domingo, 11 de outubro de 2020

A reeleição e os estreantes na política em Brasilândia

Carlos Alberto dos Santos Dutra



As eleições municipais geram momentos de muita disputa, sobretudo nos pequenos municípios. Elas têm dinâmica própria e chegam às vezes as raias da passionalidade. No calor dos debates, mesmo aqueles realizados entre os cidadãos comuns, a questão da reeleição sempre é colocada em xeque. A renovação dos agentes políticos, tanto do Legislativo como do Executivo é sempre um tema candente e que divide opiniões.

Neste ano Brasilândia apresenta um quadro expressivo de estreantes na política: 45 candidatos, o que corresponde a 65% do total de 69 candidatos em disputa; todos lutando por uma vaga das cobiçadas cadeiras à frente do plenário Raimundo Assis de Alencar, do Legislativo Municipal.

Entre os 24 candidatos mais antigos que concorrem neste ano e já participaram de pleitos eleitorais à edilidade, 11 deles já se elegeram e 13 já concorreram a vereador, porém nunca se elegeram.

No quadro abaixo que reúne as eleições ocorridas entre 1982 e 2016, se pode destacar os candidatos Jorge Madeira e Dominguinhos que já ocuparam cadeira no Legislativo por quatro mandatos, sendo, portanto, em tese, os candidatos que têm maior experiência legislativa no município. Jorge Madeira ainda concorreu a vice-prefeito em 2016 e Dega, igualmente a vice em 2000.


No outro extremo, podem-se destacar também os nomes de dois candidatos que, embora nunca tenham concorrido ao cargo de vereador, já participaram de eleições municipais, logrando ambos, aceitação popular tendo sido eleitos. É o caso de
Márcia Amaral candidata a prefeita em 2008 e vice-prefeita eleita em 2012, e Jorge Diogo, candidato a prefeito em 2004, vice-prefeito eleito em 2008 e prefeito eleito em 2012. 

O quadro é ilustrativo, porém, pode servir de parâmetro para firmar posição sobre o debate de um tema que sempre aflora nas eleições em geral. Sou contra a reeleição, muitos dizem, porém exigem sempre essa façanha do Legislativo somente, permanecendo o Executivo intocável. E por um motivo simples. A experiência administrativa mais comprometedora e de influência direta no cidadão, recai exigi-la do Executivo, por ser aquela que exerce ação direta na vida da comunidade.

A tolerância para com a reeleição de candidatos ao Executivo, bem como o empenho dos que defendem a necessidade de sua renovação a cada quatro anos, entretanto, exige uma reflexão que nem sempre o eleitor pode inteirar-se e aprofundar. Corrobora aqui o adágio popular que recomenda: a mudança exige cautela. 

Isso não quer dizer que o tema da reeleição de Legislativo e Executivo não deva ser colocado no rol dos debates e possibilidades, o que, em tese, evitaria a perpetuação de vícios e desmandos, muitas vezes presentes nas administrações e cuja fiscalização o Legislativo descuidou-se e permaneceu silente.

O tema da renovação na política impõe ao cidadão, sim, uma discussão não de botequim, mas em profundidade, avaliando os avanços e os recuos, benefícios e prejuízos que a sociedade presenciou ao longo de quatro anos de governo em seu município, permitindo-lhe arcar com a responsabilidade de escolher este ou aquele candidato olhando para o futuro. 


Este processo de reflexão e escolha sob hipótese alguma deve ser encarado como oposição cega, reduzida a um maniqueísmo obtuso: entre A ou B, direita ou esquerda, luta do milhão contra o tostão, enfim, o nós contra eles, o que torna a escolha por demais polarizada, e que nos dias atuais é potencializada pelos veículos sem censura das mídias sociais. Isso não deve ser assim. Numa sociedade educada, o palavrão, por exemplo, poderia até ser dito, mas em tom jocoso, jamais ofensivo. 

Um debate ocorrido nas eleições de 2004 promovido pelo SIMTED, nas dependências do saudoso Rotary Club cabe recordar com satisfação o esforço do então presidente do Sindicato Prof. Sérgio dos Santos Lima Junior e demais professores que, num gesto de cidadania exemplar, oportunizaram de forma inédita aos candidatos na época exporem suas ideias e propostas, tudo realizado em alto nível e com grande proveito e aceitação pela população brasilandense... Saudade.

Mas voltaremos ao tema.

Brasilândia/MS, 11 de outubro de 2020.


 

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