terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Feliz Aniversário dona Yeda. Os filhos que trouxeste ao mundo te saúdam.

Carlos Alberto dos Santo Dutra.





Hoje é o aniversário de uma pessoa especial. Minhas palavras são poucas para alcançar todo o esplendor que esta mulher representa para muitos brasilandenses. 

O texto que segue integra uma das mais belas páginas da história desta cidade (e que modestamente estará no volume 3 da coleção História e Memória de Brasilândia que se encontra no prelo). 

Dona Yeda Dolores Fernandes Lopes aprendeu a lidar com a vida muito antes de se tornar enfermeira no Hospital Municipal Dr. Júlio César Paulino Maia, onde começou a trabalhar a partir de 1988. Nascida em Caitité, na Bahia, no dia 1º de dezembro de 1938, a filha do senhor Amphilophio Fernandes da Silva e dona Laudemira Gomes Moraes Fernandes, dona Yeda, pode ser comparada a verdadeira mãe de muitos brasilandenses num tempo em que os recursos médicos eram escassos e o atendimento às gestantes era precário. 

O gosto pela profissão adquiriu muito cedo, quando ainda era jovem. Depois de passar sua infância na Bahia e, depois, São Paulo, no bairro Parque de Brito, para onde seus pais se mudaram, na juventude muito cedo enfrentou o mundo do trabalho com disposição e muita determinação. Dona Yeda, hoje, ao completar 82 anos, nos lembra com carinho a sua exitosa trajetória. Dividir com os amigos essa história é o mesmo que antecipar o presente que todos gostaríamos de brindá-la. 

Trabalhei numa fábrica de costura, lá na rua Catão, em São Paulo capital. Depois trabalhei em casa com costura. Fiz o curso de Enfermagem e comecei a trabalhar no Hospital Santa Madalena. Fiz estágio lá; gostaram de mim e eu fiquei por lá por muitos anos. Depois trabalhei no Hospital Psiquiátrico na Vila Alpina. Também trabalhei no comércio, em uma farmácia na Vila Alpina, depois fui para a farmácia Araújo, lá na Água Branca. 

Dona Yeda recorda cada detalhe de uma vida que causa orgulho a seus filhos. Lembra que fez seus estudos iniciais em Andradina e Jundiaí, época em que tomou gosto pela enfermagem. Foi, entretanto, por ocasião da doença de sua mãe, que ela, ainda mocinha, colocou em prática seu maior dom: cuidou de sua mãe cercando-a de afeto, com muito zelo e responsabilidade, despertando e consolidando a vocação que Deus havia escolhido para ela: lidar com a vida e tratar de pacientes com total dedicação. 

Casou com apenas 17 anos de idade, na cidade de Panorama, no dia 10 de novembro de 1955, com Ataíde Lopes (que tinha na época 21 anos). A partir desta data sua história passa a ser dividida com a de seu esposo que trabalhava na fazenda Pedra Bonita e depois na fazenda Cisalpina, em Brasilândia, onde o casal residiu por muitos anos. Dona Yeda ainda recorda do senhor Luigi Cantone, proprietário do grupo Cisalpina, sua esposa Anamaria e sua filha Cecília, com uma pontinha de saudade. 

Só depois deste longo percurso, depois de deixar a zona rural e mudar-se para a cidade é que dona Yeda começou a dedicar-se de corpo e alma na profissão: a divina arte de trazer ao mundo crianças, gesto maternal que a notabilizou. Inicialmente no atendimento ao povo que afluía em direção ao antigo Posto de Saúde, ao lado do Dr. Paulo Veron da Motta, recorda. Fiz dois partos com ele e depois ele me liberou, eu fiquei sozinha fazendo o que mais gostava: trabalhar como parteira. 

Nesta época Brasilândia ainda não dispunha de hospital e os partos eram realizados em casa ou no Posto de Saúde, para onde eram trazidas as mães em trabalho de parto. Dona Yeda fecha os olhos e faz um esforço na memória para recordar alguns de seus primeiros partos, muitos deles feitos na residência de moradores nas fazendas, em sítios, e até na rua chegou a aparar crianças que tinham pressa em nascer, lembra. Ao total, calcula que mais de cinquenta crianças foram aparadas por ela, antes de começar a trabalhar no hospital, inaugurado, depois, em 1988. 

Em ambiente precário e de poucos instrumentais, dona Yeda recorda que tinha só uma balancinha para pesar os bebês; não tinha quase nada para socorrer as crianças após o parto; era tudo natural. Lembra ainda que nem relógio eles possuíam. Só tinha o relógio da praça (Santa Maria). Quando nascia uma criança eu ia correndo olhar a hora no relógio da praça, para registrar, sorri, parecendo uma menina cheia de satisfação. 

Mesmo depois da inauguração do Hospital Municipal Dr. Júlio César Paulino Maia a grande maioria dos partos que ocorriam em Brasilândia permaneceram sendo realizados por dona Yeda que lá trabalhou como enfermeira assistente desde a sua fundação. Presença que enriqueceram em muito os procedimentos clínicos ali realizados.

Com conhecimento superior ao de uma Doula era capaz de prestar apoio emocional e físico antes, durante e após o parto. E lá estavam as mãos abençoadas de dona Yeda, como parteira tradicional, legalmente apta a realizar exame clínico durante a gestação, parto e pós-parto, fazendo este acompanhamento através de um olhar integrativo da mulher-bebê-família que estava por nascer. Por isso, merecidamente ela recebe o título de enfermeira obstétrica ou obstetriz (...).

Dona Yeda Dolores Fernandes Lopes, hoje, encontra-se aposentada na profissão que sempre lhe trouxe a maior das satisfações. Cercada de filhos (Edilson, Sonia, Valdemira e Marcelo), netos (Valdenir, Fernanda, Bruna, Daniele e Eliene), e bisnetos (Gian, Eduardo, Heloisa, Alice, Felipe, Thiago, Arthur e Henrique); e de uma centena de crianças-filhos que ajudou a trazer ao mundo, tem a gratidão e o reconhecimento do quão importante foram suas mãos e conselhos ofertados às mamães de Brasilândia [1]. Por isso tudo, neste dia mamãe Yeda, retumba a voz que vem de muitos corações, e que externam o mais afetuoso Muito Obrigado! Sinta-se abraçada por todos nós. E um Feliz Aniversário!

 

Brasilândia/MS, 1º de dezembro de 2020.

 


[1] Com informações recolhidas graciosamente pela filha Valdemira Fernandes Lopes em 9.Out.2020.

4 comentários:

  1. Todas as suas belas palavras foram transmitidas à ela, que agradece todo o carinho

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  2. Ela merece todo o nosso respeito e admiração. Um beijo no seu coração.

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  3. Parabéns a Dona Yeda, muitas bênçãos a essa pessoa maravilhosa.

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