segunda-feira, 20 de julho de 2020


Os candidatos, a memória e as ruas.
Carlos Alberto dos Santos Dutra


Eleições em clima de pandemia e isolamento social soam estranhas e contraditórias, uma vez que toda campanha eleitoral exige contato físico: tapinha nas costas; pegar criança no colo; beijar senhoras idosas; andar muito e não economizar palavras, comprometendo-se pouco. 

A nova realidade imposta pelo Covid-19 fez com que o pleito deste ano, mesmo tendo sido adiado por alguns dias, deva ser realizado de uma forma totalmente diferente. Exigirá dos candidatos elaborar melhor seus discursos e seu poder de convencimento.

O palanque ao nível do chão neste contexto deverá ser singular e distante dos grandes problemas nacionais e estaduais, focando sobremaneira as demandas locais. E tudo sob uma forte influência da concepção diversa de campanha vivida até então pelos cidadãos e cidadãs. 

Na verdade os eleitores de hoje são outros, diferentes daqueles que votaram em 2016. Mudança verificada, sobretudo em razão da popularidade e influência que as redes sociais assumiram na vida de cada um, onde as notícias e os segredos palacianos estão ao alcance de todos, diuturnamente expostos nas redes sociais: o que exigirá redobrada atenção do eleitor para a conduta social e as propostas apresentadas por cada candidato.

A reflexão aqui, entretanto, é a escolha que cada um será chamado a fazer. E parte de uma dupla perspectiva: a primeira, voltada para a vida pregressa e o modus operandi que este candidato já tenha praticado ou afirme possuir, capaz de intervir sobre a realidade, para mudá-la ou para melhorá-la. 

E a segunda, o olhar daqueles eleitores que entendem o candidato e o exercício de seu mandato, como uma extensão de seus interesses pessoais, algo como se ele fosse um funcionário seu e que devesse cumprir tão somente o que tenha prometido.

Ambas as visões tem seus méritos e deméritos. A última, por ser norteada por uma leitura clientelista e utilitarista do agente político, o candidato será eleito para satisfazer o desejo do eleitor, geralmente, de natureza assistencial, quando não assistencialista. O que exige do candidato altos investimentos e gastos em bens materiais e numerário para cativar e manter esse eleitor sob sua tutela, o que lhe garantirá, não sem desprezo e repreensão pública, o seu sucesso eleitoral.

A primeira visão, ao contrário, mantém-se no horizonte de ampla parcela da população que entende o candidato como um servidor do bem comum a partir das demandas sociais, culturais, econômicas e de bem estar da sociedade que irá representar. 

O voto de cada cidadão aqui se reveste de um poder-dever que transcende o interesse pessoal de cada um, uma vez que ele representa a soma de todos os interesses pessoais, o que torna sua proposta coletiva, comum a todos os cidadãos da comunidade.

Ainda assim, o interesse individual de cada um prevalece, uma vez que ele está subjacente, representado no conjunto de demandas elencadas pelo candidato ideal que se empenha para levar a diante o seu mandato de forma representativa. 

Desejos pequenos e grandes, assim, se misturam nesse conjunto chamado plano de governo, para o candidato prefeito, e propostas legislativas, para o candidato vereador. De modo que o cidadão pode tranquilamente dizer que aquele candidato lhe representa!

Um desejo, entretanto, é lançado aos candidatos à edilidade, confessa este eleitor em particular, cidadão já avançado em idade e experiência também no legislativo, qual seja: que a memória de Brasilândia seja preservada! 

Entende que tudo pode ser executado de uma forma simples e com demanda de pouquíssimo esforço. Algo como assumir uma das atribuições natas do agente político, tanto do prefeito como do vereador: a de colocar nome nas ruas. 

Pode parecer pouco, mas isso representa uma réstia de sensibilidade que o candidato pode comprometer-se, não somente pelo sentimento de natureza familiar, homenageando entes queridos parentes ou de amigos seus, mas pelo alcance cultural que tal iniciativa representa: preservar nos contornos da história oficial o nome dos fundadores, logradouros, estruturas, ícones e imagens presentes no mosaico da memória local.

Isso porque é pelo nome das ruas que se percebe o quanto um município preserva os seus valores, sendo que as vias públicas, através das placas indicativas do trânsito e outras afixadas no frontispício de prédios públicos, servem de indicador ao transeunte para os feitos inscritos na heráldica do lugar. Mais que isso, é uma sala de aula aberta, ao ar livre, ensinando e enaltecendo os feitos do passado e do presente em uma narrativa visual.

Na pesquisa que atualmente este escrevinhador realiza para a coleção História e Memória de Brasilândia/MS (cujo 1º volume já se encontra publicado) deparamo-nos com nomes de antigas ruas, projetadas ainda pelo fundador do patrimônio Arthur Höffig e os engenheiros da COTERP, onomástica que foi mudada pelos agentes públicos de ontem e também de tempos mais recentes: foram apagados da história.

Houve um tempo também onde um vereador de Brasilândia já havia se rebelado contra isso quando propôs um projeto de lei que foi sancionado pelo prefeito da época proibindo a mudança de nome das ruas, como uma forma de coibir o desaparecimento do nome de vultos e logradouros que fizeram a história local.

A lei sancionada, felizmente, foi colocada em prática. E não mais foram substituídos nome de ruas em nossa cidade. Um dos artigos desta Lei (nº 2.063/05), porém, ficou silente e não mereceu a mesma atenção dos nobres edis que sucederam o antigo vereador: o artigo que previa a reposição dos nomes antigos de ruas que foram subtraídos da oficialidade sendo conferido às novas ruas que fossem criadas.

Desta forma - confia o ex-vereador autor -, deverá fazer parte da plataforma de governo e/ou proposta legislativa de um candidato a proposta de resgatar a memória desprezada, garantindo a recomposição desta realidade, dando cores novas àqueles nomes que participaram da construção desta terra.

Nome Original 
(Que deverá ser recolocado em Ruas)
Nome Modificado (Atual)
Av. Arapuá
Av. Wilson de Arruda
Rua Chavantes
Rua dos Fundadores
Rua Cisalpina
Rua Hélio Martinez Júnior
Rua Clementina dos Santos
Rua João Paulo da Silva
Rua Fátima
Rua Anézio Zanoni
Rua Gastão Jordão
Rua Manuel Galdino de Souza
Rua Horácio Gea
Rua Aguimão Fernandes
Rua João de Lima
Rua Gerônimo Caetano Barbosa
Rua Lauro Ramalho
Rua João Augusto Fonseca
Rua Leonel Ferreira
Rua Raimundo de Assis Alencar
Av. Panorama
Rua José Estevam da Silva Filho
Av. Rio Verde
Av. Manoel Vicente
Rua Santa Fé
Rua Oclidio Zanardi
Rua Três Lagoas
Rua Jeremias Borges

Que sejam, pois, reconduzidos ao cenário da história oficial da cidade, através de projeto de lei, o nomes destes cidadãos e cidadãs, logradouros, signos da história da cidade esperança, devolvendo, assim, a dignidade e o respeito àqueles que, cristalizados no tempo aqui chegaram e aqui viveram muito antes de nós. 

Alguém poderá dizer que este é um desejo pessoal e, portanto, condenável. Talvez o seja em parte, porém, o seu alcance assume dimensão universal. Ao reconduzir personagens e ícones que marcaram a história de Brasilândia ao cenário da oficialidade o agente político presta relevante serviço à memória desta cidade, recolocando-os no pedestal da história. 

Brasilândia/MS, 20 de Julho de 2020.
Aniversário da Páscoa Definitiva do pioneiro Antônio de Souza Oliveira (Tunicão)


Um comentário:

  1. Muito bom meu amigo, está eleição será diferente de todas as já existentes, parabéns pela escrita.

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