domingo, 20 de junho de 2021

 

A mansidão de Gabriel Rosa dos Santos ainda permanece por aqui.

Carlos Alberto dos Santos Dutra.

 


Conheci o senhor Gabriel Rosa dos Santos, num dia desses qualquer, ao vê-lo passar com sua bicicleta. Isso já faz muito tempo. Homem calmo e talhado pela elegância e simplicidade possuía fala mansa, não escondendo a sua erudição e conhecimento sobre os segredos da vida.

Quem o via pela rua, poucos conheciam sua história, poucos sabiam de sua vida. Homem discreto que sempre foi no seu viver em sociedade, a família e os amigos celebram hoje o seu primeiro ano de ausência.

As lembranças ainda estão muito presentes na memória. E eis que uma onda de saudade envolve aqueles que o admiravam, recordando o seu semblante sereno e que ao falar sempre demonstrava que sabia ou tinha intenção de dizer muito mais do que nossos ouvidos careciam.

Assim era o vô Gabriel, como era chamado pelos que lhe eram mais próximos. Autêntico mineiro havia nascido na cidade de Engenheiro Schnoor, no dia 3 de dezembro de 1938, para a alegria dos pais Pedro Lopes dos Santos e Herculana Rosa de Oliveira e seus sete irmãos.

Sua infância passou-a morando com a família nas redondezas de sua cidade natal, junto da fazenda Córrego Grande, que fazia fundo com o Rio Gravatá próximo ao então vilarejo de Engenheiro Schnoor. Anos felizes onde o peso das responsabilidades ainda não lhe haviam alcançado os ombros.

Oriundo de uma família de agricultores, sua juventude o encontrou labutando na lavoura que o fez distanciar-se dos estudos. Sempre muito determinado e cheio de curiosidade, lá o encontramos recuperando o tempo perdido, dedicando-se a escrever e fazer contas, sozinho, sem auxílio de professor ou escola.

Resiliência que veio coroar somente na idade adulta quando chegou a Brasilândia e matriculou-se na escola para concluir sua aspiração de poder ler e escrever com facilidade. E deixou para trás o tempo que laborou como marceneiro, garimpeiro e lavrador no interior de Minas Gerais.

Aqui em Brasilândia ele chegou no ano de 1972 em busca de melhores condições de vida, ele e a esposa Edite Vaz dos Santos cujas famílias já se conheciam de longa data no seu estado natal. No casamento que ocorreu na cidade mineira de Novo Cruzeiro, na época, houve a união matrimonial de dois irmãos de cada família que se casaram com duas irmãs: Gabriel e Edite, e Antônio e Antônia.

Em terras Sul-mato-grossenses alimentava o sonho de continuar fazendo o que sempre fez durante moço: domar burros bravos e adestrá-lo para o trabalho. E como ninguém é de ferro, nas horas de folga, alegrava a família e os amigos ao cair da tarde, tocando uma sanfona que possuía; herança do seu tempo de moço.

Logo a família e os cinco filhos do casal já se encontravam integrados na nova cidade. Sempre muito inteirado dos acontecimentos sociais e políticos do lugar, participou ativamente na fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia, firmando-se, mais tarde, como comerciante e mecânico de motosserra.

Verdadeiro homem de múltiplas qualidades tinha o dom artístico, além de tocar sanfona, de trabalhar com a madeira, ofício que aprimorou e exerceu por um grande período de sua vida. Atividades que o faziam dialogar com a natureza e as plantas, e o ajudavam a amenizar o sentimento de dor quando da perda do filho mais velho em 2009.

Mas o tempo é o senhor da história e as alegrias sempre são maiores que as tristezas. Com a chegada dos netos, cinco dos quais ainda pode abraçar, e vendo os filhos crescidos e realizados na vida, sua alegria estava completa. Era ali que encontrava forças para desparecer o sofrimento e fortalecer-se na fé em Cristo e na Eucaristia que comungava e o fazia colocar amor em tudo que se aproximava e tocava.

O vô Gabriel Rosa dos Santos passou os últimos anos de sua vida lutando contra a dor e o sofrimento de uma doença renal que o conduziu, por fim, à Páscoa definitiva no dia 20 de junho de 2020. Encontrava-se ele com 81 anos de idade, sendo que o exemplo de educação e respeito é o legado que ele deixou para os filhos e netos.

Aquela bicicleta não circula mais pela cidade e tampouco aquele senhor com o qual, de quando em vez, este escrevinhador se detinha para trocar com ele duas ou três palavras talvez. Palavras que ainda fazem falta a quem gostaria muito de ouvir.

O azul do Céu, com certeza ficou mais brilhante naquele dia ao recebê-lo em meio às flores e a grama muito verde, uma alusão a seu time preferido. A neta Franciele, por ocasião de sua partida escreveu: O senhor foi um guerreiro, lutou até o último suspiro... O sofrimento acabou. Meu velho... Permaneça em Paz, amigo.

Brasilândia/MS, 20 de junho de 2021.




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