domingo, 14 de abril de 2024

 

Homenagem ao desportista Professor José Cândido da Silva

Carlos Alberto dos Santos Dutra



 

1.              O esporte no Brasil e no mundo é paixão. Mexe com o coração não só dos atletas, mas também daqueles que torcem por eles nas arquibancadas.

2.              Aqui em Brasilândia isso não seria diferente. O amor pelo esporte, principalmente pelo futebol, sempre embalou as alegrias desta comunidade. Desde seu nascimento, o esporte esteve presente ao longo dos mais de 50 anos de existência desta cidade.

3.              Simples e criativo, para sua prática, bastava uma bola, mesmo que de pano, para ser jogada num campinho qualquer. Desde a pelada que era disputada na terra batida do bairro distante da cidade até o campo gramado das fazendas, especialmente preparado para os dias de festa e congraçamento dos funcionários e seus familiares, tudo era uma festa.

4.              A homenagem que fazemos hoje tem início de forma simbólica com a trajetória de uma bola que é arremessada pelo tempo, rolando pelo campo dos sonhos, em direção ao gol. Depois de passar por vários pés e ser tocada com habilidade e maestria por um atleta e seus dribles, eis que ela chega ao fundo da rede, objetivo final da partida, para orgulho e delírio da torcida ao ver mais uma vitória conquistada pelo seu time e seu atleta preferido.

5.              O jogador agora curva-se para o campo e segura nas mãos a bola que lhe dá o título. Contempla a pelota e seus gomos, antes multicoloridos e hoje já desgastados pelo tempo; mesmo assim a abraça num gesto de carinho e gratidão. Sente o seu calor e, ao longe, é como se ouvisse as vozes do passado que o alcançam, golpeando-o na emoção.

6.              Era como se tivesse ouvindo uma voz dizendo: --passa a bola Zé. Parecia ouvir os colegas do times de futebol que participou repetindo: --passa essa bola Zé.

7.              O atleta, agora, volta a ser um menino. Um menino que na infância corria seminu e descalço pelas ruas da cidade. Sim o menino que sonhara um dia ser jogador de futebol aos pouco ia se encontrando com seu destino.

8.              Aos 12 anos de idade, ele corre ao redor do gramado vendo seu pai, Joaquim Cândido, às voltas com a presidência da associação que fundara, o Brasilândia Atlético Clube-BAC, que arregimentava a elite dos atletas e formava o time de estrelas do futebol de campo da Costa Leste do Estado.

9.              Time que teve a ousadia de ostentar a garra e supremacia de ter conquistado o feito inédito de 33 vitórias consecutivas permanecendo invicto durante um largo período no anos 1990.

10.       Mas o sonho de José Cândido estava apenas começando a ser escrito na história das fileira do esporte brasilandense. 

11.       O atleta e administrador experiente, hoje, corre a passos lentos pela linha lateral do campo. Afinal, 73 anos se passaram desde que seus pais, Joaquim Cândido e dona Joana Maria, o tomaram nos braços cheios de alegria no dia 20 de maio de 1950 na vizinha Guaraçaí/SP, onde nasceu.

12.       Depois de terem morado em Planalto, Murutinga do Sul, Santa Fé do Sul e Guaraçaí, no estado de São Paulo, sua família fincou raízes em Brasilândia, instalando-se, no ano de 1956, nas margens do Córrego Bom Jardim cujas águas fartas nesta época irrigavam as roças e enchiam de esperança àquela zona rural.

13.       Foi nesta Cidade Esperança que o menino recebeu o apelido de Zé Paçoca, em razão de ter trabalhado  como vendedor de doces de amendoim moído na juventude.

14.       Foi aqui que ele aprendeu as primeiras letras no Grupo Escolar Arthur Höffig, estudando da 1ª a 4ª série. Depois, prestou exame de admissão para ingressar na 5ª série estudando até a 8ª série no Ginásio Estadual Dom Lúcio Antunes, na cidade vizinha Panorama/SP, fazendo a travessia arriscada pela balsa do Rio Paraná que neste tempo ainda corria rápido, livre e forte.

15.       Os ano se passaram e ele sempre conciliando os estudos com o esporte. Até o momento de se ver transformado num homem, para a alegria e orgulho da única irmã caçula, Áurea que sempre o incentivou.

16.       Licenciado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Ministro Tarso Dutra, de Dracena/SP, formou-se professor de Português e Inglês vindo a lecionar na cidade que o viu crescer.

17.       Aqui casou e constituiu família. Inicialmente ao lado da professora Célia Maria, falecida em 2017, com quem teve os filhos: Adriano, Adriana, Gislaine, e Franciane. E depois, ao lado de Aparecida de Fátima, com quem teve a filha Letícia. Hoje José Cândido é avô e encanta-se com os netos: Everton, Luiz Carlos, Camila, Gustavo, Carolina, Leandro, Andressa e Júlia.

18.       O início de sua carreira de professor deu-se no antigo Mobral no ano de 1968 quando passou a ministrar aulas no km 3 da barranca do Rio Paraná na Escola chamada Três Botecos.

19.       Anos mais tarde, escreveu a primeira biografia do município de Brasilândia, narrativa que pode ser considerada a história oficial do município.

20.       Em 1986 teve a participação decisiva na fundação da Associação Brasilandense de Professores-ABRAP que deu origem ao atual SIMTED.

21.       Sua vocação para a política nasceu vendo o desprendimento de seu pai, Joaquim Cândido, quando ele andava a cavalo, atravessando campos e roças, em busca de votos durante as campanhas eleitorais.

22.       Foi assim que o menino José Cândido, muito cedo, aprendeu como lidar com partidos, siglas e coligações políticas. Expertise adquirida que lhe garantiu ter sido eleito e permanecido como vereador e presidente da Câmara Municipal por 5 mandatos e uma prorrogação, totalizando 22 anos como legislador.

23.       Presidente do partido PDT por vários anos, foi prefeito de 1989 a 1992, sob o lema Dedicação e Fraternidade. Foi também candidato a deputado federal em 2002 conquistando o 1º lugar no município e 37º do Estado.

24.       Como chefe do Executivo municipal, José Cândido foi responsável por muitos feitos em sua administração que ainda hoje são lembrados pela população: Um dos mais marcantes é ter reconstruído o Cruzeiro, monumento originalmente instalado pelo fundador de Brasilândia Arthur Höffig, e que representa o marco histórico da fundação do município.

25.       Fruto de sua larga experiência política, seu jeito natural e ao mesmo tempo peculiar de agir ganhou o imaginário popular tornando-se uma figura folclórica agregando o apelido de Zé Rojão, pelo fato de chamar a população, quando da chegada de autoridades, inaugurações e eventos da municipalidade, por meio de fogos de artifícios, cujo som dos foguetes informava todos os munícipes.

26.       Entre suas realizações estão também a criação da Secretaria Municipal de Agricultura; o Centro Profissionalizante do Menor, e a Corporação da Guarda Mirim.

27.       Deu impulso também à Fanfarra Simples de Brasilândia, refundando a FAMBRA, criada 1983,  despertando para a música e o sentimento de patriotismo às crianças e jovens daquela época. Isso sem falar do Carnaval que era uma festa que ele sempre incentivou trazendo bandas para animar os foliões.

28.       Foi na sua administração também que a Prefeitura Municipal de Brasilândia ganhou sede definitiva, quando as dependências da antiga Escola Estadual Pedro Pedrossian, foram reformadas e ampliadas sendo transformada no Paço Municipal.

29.       Os olhos deste administrador, entretanto, nunca descuidou de seguir o rumo de seu coração que o levava aos campos, aos jogadores e à bola.

30.       Retroage o relógio do tempo e lá  encontramos o atleta José Cândido participando dos campeonatos amadores, quando a seleção de Brasilândia era representada pela equipe do Brasilândia Atlético Clube – o BAC, o time de maior brilho da região.

31.       E recorda a partida contra o time do Jupiá Esporte Clube, quando o BAC estreou dois jogadores que se tornariam referência no futebol em Brasilândia: o lateral André e o ponta-esquerda Fogoió.

32.       Este foi um dos maiores méritos de José Cândido: o de apostar no talento de um atleta que, entre tantos servidores que se dedicaram à área do esporte, trouxe as maiores alegria para Brasilândia: Everaldo Vieira da Silva, o popular Fogoió. Foi quando o BAC ressurgiu pelas mãos do ex-vereador Samuel Ramos Lopes, popular Biro-Biro.

33.       Tempo de glória do esporte, o futebol de campo era presença obrigatória nas Festas do Peão, quando as partidas que eram realizadas no imortal estádio Joaquim Cândido da Silva, lembra com saudade o antigo atleta ao ver o antigo estádio hoje envolto em sombras do desprestigio.

34.       Ah. Que orgulho sentiu quando deu entrada na documentação para o BAC ingressar na Liga e poder disputar o campeonato amador em Três Lagoas em 1989.

35.       Tantas partida e lembranças que marcaram a memória do BAC quando este time chegou a jogar até três partidas numa tarde pelo campeonato de veteranos da Liga de Três Lagoas.

36.       E ele estava lá, até mesmo na época quando as cores antigas, preto e branco, das camisas do BAC ganharam as cores o azul e o branco.

37.       Além do BAC, onde José Cândido atuou como ponta-esquerda, honrando o time com a camisa 11, ele também participou do CRB – Clube Recreativo Brasilandense, em 1990 e do BEC – Brasilândia Esporte Clube. Sobre a quantidade de gols que praticou, por modéstia, ele não arrisca a dizer.  

38.       Sempre atento às necessidades do esporte, inaugurou em 1989 a chamada Casa do Atleta, como era o Departamento Municipal de Desporto. E foi o grande incentivado do segmento feminino do BAC, com a criação do BRASAC que brilhou por décadas projetando o esporte das meninas de ouro em várias modalidades.

39.       Entre os eventos que o atleta-prefeito deixou sua marca está o célebre jogo entre as mulheres Solteiras x Casadas, ocasião em que as atletas foram saudadas no início da partida por uma bateria de fogos, bem ao estilo da época.

40.       Como já dissemos, o futebol é paixão. E as manchetes dos jornais estão aí para provar: quando o BAC ganhou de 1x0 do Frigotel, o jornal de Três Lagoas estampou: Frigotel não admite perder para o BAC! Isso aconteceu no dia 23 de maio de 1990.

41.       Fato curioso neste dia de festa quando se enfrentaram: Empaer, Bandeirantes, Xavantes, Bamerindus, Sucateiros, Cafezinho, Baixada Santista, Indiana Supermercados, República dos Anjos e Ginásio, o artilheiro deste torneio foi Biro-Biro e o prêmio de goleiro menos vazado foi para o nosso atleta José Cândido. 

42.       O redemoinho do tempo envolve a todos e o nosso homenageado respira fundo ao relembrar sua história de vida que deixou para trás. São tantas realizações e alegrias sentidas que é impossível recordar uma a uma.

43.       A maior de todas as alegrias, sem dúvida, no campo do esporte, foram os grande momento vividos em que pisou o tapete verde, verdadeiro campo dos sonhos onde cultivou amigos e ali pode ser admirado pela torcida que o aplaudia.

44.       Sobre sua maior tristeza e momento de dor familiar, foi quando viveu o falecimento de sua mãe, dona Joana Maria, aos 88 anos, e o falecimento do pai, Joaquim Cândido, que faleceu com apenas 52 anos de idade.

45.       No mundo do esporte, por fim, o desencanto do santista José Cândido vai para o estado de abandono em que se encontra o imortal Estádio Municipal Joaquim Cândido da Silva, nos dias atuais, carente de reformas e manutenção.

46.       Pequeno desgosto que o atleta-prefeito de outrora, busca esquecer, ao som da música sertaneja que embala os seus dias atuais de aposentado.

47.     Acordes sonoros que o animam a sorrir e estender as mãos em agradecimento à Deus pela homenagem que lhe é prestada neste dia. 

Obrigado Associação Recreativa Master-ARMs. 

Parabéns José Cândido da Silva.


Brasilândia/MS, abril de 2024.

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