segunda-feira, 23 de julho de 2018

Um escorpião no meu quintal.


Achei um escorpião no meu quintal.
O que fazer?
Carlos Alberto dos Santos Dutra

As crescentes denúncias da presença de escorpiões em diversas cidades de nossa região, apresenta-se como uma excelente oportunidade para se conhecer melhor esse animal peçonhento e divulgar entre a população as formas corretas de combatê-lo. As recomendações da Saúde são importantes, pois elas podem salvar vidas, em especial vida de crianças e pessoas alérgicas, para as quais o veneno do escorpião é, na maioria dos casos, letal.

A explicação para o aumento na incidência de escorpiões está diretamente relacionada ao agente causal: seus hábitos alimentares, forma de reprodução, proliferação das espécies e comportamentos que mudam conforme as circunstâncias geradas pelos próprios cidadãos.

Um dos agravantes que tem favorecido a extrema adaptação desses animais, e consequentemente causado sensível aumento da população de escorpiões, são as medidas de controle realizadas de maneira errônea, que geralmente mais pioram do que ajudam no combate, obtendo-se, assim, resultado oposto ao desejado, potencializando a proliferação e o aparecimento deste animal nos ambientes domésticos.

A primeira tentação quando encontramos um escorpião no quintal é, depois de matá-lo, procurar algum inseticida para aplicar no ambiente com a esperança de eliminá-lo. Grande equívoco. O controle químico não é indicado, pois o hábito dos escorpiões de se abrigar em frestas, embaixo de caixas, papelões, pilhas de tijolos, telhas, madeira, em fendas e rachaduras do solo, juntamente com sua capacidade de permanecer sem se movimentar, torna o tratamento químico ineficaz.

Uma coisa que torna os escorpiões resistentes aos venenos é também o fato deles possuir o hábito de permanecer em longos períodos em abrigos naturais que impedem que o inseticida entre em contato com o animal. Além disso, eles possuem a capacidade de permanecer com seus estigmas pulmonares fechados por um longo período.

É bom lembrar às donas de casa que a aplicação de produtos químicos de higienização doméstica compostos por formaldeídos, cresóis e para-cloro-benzenos, além de produtos utilizados como inseticidas, raticidas, mata-baratas ou repelentes do grupo dos piretróides e organofosforados, nenhum deles são indicados.

Isso porque esses produtos só conseguem causar o desalojamento dos escorpiões para locais não expostos à ação desses produtos, aumentando o risco de acidentes. Assim, cria-se a falsa sensação de proteção por parte dos moradores que acreditam que o problema foi resolvido, passando a negligenciar o trato com o ambiente.

No caso da necessidade de controlar baratas em locais com presença de escorpiões, recomenda-se o uso de formulação tipo gel ou pó, atividade esta executada somente por profissionais de empresas especializadas.

Em áreas avaliadas como prioritárias, frisa o Manual de Controle de Escorpiões, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, a aplicação de inseticidas para controle de agravos como Dengue, Leishmaniose, Chagas, etc, poderá aumentar a probabilidade de acidente por escorpiões devido ao efeito irritante desses produtos que provoca desalojamento e eliminação de fonte de alimentação e de predadores. 


O escorpião é um artrópode quelicerado (ou seja, tem extremidade em forma de pinça), da classe arachnida e ordem scorpiones que em algumas regiões do Brasil é conhecido por “lacrau”. São animais vivíparos (ou seja, o embrião se desenvolve no corpo materno) e o período de gestação geralmente dura três meses. Para a espécie Tityus serrulatus, o escorpião amarelo (mais venenoso e mais comum), ele se reproduz por partenogênese, assim, só existem fêmeas e todo o indivíduo adulto pode parir sem a necessidade de acasalamento.

E estes animaizinhos indesejáveis estão presentes em locais geralmente modificados pelo homem, nos mais diversos ambientes, em esconderijos junto às habitações humanas. Procuram locais ESCUROS para se esconder. São carnívoros, alimentam-se principalmente de insetos, aranhas e BARATAS, o que o torna um eficiente predador de um grande número de outros pequenos animais, às vezes nocivos ao ser humano.

Os escorpiões têm como inimigos, entre os seus predadores, os camundongos, os quatis, macacos, sapos, lagartos, corujas, seriemas, galinhas, algumas aranhas, formigas, lacraias e os próprios escorpiões. Entre as 1.600 espécies conhecidas no mundo, 160 vivem no Brasil, sendo que 25 delas são consideras de interesse em saúde pública.

No nosso meio, o mais venenoso é o Tityus serrulatus, conhecido como escorpião AMARELO, que é a principal espécie que causa acidentes graves, com registros de óbitos, principalmente em crianças. Durante a vida, uma fêmea desta espécie, pode ter 160 filhotes.

Diante deste quadro amplo e complexo, as ações de EDUCAÇÃO em saúde e ambiental devem ser realizadas não somente pelos órgãos públicos, mas também pela sociedade civil organizada e cada morador da cidade. Sobretudo em relação aos riscos de acidentes, primeiros socorros e medidas de controle individual e ambiental.

Isso porque estamos lidando com um animal cuja origem remonta 400 milhões de anos, e sua notória capacidade evolutiva permitiu que ele resistisse a todos os grandes cataclismos que acometeram sobre o planeta terra, fazendo-o sobreviver por milênios. Razão pela qual uma centena de crendices populares foi sendo construída ao seu respeito e que convém desmistificar.

Uma delas, a de que o escorpião ataca. Errado. O escorpião apenas se defende. Ferroa apenas quando é molestado, para se defender. Ou seja, quando alguém coloca a mão ou encosta nele intencionalmente ou sem perceber. Outra dúvida é se os escorpiões formam ninho. Errado. Existem locais, principalmente em áreas urbanas que favorecem o seu aparecimento em maior quantidade. Por outro lado, eles se deslocam o tempo inteiro sem, contudo, retornar ao mesmo local.

Também é verdade que se você encontrar um escorpião na sua casa significa que você provavelmente encontrará outro. Não é obrigatório, pois nem sempre eles vivem 
em grupos. São animais solitários, porém, em áreas urbanas concentram-se em locais de fácil acesso à comida e ao abrigo.

Todas as espécies de escorpiões possuem veneno e podem injetá-lo para capturar suas presas, através do ferrão localizado na extremidade do telson. Como já dissemos anteriormente, o escorpião não ataca intencionalmente e o acidente geralmente ocorre no momento em que o indivíduo encosta a mão, o pé ou outra parte do corpo no animal.

O aumento do número de escorpiões pode ser atribuído a vários fatores, sendo o ambiente natural modificado pelo desmatamento, a quebra da cadeia alimentar e a destruição de seus locais de abrigo, os principais deles. Com a escassez de alimento, esses animais passam a procurar alimento e abrigo em residências, terrenos baldios e áreas de construção.

Locais onde há acúmulo de matéria orgânica, entulhos, lixos, depósitos e armazéns atraem BARATAS (Periplaneta americana), e outras espécies pela disponibilidade de alimento e umidade. Os escorpiões têm por alimento principal as baratas, e se deslocam aos lugares onde há abundância deste alimento. Por isso os escorpiões ocorrem com tanta freqüência dentro das residências.

Portanto, muito cuidado, pois os locais onde há proliferação intensa de escorpiões possuem um histórico de presença abundante de baratas. E a situação se agrava com a chegada do VERÃO, estação do ano com dias mais quentes e chuvosos, período que cresce o risco de acidentes por animais peçonhentos. Com as CHUVAS, os animais peçonhentos são obrigados a sair de seus esconderijos e procurar um novo abrigo, tanto nas áreas urbanas, quanto rurais. Lugares pouco iluminados como galerias de esgoto e pilhas de materiais de construção são locais de maior incidência.

Entre os grupos mais expostos a serem vitimas de escorpiões estão as pessoas que atuam na construção civil, assim como as crianças e donas de casa que permanecem o maior período no intra e peri-domicilio. Os escorpiões procuram alimento durante a NOITE (mesmo hábito das baratas), podendo entrar nas residências através da tubulação para a fiação e encanamento de ESGOTO, além de frestas de paredes, portas e janelas. Podem se esconder durante o dia dentro de CALÇADOS, armários, gavetas, panos e toalhas, em áreas de serviço e banheiros.

A melhor forma de evitar acidentes é adotar medidas de PREVENÇÃO. Por isso, as Secretarias Municipais e Ministério da Saúde recomendam manter a casa e a área ao redor limpas, uma vez que o lixo e ENTULHOS podem servir de abrigo para muitos destes animais. 


Outra medida é vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapé, além de utilizar telas e vedantes em portas, janelas e ralos. Moradores de área rural e trabalhadores da agricultura não podem deixar de usar LUVAS e botas ao entrar em matas ou plantações.

Os animais peçonhentos injetam veneno pelo ferrão, dente, aguilhão ou cerda urticante. Dependendo da espécie do animal, os acidentes podem até levar à morte, caso a pessoa não seja socorrida rapidamente e tratada adequadamente, quando necessário, com soro específico que se encontra disponível nos Posto de Saúde da rede do Sistema Único de Saúde (SUS). A identificação do animal responsável pelo acidente facilita o diagnóstico e o tratamento, porém deve ser recolhido com muito cuidado com pinça anatômica e proteção de luvas de raspa de couro.

Sobre a ação do VENENO, sabe-se que, ao estimular terminações nervosas sensitivas, motoras e do sistema nervoso autônomo, pode provocar efeitos na região da picada ou longe dela. A DOR é intensa, porém os sinais inflamatórios são pouco evidentes, sendo incomum a visualização da marca do ferrão. Quando a evolução é benigna, na maioria dos casos, ela tem duração de algumas horas e não requer soroterapia.

Por outro lado, é o desbalanço entre o sistema nervoso simpático e parassimpático o responsável pelas formas graves do escorpionismo que se manifestam inicialmente com sudorese profusa, agitação psicomotora, hipertensão e taquicardia. Podem se seguir alternadamente com manifestações de excitação vagal e colinérgica, nos quais sonolência, náuseas e vômitos constituem sinais premonitórios de evolução para gravidade e conseqüente indicação de soroterapia. Os óbitos, quando ocorrem, tem rápida evolução e estão associados a hipotensão ou choque, disfunção e lesão cardíaca, bem como edema pulmonar agudo.

Mas, para que isso não ocorra, vamos prevenir e ficar longe do hospital. Vamos manter as fossas sépticas bem vedadas; evitar queimadas em terrenos baldios; preservar sapos, corujas, seriemas, quatis e lagartos que são nossos aliados no combate ao escorpião. E, por fim, vamos limpar a caixa de gordura e os ralos dos esgotos para dar um fim nas baratas, também limpando o quintal ou jardim com frequência não haverá acumulo de entulho e lixo. A ordem é não tirá-los de seus esconderijos, mas tirar os esconderijos deles.

Dentro de uma CASA limpa e PERFUMADA, dificilmente este intruso visitante se sentirá convidado a entrar. Por isso, água sanitária dos RALOS dos banheiros; desinfetantes CÍTRICOS podem ser espalhados pela casa; ALFAZEMA pode ser plantada em vasos e distribuídas pela casa ou quintal. E tratar bem o seu animal de estimação, pois GATOS costumam matar escorpiões (e alguns cachorros também fazem isso), mas só alguns animais possuem instintivamente essa aptidão natural para caçá-lo e matá-lo. 


O autor é médico veterinário coordenador do Núcleo de Vigilância em Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde de Brasilândia-MS. Artigo elaborado com informações de obtidas em sítios da Internet e Núcleo de Controle de Endemias local e Ministério da Saúde.

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