quarta-feira, 21 de abril de 2021

 

Diácono Cidão e o dom de transformar vidas.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 








A morte de uma pessoa sempre nos leva a pensar no sentido da vida. Esquecemos, em meio às lágrimas, que somos nós que damos sentido a ela.

Com o diácono Walter Aparecido Ribeiro, conhecido como Cidão, foi assim. No dia 19 de abril último, aos 87 anos de idade, ele colheu os frutos de ter dado sentido a sua vida, cumpriu sua missão e se despediu do bairro Santa Luzia.

O primeiro bairro residencial de Três Lagoas está de luto. Pelas ruas empoeiradas do antigo Formigueiro não mais encontramos o menino esbelto que corria entre os desvãos de uma imaginária infância por aquele recinto ferroviário.

Os sons dos engates e estalos de martelos dos operários da antiga oficina de manutenção de máquinas, locomotivas e vagões da ferrovia, já não os escutamos mais, e tampouco o apito do trem ecoando por entre as casas de madeira simples que aos poucos iam surgindo naquela esplanada da NOB.

O homem que partiu ainda recorda o menino e aquele som que o embalou, onde ele cresceu e realizou o sonho de tornar-se ferroviário. É o escritor Jonir Pedro de Souza que nos faz lembrar os passos deste morador do bairro que tem o nome da santa protetora dos olhos, janela da alma: Santa Luzia. 

Sim. Seu Walter Aparecido Ribeiro, o nosso querido Cidão foi ferroviário, e trabalhou até se aposentar nas oficinas da NOB.

Profundamente religioso desde sua juventude, o casamento, a família e os filhos tornaram-no um cidadão ainda mais respeitado e querido por todos. Mais que isso, sempre solidário e dedicado a sua comunidade de fé.

Recorda o clero diocesano que o diácono Cidão ofertou sua vida para o bem da comunidade desde muito cedo. E lá o encontramos rezando o Santo Terço com um grupo de ferroviários, os assim chamados Marianos, em uma casa pertencente à estrada de ferro NOB que abrigou o primeiro quadro de Santa Luzia.

Foi a partir dos 40 anos de idade que ele começou a exercer suas atividades ministeriais regularmente junto a Paróquia Santa Luzia, sendo que a partir de 1984 foi nomeado Ministro Extraordinário da Sagrada Eucaristia.

O padre Rogério Fernandes Gomes anota que em 1986, por dois anos, este ministro foi acólito, sendo que dois anos depois, em 1988, lá estava ele recebendo das mãos de D. Izidoro Kosinski a ordem do diaconato permanente.

A nota da Diocese de Três Lagoas bem lembrou que o diácono serviu, na maior parte de seu ministério, à comunidade do bairro Santa Luzia, incentivando-a na missão e evangelização do povo.

Ao longo dos 34 anos de caminhada no ministério, este amigo que nos deixou, experimentou a alegria prometida pelo Senhor para os que decidem por atender o Seu convite de, mais de perto, segui-Lo, lembrou.

Homem simples, caridoso e leal, cujas raízes locais davam-lhe a força que precisava para levar adiante o seu testemunho de fé e de devoção, revelavam o seu pertencimento ao lugar onde viveu.

Homem de opinião própria, correto e sincero, e por isso querido por todos, era um líder nato. O amigo Jonir recorda ainda que ele sempre exerceu influência naqueles jovens, que o amavam como a um paiNão é exagero dizer que seu Cidão era unanimidade no bairro Santa Luzia e adjacências.

E arrisca dizer que a ausência de seu Cidão deixa muitos jovens que sempre lhe dedicaram muito respeito e amizade, órfãos da sua sinceridade, da sua palavra de carinho, do seu exemplo de vida, inspiração a centenas de jovens daquele lugar.

Homem reto de caráter, de prestígio, credibilidade e amizade verdadeira, sua presença no ambiente lúdico, a roda de amigos há de lamentar, a partir de agora: ...estão sobrando cadeiras nas trucadas de domingo à tarde, na Praça Santa Luzia.

É, Jonir. Não há quem esqueça sua maneira cordial de atender a todos, o jeito dele se portar no jogo de truco nos fins de tarde, e falar depois de perder várias quedas seguidas: ...da última, eu faço questão!, como bem lembraste.

Em 2002 o diácono Cidão esteve em Brasilândia durante a ordenação diaconal deste escrevinhador, ao lado de outros diáconos, Joaquim FerreiraJorge da SilvaAlceu Rosa de Oliveira, o que muito nos honrou e fomos gratos.

A mensagem que o bispo de Três Lagoas, D. Luiz Gonçalves Knupp dirigiu durante a missa de despedida celebrada na presença do clero e familiares, com certeza, são as palavras ditas pelo próprio diácono Walter Aparecido Ribeiro, que assim podem ser traduzida:

Tenho experimentado uma alegria que vai além de rir sem motivos, é uma alegria capaz de penetrar os corações e transformar vidas. Desejo com a graça de Deus gastar toda minha vida, na minha singela, para colaborar na edificação do Reino de Deus [1].

Continues sendo inspiração para a juventude e transformando vidas, no céu, diácono Walter Aparecido Ribeiro.

 

Brasilândia/MS, 21 de abril de 2021

 

 

[1] - Palavras do diácono Walter Aparecido Ribeiro, em 04 de dezembro de 2019, por ocasião da Novena em Honra a Santa Luzia.


Fonte: Jonir Pedro de Souza, Facebook, 19.abril.2021;19:43; Diocese de Três Lagoas, Facebook, 19.abril.2021; 19:00; Paróquia Santa Luzia, Facebook, 19.abril.2021; 19:47; Revista JP 100 anos de Três Lagoas, 14.Jul.2015.

 


 


*30.Março.1939 - +19.Abril.2021












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