sexta-feira, 4 de junho de 2021

 

AMATA: o bem comum e uma viagem no tempo.

Carlos Alberto dos Santos Dutra











A propósito do Decreto Municipal nº 5341/20, de 18 de novembro de 2020 que incorporou as áreas dos lotes 02, 03 e 04 da Quadra C, do Conjunto Habitacional Tomaz de Almeida em razão de que teriam sido doadas ao município de Brasilândia pela AGEHAB, de Mato Grosso do Sul, não sem preocupação, uma onda de nostalgia e saudade toma conta do peito do antigo morador daquele bairro.

E para aqueles mais novos, desavisados da história uma viagem de retorno ao passado faz bem, não somente à memória que aviva os sentidos e sentimentos de pertença àquele bairro, como também confere legitimidade e senso de direito adquirido àqueles que por lá pisaram por vez primeira.

No caso do antigo bairro COHAB, seu nascimento deve-se sobretudo ao surgimento da Associação de Moradores e Amigos que ali floresceu e que conferiu à memória do antigo farmacêutico de Brasilândia Sr. Thomaz de Almeida, a honra de receber o seu nome, o que também foi conferido mais tarde ao bairro com o nome do benfeitor da cidade.

Nas matrículas citadas no referido decreto consta que elas passam a integrar o patrimônio do município. Numa delas, salvo engano, se encontra edificada o prédio da AMATA, Associação de Moradores e Amigos Thomaz de Almeida, de personalidade jurídica e de fins não econômicos, que em tempo passado edificou ali, com recursos próprios, o seu Centro Comunitário.

Lembremo-nos que na época da construção deste Centro Comunitário, cujos recursos foram adquiridos graças ao apoio da entidade Catholic Organization for Joint Financing of Developement - CEBEMO, da Holanda, em parceria com o Centro de Estatística Religiosa e Investigação Social-CERIS, a AGEHAB havia autorizado a construção do prédio no local.

Aliás, na planta inicial do Núcleo Habitacional que recebeu primeiramente o nome de Tia Neuza, a destinação destes três lotes, desde então já estavam definidos: um para a Associação de Moradores que em 1989 foi fundada com o objetivo de construir ali o seu Centro Comunitário; e os outros dois, à cargo da Prefeitura, para instalar o parquinho infantil e o campo de futebol society.

Tanto é verdade que engenheiro e arquiteto da AGEHAB, na época, encaminharam à AMATA, o projeto técnico da obra planejada para ser construída no local. Esta documentação encontrava-se com a diretoria na época, porém com o tempo, deve ter se extraviado, como tantos outros documentos da associação. Com este pensamento o prédio começou a ser erguido em 1992.

É esta onda de nostalgia e saudosa lembrança que nos envolve neste momento. Oportunidade que convido a todos a fazer uma pequena viagem visual, através de fotografias da época, para reviver um tempo onde a vida parecia mais leve, livre e solta. Numa época em que a felicidade de um bairro se media pela forma que seus moradores se relacionavam e defendiam o bem comum.

E foi isso que aconteceu. Muito cedo, num dia chuvoso e lá estava o caminhão desembarcando enormes colunas e vigas pré-moldadas de concreto e tijolos para a construção do Centro Comunitário da AMATA.













Mesmo com chuva a empresa de Panorama/SP atravessou a primeira balsa e não deu trégua ao guindaste que fixava ao solo uma a uma as colunas com força descomunal. Aos poucos a comunidade ia vendo acontecer o milagre da força de uma associação pioneira num projeto de grandeza de dar inveja a administração pública da época. Para a alegria do presidente da AMATA, Carlos Alberto do Amaral e sua equipe, o barracão ia tomando forma a olhos vistos.



Foram vários dias para concretizar o sonho da construção daquela obra. Os 10 mil dólares enviados pela entidade internacional foram totalmente empregados na estrutura e compra de material de construção. As notas fiscais, na época ficaram expostas ao alcance dos moradores que, aos poucos foram somando forças à Comissão de Obras, criada no bairro para dirigir os trabalhos da construção do Centro Comunitário.


Com a estrutura em pé, os moradores foram se achegando e respondendo ao chamado para a segunda parte do projeto: o mutirão. Num tempo em que as pessoas eram mais solícitas e solidárias e demonstravam autonomia e determinação, não ficando somente na dependência do poder público, o que se viu foi mais e mais moradores arregaçando as mangas e engajando-se no projeto.


E lá estavam os moradores no dia 23 de agosto de 1992 atendendo ao chamado da AMATA, homens, mulheres e crianças, com sorriso no rosto construindo o que passaria a ser propriedade da comunidade. E na foto lá estavam: o Betão, do Bamerindus; o Vilson Júnior; o Ceará Santos; o Abadio Ferreira; o Marcelo Lopes; o Tenente Neto; o Joaquim Polícia, entre outros.


A prefeitura local, na primeira administração Neuza Paulino Maia foi chamada a colaborar com 15 caminhões de aterro, o que logo foi assumido pelos moradores: Joaquim Polícia, Abadio Ferreira e Vilson Júnior, o Freitas, o Manoel Dário, ao lado de crianças, todos empenhados de mão na enxada e pés no chão.




E era muita terra para espalhar. Mas mesmo assim, em meio às brincadeiras que não faltavam, o mutirão ia em frente. As fotografias nos fazem lembrar com saudade e gratidão dos companheiros Franckito Amorim; o Robson Carvalho; o Edilson Fera; o Jones Galli; o PM José Roberto; o Valdenir Nininho, seu Amaral, o Carlito Dutra, seu Ricardo Venegas, Júnior Marceneiro, entre outros. Quanta saudade.




Eram pais que levavam seus filhos, iniciando-os no trabalho coletivo, pedagogos sem saber, prestavam relevante serviço a suas próprias famílias, tudo num clima de amizade e respeito. No horizonte, o sonho maior de ver construído pelas próprias mãos, um lugar para a comunidade se reunir, festejar e se educar.



Dois anos depois de iniciada a obra do Centro Comunitário da AMATA, na administração do presidente da entidade, Francisco Dias Neto, com o apoio da prefeita da época, Neuza Paulino Maia, o sonho dos moradores, idealizado pelo diretor cultural, Carlito Dutra, e o primeiro presidente da entidade Betão do Bamerindusfoi alcançado. O barracão foi concluído tendo sido descerrada uma placa no interior do prédio olvidando os pioneiros e conferindo todos os méritos à administração pública da época.



... Tudo começou com uma assembleia geral que realizou-se no dia 5 de junho de 1989 numa reunião que aconteceu na casa do Sr. Sérgio Toshio Otubo, morador na quadra A, lote 13, no bairro ainda chamado de Cohab. Naquele dia nasceu a AMATA - Associação de Moradores e Amigos Tomaz de Almeida, entidade pioneira que hoje, no dia mundial do meio ambiente, festeja seus 32 anos de fundação. Parabéns Bairro Thomaz de Almeida. Parabéns AMATA.

Brasilândia/MS, 5 de junho de 2021.


Mais informações sobre a história da AMATA confira o Volume 2 - Patrimônio, da coleção História e Memória de Brasilândia/MS, que será publicado brevemente.



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