domingo, 17 de agosto de 2025

 

Cadastro de Podadores de Árvores: qualidade e responsabilidade.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 





Com a aproximação do término do período indicado para a poda de árvores, que acontece no final deste mês de agosto, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo-SEMATUR lançou uma campanha de Cadastramento dos Podadores de Árvores que atuam em Brasilândia/MS. 

A iniciativa visa promover a conscientização de podadores e população em geral sobre a importância da poda de arvores, sobretudo ornamentais que se encontram nas calçadas em frente das residências, dando início a uma dinâmica e metodologia que prima para que o serviço seja realizado com qualidade, de forma planejada e dentro das normas legais existentes. 

O cadastramento se destina a profissionais podadores de árvores que atuam no município e aqueles cidadãos e cidadãs que já realizam este trabalho ou desejam se habilitar para praticar este serviço. Nos termos da Lei Municipal 2.265/08, hoje vigente no município, TODOS os podadores estão obrigados a se cadastrar no órgão ambiental local para exercer esta atividade legalmente. 

Aos podadores cadastrados, na sequência, serão ministrados cursos de capacitação e atualização em data ainda a ser marcada pela SEMATUR, de participação obrigatória, e onde os profissionais receberão orientações sobre podas e cuidados durante o trabalho bem como uma carteirinha de identificação para esta atividade, estando assim habilitados para esta atividade – remunerada ou não – à disposição da comunidade para os serviços de poda ou supressão arbórea devidamente credenciados.

Lembrando que os meses permitidos para poda e corte de árvores são sempre os meses de maio, junho, julho e agosto, época em que as plantas se encontram em repouso, o que facilita sua regeneração. Da mesma forma a Campanha busca difundir junto à população de que intervenção do tipo poda, não poderá ser superior a 30% da copa da árvore  (Lei Municipal 2.265/08, art. 12 e seus parágrafos).

Ademais, poda radical ou drástica sujeita ao responsável (podador e morador) a penalidade de multa de 25 UFMB por árvores agredida. Portanto a ordem é a de que NÃO se pratique poda deixando apenas o tronco, pois, além de gerar MULTA,  desconfigura a árvore, ocasionando em algumas espécies, o aumento de volume de suas raízes como forma de autodefesa causando danos ao patrimônio público e privado.  

Quando a árvore apresenta risco ao morador, sobretudo pelo contato com a rede elétrica, caberá ao podador ou morador relatar à SEMATUR no momento do preenchimento do Requerimento de Autorização para Poda esta ocorrência solicitando a presença de um técnico para realizar a vistoria antes da intervenção. 

Após a realização de qualquer poda ou supressão de árvore, o proprietário, em entendimento com o podador, deverá recolher os resíduos de galhadas destinando-os ao Ecoponto de Galhadas, localizado no pátio da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços (Rodovia BR-158, saída para Três Lagoas), para ser triturado e transformado em insumo para a agricultura familiar. 

Para o Cadastro o podador deverá apresentar o RG e CPF, comprovante de endereço e a documentação de regularidade de sua motosserra ou motopoda na sede da SEMATUR (antiga Secretaria de Agricultura, Av. Manoel Vicente, nº 1437, em frente ao Ginásio de Esportes), das 7:00 às 13:00 horário do Estado de MS.

Dúvidas podem ser resolvidas pelo telefone 0800 067 0053 Ramal 2095.

 

Brasilândia/MS, 17 de agosto de 2025.

Dia do Patrimônio Histórico

PODAS RADICAIS EM BRASILÂNDIA:

NUNCA MAIS!



terça-feira, 12 de agosto de 2025

 

Os caminhantes, as calçadas e o cuidado no trânsito.

Carlos Alberto dos Santos Dutra




 




Andar a pé é o meio mais usado pela humanidade para se locomover. Humanidade esta que nos centros urbanos também se locomove de carro, de transporte público, motocicletas e bicicletas.

Só para se ter uma ideia, enquanto nos Estados Unidos e Canadá, em média, 94% dos deslocamentos são feitos em carro, na Holanda, 75% dos habitantes de Utrecht, a quarta cidade mais populosa daquele país, anda a pé ou de bicicleta.

Em situação semelhante está a sul africana Moçambique, onde 91% dos seus 35 milhões de habitantes vão a seus afazeres diários a pé ou de bicicleta.

Não obstante, o estudo ABC of Mobility, publicado na FSP[1] o ano passado, alerta que o uso do carro está em ascensão, sendo considerado, em quase todos os países, o objeto de desejo, o sonho de consumo de qualquer cidadão. A propaganda midiática e as facilidades de acesso aos veículos pelas montadoras reforçam isso.

Acontece que tudo corrobora para essa ascensão. As infraestruturas existentes e as que são criadas, na maior parte das vezes, privilegiam o carro. E a justificativa dada são os mega investimentos para desafogar os  congestionamentos das grande cidades e trechos industriais de rodovias. Pouco atentando para a emissão de gases e os danos ambientais produzidos.

O tema da caminhabilidade e do andar de bicicleta não é a disciplina principal do currículo da engenharia de trânsito moderna. O modal a pé só é percebido pelos gestores e suas planilhas de custos quando vistos pelos olhos das urnas eleitorais e ainda assim, sob o mote da saúde e do bem estar que prometem ao cidadão.  

Em que pese o calor, a arborização irregular das vias públicas e a falta de ciclovias, andar a pé ou de bicicleta em nossa cidade, que possui poucos aclives e declives, deveria ser um exercício saudável e prazeroso.

Andar a pé ou de bicicleta conecta o cidadão com o meio onde vive. Faça chuva ou faça sol, de dia ou de noite, caminhamos de nossa casa até a escola, até a igreja, até a academia, até o mercado, até o local de trabalho em segurança e sem maiores problemas.

Andar pela cidade, a pé ou de bicicleta, faz bem ao coração, previne diabetes, fortalece os músculos e os ossos, e também melhora a atividade e capacidade pulmonar. Provoca a sensação de bem estar, favorece a autonomia e autoestima dentre outras coisas.

Um óbice, entretanto, existe. 

Não somente em Brasilândia/MS, mas em centenas de cidades Brasil afora isso também ocorre. Apesar das vantagens para a saúde e o bem estar da pessoa, andar a pé ou de bicicleta, configura um desafio nem sempre bem observado pelos administradores, mas que não escapa aos olhos atentos do transeunte.

Isso porque as vias públicas, calçadas e pistas de rolagem são projetadas dando atenção somente para os veículos. É como se o cidadão que transita pelo passeio público, a calçada e a rua, não existisse.

Sobretudo nas pequenas cidades, o clamor uníssono que se houve é: o trânsito nas ruas não deve ser feito somente para os carros, mas também para as pessoas que circulam na cidade e nas suas vias.

Só que muitos gestores estão moucos. Os meios de locomoção motorizados e individualizados, via de regra, são sempre os mais valorizados. Uma espécie de compadrio. Com isso, são baixos os investimentos em planejamento e infraestrutura voltados para quem caminha ou para estimular aquele que ainda não adotou esse modal para praticá-lo.

Embora existam leis que digam que o pedestre tem preferência no trânsito, as cidades são projetadas inexoravelmente para os carros.

E cá estão as cidades, como a nossa, tendo que se contentar com calçadas estreitas, esburacadas ou ausentes, faixas de pedestres mal posicionadas ou inexistentes, falta de sinalização e respeito da parte dos motoristas.

Tudo isso gera riscos para quem caminha, mesmo aqui em Brasilândia, quando andar pela rua – leia-se, andar pela calçada --, deveria ser um ato prazeroso e tranquilo.

No mundo urbano, as administrações públicas devem sempre procurar olhar com carinho e respeito para os pedestres, e com o mesmo cuidado e atenção que dispensa para os proprietários de veículos automotores.

Cuidado que deve começar pela calçada onde é comum o proprietário do imóvel não obedecer a Legislação -- Código de Obras e de Postura --, não a construindo, ou quando a faz, obstaculizando o transito dos pedestres com rampas para veículos ou plantio irregular de arvores e construção de canteiros sem qualquer critério ou a devida licença ambiental.

No âmbito municipal, as prefeituras, neste caso -- importante alertar os cidadãos --, elas estão autorizadas a fazer a fiscalização, orientar e, por último, punir o proprietário que praticou a irregularidade. Em termos federais, por exemplo, a Norma Técnica NBR9050[3] determina os padrões que uma calçada deve seguir.

No geral, a calçada deve ser como a rua: sem degraus, continua, sem obstáculos e com acessibilidade universal. Bem diferente do que encontramos em geral nas cidades que nos rodeiam: situação que precisa urgentemente mudar.

Então, senhor proprietário de imóvel? Um alerta: não mais construam calçadas com piso escorregadios e com degraus que priorizam somente os seus veículos. Àqueles que transitam pelas calçadas têm dificuldade de caminhar sobre elas. Eles têm que conviver com o risco de andar pela faixa de rolagem, destinada aos carros, o que é uma inversão da mobilidade normal.

Ao caminhante, também vai uma recomendação: só atravesse a via pública pela faixa de pedestre, e cuidado com degraus nas calçadas, portas de garagem abertas e o movimento dos carros ao caminhar.

Aos motoristas reproduzo o que todos já deveriam saber e cumprir: estacione somente quando o meio fio indicar faixa branca; a amarela, quando sinalizada, é proibida ao estacionamento para carros comuns, exceto emergências. Também não estacione em vagas de idoso, deficientes e rampas de acesso a cadeirantes.

Aos ciclistas a recomendação é que tomem cuidado com os maus motoristas que nas ultrapassagens não praticam o distanciamento exigido causando deslocamento de ar, o que poderá desestabilizar a bicicleta e o condutor causando acidente fatal.

Andar somente pela ciclovia, quando existir, lembrando que a ciclovia é um espaço compartilhado. Buscar seguir o sentido do trânsito, tanto na rua como no acostamento. Portanto, é proibido andar na contramão. E quando circular em grupo, andar sempre em fila indiana, observando que a música do fone de ouvido reduz a atenção, por isso deve ser ouvida em volume baixo[4].

Que tal cada um fazer a sua parte e transformar nossa cidade numa bela e florida estrada onde o desenvolvimento e seus cidadãos possam caminhar juntos em segurança rumo ao desenvolvimento que todos esperamos para o tempo que se chama hoje?

 

Brasilândia/MS, 08 de agosto de 2025.

Dia Mundial do Pedestre.

 

Foto: https://www.bemparana.com.br/wp-content/uploads/2022/07/noticia_887417_img1_pinhais.jpg (A)

 

 



[1] - O ranking da mobilidade no mundo. Mauro Calliari. Folha de São Paulo, 12/07/2014, disponível em https://www.mobilize.org.br/noticias/14094/o-ranking-da-mobilidade-no-mundo.html

[2] - https://idec.org.br, 24/06/2019.

[4] - ciclista deve andar na contramão? - Pesquisa Google

( A) - A data foi criada em menção ao álbum Abbey Road, quando os Beatles atravessaram na faixa de pedestres na rua de mesmo nome, em Londres, no dia 8 de agosto de 1969. A imagem icônica eternizada foi publicada na capa do disco.



quinta-feira, 7 de agosto de 2025

 

O maior tatu do mundo

Carlos Alberto dos Santos Dutra




E cá estou eu olhando nos olhos daqueles curumins da Escola Municipal Paulo Simões Braga reunidos na Biblioteca Municipal Professora Abadia dos Santos, naquela manhã de 7 de agosto de 2025.

Depois de ouvirem a saudação e acolhida da Prefeita Márcia Amaral e Secretários municipais, e as palavras dos biólogos e técnicos do ICAS-Instituto de Conservação de Animais Silvestres, tomo as palavra e, pausadamente, arrisco: 


Vou contar uma história
Sobre um bicho diferente
Tem o corpo reluzente
E uma espécie de couraça
Verdadeira carapaça
Feita de muitas placas
Muito maior que uma jaca
Sua cauda tem escamas
Anda sempre de pijama
Sua pele é cor-de-rosa
Enrugada e lustrosa
Seus ossos são resistentes
Ele também possui dentes
Mais de oitenta, vejam só
Não se enreda no cipó
Tem as garras afiadas
Anda em noite enluarada
Mas ele é um bicho manso
Só que ele não tem descanso
Anda sempre solitário
Não precisa de veterinário
Sua casa é o cerrado
Este é o seu mundo encantado
Vive em tocas escondido
Seu olfato é desenvolvido
Mas ouve e enxerga pouco
Quase mudo, fica rouco
Não sabendo o que fazer
Aí se põe a correr
Quando alguém lhe ameaça
Ele foge da fumaça
Gosta mesmo é de formiga
Cupins, insetos e as amigas
Joia rara do cerrado
Por isso ele é ameaçado
Pelos atropelamentos
Caçado a todo o momento
Pelas armas e os cachorros
Por isso ele pede socorro
Não pratiquem as queimadas
Quero andar pela estrada
Tatu-canastra amigo
Eu só quero um abrigo
Você menino e menina
Não deixe que a carabina
Acabe com a minha vida
Estou na maior torcida
Viva e viva a natureza
Viva o tatu, que beleza
Obrigado pela acolhida.




 

 Brasilândia/MS, 7 de agosto de 2025.




 

Enquanto o regresso não chega...

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 





Ah!, esse frio gelado que bate na minha porta. Porta escancarada ao forasteiro amigo, ao errante desconhecido, aquele amor que se foi, perdido em terras distantes. 

Ah!, essas águas frias intempestivas que avançam sobre os campos, inundando estradas, desmoronando casas, ruindo lavouras, cidades e sonhos. 

Ah!, essa Campanha gaudéria de Martin Fierro, herança Charrua e Minuano que nunca se curvou à intempérie e o tempo, dobrando os caminhos da história, agasalhando sob o poncho o caldo de sua ancestralidade... 

Mas hoje não quero falar do tempo e as ações da natureza sobre vidas humanas. Não quero falar do que fomos, por onde andamos e aquilo que soçobrou por entre taipas anônimas araganas. 

Quero falar daqueles que dentro de seus ranchos ainda sorvem o mate pelas madrugadas e labutam para continuar vivendo, tocando a tropa da vida em frente. Falo de corações apertados de mães que colocam suas mãos sobre o peito elevando a Deus uma prece, rogando proteção a seus filhos, andarilhos que cruzam caminhos distantes, errantes, em busca de uma pousada. 

Falo das palavras duras de um pai que, encravadas no chão plano da realidade pampeana, se firma nos tentos e, montado em seu pingo alado, prima pelos ensinamentos dos antigos repontando os filhos para que sejam fortes no curso e ginete de seus destinos. 

Falo de quem se encontra distante, com o olhar espichado, e que ainda chuleia, contando os dias para voltar, correr ao encontro, e poder abraçar a mãe terra que um dia o pariu. Voltar a atravessar sangas e lagoas, cacimbas e aguapés, e correr descalço na areia sem medo do bicho de pé. 

Falo de pais e mães que já partiram e que hoje são lembranças; paredes de casas que falam e ainda fazem pulsar o coração de quem por ali deu seus primeiros passos. Falo de irmãos e irmãs que, a despeito do tempo, suportaram os dias, saudade e distância e, ainda lá permanecem domando os revezes da lida, da dor e do desafio cotidiano da sorte. 

Ah!, essa estrada que me leva de volta à minha terra natal, sempre, e cada vez mais longe e distante, enquanto o calendário dos dias passa... Ah!, esse guri descalço que ainda habita em mim, e que insiste em correr pela margens do rio Cacequi... 

Quando ele terá coragem e força para correr ao encontro daquele chão abençoado e confortar-se com o que a vida fez àquele lugar e aos corações dos que ali permaneceram e ainda lhe esperam? 

Ah!, esse menino que se encontra a caminho, e já pode sentir o vento minuano que lhe empalidece a cara e aponta o rumo da fronteira oeste da querência, como que dando boas-vindas ao filho, irmão e amigo que há 45 anos deixou o pago e agora, pede licença a seus cabelos brancos, velho tata, para sonhar um dia poder voltar. 

Brasilândia/MS, 5 de agosto de 2025

Para o meu saudoso pai, seu Vilson e minha saudosa mãe Laura.

Na foto, minha mãe Laura e seus 4 primeiros filhos: Carlito, Léa, Eduardo e João

 

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

 

Brasilândia avança na Coleta Seletiva do Vidro

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

A escassez dos recursos naturais, em razão de sua utilização excessiva, é uma realidade que o mundo não pode fechar os olhos. A matéria-prima necessária para alimentar e garantir os processos produtivos, finalmente descobriu-se, quanto à sua extração, que ela é finita, merecendo toda a atenção, não somente dos ambientalistas. 

A implementação de programas de Logística Reversa, nos dias atuais, surge como uma resposta a um dos problemas atuais enfrentados por diversos países, buscando a economia dos recursos naturais a partir da recuperação dos resíduos sólidos e transformá-los novamente em matéria-prima. 

Para quem não sabe, os programas de Logística Reversa movimentam mercadorias desde o local de descarte até os centros especializados onde esses materiais, em síntese, recuperam o seu valor, promovendo a geração de renda associada à destinação correta desses resíduos. 

Registre-se que o fluxo reverso é composto por um conjunto de atividades que, no caso de Brasilândia/MS, passa a ser executado pela valorosa Associação Brasilandense de Agentes Ambientais-ASSOBRAA, que existe em Brasilândia desde 2003 onde, pelo sistema porta a porta cobre toda a extensão do perímetro urbano da cidade, distritos e assentamentos do município. 

Quando o material reciclável é o vidro, o processo é mais delicado e exige cuidados que começam desde o recolhimento deste material que deverá ser feito em embalagens ou algum tipo de proteção que poderão ser caixas de madeira ou caixas de papelão, quando o material se apresenta quebrado (cacos de vidro). 

Sem dúvida, o recolhimento e trituração de vidro trazem inúmeros benefícios ambientais, incluindo a redução da extração de recursos naturais, menor consumo de energia na produção, diminuição da poluição do ar e da água, além da redução do volume de lixo em aterros sanitários. A reciclagem do vidro também gera economia de matéria-prima e pode ser realizada inúmeras vezes, sem perda de qualidade. 

Ainda que o vidro, quando descartado no ambiente, não polua, porque não se degrada, ele aumenta o volume dos aterros sanitários, configurando-se o campeão dos entulhos, até mesmo porque não pode ser compactado, como o papel. Ele quebrado, se transforma em perigosos cacos cortantes. Resultado: o vidro pode se acumular no ambiente ao ponto de não ter espaço suficiente para comportá-lo, é o que ocorre em países que não tem planejamento. 

O lixo vítreo, por conseguinte, é também um candidato à reciclagem. E com alto valor agregado, uma vez que é 100% reciclável. Ou seja, um quilo de vidro quebrado dá origem a exatamente um quilo de vidro novo, e a maior vantagem é que o vidro pode ser reciclado infinitas vezes. 

E a boa notícia é a de que Brasilândia, a partir de agora, avança incentivando seus munícipes a colaborar e adquirir este novo hábito de separar garrafas e copos de vidro, separando-os em caixas de papelão ou embrulhando em papel jornal e entrega-los à ASSOBRAA colocando na calçada para que a coleta seletiva possa recolhê-los em segurança. 

Serão aceitos Garrafas (de cerveja, vinho, destilados e azeite); potes de conserva (de palmito, azeitona, geleia); copos e pratos de vidro quebrados, tomando o cuidado para os cacos de vidro sejam embalados para a segurança dos coletores. Não serão aceitos materiais como lâmpadas, espelhos e porcelanas; frascos de remédios e vidros laminados, além de para-brisas de automóveis. 

Sua colaboração faz a diferença para um meio ambiente mais limpo e sustentável de nossa cidade. Porque para a Natureza não importa o que você pensa; importa o que você faz.

 

Brasilândia/MS, 5 de agosto de 2025. Dia Nacional da Saúde (5 de agosto de 1872, data de nascimento do sanitarista Oswaldo da Cruz).

 

Fonte: SciELO Brasil - Avaliação das vantagens ambientais e econômicas da implantação da logística reversa no setor de vidros impressos Avaliação das vantagens ambientais e econômicas da implantação da logística reversa no setor de vidros impressos




 



sábado, 26 de julho de 2025

 

As lembranças, os saberes indígenas e o desafio da montanha.

Carlos Alberto dos Santos Dutra






O destino era chegar no encontro da Ação Saberes Indígenas na Escola que acontecia no prédio da Unidade 1, da UFMS, em Aquidauana. Lá se encontravam reunidos, além de professores e técnicos da universidade, coordenadores e formadores indígenas que integram o pool de escolas indígenas que reúne povos das etnias Terena, Kadiwéu, Guató, Ofaié, Kiniknau, Laiana, entre outros povos originários do Pantanal. 

O carro onde me encontrava deslizava suave pela BR-262 em direção à Aquidauana. Depois de rodar 498 km e contornar as cidades de Bataguassu, Santa Rita do Pardo e Campo Grande, por seus anéis viários, eis que uma reta infinita se apresenta a minha frente apontado direção rumo a Corumbá, deixando de lado as saídas para Bonito, Miranda e Bodoquena. 

O trajeto aos poucos vai deixando o bioma cerrado para trás. O mesmo acontece com as pastagens, criações de gado e alguns pés de eucalipto que já se avizinham por ali. A paisagem se modifica rápido na medida em que se aproxima de uma imponente montanha, verdadeira muralha que contorna a paisagem que se agiganta sobre quem chega: a majestosa cordilheira de cerros, de mais de 600 quilômetros de extensão, que integra a serra de Maracaju. 

Foi como se um imenso portal de natureza se abrisse permitindo, de súbito, que o visitante adentrasse aquele lugar singular e lhe fosse autorizado a contemplar a beleza natural do bioma do lugar. Aqui começa o Pantanal, anuncia uma placa à beira da estrada. Foi aí que meu olhar se encantou, não somente com a beleza que eles viam, mas com o significado que tudo aquilo representava para mim. 

Contemplar o apelo que emanava de painéis indicativos de locais como Cachoeirão, Palmeiras, Piraputanga, Paxixi e Camisão, era como voltar ao passado de mais de 30 anos quando, ainda jovem, por estes lugares andei. Ouvir o murmúrio das águas do Aquidauana, Buriti e Taquaruçu era como fazer a trajetória de minha própria história e ver o quanto os anos passaram. Para mim, somente. 

A natureza que se descortinava evocando o passado a minha frente, entretanto, permaneceu a mesma: intocada, com a mesma força e beleza de outrora que a perenizou no tempo. Com a mesma imponência e consciência que continua representando para aqueles que a contemplam, mesmo numa rápida passagem. 

E lá se encontra ela como pilastra. Na medida que o carro avança na sinuosidade da estrada, revela um pouco de si, sua potência, resistência e resiliência ao longo de eras, submetendo-se à intemperismos e metamorfoses que datam milhões de anos. Tudo lhe conferindo solidez escarpada pela vegetação nativa que lhe cobre e protege. 

Pois foi motivado por esse sentimento icônico e prenhe de significados que dele emergiam, que meus pés adentraram a sala onde o encontro da Ação Saberes Indígenas na Escola acontecia. E ela, aquela serra e seu portal de entrada, ali se encontrava. Não a presença física de seus contornos vulcânicos e sedimentos, mas a força e robustez de sua imagem que pairava sobre o ambiente acadêmico. 

Grupos indígenas falando e evocando suas ancestralidades, apontando rumos para a educação em suas comunidades. Professores, coordenadores e formadores indígenas posicionando-se com ousadia e coragem, diante do desafio de romper barreiras e mostrar ao mundo o quanto de conhecimento e sabedoria possuem, bem como o direito de ministrarem uma educação diferenciada, específica, bilíngue, intercultural e comunitária a seus curumins. 

À semelhança daquele portal natural que permitia ao viajante no rumo da estrada, adentrar a uma nova realidade ambiental preservada a sua frente, aqueles indígenas faziam o mesmo naquele lugar. À semelhança daquela serra de Maracaju abriam-se para o Estado e Governos para dizer que não precisam provar nada para mostrar o que são. 

Imemoriais, porque eles têm consciência de suas histórias e seus saberes. Originários, porque, por vezes, têm de conclamar à desobediência para se fazerem ouvir. Ancestrais, porque buscam nas suas raízes a revolução necessária em face das práticas pedagógicas tradicionais que lhes foram impostas ao longo de cinco séculos. Perenes como o vento, sempre em movimento, porque anseiam alcançar novos ares e sobreviver. 

A semente lançada pela Ação Saberes Indígenas na Escola, iniciada no Estado de Mato Grosso do Sul a pouco mais de 10 anos, deu e está dando frutos com a formação de mais de 300 professores indígenas que alcançam, por meio do ensino superior da Licenciatura Intercultural e outras áreas do conhecimento em nível de graduação e pós-graduação, ofertados por UEMS, UFMS, UCDB e UFGD, o que lhes garante condição isonômica com os demais professores, na disputa de força e poder que têm de enfrentar. 

Iniciativa do Ministério da Educação (MEC) que, além de promover a formação continuada de professores indígenas, com foco no letramento, numeramento e conhecimentos específicos de cada povo, esta ação vai mais longe. Reforça em cada professor o direito de praticar em suas escolas os seus processos próprios de aprendizagem e princípios do Saberes Indígenas, o que lhes garante respeito e autonomia. 

Ânimo que os alimenta sonhar ver sendo praticado por todos os professores esse direito reconhecido pelo Estado, de mostrar a beleza e a relevância do saber indígena, tal qual a grandiosidade da serra de Maracaju e seu portal de natureza que se abre para o conhecimento universal e cósmico do Saberes Indígenas na Escola, vencendo o desafio da montanha.

 

Brasilândia/MS, 26 de julho de 2025.

 

Fotos: Carlos Dutra; Estrada Parque de Piraputanga será uma rota internacional de turismo - O Pantaneiro


 

 

     


















domingo, 20 de julho de 2025

 

Koi e o Rio

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 









As águas do rio Ivinhema correm mansas levando sobre elas tímidas canoas, como que pedindo licença às suas margens para adentrar o coração da mata.

Ao longe ainda é possível em meio ao canto dos pássaros ouvir o chocalho do indígena ancestral tocado pelo movimento firme da mão do Xamã quebrando o silêncio da tarde que declina.

Do outro lado da margem, curumins brincam saltitantes nas águas sob o olhar compassivo dos pais. São indígenas  Guarani que por ali se encontram vindos do Sul do antigo Mato Grosso para a colheita da erva-mate.

A poderosa de então, Companhia Matte Laranjeira, havia lhes arregimentado trabalho e promessa de vida plena e fartura.

E ali ele estava, o rio, que tudo assistia e interagia com a vida que se arrastava ao longo daquela imensa várzea.

Refrescava os corpos de nativos fatigados; matava a sede de viajantes, pesquisadores e aventureiros; conduzia militares e mercadores em busca de segurança e mantimentos; fornecia alimento farto para o sustento dos ribeirinhos; dava-se inteiro, generosamente, a todos que por ali passavam.

Poucos paravam para ouvir o canto que de suas águas brotava, sobretudo ao cair da tarde, quando o som que principiava a noite se misturava ao som do chocalho e as palavras Ofaié que vinham da outra margem.

Um canto diferente para ouvidos comuns, acostumados somente ao murmúrio das águas. 

–Quem são eles?, perguntou o curumim Guarani ao pai, apontando para o outro lado do rio. 

Quem são eles e o que estão cantando?, quis saber o menino.

--São os Yviva, que na língua Guarani quer dizer na tradução singular de Curt Nimuendajú apenas pessoas. Sim, para os outros, os Ofaié eram apenas pessoas e nada mais. E não ofereciam perigo algum a seus vizinhos.

O rio Ivinhema, permanecia contemplando as embarcações em direção à montante até o porto Angelina e à jusante até a foz do córrego Santa Bárbara, sob o olhar indígena atento do lugar.

Olhar que agora um dos personagens desta história se reencontra com o antepassado de seus pais, motivado por uma produção cinematográfica que presta homenagem a este povo, o Povo Ofaié.

O filme, um documentário longa metragem originalmente intitulado Inventário das Várzeas foi apresentado pelos seus idealizadores Ricardo Câmara e Maurício Copetti, em agosto de 2024, no 18º Festivali, Festival de Cinema de Ivinhema.

O filme mostrou na sua pré-estreia, três ponto de vistas do rio Ivinhema. A visão arqueológica e antropológica, a partir de relatos de estudos com os pesquisadores Gilson Martins e Carlos Alberto Dutra, além da cosmogonia de José Koi Ofaié, um dos últimos indígenas falante da língua Ofaié, povo tradicional do lugar. O contraponto entre a ciência e a história oral ficou a cargo da narrativa do indígena Koi.

A nova edição do filme, tem duração de 26 minutos e recebeu o título Koi e o Rio e foi selecionado para ser apresentado no Festival de Cinema de Bonito/MS no dia 28 de julho próximo, com direito a uma palestra após a exibição que ocorrerá no Auditório Kadiwéu, no Centro de Convenções de Bonito. 

Ali José Koi irá revelar na tela e pessoalmente a jornada de seu povo – ao lado de Marcelo Ofaié --, pelos rios Paraná e Ivinhema em defesa da memória e cultura do Povo do Mel.

Brasilândia/MS, 20 de julho de 2025.

Cf. Mostra Filme Sul-Mato-Grossense • Bonito CineSur 2025