Carta ao meu afilhado encantado André.
Estimado André. Paz e Bem. O motivo desta é para saudá-lo e prestar minhas condolências pela perda de teu avô. Igualmente, sentimos muito a sua perda. O tenho em minhas orações.
Você como neto, certamente tem as melhores lembranças
e o afeto que ele despertava para contigo. Se para mim ele era o escritor, o
historiador, o homem da memória,,
para você ele devia corresponder aquele pai mais velho e que, com
certeza acolhia os teus sonhos e tuas alegrias.
Aquele que, por já ter vivido mais tempo, mais que teu
pai, o avô (grandfather, o grande pai, o pai maior, generoso, espaço de
liberdade dos netos), ele guardava os segredos da vida, e sabia partilhar
contigo.
Também eu adorava o meu avô, e só guardo lembranças boas
dele. Chorei a sua partida. Chorar é bom, pois mostra o quanto amamos quem se aparta de nós. Depois, a gente amadurece e começa a ver mais de longe essa perda.
Seu avô Eliazel, para ti, deve ficar como
aquele que sempre soube te acolher. Aquele que sempre acreditou em ti, na tua
vitória.
E olha que tens muito de seu pai, seu Eliazel Filho, que permanece ao teu lado.
Ou melhor, teu pai herdou coisas muito boas de seu avô. Só que ele, seu pai, ainda é novo, e o ferro
se tempera no fogo. Ele, aos pouco, vai envelhecendo. É como o vinho: quanto
mais velho, melhor. Mais curtido, mais sábio, mais doce.
Por isso, como padrinho distante, sou solidário
contigo: não pela perda do avô, mas porque na verdade ganhaste o que de melhor
ele podia te dar: sua amizade, seu respeito, seu carinho e sua lembrança, na figura de seu pai.
Pois seu avô deve ter levado no peito, bons abraços, boas risadas,
o teu rosto jovem, esperançoso na vida, boas caminhadas que certamente fizeram
juntos. Enfim, levou para o céu as melhores coisas que podias dar a ele até
aquele momento.
Em troca, você ficou com sua melhor parte: sua lembrança,
seu exemplo. E poderá mantê-lo sempre dentro de ti, procurando ser o que de
melhor ele foi. Você pode ser tudo e muito mais do que ele foi, isso porque ele
é teu sangue, é tua carne, e está ao teu lado. Só que ainda não percebes.
Por ora, carregas no rosto o semblante de seu pai, fala como ele, caminha como ele, só
não pensa como ele, por enquanto. Mas ainda vais pensar como seu pai. É esse homem que ainda vais descobrir. Pois é ele que estará sempre ao teu lado para te estender a mão. Assim como a tua mãe que confia
muito em ti, ambos ainda sentem medo.
Tu és o maior tesouro de Eliazel e Geracina, ao lado de tua irmã Andréia para
este casal. Por isso tua mãe entrega a Deus e a Virgem Maria o teu destino, sempre preocupada
contigo, com teu futuro. Custa-lhe acreditar que já és um homem feito.
Parece que foi ontem que saíste de sua barriga. Ainda ontem andavas engatinhando, correndo, encabulado, maroto, pelas ruas, de calção. E hoje, responsável, já trabalhando, e onde ensaias teus primeiros passos de independência...
E isso assusta os pais, para quem seus filhos sempre são suas crianças que precisam de proteção. Custa acreditar que cresceram. Ainda não percebem que a vida passa rápido. Logo eles partem e deixam seus velhos para trás e que ficarão sós. Por isso as lembranças dos momentos felizes, nos servem de consolo quando estamos distantes.
São essas lembranças e, sobretudo a confiança de que
somos amados que nos faz tocar para frente. Com fé e esperança em dias
melhores. Acenam os pais com carinho.
Pensei em escreve umas poucas linhas, mas os dedos sobre o teclado insistiram em continuar falando com você. Numa outra oportunidade escreverei uma carta que não tenha a cara de um sermão. Mais leve, mais livre, mais solta...
Um grande abraço afilhado encantado André Paes de
Oliveira. Com as bênçãos do Céu e do teu padrinho Carlito.
Fonte: Carta enviada por ocasião do falecimento do Sr. Eliazel Paes de Oliveira, ocorrido em 21de julho de 2002 e Publicada no livro DUTRA, C.A.S. Retalhos do
Dia a Dia. Brasilândia, 2010, pág. 70-71.
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