Os dons, Caná e a nossa intimidade com Deus
Carlos Alberto dos Santos Dutra
As leituras bíblicas deste segundo domingo do tempo
comum, ano litúrgico C, de 19 de janeiro de 2025 (Isaías 62, 1-5; São Paulo aos
Coríntios 12, 4-11, e João 2,1-11) nos inspiram a entender um pouco mais como Deus se
relaciona com a humanidade.
À semelhança da íntima relação entre o noivo e a noiva, Isaías nos fala da alegria do noivo ao desposar a jovem donzela. Demonstra com
isso a alegria e felicidade de Deus quando consegue estabelecer um diálogo paternal de afeto com seus filhos.
Da mesma forma São Paulo aos Coríntios que, ao abordar
esta mesma relação nos alerta para o fato de que nem tudo são flores. Há de se ter
paciência e saber identificar os limites e virtudes de cada um, como numa
relação matrimonial, onde cabe a cada um descobrir o carisma do outro e isso
vale para as relações da humanidade inteira.
Porque segundo Paulo há uma diversidade de dons que
estão impregnados no nosso ser e espírito, e que orienta o nosso proceder dia a
dia. Cada um de nós tem um dom, nascemos com uma habilidade, uma virtude, às
vezes latente, mas que precisamos desenvolver com o tempo, com a graça de Deus.
Quando colocamos estes dons em prática isso nos aproxima, eleva
e nos dignifica perante Deus. Sinal de maturidade na fé que personaliza e santifica nossa relação com Deus e
com os irmãos: noivo com noiva, esposo com esposa, pais com filhos, comunidade
entre si.
É bom lembrar que tudo provém do Espírito que derrama
sobre cada um de nós suas bênçãos em forma de ministérios onde cada um é
chamado a se manifestar em benefício do bem comum.
Paulo elenca os dons que Deus nos dá e que começamos a
desenvolver logo após o nosso Batismo. Dons que Deus nos concede, não para nos empoderar no orgulho e na vaidade, mas para manifestar a Sua glória que se dá em gestos de amor.
Entre os dons, tem a palavra da Sabedoria, a palavra da Ciência, da Fé, da Cura, da Profecia, do Milagre ou o Falar em línguas estranhas e o Interpretar
estas línguas, o dom do Discernimento, entre outros. E tudo segundo o
mesmo Espírito, sem hierarquias e distinções.
Ou seja, tudo o que fizermos é para estreitar nossa
relação de intimidade com Deus, nos mostrar o quanto Ele nos ama. A ponto de distribuir esses
dons a cada um de nós conforme a sua livre vontade.
O Evangelho de João, por fim, nos dá um exemplo de como colocar em prática um desses dons. É o que percebemos através do primeiro milagre realizado por Jesus nas
Bodas de Caná.
Se Jesus não fosse o filho de Deus e fosse um simples
cristão, discípulo do Salvador, como um de nós, poderíamos dizer que essa
pessoa, naquela situação, manifestou o seu dom, colocando a serviço o dom de operar um milagre.
O que podemos, então, deduzir dessa passagem?
Muitos
ensinamentos. Mas o relacionado ao tema de nossa reflexão que gira em trono da
intimidade com Deus, podemos dizer que o gesto de Jesus nos ensina que também
nós podemos realizar o milagre a quem quer que seja e esteja à nossa volta.
Em profunda intimidade com Deus, inspirado no exemplo
de seu filho, Jesus Cristo, e pela Força de seu Santo Espírito, também podemos nos sensibilizar com a situação e os
desafios que estão à nossa volta e buscar mudar a situação, trazer felicidade
ao redor de quem necessita e sofre.
No caso concreto, Jesus, sensibilizado com a falta de
vinho numa festa em que participava, coloca um de seus dons a serviço para fazer o bem e
trazer a felicidade àquele casal. Foi o sinal visível da presença de Deus no seio
daquela família devolvendo ao casal o vinho, símbolo do amor conjugal.
Casamento sem amor não é casamento, é vazio. Por isso
Jesus coloca o seu dom em socorro daquela situação, para a alegria do Pai.
Por isso todas as vezes que colocamos nossos dons à serviço do bem, o menor que seja, estamos restabelecendo nossa ligação amorosa e filial com Deus.
Observe que nem sempre temos essa sensibilidade, nem sempre somos observadores e percebemos que não chegou a minha hora, como disse Jesus à sua mãe. Às vezes é preciso que anjos em forma de irmãos e amigos nos alertem para que intervenhamos.
Maria, uma mulher, excluída do convívio social no costume judaico, destampa
a ferida e rompe com a tradição dirigindo a palavra e alertando o Filho sobre a falta de vinho.
Às vezes é preciso coragem para fazer o bem, e
abertura para deixar o dom de Deus se manifestar em nós. E isso, no caso das Bodas
de Caná, nos chega pelas palavras doces de Maria que orienta os demais
discípulos: Fazei o que Ele vos disser.
A frase também serve para todos nós. Para que façamos o que Deus nos diz no coração e nos mostra através dos olhos, levando ao mundo a sua vontade de Paz, Amor e Justiça. Mesmo o gesto mais simples, porém gentil e de acolhimento, em favor do próximo, nos aproxima cada vez mais de Deus.
Cada vez que colocamos à serviço do Reino um dos nossos dons em benefício do bem comum, o rosto Deus se enche
de alegria ao ver seus filhos estreitando laços de fraternidade, respeito e
promoção de divina caridade a partir dos instrumentos – os dons – que o
Espirito Santo nos emprestou.
Quando isso acontece, quando os dons são colocados à
serviço do Reino, é como se Jerusalém, no anunciado por Isaías na primeira
leitura, antes descrita como a cidade abandonada e deserta, agora se transforme na predileta e bem-casada, menina dos olhos do Senhor da
história.
Aquele que tudo é capaz de transformar nos brinda com sua graça e, na força de seu Espírito, nos anima a seguir o conselho da intercessora Maria para fazer tudo o que Ele nos pedir.
Que possamos mostrar ao mundo a
glória e o amor de Deus Pai que se manifesta livremente onde quer que seja, em
qualquer tempo e lugar.
Assim Seja.
Senhor, eu sei que é Teu este lugar
Todos querem Te adorar
Toma Tu a direção
Sim, ó, vem, ó Santo Espírito
Os espaços preencher
Reverência à Tua voz vamos fazer.
Podes reinar Senhor Jesus, ó, sim
O Teu poder Teu povo sentirá
Que bom, Senhor
Saber que estás presente aqui
Reina, Senhor, neste lugar.
Visita cada irmão, ó meu Senhor
Dá-lhe paz interior
E razões pra Te louvar
Desfaz toda tristeza
Incerteza, desamor
Glorifica o Teu nome, ó meu Senhor.
O Teu poder Teu povo sentirá
Que bom, Senhor
Saber que estás presente aqui
Reina, Senhor, neste lugar.
Brasilândia/MS, 18 de janeiro de 2025.
Fonte: Deus Conosco, dia 19/01/2025, 2º Domingo do
Tempo Comum; Podes
Reinar - Padre Zeca - LETRAS.MUS.BR, Composição: Armando Filho
Foto: 3
lições importantes para nós das Bodas de Caná
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