A menina que
vendia sonhos.
Carlos Alberto
dos Santos Dutra
Falar em
sonhos, logo nos vem à mente aqueles acontecimentos que nos alcançam a noite,
durante o sono. Às vezes assustadores, outras vezes paradisíacos. Às vezes nos
deixando preocupados, outras vezes semeando em nós otimismo.
Logo pela
manhã, no esforço de contar para as primeiras pessoas que encontramos, eis que
o sonho nos escapa, foge da memória e facilmente o esquecemos na sua totalidade
ou em boa parte esses eventos, frutos do nosso subconsciente.
Há,
entretanto, aqueles sonhos
motivacionais, sonhos que contemplamos acordados. Nos acompanham no
dia a dia e, quando não, de quando em vez, os carregamos na algibeira. Uns guardados no coração,
a sete chaves; outros a olhos vistos, impossíveis de serem ocultados, tamanho o brilho nos olhos de quem os conduz.
Eles, esses sonhos da alma, se apresentam de diversas formas: aqueles possíveis de serem realizados e aqueles que perseguimos a vida inteira para alcançá-los, mesmo parecendo impossíveis para os homens.
São sonhos desejos de cura para doenças que
acometem a quem amamos; são sonhos votos de sucesso e êxito para o filho vencer
na vida e alcançar um bom emprego. São sonhos preces a Deus pela salvação e
felicidade eterna daqueles que caminham e que partem do nosso convívio, na
família e na comunidade. São sonhos lutas diárias em busca de sustento e
segurança financeira para não desanimar e tocar a vida em frente.
Sonhos
também são os presságios de alegria e de contentamento para a alma e o espírito
que movem o ser humano, aqueles que têm os olhos fixos no amanhã, confiando na força de seus braços.
Por fim e
não menos importante, existem os sonhos palpáveis, reais: pequenos bolinhos comestíveis que
podem ser de chuva, cobertos com açúcar e canela, ou simplesmente sonhos, com ou sem recheio
de doce de leite ou outra guloseima que o confeiteiro preferir.
E olhe que,
uma vez entregues, em nossas mãos, eles, generosamente, nos retribuem devolvendo-nos o paladar da vida. Como um paraíso na terra de leite e mel, que nos toma pela boca, desce pela garganta
e conforta todo o nosso ser, que agradece e se encanta. Um lazer, um prazer, uma
gostosura, quando não, uma travessura, de certa forma, desafiando a padaria e o
mercado formal.
Reza a lenda
que o sonho se popularizou em diversos países quando, durante a Segunda Grande
Guerra, grupos de judeus refugiados em outros países da Europa começaram a
fazer essa sobremesa. O folclorista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) faz menção a
essa herança culinária em sua obra História da Alimentação no Brasil. Ele
descreve que os sonhos ficavam na bandeja cercados pelas ondas de açúcar fino e
de canela em pó. A diferença é que os sonhos portugueses tinham recheio.
E lá se
foram ao longo do tempo, alcançando distâncias, aqueles sonhos, escondidos e misturados à massa, farinha e
fermento natural. Às vezes assados, outras vezes fritados, com recheio ou sem;
fofinhos, saborosos, prontos para serem servidos acompanhando um café, um chá ou um suco
natural.
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Foi este último sonho visível e abençoado que Brasilândia acostumou-se a ver circulando pelas ruas, sendo entregue um a um àqueles, dispostos a dividir e retribuir àquela cujo par de mãos também partilhava suas aspirações. Gesto que sempre fazia com dignidade e altivez. Isso porque parido pelo trabalho de uma mulher aguerrida, vencedora no silêncio suas batalhas, orgulho de sua família.
Muitos, dias desses, cruzaram por essa mulher de chapéu de ráfia, que hoje, aos 45
anos, nos deixou. Muitos de seus sonhos, ainda continuam posseiros no coração dos que a conheceram, em especial aos que
a amaram. Descanse em paz professora Eliete Spina Mariano, a menina mulher e mãe que vendia sonhos, nossos
sentimentos de pesar e dor. Para o Alex Sandro e à família.
Brasilândia
12 de agosto de 2023.
Lindas palavras pra descrever a mocinha com chapéu de ráfia que vendia sonhos depois conquistou a também nobre profissão de ensinar. Saudade eterna!
ResponderExcluirLinda Homenagem k Deus conforte o coração ❤️ de todos amigos e familiares
ResponderExcluirEterna Eliete.
ResponderExcluirQue os seus sonhos sejam vividos pela sua família.
Descansa em paz professora .......
❤️❤️❤️❤️
ResponderExcluirEla era muito dedicada ao que fazia. Uma pessoa extraordinária. Que Deus receba de braços abertos. E consola os que aqui ficaram 😭
ResponderExcluirHistória linda! eu amava ver seus sonhos suas delícias. Hoje com certeza nos braços do Pai prima.
ResponderExcluirNossa muito triste mas Deus sabe de tudo, meus sentimentos aos familiares 😔
ResponderExcluirMeus sentimentos aos familiares e amigos.
ResponderExcluirQue Jesus console a família, pois a querida Eliete está com o senhor 😪 estudamos juntas era um amor de pessoa sds eternas!
ResponderExcluirMuito lindo o que o senhor escreveu em homenagem a menina do sonho e asim que a via também menina mulher esposa avó saudades eternas
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