sábado, 12 de abril de 2025

 

O sonho, a luta e o título da terra

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 



 


A entrega do título que garante aos atuais moradores dos reassentamentos Santana e Santa Emília é um acontecimento que deve ser comemorado. Receber das mãos da atual Prefeita Márcia Amaral e seu vice Fábio Toledo, o documento que os torna definitivamente proprietários de seu pedaço de terra, sim, é digno de aplauso. 

É uma demonstração, não somente de respeito ao cidadão devolvendo-lhe o que lhe é de direito, mas uma demonstração de reconhecimento pelo esforço realizado por uma comunidade que permaneceu firme na caminhada não abdicando de seus sonhos, travando suas lutas e almejando direitos e conquistando a vitória. 

O gesto que ocorreu no dia 11 de abril de 2025 último, mês em que Brasilândia/MS comemora 60 anos de emancipação político administrativa, também tem o mérito de acontecer pelas mãos de uma das filhas da mulher que tudo fez por aqueles reassentamentos, entre outros, impulsionando-os para vê-los florescer: a saudosa Prefeita Marilza do Amaral. 

Realidade que ainda pulsa no coração de muitos, mas sobretudo no coração de uma mãe que, do alto, vê o que tudo acontece. Em especial, os eventos realizados nos primeiros 100 dias do primeiro mandato de sua filha guerreira e vitoriosa: Márcia Amaral. 

Alegra-se em ver a coragem desta menina capaz de revelar a todos para onde o seu olhar aponta e qual a intenção do seu coração: os braços do povo e o seu labor. 

Ah, como bem sabem e sentiram na carne os que hoje lá residem como é bom serem reconhecidos, ouvidos e atendidos pela administração pública. Egressos de lutas, contra a poderosa Cesp, inicialmente classificados como mão de obra atingida pela barragem de Porto Primavera que os arrancou das margens do rio Paraná, foram tratados como números em planilhas de custos. 

Colocados em barracos de lona, acampados numa encruzilhada, em uma área prometida que depois foi loteada e transformada em reassentamento, recebem como prêmio uma casa provisórias, de madeirit, de somente um cômodo para sobreviverem. Somente depois de muitos protestos e reivindicações a voz destes pioneiros foi ouvida. 

E lá está a lembrança de seus primeiros nomes: Jaconias, José, Francisco, Domingos, Sebastião, Claudinei, Nilza, João, Fátima, Osvaldo, Pedro, Silvano, Raimundo, Benedito, Aparecido, Augusto, Sérgio, Mercedes, Laurindo, Manoel, Silvio, Júlio, Altair, Veridiano, Damiana, Gilberto, Antônio, Aparecido, Ademir, Andreia, Joel, Gersina, Édson, Sebastião, Lauro, Josielmo, Ismael, Anacleto, Durvalino, Rosalino, Luciano, Adriana, Roberto, João Brito, Nivaldo, Vandir, Jonas, Eurides, Altair, Aristide, e tantos outros pioneiros entre os que não soçobraram. 

Muitos deles perderam batalhas, sucumbiram, desistiram, foram enganados, e aos poucos, diante da falta de perspectivas para o lugar, foram entregando seus lotes acuados pelas dívidas acumuladas que os forçava a vende-los a preço venal. A infraestrutura prometida nunca lhes alcançou. O que era para ser desenvolvimento, só lhes trouxe desencantamento. 

Muitos deles, entretanto, resistiram e continuaram na luta sendo incentivados pelos novos moradores que foram se achegando com ideias novas e aptidão para o cultivo da terra, semeando alento ao lugar. 

E, assim como dizia minha mãe: ‘o que não tem remédio, remediado está’, o Reassentamento Santana e Santa Emília irmanou-se com os que foram adquirindo lotes unindo forças com o poder municipal solidário com seus sonhos e a influência do novo olhar e o novo tempo lhe se abria para todos eles. 

Hoje, passados 27 anos destes acontecimentos primeiros, pelas mãos de tantos filhos e herdeiros desta luta, cá estão estes pequenos proprietários de terra, revestidos do merecido manto de louvor que sobre seus ombros é colocado homenageando braços e mãos que venceram e têm razões de sobra para comemorar.  

Parabéns Reassentamento Santana e Santa Emília, e todos os que fizeram parte da história de luta e superação. Parabéns APASF e demais associações e entidades que sedimentaram este chão oportunizando a todos, com toda a sua dignidade, aqui chegar. Parabéns administração Márcia Amaral e sua equipe por tornar este sonho possível. 

Brasilândia/MS, 12 de abril de 2025.

 

Fonte e Fotos: Joana Nogueira in (2) Facebook; Dutra, C.A.S. História e Memória de Brasilândia/MS, volumes I-Pioneiros; II-Patrimônio; III-Cidadania; IV-desenvolvimento; e V-Poderes. Disponível para consulta na Biblioteca Pública Municipal de Brasilândia Professora Abadia dos Santos, e para aquisição no site: Carlos Alberto dos Santos Dutra - Clube de Autores

 

 

 Casal do Reassentamento Santana recebe mudas de seringueiras. (Foto: Jornal da Cidade, 2008).



O agricultor Vitalmiro Dias, do Reassentamento Santana e a abóbora gigante, de 33 kg, colhida em sua propriedade onde também planta milho, batata, feijão, jaca, caju, abacate, coco entre outros (Foto: Cidade Morena, 18. Fev.2009).

 





 No Reassentamento Santana, o agricultor João Brito de Souza prepara em seu viveiro mudas de plantas nativas para o reflorestamento de áreas degradadas e frutíferas em sua propriedade (Foto: João Brito de Souza, 2009).

 


João Brito de Souza e o Acampamento da Mão de Obra Atingida. (Foto: Arquivo João Brito de Souza, 1999).



Reunião com os moradores do Assentamento Santana e Santa Emília discutindo o Estatuto Social da APASF (Foto: Dutra, 2004).



Moradores do Assentamento Santana e Santa Emília vão ao Fórum da Comarca a procura de seus direitos (Foto: Independente Notícias, 2004).



Oleiros da Barranca do Porto João André reunidos com a Administração Municipal de Brasilândia (Foto: Jornal Dia a Dia, 1998).  



Reunião dos ribeirinhos da Mão de Obra Atingida pela barragem da hidrelétrica de Porto Primavera (Foto: Jair Bezerra Xavier/Jornal da Cidade, 2000).



Líder dos ribeirinhos do rio Verde e Paraná, João Brito de Souza, acampado na entrada da fazenda Santana exige da CESP a criação do Reassentamento Santana. (Foto: Jornal Dia a Dia, 2000).

 



Reunião dos Oleiros, pescadores, comerciantes e comunidade do Porto João André com a CESP, autoridades do município e lideranças do Estado (Foto: Miesceslau Kudlavicz, 1998).


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