Feliz natureza
Fernando Brandão!
Carlos Alberto dos
Santos Dutra
Às vezes, situações adversas nos aproximam de pessoas que se tornam, depois, parceiras; quando não, amigas. Com o mestre geógrafo Fernando Brandão assim se sucedeu.
Hoje passados mais de 35 anos, no dia do seu aniversário, surge a ocasião ideal para parabeniza-lo e repisar o caminho trilhado, cujo destino nos aproximou.
E cá estávamos nós, às voltas com a Companhia Energética de São Paulo-CESP, cujo padrão e expertise no ramo da concessão de energia elétrica era referência e ideal a ser seguido. Porém, encontrávamo-nos em polos opostos.
De um lado, Fernando Brandão, funcionário da estatal intermediando as relações da empresa com a população ribeirinha da margem sul mato-grossense do rio Paraná, notadamente a jusante e a montante do Porto João André, em Brasilândia/MS.
Do outro lado, Carlito Dutra, agente de pastoral do Conselho Indigenista Missionário-CIMI, vinculado à Diocese de Três Lagoas, obstinado na defesa dos direitos do povo indígena Ofaié que nesta época habitava a barranca, nas cercanias da Fazenda Cisalpina.
O rumor das águas, prenúncio do enchimento do reservatório da hidrelétrica de Porto Primavera e a inquietude e temor da população atingida foram aproximando as forças do lugar no sentido de construir caminhos em busca do diálogo e o entendimento.
Afinal, vidas e propriedades, sobrevivência e sonhos estavam em jogo. E algo precisava ser feito. Todo o esclarecimento e mediação no decorrer do conflito era bem-vindo.
Sindicatos, associações, pastorais e lideranças políticas locais e regionais neste tempo dedicaram atenção àquela realidade desafiadora resultando em dezenas de reuniões, audiências e posturas reivindicatórias em busca de um acordo nas negociações que se estenderam por anos.
Em meio a tanta divergência nas concepções e interesses propalados nos discursos oficiais e pela mídia, sempre pautados em planilhas de custos, indenizações e remanejamentos em massa, lá se encontravam os ribeirinhos firmes na esperança de poder serem ouvidos.
Eram oleiros, pescadores, indígenas, agricultores, pecuaristas, rancheiros, comerciantes, piloteiros, minhoqueiros, agentes de turismo, estudantes e cidadãos que na barranca viviam. Esquecidos, a espera de alguma palavra de ânimo na esperança de que aquilo tudo não passava de um sonho.
Foi essa motivação velada que aproximou os ideais destes dois personagens, tendo como pauta o rumo de um horizonte maior. Enquanto o processo de cadastramento e remanejamento da população ribeirinha acontecia, orientado pelos técnicos da CESP, eis que uma preocupação holística se tornou linguagem comum.
Postulado uníssono -- a preocupação com a preservação do meio ambiente --, este tema passou a integrar peremptoriamente a pauta das reivindicações. Abriu-se, assim, uma réstia de luz nas colunas de concreto da barragem dando espaço para a natureza que passou a integrar o discurso e propósitos da CESP.
Estudos realizados pelo historiador Carlito Dutra deram visibilidade aos indígenas Ofaié, que receberam atenção especial da concessionária elétrica paulista que lhes garantiu uma área de 484 hectares de mata nativa, que foi adquirida em área contígua ao território imemorial desta etnia nativa do lugar.
Igualmente, estudos realizados pelo mestre geógrafo Fernando Brandão garantiram ao meio ambiente, através da criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural-RPPN Cisalpina, com 3.857 hectares, inserido num um santuário ecológico de 17.395 hectares de mata atlântica, preservado desde 1950 por Luigi Cantone e ribeirinhos da margem do rio Paraná e Verde que ali viviam.
O meio ambiente e o município de Brasilândia têm muito a agradecer pelo que foi realizado pelos pioneiros da ecologia. Em especial, pelos feitos realizados na educação ambiental nos tempos áureos do Instituto Cisalpina, este nosso aniversariante que recebe nesta data nossas homenagens e esta singela lembrança. Feliz natureza Fernando Brandão de Andrade!
Brasilândia/MS, 04
de outubro de 2025.
Muito obrigado, meu amigo, pela homenagem!
ResponderExcluirSinto saudades da luta pela defesa do meio ambiente, em especial da RPPN CISALPINA.
A vida nos coloca em projetos diferentes para que possamos evoluir. Assim atuamos em um, para logo nos vermos em outro e outros!
Ficamos felizes quando nos doamos e saímos realizados de cada um deles.
Essa é a nossa pegada na estrada evolutiva!
Fernando Brandão de Andrade