Pastagens, preservação ambiental
e responsabilidade em tempo de escassez.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
E lá vai, incansável, aquele senhor no alto de seus 61 anos de idade e vigor juvenil, dando o exemplo para muitos jovens da geração atual sobre a urgente e necessária consciência ambiental cujos pais e avós adquiriram na prática, aprimoraram na técnica, transformaram-na em ciência e lhes serviu para a vida inteira, sendo colocada na ordem do dia do tempo que se chama hoje.
Os 580.354,2 hectares de extensão do município de Brasilândia, antes coberto de vegetação nativa e pastagens rasteiras pontilhadas de gado vacum, hoje o cenário se apresenta bastante alterado. Se ontem (2005) pastavam candidamente mais de 558,2 mil cabeças de gado (1) por estas terras outrora descobertas pelos Ofaié, passados 15 anos, a população bovina encolheu 31,9% estando reduzida a 379,8 mil cabeças (2).
A manta verde que cobre as planícies levemente onduladas de seus campos, hoje é o império da cana e do eucalipto; ao lado da suinocultura e outros produtos primários que geram emprego e renda e impulsionam o progresso da cidade.
Isso, sem dúvida, acarretam mudanças na matriz econômica do município que cada vez mais volta os olhos para o segmento terciário de produção. O setor de serviços, sem dúvida, conquistou impulso considerável nos últimos dois anos, sobretudo, em razão da pandemia.
Comportamento que passou a competir grandemente
em números cada vez maior com o setor primário da agricultura e pecuária, diante
da escassa presença da indústria nesta comuna idealizada há 64 anos pelo
patriarca Arthur Höffig.
O nosso técnico que tudo observa debaixo da aba do chapéu de palha que ostenta, em sua viagem por entre as gramíneas ressecadas onde pisa, ao longo das cercas e seriemas, vence distâncias em direção a um lugar por vezes olvidado das decisões da urbe: o assentamento Mutum.
Ah, como são extensas essas estradas e a poeira que as envolvem, depositadas grão por grão nas gramíneas rasteiras e arbustos ressequidos que leva o vento até o telhado da humilde casa do sertanejo assentado que ainda sobrevive no campo.
O olhar do profissional, circunspecto com o que vê, sente-se triste e preocupado, escreve ele na sua página do Facebook, com a situação precária das pastagens: depois de sete meses de seca e duas geadas, encontrei muito gado em estado degradante de fome. Se a seca prevalecer por mais tempo, muitos animais vão morrer de fome e de sede.
Sua preocupação vai além ao alertar para a sobrevivência da fauna e flora quando observa a derrubada de árvores: além das baixadas, as árvores foram queimadas e não haverá frutos para alimentar a biodiversidade.
Como alternativa aos produtores pecuaristas, o técnico dá o exemplo, relatando o que ele mesmo está fazendo neste momento de estiagem para contornar o problema da escassez de alimentos para o gado: já estou no feno há trinta dias, e preservei feno em pé, o que lhe garante alimentos para três meses.
Seu alerta procede, uma vez que em muitas propriedades o gado já demonstra quebra na sua condição corporal. Segundo o José Melo de Carvalho, muitos fazendeiros são extrativistas e não fazem o manejo de pastagem recomendado, asseverando que deveriam olhar com mais responsabilidade para seus rebanhos.
O ecologista atento às mudanças climáticas, numa indignação que é partilhada por muitos, no seu comunicado assume a dor dos animais que padecem desafiando os proprietários ficar trinta dias sem comer, para sentir na pele o sofrimento dos animais, chamando a atenção daqueles que deixam o pobre do gado morrer de fome, exaspera-se.
Soma-se ao seu alerta, o enfático chamamento e apoio do IAGRO para o velho e sempre atual método extensionista de proceder a visitas aos proprietários rurais neste tempo de escassez hídrica. Ao mesmo tempo requer que seja aplicada a Lei, pela IAGRO e PMA, que pune os maus tratos de animais (3), porque não compram feno e ração, e não planejam o manejo de pastagens.
Ao mesmo tempo em que faz crítica aos piores pecuaristas do Brasil, com uma réstia de esperança, conclama aos munícipes proprietários (que poderiam aproveitar a alta do valor de comércio da carne alcançado no último ano), a investir em melhorias, reformas e manejo de pastagens de suas propriedades, confia.
Seu grito, por vezes solitário em defesa do setor, avança pelos campos e redes sociais em busca de solidariedade e interessados numa agropecuária competitiva e ao mesmo tempo sustentável. Clamor preservacionista de jovens filhos de proprietários pioneiros que herdaram o esforço e dedicação dos pais, oxalá bebam na fonte e, com urgência e humanidade, venham a assumir com mãos sábias o destino do campo, plantas e bichos.
Brasilândia/MS, 16 de agosto de 2021.
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(1) IBGE, 2004-2005
(2) IBGE, 2019-2020
(3) https://www.campograndenews.com.br/meio-ambiente/pecuarista-e-autuado-por-deixar-236-cabecas-de-gado-sem-alimento; http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2012/08/produtor-e-multado-em-r-107-mil-por-deixar-107-vacas-sem-comida-em-ms.html; https://correiodoestado.com.br/cidades/gado-e-abandonado-sem-pastagem-e-rebanho-pode-ser-sacrificado/362452
Foto: https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/boi/291925-projeto-de-recuperacao-de-pastagens-degradadas-do-fundo-brasileiro-de-biodiversidade-na-apa-do-ibirapuita-vai-utilizar-metodologia-desenvolvida-pela-embrapa.html#.YRpmZYhKjIU, 02.Jul.2021. E Facebook.
Obrigado dr Carlito,dois anos seguidos de tragedias,secas intensa,seguida de duas geadas,prejuisos alarmantes
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