Os caminhantes, as calçadas e o cuidado no trânsito.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Andar a pé é o meio mais usado pela humanidade para se locomover. Humanidade esta que nos centros urbanos também se locomove de carro, de transporte público, motocicletas e bicicletas.
Só para se ter uma ideia, enquanto nos Estados Unidos
e Canadá, em média, 94% dos deslocamentos são feitos em carro, na Holanda, 75%
dos habitantes de Utrecht, a quarta cidade mais populosa daquele país, anda a
pé ou de bicicleta.
Em situação semelhante está a sul africana Moçambique,
onde 91% dos seus 35 milhões de habitantes vão a seus afazeres diários a pé ou
de bicicleta.
Não obstante, o estudo ABC of Mobility,
publicado na FSP[1]
o ano passado, alerta que o uso do carro está em ascensão, sendo considerado,
em quase todos os países, o objeto de desejo, o sonho de consumo de qualquer
cidadão. A propaganda midiática e as facilidades de acesso aos veículos pelas
montadoras reforçam isso.
Acontece que tudo corrobora para essa ascensão. As
infraestruturas existentes e as que são criadas, na maior parte das vezes, privilegiam o carro. E a justificativa dada são os mega investimentos para desafogar os congestionamentos das grande cidades e trechos industriais de rodovias. Pouco
atentando para a emissão de gases e os danos ambientais produzidos.
O tema da caminhabilidade e do andar de bicicleta não
é a disciplina principal do currículo da engenharia de trânsito moderna. O
modal a pé só é percebido pelos gestores e suas planilhas de custos quando
vistos pelos olhos das urnas eleitorais e ainda assim, sob o mote da saúde e do
bem estar que prometem ao cidadão.
Em que pese o calor, a arborização irregular das vias públicas e a falta de ciclovias, andar a pé ou de bicicleta em nossa cidade, que possui poucos aclives e declives, deveria ser um exercício saudável e prazeroso.
Andar a pé ou de bicicleta conecta o cidadão com o
meio onde vive. Faça chuva ou faça sol, de dia ou de noite, caminhamos de nossa
casa até a escola, até a igreja, até a academia, até o mercado, até o local de
trabalho em segurança e sem maiores problemas.
Andar pela cidade, a pé ou de bicicleta, faz bem ao
coração, previne diabetes, fortalece os músculos e os ossos, e também melhora a
atividade e capacidade pulmonar. Provoca a sensação de bem estar, favorece a
autonomia e autoestima dentre outras coisas.
Um óbice, entretanto, existe.
Não somente em
Brasilândia/MS, mas em centenas de cidades Brasil afora isso também ocorre. Apesar das vantagens
para a saúde e o bem estar da pessoa, andar a pé ou de bicicleta, configura um
desafio nem sempre bem observado pelos administradores, mas que não escapa aos
olhos atentos do transeunte.
Isso porque as vias públicas, calçadas e pistas de
rolagem são projetadas dando atenção somente para os veículos. É como se o
cidadão que transita pelo passeio público, a calçada e a rua, não existisse.
Sobretudo nas pequenas cidades, o clamor uníssono que
se houve é: o trânsito nas ruas não deve ser feito somente para os carros,
mas também para as pessoas que circulam na cidade e nas suas vias.
Só que muitos gestores estão moucos. Os meios de locomoção motorizados e individualizados, via de regra, são sempre os mais valorizados. Uma espécie de compadrio. Com isso, são baixos os investimentos em planejamento e infraestrutura voltados para quem caminha ou para estimular aquele que ainda não adotou esse modal para praticá-lo.
Embora existam leis que digam que o pedestre tem
preferência no trânsito, as cidades são projetadas inexoravelmente para os
carros.
E cá estão as cidades, como a nossa, tendo que se
contentar com calçadas estreitas, esburacadas ou ausentes, faixas de pedestres
mal posicionadas ou inexistentes, falta de sinalização e respeito da parte dos
motoristas.
Tudo isso gera riscos para quem caminha, mesmo aqui em
Brasilândia, quando andar pela rua – leia-se, andar pela calçada --, deveria ser
um ato prazeroso e tranquilo.
No mundo urbano, as administrações públicas devem sempre
procurar olhar com carinho e respeito para os pedestres, e com o mesmo cuidado
e atenção que dispensa para os proprietários de veículos automotores.
Cuidado que deve começar pela calçada onde é comum o
proprietário do imóvel não obedecer a Legislação -- Código de
Obras e de Postura --, não a construindo, ou quando a faz, obstaculizando o transito
dos pedestres com rampas para veículos ou plantio irregular de arvores e construção de canteiros sem qualquer critério ou a
devida licença ambiental.
No âmbito municipal, as prefeituras, neste caso -- importante alertar os cidadãos --, elas estão autorizadas a fazer a
fiscalização, orientar e, por último, punir o proprietário que praticou a
irregularidade. Em termos federais, por exemplo, a Norma Técnica NBR9050[3]
determina os padrões que uma calçada deve seguir.
No geral, a calçada deve ser como a rua: sem
degraus, continua, sem obstáculos e com acessibilidade universal. Bem
diferente do que encontramos em geral nas cidades que nos rodeiam: situação que precisa urgentemente
mudar.
Então, senhor proprietário de imóvel? Um alerta: não mais
construam calçadas com piso escorregadios e com degraus que priorizam somente
os seus veículos. Àqueles que transitam pelas calçadas têm dificuldade de
caminhar sobre elas. Eles têm que conviver com o risco de andar pela faixa de
rolagem, destinada aos carros, o que é uma inversão da mobilidade normal.
Ao caminhante, também vai uma recomendação: só
atravesse a via pública pela faixa de pedestre, e cuidado com degraus nas
calçadas, portas de garagem abertas e o movimento dos carros ao caminhar.
Aos motoristas reproduzo o que todos já deveriam saber e cumprir: estacione somente quando o meio
fio indicar faixa branca; a amarela, quando sinalizada, é proibida ao
estacionamento para carros comuns, exceto emergências. Também não estacione em
vagas de idoso, deficientes e rampas de acesso a cadeirantes.
Aos ciclistas a recomendação é que tomem
cuidado com os maus motoristas que nas ultrapassagens não praticam o
distanciamento exigido causando deslocamento de ar, o que poderá desestabilizar
a bicicleta e o condutor causando acidente fatal.
Andar somente pela ciclovia, quando existir, lembrando
que a ciclovia é um espaço compartilhado. Buscar seguir o sentido do trânsito,
tanto na rua como no acostamento. Portanto, é proibido andar na contramão.
E quando circular em grupo, andar sempre em fila indiana, observando que a
música do fone de ouvido reduz a atenção, por isso deve ser ouvida em volume
baixo[4].
Que tal cada um fazer a sua parte e transformar nossa cidade numa bela e florida estrada onde o desenvolvimento e seus cidadãos possam caminhar juntos em segurança rumo ao desenvolvimento que todos esperamos para o tempo que se chama hoje?
Brasilândia/MS, 08 de agosto de 2025.
Dia Mundial do Pedestre.
Foto: https://www.bemparana.com.br/wp-content/uploads/2022/07/noticia_887417_img1_pinhais.jpg (A)
[1]
- O ranking da mobilidade no mundo. Mauro Calliari. Folha de São Paulo,
12/07/2014, disponível em https://www.mobilize.org.br/noticias/14094/o-ranking-da-mobilidade-no-mundo.html
[2]
- https://idec.org.br, 24/06/2019.
[4]
- ciclista
deve andar na contramão? - Pesquisa Google
Nenhum comentário:
Postar um comentário