Eleições presidenciais: é bom lembrar...
Carlos Alberto dos Santos Dutra.
Há quem possa pensar que é muito cedo para falar em eleições. Mas o
mundo caminha numa velocidade espantosa e quando nos damos conta, esse tempo já
chegou. Parece que foi ontem que a população brasileira compareceu às urnas
para depositar seu voto de confiança e eleger o comandante maior do país.
E lá estavam também os brasilandenses neste contexto de euforia em torno
de um nome que representava a esperança daqueles que estavam ansiosos por
mudanças num governo até então comandado pelo MDB, antes pelo PT e, antes
ainda, pelo PSDB.
Nomes como Temer, Dilma, Lula e FHC
precisavam ser esquecidos, jamais lembrados. Independente dos ganhos que o povo
tenha obtido após os anos de chumbo, o brasileiro cismou de querer um rosto
novo. Havia sido assim com o Collor; por que não haveria de ser com Bolsonaro?
Sim, esse foi o nome que o Brasil escolheu. E Brasilândia, assim como
80% do estado de Mato Grosso do Sul, lá estava a cidade esperança acompanhando o condão dos
que agitavam bandeiras sob o jargão de defesa da pátria, combinando Deus e
armas, família e propriedade, capital e liberdade. Um refrão por demais
conhecido por aqueles que estudaram história e sempre preservaram o saber dos
livros.
--Ora os livros!, desdenham os atuais que governam sob ombreiras
verde oliva, motivados pelo sonho capitalista de exploração entreguista das riquezas do país. --Servem para que esses alfarrábios? Se perguntam: Se
eles foram escritos por mãos esquerdistas, socialistas, comunistas, anticristãs
e escambau?
O quadro aqui apresentado nos faz despertar para uma realidade que nem sempre atentamos, e que tem origem na opção que fizemos na última eleição em 2018. No primeiro turno, 12 candidatos a
Presidente receberam voto em Brasilândia, sendo que Bolsonaro obteve 54% dos
votos, ampliando essa margem para 65% no segundo turno. Assim registram os
resultados oficiais.
Olhando mais amiúde para esses números, entretanto, podemos observar que nem tudo parece o que é. A começar pelo número de votos brancos e nulos. Se no 1º
turno foram 402, já no 2º turno aumentou para 516. Dos 6.607 que votaram no 1º turno somente 6.216 voltaram no 2º turno.
A diferença não para por aí. Dos 9.713 brasilandenses aptos para votar, deixaram de votar 3.497 cidadãos. Ou
seja, 36% dos eleitores não votaram nas eleições presidenciais
no 2º turno.
Os números às vezes nos enganam e é preciso olhar com óculos de alcance
para perceber o que eles representam numa visão de conjunto. Tudo isso para dizer que nas eleições presidenciais em
Brasilândia, no segundo turno, de cada 10 eleitores, 3 (três) não compareceu
às urnas.
Isso somado aos 423 eleitores (6,8%) que anularam seus votos e 93 (1,5%)
que apertaram a tecla em branco, esse número revela ainda mais a baixa
representatividade que os votos traduziam.
Na ciranda dos números, se traçarmos um paralelo entre os votos
que Jair Bolsonaro obteve em Brasilândia essa distância se
torna ainda mais expressiva. Senão vejamos.
O atual chefe do Executivo federal obteve no segundo turno 3.719 votos, o que representa, 65,25% dos que compareceram às urnas naquele dia 10 de outubro
de 2018. Porcentagem que representa somente os que lá compareceram naquele dia.
Porém, se considerarmos o universo eleitoral que aponta 9.713 aptos para votar, os 3.497 eleitores que não foram às urnas, somado aos
1.981 votos conferidos a Fernando Haddad nos remete ao
sintomático percentual de 61%. Dado revelador do alto grau de desinteresse e não adesão do cidadão àquele que
acabou sendo eleito.
Se o (e)leitor chegou até aqui, concluo dizendo que o propósito deste
artigo é demonstrar que somos direta ou indiretamente responsáveis
por aquilo que acontece conosco e com nossa comunidade no campo social e
político. Votando ou deixando de votar.
Sim, parece que é muito cedo para falar em eleições presidenciais e as
demais coladas a ela (governador, deputado e senador). Porém, nunca é tarde
para aprendermos com nossos erros e escolhas equivocadas que às vezes fazemos.
No caso das eleições presidenciais em Brasilândia, é necessário que o
cidadão dê uma boa olhada na realidade que o cerca - preços,
desemprego, desmandos, desregramento, violência, doença e morte -; uma
boa olhada no que aconteceu nos últimos quatro anos em nosso país.
Depois, o passo seguinte é desarmar-se de paixões ufanistas e
ideologias segregacionistas, obscurantistas, terraplanistas que
sufocam e chegam fartas pelas mídias sociais, fulminando mortalmente corações e
mentes de ignaros e desprotegidos cidadãos.
E por fim, colocar em prática a lição, quiçá, aprendida: que o
feito realizado em 2018 não se repita! Que os 3.497 brasilandenses que ficaram
em casa naquela eleição, em 2022 pensem nos parentes e amigos mortos pela Covid-19,
cuja memória e nomes devem ser contabilizados e creditados no prontuário de
sangue do espólio do atual governo.
Que o brasileiro resgate o orgulho de estufar o peito e ser latino, sim. E volte a vestir as cores verde e amarela desta terra saindo às ruas. Manifeste-se, agite a flâmula, conquista
perene da nação e não de um governo temporário que a ventania urge derruir.
Que o povo não se cale. Exerça livre e com responsabilidade o maior de todos os direitos da democracia: o voto. Contra toda má sorte de uma pandemia.
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