terça-feira, 12 de agosto de 2025

 

Os caminhantes, as calçadas e o cuidado no trânsito.

Carlos Alberto dos Santos Dutra




 




Andar a pé é o meio mais usado pela humanidade para se locomover. Humanidade esta que nos centros urbanos também se locomove de carro, de transporte público, motocicletas e bicicletas.

Só para se ter uma ideia, enquanto nos Estados Unidos e Canadá, em média, 94% dos deslocamentos são feitos em carro, na Holanda, 75% dos habitantes de Utrecht, a quarta cidade mais populosa daquele país, anda a pé ou de bicicleta.

Em situação semelhante está a sul africana Moçambique, onde 91% dos seus 35 milhões de habitantes vão a seus afazeres diários a pé ou de bicicleta.

Não obstante, o estudo ABC of Mobility, publicado na FSP[1] o ano passado, alerta que o uso do carro está em ascensão, sendo considerado, em quase todos os países, o objeto de desejo, o sonho de consumo de qualquer cidadão. A propaganda midiática e as facilidades de acesso aos veículos pelas montadoras reforçam isso.

Acontece que tudo corrobora para essa ascensão. As infraestruturas existentes e as que são criadas, na maior parte das vezes, privilegiam o carro. E a justificativa dada são os mega investimentos para desafogar os  congestionamentos das grande cidades e trechos industriais de rodovias. Pouco atentando para a emissão de gases e os danos ambientais produzidos.

O tema da caminhabilidade e do andar de bicicleta não é a disciplina principal do currículo da engenharia de trânsito moderna. O modal a pé só é percebido pelos gestores e suas planilhas de custos quando vistos pelos olhos das urnas eleitorais e ainda assim, sob o mote da saúde e do bem estar que prometem ao cidadão.  

Em que pese o calor, a arborização irregular das vias públicas e a falta de ciclovias, andar a pé ou de bicicleta em nossa cidade, que possui poucos aclives e declives, deveria ser um exercício saudável e prazeroso.

Andar a pé ou de bicicleta conecta o cidadão com o meio onde vive. Faça chuva ou faça sol, de dia ou de noite, caminhamos de nossa casa até a escola, até a igreja, até a academia, até o mercado, até o local de trabalho em segurança e sem maiores problemas.

Andar pela cidade, a pé ou de bicicleta, faz bem ao coração, previne diabetes, fortalece os músculos e os ossos, e também melhora a atividade e capacidade pulmonar. Provoca a sensação de bem estar, favorece a autonomia e autoestima dentre outras coisas.

Um óbice, entretanto, existe. 

Não somente em Brasilândia/MS, mas em centenas de cidades Brasil afora isso também ocorre. Apesar das vantagens para a saúde e o bem estar da pessoa, andar a pé ou de bicicleta, configura um desafio nem sempre bem observado pelos administradores, mas que não escapa aos olhos atentos do transeunte.

Isso porque as vias públicas, calçadas e pistas de rolagem são projetadas dando atenção somente para os veículos. É como se o cidadão que transita pelo passeio público, a calçada e a rua, não existisse.

Sobretudo nas pequenas cidades, o clamor uníssono que se houve é: o trânsito nas ruas não deve ser feito somente para os carros, mas também para as pessoas que circulam na cidade e nas suas vias.

Só que muitos gestores estão moucos. Os meios de locomoção motorizados e individualizados, via de regra, são sempre os mais valorizados. Uma espécie de compadrio. Com isso, são baixos os investimentos em planejamento e infraestrutura voltados para quem caminha ou para estimular aquele que ainda não adotou esse modal para praticá-lo.

Embora existam leis que digam que o pedestre tem preferência no trânsito, as cidades são projetadas inexoravelmente para os carros.

E cá estão as cidades, como a nossa, tendo que se contentar com calçadas estreitas, esburacadas ou ausentes, faixas de pedestres mal posicionadas ou inexistentes, falta de sinalização e respeito da parte dos motoristas.

Tudo isso gera riscos para quem caminha, mesmo aqui em Brasilândia, quando andar pela rua – leia-se, andar pela calçada --, deveria ser um ato prazeroso e tranquilo.

No mundo urbano, as administrações públicas devem sempre procurar olhar com carinho e respeito para os pedestres, e com o mesmo cuidado e atenção que dispensa para os proprietários de veículos automotores.

Cuidado que deve começar pela calçada onde é comum o proprietário do imóvel não obedecer a Legislação -- Código de Obras e de Postura --, não a construindo, ou quando a faz, obstaculizando o transito dos pedestres com rampas para veículos ou plantio irregular de arvores e construção de canteiros sem qualquer critério ou a devida licença ambiental.

No âmbito municipal, as prefeituras, neste caso -- importante alertar os cidadãos --, elas estão autorizadas a fazer a fiscalização, orientar e, por último, punir o proprietário que praticou a irregularidade. Em termos federais, por exemplo, a Norma Técnica NBR9050[3] determina os padrões que uma calçada deve seguir.

No geral, a calçada deve ser como a rua: sem degraus, continua, sem obstáculos e com acessibilidade universal. Bem diferente do que encontramos em geral nas cidades que nos rodeiam: situação que precisa urgentemente mudar.

Então, senhor proprietário de imóvel? Um alerta: não mais construam calçadas com piso escorregadios e com degraus que priorizam somente os seus veículos. Àqueles que transitam pelas calçadas têm dificuldade de caminhar sobre elas. Eles têm que conviver com o risco de andar pela faixa de rolagem, destinada aos carros, o que é uma inversão da mobilidade normal.

Ao caminhante, também vai uma recomendação: só atravesse a via pública pela faixa de pedestre, e cuidado com degraus nas calçadas, portas de garagem abertas e o movimento dos carros ao caminhar.

Aos motoristas reproduzo o que todos já deveriam saber e cumprir: estacione somente quando o meio fio indicar faixa branca; a amarela, quando sinalizada, é proibida ao estacionamento para carros comuns, exceto emergências. Também não estacione em vagas de idoso, deficientes e rampas de acesso a cadeirantes.

Aos ciclistas a recomendação é que tomem cuidado com os maus motoristas que nas ultrapassagens não praticam o distanciamento exigido causando deslocamento de ar, o que poderá desestabilizar a bicicleta e o condutor causando acidente fatal.

Andar somente pela ciclovia, quando existir, lembrando que a ciclovia é um espaço compartilhado. Buscar seguir o sentido do trânsito, tanto na rua como no acostamento. Portanto, é proibido andar na contramão. E quando circular em grupo, andar sempre em fila indiana, observando que a música do fone de ouvido reduz a atenção, por isso deve ser ouvida em volume baixo[4].

Que tal cada um fazer a sua parte e transformar nossa cidade numa bela e florida estrada onde o desenvolvimento e seus cidadãos possam caminhar juntos em segurança rumo ao desenvolvimento que todos esperamos para o tempo que se chama hoje?

 

Brasilândia/MS, 08 de agosto de 2025.

Dia Mundial do Pedestre.

 

Foto: https://www.bemparana.com.br/wp-content/uploads/2022/07/noticia_887417_img1_pinhais.jpg (A)

 

 



[1] - O ranking da mobilidade no mundo. Mauro Calliari. Folha de São Paulo, 12/07/2014, disponível em https://www.mobilize.org.br/noticias/14094/o-ranking-da-mobilidade-no-mundo.html

[2] - https://idec.org.br, 24/06/2019.

[4] - ciclista deve andar na contramão? - Pesquisa Google

( A) - A data foi criada em menção ao álbum Abbey Road, quando os Beatles atravessaram na faixa de pedestres na rua de mesmo nome, em Londres, no dia 8 de agosto de 1969. A imagem icônica eternizada foi publicada na capa do disco.



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