Somos gratos a
Professora Abadia.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
No dia 17 de agosto de 2012 a educação e a cultura de Brasilândia
estavam em festa. Era promulgada neste dia a Lei 2.463 que denominava a
Biblioteca Pública do município de Professora Abadia dos Santos.
Através de um projeto de outra professora do município, Eurides
Palharis Lins, e sancionada pelo então Prefeito Municipal Dr. Antônio
Thiago, Brasilândia, assim, prestava uma merecida homenagem, ainda em
vida, a uma das pioneiras educadoras desta comarca.
Desde que aqui chegou na década de 1950 esta cidadã, nascida lá em
Glicério-SP no dia 21 de dezembro de 1940, seu olhos contemplaram o
nascimento de Brasilândia. Alegria do popular Joaquim das Moças, jamais
se sentiu imigrante, embora tenha habitado durante a sua infância um
território denominado CIC – Companhia de Imigração e Colonização da
Bacia do Rio Paraná, nos lembra a placa colocada em sua homenagem no
frontispício da Biblioteca Pública que leva o seu nome no Centro
Cultural Ramez Tebet em Brasilândia.
A jovem professora Abadia dos Santos começou a lecionar aos 18 anos de
idade numa escola na barranca do Rio Verde, quando ainda Brasilândia
nem existia e as ordens na região eram dadas pela jurisdição de Três
Lagoas e do Palácio Alencastro do Mato Grosso ainda uno.
No ano de 2003, uma antiga aluna sua, hoje especialista em educação,
Professora Áurea Cândido da Silva, seguindo os passos da mestra,
escreveu no jornal Independente Notícias, de circulação local, uma nota
de agradecimento a essa professora Abadia dos Santos que hoje nos
deixou.
Obrigada Professora Abadia! Obrigada minha segunda mestra! Você foi
educadora de muita coragem, esforço e vontade, com muito amor conseguiu
alcançar objetivos almejados que era ensinar, orientar e nos preparar
para a vida. Tornou homens e mulheres responsáveis e solidários, os
quais passaram por suas mãos adquirindo sabedoria: políticos, médicos,
técnicos, administradores, enfermeiros, dentistas, professores,
especialistas de educação e outros profissionais que participam do
crescimento social da nossa e de outras cidades...
Alegria, tristeza, aprendizagem. Lembranças que se tornam educativas,
pois tudo o que fazíamos era com sua orientação e organização. Num
cantinho desse depósito de registros, guardo com carinho a semana da
criança e o final de ano, onde eram feitos doces de abóbora, de mamão,
arroz-doce, bolos, sucos. Tudo para nós, alunos, que ficávamos
radiantes de tanta felicidade...
Lembro-me quando estudávamos no Grupo Escolar Prof. Arthur Hoffig, a
senhora e o senhor Arthur Hoffig nos convidou para andarmos de
helicóptero. Passamos a tarde toda dando voltas, vimos Brasilândia
inteirinha lá de cima. Foi uma emoção, uma alegria muito grande que
ficou gravada em minha memória...
Hoje, já pós-graduada, compreendo o seu método de ensino. Deixava-nos
descontraídos, aprendíamos brincando, divertindo e passeando. Como o
educador francês Célestin Freinet (1896-1966): convicto de que a
criança aprende a partir das próprias experiências (...).
A gratidão da Professora Aurea é a gratidão de todos os filhos de
Brasilândia que um dia foram alunos de Dona Abadia, ou quiçá o seu
olhar pousou sobre eles com a preocupação de pedagoga, quando
lentamente e por caminhos novos ela foi implantando conhecimento, para
a aprendizagem, fazendo dos nossos dia a dia momentos ricos...
Ao longo de tua caminhada tu guiaste o caminho da aluna Aurea e sua
filhas e o caminho de tantos que a tabuada não alcança e o alfabeto não
cobre. Mostraste a cada momento compreensão, luta, paciência,
inteligência e dedicação.
Que tua estrela continue sempre brilhando...
Parte a estrela, mas permanece o seu brilho...
Parte a professora, mas permanece os seus ensinamentos...
E quando passardes pelas estradas empoeiradas pelos fundões das
fazendas, e veres um ranchinho escondido tomado pelo mato e que lhe
traz na lembrança algo do passado, lembres que um dia ali pode ter
existido uma escola, das mais de 30 que Brasilândia possuía espalhadas
pela sua zona rural, e que foram consumidas pelo tempo.
Mais que isso, lembres que em cada uma delas existiu dedicadas
professoras que deram vida pela Educação, assim como pétalas de flores,
- à semelhança da Professora Abadia dos Santos – que, uma a uma, foram
se apartando de nós... e delas só nos restará o perfume.
Descanse em Paz querida professora e orientadora educacional aposentada
da Rede Municipal de Ensino de Brasilândia Professora Abadia dos Santos.
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