A mansidão de Gabriel Rosa dos Santos ainda permanece por aqui.
Carlos Alberto dos Santos Dutra.
Conheci o senhor Gabriel
Rosa dos Santos, num dia desses qualquer, ao vê-lo passar com sua
bicicleta. Isso já faz muito tempo. Homem calmo e talhado pela elegância e
simplicidade possuía fala mansa, não escondendo a sua erudição e conhecimento sobre
os segredos da vida.
Quem o via pela rua, poucos conheciam sua história,
poucos sabiam de sua vida. Homem discreto que sempre foi no seu viver em sociedade,
a família e os amigos celebram hoje o seu primeiro ano de ausência.
As lembranças ainda estão muito presentes na memória.
E eis que uma onda de saudade envolve aqueles que o admiravam, recordando o seu
semblante sereno e que ao falar sempre demonstrava que sabia ou tinha intenção
de dizer muito mais do que nossos ouvidos careciam.
Assim era o vô
Gabriel, como era chamado pelos que lhe eram mais próximos. Autêntico
mineiro havia nascido na cidade de Engenheiro Schnoor, no dia 3 de dezembro de
1938, para a alegria dos pais Pedro Lopes
dos Santos e Herculana Rosa de
Oliveira e seus sete irmãos.
Sua infância passou-a
morando com a família nas redondezas de sua cidade natal, junto da fazenda Córrego
Grande, que fazia fundo com o Rio Gravatá próximo ao então vilarejo de
Engenheiro Schnoor. Anos felizes onde o peso das responsabilidades ainda não lhe
haviam alcançado os ombros.
Oriundo de uma família de
agricultores, sua juventude o encontrou labutando na lavoura que o fez
distanciar-se dos estudos. Sempre muito determinado e cheio de curiosidade, lá
o encontramos recuperando o tempo perdido, dedicando-se a escrever e fazer
contas, sozinho, sem auxílio de professor ou escola.
Resiliência que veio
coroar somente na idade adulta quando chegou a Brasilândia e matriculou-se na
escola para concluir sua aspiração de poder ler e escrever com facilidade. E deixou
para trás o tempo que laborou como marceneiro, garimpeiro e lavrador no
interior de Minas Gerais.
Aqui em Brasilândia ele
chegou no ano de 1972 em busca de melhores condições de vida, ele e a esposa Edite Vaz dos Santos cujas famílias já se
conheciam de longa data no seu estado natal. No casamento que ocorreu na cidade
mineira de Novo Cruzeiro, na época, houve a união matrimonial de dois irmãos de
cada família que se casaram com duas irmãs: Gabriel
e Edite, e Antônio e Antônia.
Em terras Sul-mato-grossenses
alimentava o sonho de continuar fazendo o que sempre fez durante moço: domar burros bravos e adestrá-lo para o
trabalho. E como ninguém é de ferro, nas horas de folga, alegrava a família
e os amigos ao cair da tarde, tocando uma sanfona que possuía; herança do seu
tempo de moço.
Logo a família e os cinco
filhos do casal já se encontravam integrados na nova cidade. Sempre muito
inteirado dos acontecimentos sociais e políticos do lugar, participou
ativamente na fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia,
firmando-se, mais tarde, como comerciante e mecânico de motosserra.
Verdadeiro homem de múltiplas
qualidades tinha o dom artístico, além de tocar sanfona, de trabalhar com a
madeira, ofício que aprimorou e exerceu por um grande período de sua vida.
Atividades que o faziam dialogar com a natureza e as plantas, e o ajudavam a amenizar
o sentimento de dor quando da perda do filho mais velho em 2009.
Mas o tempo é o senhor da
história e as alegrias sempre são maiores que as tristezas. Com a chegada dos
netos, cinco dos quais ainda pode abraçar, e vendo os filhos crescidos e
realizados na vida, sua alegria estava completa. Era ali que encontrava forças
para desparecer o sofrimento e fortalecer-se na fé em Cristo e na Eucaristia
que comungava e o fazia colocar amor em tudo que se aproximava e tocava.
O vô Gabriel Rosa dos Santos passou os últimos anos de sua vida lutando
contra a dor e o sofrimento de uma doença renal que o conduziu, por fim, à
Páscoa definitiva no dia 20 de junho de 2020. Encontrava-se ele com 81 anos de
idade, sendo que o exemplo de educação e respeito é o legado que ele deixou para
os filhos e netos.
Aquela bicicleta não
circula mais pela cidade e tampouco aquele senhor com o qual, de quando em vez,
este escrevinhador se detinha para trocar com ele duas ou três palavras talvez.
Palavras que ainda fazem falta a quem gostaria muito de ouvir.
O azul do Céu, com certeza
ficou mais brilhante naquele dia ao recebê-lo em meio às flores e a grama muito
verde, uma alusão a seu time preferido. A neta Franciele, por ocasião de sua
partida escreveu: O senhor foi um
guerreiro, lutou até o último suspiro... O sofrimento acabou. Meu velho... Permaneça em Paz, amigo.
Brasilândia/MS, 20 de
junho de 2021.
Saudade eterna, vô Gabriel!
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