A aparência, a essência e a responsabilidade do eleitor.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Numa sociedade onde se valoriza mais a aparência do que a
essência, o nome e a imagem de alguns candidatos nesta eleição em Brasilândia
inspiram os mais diversos comentários, o que é reforçado não somente pelo
preconceito, mas também pelo comportamento diverso e hilário, por vezes, de alguns
candidatos. Vencida a barreira desta primeira impressão – pois afinal
conhece-se todo mundo numa cidade pequena --, os olhos do observador repousa sobre a
individualidade e boa intenção de cada um, o que nos leva a considerá-la e destacá-la.
Entre os que podemos chamar de candidatos pequenos e, no mais das vezes, invisíveis aos olhos dos chamados grandes em razão do pouco brilho e recurso na mídia, bem como seu discreto número de seguidores que os aplaudem, há de se destacar que muitos deles fazem por merecer também o elogio.
É pela fotografia de seus santinhos e algumas declarações e imagens postadas nas redes
sociais que arriscamos tecer algum comentário com a intenção de promovê-los e
homenageá-los, por dever de dignidade e justiça.
Causa-nos surpresa ver rostos comuns de trabalhadores, profissionais de diversas áreas manifestando-se sobre temas importantes e de interesse de todos numa comunidade introspectiva mas que também é solidária.
São mecânicos, vendedores autônomos, comerciantes, donas de
casa, pastores, manicures, missionárias, agentes da reciclagem, ambulantes, entre
outros, que revelam o quanto batalham pela vida, no mais das vezes distantes
das rodas sociais e status da fama,
para manter suas famílias. E ainda assim, lançam-se candidatos.
Ao lado de outros segmentos, digamos mais esclarecidos e
economicamente estáveis, como os profissionais liberais, servidores públicos,
policiais, escriturários, desenhistas, professores, empresários, entre outros,
esses heróis anônimos, ao contrário, contam somente com a cara e a coragem. E carregam
nos ombros o orgulho de ter uma chance de poder representar o seu município da
forma que lhe é possível, angariando a confiança própria e a simpatia de seus
familiares e amigos.
Colocar o nome à apreciação pública é sempre um desafio, sobretudo para aqueles que nada possuem, a não ser uma história de vida cheia de realizações e alguns sobressaltos. A vida não é igual para todos, e cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, diz a canção dom de iludir, de Caetano Veloso.
Isso porque durante a campanha, a vida pregressa e quiçá futura dos
candidatos, de uma hora para outra é colocada em xeque, quando não revirada do
avesso na busca de algum fato desabonador. Vencido este desafio, resta o
consolo de terem conseguido candidatar-se. E isso configura a maior vitória;
a despeito do que possam dizer sobre sua pessoa e seu passado.
Depois de ver seus nomes aprovados em convenções, muitas vezes sob a tutela de velhos caciques da política local, esses cidadãos, conquistam o direito de poder falar e dizer o que pensam para melhorar a sua cidade. –Mas quem lhes dará ouvidos? Ainda que possam ter uma visão diminuta e amadora da complexidade que encerra o exercício do poder, ainda assim, insistem, reivindicam, sonham: representam um novo olhar, visto do chão e cimento social ao qual a maior parte da população vive ou neste lugar teve origem e ascendeu.
Ato de verdadeira coragem e
altruísmo que, se por um lado demonstra o quanto a democracia representativa ainda
é a melhor forma de aquisição do regime político, por outro lado, garante que
todo e qualquer cidadão e cidadã possam ter acesso a este processo e passar de
representado à condição de represente.
Alguém poderá dizer que os cargos que tais candidatos
almejam – prefeito ou vereador – são por demais importantes para arriscar entregar na mão de qualquer um. Sim, há de se concordar. Porém, é para isso que existe a liberdade de escolha,
princípio basilar da democracia que garante o governo da maioria, devendo os
demais submeter-se a ela. Cabe, portanto, ao eleitor promover a sua escolha, acurada
e responsável, suplantando, inclusive os apelos do afeto, amizades e interesses
particulares.
Sempre é possível extrair o sabor doce de uma fruta, até
provarmos. Sempre é possível apalpá-la com os olhos e imaginar o paladar suave
que ela nos proporcionará, até poder tocá-la e perceber o seu perfume e textura delicada.
Pessoas não são frutas e sequer objetos; elas pensam e falam, e podem dizer a que
vieram; o que entendem e o que pretendem. Como candidatos devem, sim, arcar com a
responsabilidade do percurso que empreenderam até aqui rumo ao pódio.
Ao eleitor, portanto, cabe inquiri-los, questioná-los, procurar
saber o que, onde e como irão executar o que prometem. Estarão assim,
prestando-lhe a sua maior homenagem, valorizando a candidatura de seu amigo,
parente ou conhecido, por mais simples que ele seja. Em síntese, dotando-o de condições, apoio e respeito pelo que são e
contribuindo com responsabilidade para o que poderão vir a ser.
Brasilândia/MS, 17 de Outubro de 2020.
Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.
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