terça-feira, 28 de janeiro de 2025

 

Seu Vitalmiro Dias e a força braúna da terra

Carlos Alberto dos Santos Dutra












De tempos em tempos nascem plantas que desafiam os ventos, resistem ao sol e a chuva, mas nunca perdem a alegria de viver. Atentas e teimosas, seguem crescendo, buscando a força da terra, com toda a sua garra. Empurram seus ramos verdes para o alto em busca de luz e a seiva que revigora e brota distante do asfalto. E de longe, tudo admiramos. 

Muito parecido com plantas que se tornam majestosas, grossos troncos, generosas, e dão frutos, sombra e acolhida, assim existem pessoas aguerridas deste naipe, deste estilo de homem raiz, que são exemplos de vida, orgulho de uma comunidade que, às vezes, o assiste passando pelas ruas da cidade, sem vaidade, com o chapéu da simplicidade, nunca escondendo a verdade, muito cedo o encontramos. 

Falo de um homem de coragem silenciosa que um dia cismou de nascer, dos braços do Criador desprender, para o coração de uma mãe, dona Maria Batista Dias, e para a alegria do pai, seu Teodomiro Dias. Com o nome de Vitalmiro, apelidado de Vital, o garoto de então crescia. 11 de agosto de 1942 foi a data da chegada do menino. 

Para o seio da família Dias, aqueles 8 irmãos em sinfonia, completavam a harmonia daquele lar: Nair, Édson, Wilson Roberto, José Tomáz e Nadir, Wilson, Alice, Helena. Lá em Valparaiso/SP, ainda pequena, onde passou sua infância e também lá trabalhou. Muito pouco estudou nos livros e nas escolas, mas na vida se formou, sempre na lida campeira. 

Vocação de agricultor, cultivada com amor pelo chefe da família, para o jovem Vital os anos foram passando, de lugar sempre mudando lá pelo Oeste paulista: Pacaembu, Flórida Paulista, Dracena, Irapuru. Até chegar em Brasilândia/MS, ano de 1971, nos campos da Gleba Seca, e se firmou por aqui o condutor de boiada, experiência de 16 anos. 

Mas já não estava sozinho, havia constituído um lar, um ninho para sonhar, ao lado de sua esposa. Seguindo o costume antigo, depois de falar com seu João Roque da Silva e dona Luíza Paes de Melo, pais da noiva, teve permissão para casar lá em Flórida Paulista/SP mesmo, com dona Cícera Luíza da Silva Dias, nascida em 16 de maio de 1949, que havia conhecido ainda quando trabalhava na lavoura de café. 

Em cerimônia realizada no mesmo dia no cartório civil e no religioso, a data de 3 de setembro de 1966 marcou a união matrimonial do casal com bênção para todo o sempre. Ele com 24 anos de idade e ela com 17 anos, e que permanecem juntos até o dia de hoje. 

Desta união nasceram 7 filhos: Leonardo Dias, Marcelo Dias, Milton Dias, Adilson Dias, Silvana Dias, Solange Dias, e Silmara Dias. 

Anos depois, a alegria aumentou com a chegada dos netos:  8 no total: Leonardo Dutra Dias Júnior, Vanessa Luiz Dias, Ingrid Danielle Aparecida Dias, Naiara Alencar Dias, Guilherme Dias Batista, André Tales dos Santos Dias, Lucas Alencar Dias, e Mariana Barros Dias. 

E como a vida sempre continua, para o vovô Vitalmiro, agora já com 83 anos, e dona Cícera Luíza, com 75 anos de idade, eles experimentam viver a graça e a alegria de abraçar seus 8 bisnetos: Rafael Coutinho Dias, Matheus Ponciano Dias, Cauã Ponciano Dias, Ísis Ávila Dias, Livia Ávila Dias, Enzo Gabriel Dias Guimarães, Gabriel Henrique Dias Mello, e Cecília Caliari Alencar Dias. 

Os ventos e a intempérie que buscam ferir a casca e o tronco da sólida braúna que aqui, nestas terras brasilandenses enraizou e frutificou, não consegue tirar o sabor da seiva do viver de Vitalmiro. Ele sempre segue em frente, resistindo às mudanças do tempo, sempre valorizando a família e ajudando o próximo. Enfim, vivendo e fazendo viver o que encontra à sua volta. 

Tocando sua charrete, um carrinho puxado a cavalo, mal os primeiros raios do sol começam a iluminar as ruas da cidade, e lá vai ele driblando os pássaros, irradiando verdadeira sinfonia com a bulha dos cascos que troteiam pelo asfalto, num toc toc de prece em direção ao reassentamento Santana. E isso todas as manhãs, como se tivesse um pacto com o relógio e o sol na harmonia dos dias que orientam seus passos. 

Perguntado para a família qual o maior tesouro que seu Vital recebeu e gostaria de agradecer a Deus ao celebrar os 84 anos de vida, aniversário que logo se aproxima, eles responderam que o maior tesouro que o pai recebeu foi sua família. E de ter conquistado tudo na vida com a graça de Deus, muito trabalho e determinação, e sem nunca ter estudado. 

Parabéns seu Vitalmiro Dias e dona Cícera Luíza da Silva Dias. O senhor e a senhora têm o nosso respeito e admiração. Aceite a homenagem que sua família lhe faz. Saúde, Bênção e Felicidade a todos!


Brasilândia/MS, 28 de janeiro de 2025.

 Fonte: Com informações fornecidas pela filha Silvana Dias e o neto André Tales dos Santos Dias.












sábado, 25 de janeiro de 2025

 

Irmã Norma Romancini, o acolhimento e os Ofaié

Carlos Alberto dos Santos Dutra






Dizem que as boas ações que fazemos para pessoas estranhas, o tempo consome e acabamos nos esquecendo como e quando elas aconteceram. De sorte contrária, aquele que foi beneficiado pelo desprendimento de um gesto de acolhida jamais esquece, guarda para sempre no coração profunda gratidão.

Corria o ano de 1988 e uma religiosa de hábito branco, muito dinâmica, regia a orquestra da administração do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora na emergente Três Lagoas de então. Tempos difíceis da filantropia, onde a motivação para o atendimento à saúde era garantida somente pelas pilastras do exercício da caridade cristã.

Não fosse aquela centenária santa casa salesiana, sob a égide das Filhas de Maria Auxiliadora, cujos princípios de sustentação representavam a única porta solidária de acolhida aos mais vulneráveis, o socorro médico e atendimento à saúde jamais estariam ao alcance daqueles que dela necessitassem.

Foi quando adentrou no pronto-socorro do hospital, deitado numa maca, um jovem indígena de 14 anos de idade, transportado desde Brasilândia/MS, em busca de atendimento. Hoje, isso pode ser considerado como um procedimento comum e recorrente, mas naquela época representava um verdadeiro ato heroico, tamanho os desafios para romper com a lógica e mentalidade de um tempo cujos valores e direitos humanos ainda eram assaz incipientes.

Distante ainda dos avanços que a neófita Constituição Cidadã haveria de garantir aos povos originários, sublimado depois com o surgimento do Sistema Único de Saúde hoje vigente, eis que uma voz se colocava ao lado dos oprimidos e os mais pobres.

Com mão firme e decidida lá estava uma irmã salesiana de nome Norma Romancini e outra irmã, salvo engano de nome Enoi que abriram espaço entre os corredores daquele nosocômio, destoando das vestes brancas de seus hábitos religiosos, para acolher a pele mais escura de uma criança indígena da cidade vizinha.

Sebastião de Souza era um indiozinho da Aldeia Anodhi que, depois de ficar internado por vários dias no Hospital Dr. Júlio César Paulino Maia, de Brasilândia, devido a gravidade de seu quadro clínico, teve de ser transferido para um hospital de maior recurso e complexidade.

Sebastião desde muito cedo enfrentou desafios na vida. Nascido na antiga aldeia Esperança, localizada nas imediações dos córregos Boa Esperança, São Paulo e Sete, ainda criança foi levado por seus pais Eduardinho Kri-í e Maria Aparecida Hanto-grê, ao lado de seu irmão João Carlos Can-rê, para região de Bodoquena, quando foram transferidos pela próprio órgão indigenista oficial, a Funai, retornando oito anos depois, após sofrerem todo tipo de violência e a marca do esquecimento oficial. 

A doença meningite pneumônica com edema cerebral o alcançou impiedosamente, o que fez, à época, ser transferido pelas mãos prestimosas de um missionário do Cimi até a porta do hospital local, numa época em que aos indígenas não lhes era dado o direito à saúde digna.

Rapidamente acolhido, aquele corpo franzino sentiu-se iluminado pelo zelo e compaixão numa aura de compaixão que imanava daquela irmã e o corpo clínico do hospital. De certa forma ecoava no lugar as orientações e compromisso do mestre, pastoralista da terra, o colaborador Dom Isidoro Kosinski, bispo diocesano de Três Lagoas, que deu grande impulso e atenção aos sem-terra e indígenas neste período. No caso Ofaié, ao lado do padre Lauri Bósio, D. Izidoro contribuiu de forma decisiva para o soerguimento desta comunidade indígena.

O gesto da irmã Norma e da irmã Enoi nunca foi esquecido por este missionário que hoje pode testemunhar. Também os pais do jovem Sebastião que, mesmo depois dele ter sido transferido de Três Lagoas para São José do Rio Preto, davam graças a Deus pelo empenho destas religiosas.

Com o auxílio do Dr. Guerra, uma ambulância da Sudeco e a solidariedade do professor Dalve, da CPT, na época, o jovem já em estado de coma, foi transportado para o Hospital de Base de São José do Rio Preto. Três dias após ter sido acolhido pelo Dr. Marcos, do Hospital de Base, Sebastião veio a falecer no dia 25 de janeiro de 1988.

Ao lado de sua cama estavam Eduardinho Cri-í e sua esposa. Com olhos fixos no menino, segurava a mão do missionário e agradecia na língua ofayé àquelas irmãs por tê-los atendido e ajudados a chegar até ali. Depois, em meio às lágrimas, o pai olha para o missionário e pede: --Salve ele para mim...

Agachô, o Deus criador dos Ofaié naquela tarde levou Sebastião para o jardim do Céu que o esperava. E a nós, que ali tudo assistíamos, só restava cobrir de flores o rosto inocente daquele jovem e buscar um jeito para trazer de volta o corpo sem vida para o seio da Aldeia Anodhi, distante dali 350 km que o esperava.

Esta história aqui relembrada faz parte da memória do povo Ofaié e integra a trajetória de morte e vida deste povo pelos campos de Agachô. Em especial pelos mais antigos que ainda guardam no coração o gesto obsequioso de acolhida e respeito de uma irmã chamada Norma Romancini e sua providencial ajuda que prestou depois a outros indígenas durante o período em que foi diretora do Hospital Auxiliadora (1988 a 2005).

Parabéns irmã Norma Romancini pelos 60 anos de vida religiosa. Obrigado a família salesiana das Filhas de Maria Auxiliadora que, ao longo, sobretudo dos primeiros anos, abriram as portas da Instituição para os apelos do coração, do amor, do acolhimento e de respeito ao próximo, como o Cristo nos ensinou.

 

Brasilândia/MS, 25 de janeiro de 2025.

 

Fonte: Dutra, C.A.S. Diário de Axayray. Indigenismo e Missão entre os Ofaié, Brasilândia, Edição do Autor, 2021, pág. 79-81.

Foto: https://facebook.com/drpauloveron

 









Sebastião de Souza Ofaié (1974-1988)

sábado, 18 de janeiro de 2025

 

Os dons, Caná e a nossa intimidade com Deus

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

As leituras bíblicas deste segundo domingo do tempo comum, ano litúrgico C, de 19 de janeiro de 2025 (Isaías 62, 1-5; São Paulo aos Coríntios 12, 4-11, e João 2,1-11) nos inspiram a entender um pouco mais como Deus se relaciona com a humanidade.

À semelhança da íntima relação entre o noivo e a noiva, Isaías nos fala da alegria do noivo ao desposar a jovem donzela. Demonstra com isso a alegria e felicidade de Deus quando consegue estabelecer um diálogo paternal de afeto com seus filhos.

Da mesma forma São Paulo aos Coríntios que, ao abordar esta mesma relação nos alerta para o fato de que nem tudo são flores. Há de se ter paciência e saber identificar os limites e virtudes de cada um, como numa relação matrimonial, onde cabe a cada um descobrir o carisma do outro e isso vale para as relações da humanidade inteira.

Porque segundo Paulo há uma diversidade de dons que estão impregnados no nosso ser e espírito, e que orienta o nosso proceder dia a dia. Cada um de nós tem um dom, nascemos com uma habilidade, uma virtude, às vezes latente, mas que precisamos desenvolver com o tempo, com a graça de Deus.

Quando colocamos estes dons em prática isso nos aproxima, eleva e nos dignifica perante Deus. Sinal de maturidade na fé que personaliza e santifica nossa relação com Deus e com os irmãos: noivo com noiva, esposo com esposa, pais com filhos, comunidade entre si.

É bom lembrar que tudo provém do Espírito que derrama sobre cada um de nós suas bênçãos em forma de ministérios onde cada um é chamado a se manifestar em benefício do bem comum.

Paulo elenca os dons que Deus nos dá e que começamos a desenvolver logo após o nosso Batismo. Dons que Deus nos concede, não para nos empoderar no orgulho e na vaidade, mas para manifestar a Sua glória que se dá em gestos de amor.

Entre os dons, tem a palavra da Sabedoria, a palavra da Ciência, da Fé, da Cura, da Profecia, do Milagre ou o Falar em línguas estranhas e o Interpretar estas línguas, o dom do Discernimento, entre outros. E tudo segundo o mesmo Espírito, sem hierarquias e distinções.

Ou seja, tudo o que fizermos é para estreitar nossa relação de intimidade com Deus, nos mostrar o quanto Ele nos ama. A ponto de distribuir esses dons a cada um de nós conforme a sua livre vontade.

O Evangelho de João, por fim, nos dá um exemplo de como colocar em prática um desses dons. É o que percebemos através do primeiro milagre realizado por Jesus nas Bodas de Caná.

Se Jesus não fosse o filho de Deus e fosse um simples cristão, discípulo do Salvador, como um de nós, poderíamos dizer que essa pessoa, naquela situação, manifestou o seu dom, colocando a serviço o dom de operar um milagre.

O que podemos, então, deduzir dessa passagem? 

Muitos ensinamentos. Mas o relacionado ao tema de nossa reflexão que gira em trono da intimidade com Deus, podemos dizer que o gesto de Jesus nos ensina que também nós podemos realizar o milagre a quem quer que seja e esteja à nossa volta.

Em profunda intimidade com Deus, inspirado no exemplo de seu filho, Jesus Cristo, e pela Força de seu Santo Espírito, também podemos nos sensibilizar com a situação e os desafios que estão à nossa volta e buscar mudar a situação, trazer felicidade ao redor de quem necessita e sofre.

No caso concreto, Jesus, sensibilizado com a falta de vinho numa festa em que participava, coloca um de seus dons a serviço para fazer o bem e trazer a felicidade àquele casal. Foi o sinal visível da presença de Deus no seio daquela família devolvendo ao casal o vinho, símbolo do amor conjugal.

Casamento sem amor não é casamento, é vazio. Por isso Jesus coloca o seu dom em socorro daquela situação, para a alegria do Pai. Por isso todas as vezes que colocamos nossos dons à serviço do bem, o menor que seja, estamos restabelecendo nossa ligação amorosa e filial com Deus.

Observe que nem sempre temos essa sensibilidade, nem sempre somos observadores e percebemos que não chegou a minha hora, como disse Jesus à sua mãe. Às vezes é preciso que anjos em forma de irmãos e amigos nos alertem para que intervenhamos. 

Maria, uma mulher, excluída do convívio social no costume judaico, destampa a ferida e rompe com a tradição dirigindo a palavra e alertando o Filho sobre a falta de vinho.

Às vezes é preciso coragem para fazer o bem, e abertura para deixar o dom de Deus se manifestar em nós. E isso, no caso das Bodas de Caná, nos chega pelas palavras doces de Maria que orienta os demais discípulos: Fazei o que Ele vos disser.

A frase também serve para todos nós. Para que façamos o que Deus nos diz no coração e nos mostra através dos olhos, levando ao mundo a sua vontade de Paz, Amor e Justiça. Mesmo o gesto mais simples, porém gentil e de acolhimento, em favor do próximo, nos aproxima cada vez mais de Deus. 

Cada vez que colocamos à serviço do Reino um dos nossos dons em benefício do bem comum, o rosto Deus se enche de alegria ao ver seus filhos estreitando laços de fraternidade, respeito e promoção de divina caridade a partir dos instrumentos – os dons – que o Espirito Santo nos emprestou.

Quando isso acontece, quando os dons são colocados à serviço do Reino, é como se Jerusalém, no anunciado por Isaías na primeira leitura, antes descrita como a cidade abandonada e deserta, agora se transforme na predileta e bem-casada, menina dos olhos do Senhor da história.

Aquele que tudo é capaz de transformar nos brinda com sua graça e, na força de seu Espírito, nos anima a seguir o conselho da intercessora Maria para fazer tudo o que Ele nos pedir. 

Que possamos mostrar ao mundo a glória e o amor de Deus Pai que se manifesta livremente onde quer que seja, em qualquer tempo e lugar.

Assim Seja.

Senhor, eu sei que é Teu este lugar
Todos querem Te adorar
Toma Tu a direção
Sim, ó, vem, ó Santo Espírito
Os espaços preencher
Reverência à Tua voz vamos fazer.

Podes reinar Senhor Jesus, ó, sim
O Teu poder Teu povo sentirá
Que bom, Senhor
Saber que estás presente aqui
Reina, Senhor, neste lugar.

Visita cada irmão, ó meu Senhor
Dá-lhe paz interior
E razões pra Te louvar
Desfaz toda tristeza
Incerteza, desamor

Glorifica o Teu nome, ó meu Senhor.
 
Podes reinar Senhor Jesus, ó, sim
O Teu poder Teu povo sentirá
Que bom, Senhor
Saber que estás presente aqui
Reina, Senhor, neste lugar.


Brasilândia/MS, 18 de janeiro de 2025.

Fonte: Deus Conosco, dia 19/01/2025, 2º Domingo do Tempo Comum; Podes Reinar - Padre Zeca - LETRAS.MUS.BR, Composição: Armando Filho

Foto: 3 lições importantes para nós das Bodas de Caná

 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

 

Debrasa: a esperança tem rosto e nome.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


Que lugar é esse onde meus olhos repousam?

Lugar que ainda desejo caminhar pelas ruas, cumprimentando vizinhos e amigos de outrora, e de um tempo que não volta mais.

Tempo de fartura, onde o burburinho das ruas e dos bares adormecia com a bulha da noite e acordava pela manhã com o ruído dos tratores e bi trens, e a maestria do manejo pelos trabalhadores de seus facões e podões.

Povo dedicado e obreiro sempre atento ao chamado  daquela máquina gigante, fumegante, sempre moendo e moendo a cana verde dos campos que garantia o sustento de toda gente.

Para onde foi aquele lugar que meus olhos já não veem mais e minhas mãos já não alcançam? 

Olho a minha volta e o que vejo é somente solidão e saudade. 

E uma vontade imensa de sair por aí, empurrando minha cadeira de rodas e ir ao encontro do povo, meus amigos e cidadãos, conclamando-os a sair de seus refúgios e desesperança, partilhando com eles uma réstia de luz e otimismo.

Sim a esperança tem nome, tem rosto e seu coração pulsa no sorriso da simplicidade de quem chega, nos saúda e estende a mão. 

Mais que isso: deita o coração e ouvido sobre nós, nos devolvendo a voz do direito e a dignidade esquecida. Nos colocando novamente no centro da história e de sonhos possíveis, sonhos que podem ser realizados.

Ah! Debrasa querida, como somos descuidados com o ser humano e o patrimônio público.

Sob as cinzas, entretanto, ainda pulsa uma centelha de vida no novo tempo que se vislumbra e emerge. 

Vida que está disposta a avançar em direção a um futuro novo onde todos possam caminhar de mãos dadas com quem vai no mesmo rumo, mesmo que distante ainda esteja de aprender a conjugar o verbo amar.  

Avante minha gente!

Brasilândia/MS, 16 de janeiro de 2025.



sábado, 4 de janeiro de 2025

 

Gratidão e flores para o meio ambiente e turismo de Brasilândia.









Gratidão é a melhor palavra para expressar o sentimento que me impulsiona e move neste momento.

Nas empreitadas que realizei nestes meus 68 anos de idade, sendo que destes, 39 trilhados nesta Cidade Esperança, nunca procurei ser melhor do que ninguém.

Apenas dividi com os outros e as asas do meu coração, o pouco que pude fazer e o muito que Deus me concedeu.

Nem de longe vocês podem avaliar a felicidade de saber que alguém, no terço final de sua vida, finalmente se sente reconhecido e valorizado.

Desde quando aqui cheguei, nos idos 1986, de braços dados com meus propósitos altruístas, tenho dedicado parte significativa do meu ser às causas aparentemente perdidas, que ficavam à margem da preocupação dominante.

Pequenas e grandes ações, por vezes anônimas e ocultadas pelo vento, mas que se transformaram em logros e desafios que me ajudaram a amadurecer como cidadão, como profissional e como cristão dedicado ao próximo.

É esta, pois, a razão de minha gratidão por ter recebido -- sem ter pedido sequer uma --, manifestações de afeto, centenas de votos de felicitações de pessoas amigas, próximas e distantes pelas redes sociais, conhecedores de minha trajetória e que se sentiram felizes dividindo essa alegria comigo. 

Palavras doces, suaves, amenas, sinceras, cheias de vida e calor. Coroa de flores, e cantigas de pássaros, uma aura de otimismo e esperança verde partilhada pelo fato de me verem agora numa posição de vanguarda, não galgada na força e no poder, mas na singeleza e firmeza de meus ideais.

Mas, como "nenhuma boa ação fica impune", esta alegria compartilhada, --como não poderia ser de outra forma --, exige e conclama a todos a aceitar um desafiante convite: o de caminhar de mãos dadas na direção de um Meio Ambiente e Turismo responsável, cheio de vida e sustentabilidade para nossa querida cidade.

Obrigado ao engenheiro Pedro Henrique Coutinho do Vale que dividirá comigo esta missão, e a todo o secretariado e colaboradores da nova Administração de Brasilândia. À pessoa da prefeita Márcia Amaral e seu vice Fábio Toledo, o nosso muito obrigado pela confiança e oportunidade.

Avante Brasilândia! E que Deus nos abençoe a todos.


Brasilândia 2 de janeiro de 2025.