sábado, 12 de agosto de 2023

 

A menina que vendia sonhos.

Carlos Alberto dos Santos Dutra



Falar em sonhos, logo nos vem à mente aqueles acontecimentos que nos alcançam a noite, durante o sono. Às vezes assustadores, outras vezes paradisíacos. Às vezes nos deixando preocupados, outras vezes semeando em nós otimismo.

Logo pela manhã, no esforço de contar para as primeiras pessoas que encontramos, eis que o sonho nos escapa, foge da memória e facilmente o esquecemos na sua totalidade ou em boa parte esses eventos, frutos do nosso subconsciente.

Há, entretanto, aqueles sonhos  motivacionais, sonhos que contemplamos acordados. Nos acompanham no dia a dia e, quando não, de quando em vez, os carregamos na algibeira. Uns guardados no coração, a sete chaves; outros a olhos vistos, impossíveis de serem ocultados, tamanho o brilho nos olhos de quem os conduz.

Eles, esses sonhos da alma, se apresentam de diversas formas: aqueles possíveis de serem realizados e aqueles que perseguimos a vida inteira para alcançá-los, mesmo parecendo impossíveis para os homens. 

São sonhos desejos de cura para doenças que acometem a quem amamos; são sonhos votos de sucesso e êxito para o filho vencer na vida e alcançar um bom emprego. São sonhos preces a Deus pela salvação e felicidade eterna daqueles que caminham e que partem do nosso convívio, na família e na comunidade. São sonhos lutas diárias em busca de sustento e segurança financeira para não desanimar e tocar a vida em frente.

Sonhos também são os presságios de alegria e de contentamento para a alma e o espírito que movem o ser humano, aqueles que têm os olhos fixos no amanhã, confiando na força de seus braços.

Por fim e não menos importante, existem os sonhos palpáveis, reais: pequenos bolinhos comestíveis que podem ser de chuva, cobertos com açúcar e canela, ou simplesmente sonhos, com ou sem recheio de doce de leite ou outra guloseima que o confeiteiro preferir.

E olhe que, uma vez entregues, em nossas mãos, eles, generosamente, nos retribuem devolvendo-nos o paladar da vida. Como um paraíso na terra de leite e mel, que nos toma pela boca, desce pela garganta e conforta todo o nosso ser, que agradece e se encanta. Um lazer, um prazer, uma gostosura, quando não, uma travessura, de certa forma, desafiando a padaria e o mercado formal.

Reza a lenda que o sonho se popularizou em diversos países quando, durante a Segunda Grande Guerra, grupos de judeus refugiados em outros países da Europa começaram a fazer essa sobremesa. O folclorista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) faz menção a essa herança culinária em sua obra História da Alimentação no Brasil. Ele descreve que os sonhos ficavam na bandeja cercados pelas ondas de açúcar fino e de canela em pó. A diferença é que os sonhos portugueses tinham recheio.

E lá se foram ao longo do tempo, alcançando distâncias, aqueles sonhos, escondidos e misturados à massa, farinha e fermento natural. Às vezes assados, outras vezes fritados, com recheio ou sem; fofinhos, saborosos, prontos para serem servidos acompanhando um café, um chá ou um suco natural.

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Foi este último sonho visível e abençoado que Brasilândia acostumou-se a ver circulando pelas ruas, sendo entregue um a um àqueles, dispostos a dividir e retribuir àquela cujo par de mãos também partilhava suas aspirações. Gesto que sempre fazia com dignidade e altivez. Isso porque parido pelo trabalho de uma mulher aguerrida, vencedora no silêncio suas batalhas, orgulho de sua família.

Muitos, dias desses, cruzaram por essa mulher de chapéu de ráfia, que hoje, aos 45 anos, nos deixou. Muitos de seus sonhos, ainda continuam posseiros no coração dos que a conheceram, em especial aos que a amaram. Descanse em paz professora Eliete Spina Mariano, a menina mulher e mãe que vendia sonhos, nossos sentimentos de pesar e dor. Para o Alex Sandro e à família.

Brasilândia 12 de agosto de 2023.


10 comentários:

  1. Lindas palavras pra descrever a mocinha com chapéu de ráfia que vendia sonhos depois conquistou a também nobre profissão de ensinar. Saudade eterna!

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  2. Linda Homenagem k Deus conforte o coração ❤️ de todos amigos e familiares

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  3. Eterna Eliete.
    Que os seus sonhos sejam vividos pela sua família.
    Descansa em paz professora .......

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  4. ❤️❤️❤️❤️

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  5. Ela era muito dedicada ao que fazia. Uma pessoa extraordinária. Que Deus receba de braços abertos. E consola os que aqui ficaram 😭

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  6. História linda! eu amava ver seus sonhos suas delícias. Hoje com certeza nos braços do Pai prima.

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  7. Nossa muito triste mas Deus sabe de tudo, meus sentimentos aos familiares 😔

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  8. Meus sentimentos aos familiares e amigos.

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  9. Que Jesus console a família, pois a querida Eliete está com o senhor 😪 estudamos juntas era um amor de pessoa sds eternas!

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  10. Muito lindo o que o senhor escreveu em homenagem a menina do sonho e asim que a via também menina mulher esposa avó saudades eternas

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