, mas não a sua bandeira de fé que continua tremulando no céu, na mão do Pai e de todos nós. Descanse em paz, amigo Aparecido.

















Brasilândia/MS, 2 de outubro de 2018
Diác. Carlito.